NORDESTE SOFRE COM SECA RECORDE
Os dados da Agência Nacional das Águas mostram que, no final do ano passado, um terço do Nordeste estava no grau 4 de seca, o mais elevado. Os açudes e reservatórios tinham pouco mais de 10% da sua capacidade, o pior índice já registrado. Em dezembro, choveu menos do que o esperado. No ano passado, choveu mais do que nos anos anteriores, mas não o suficiente para amenizar o sofrimento da população que voltou a depender dos caminhões-pipa.
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/01/28/nordeste-tem-recorde-de-reservatorios-secos-um-terco-da-regiao-enfrenta-seca-maxima.htm
BR 163, A ESTRADA DA AMBIÇÃO
Stephanie Nolen fez uma das mais belas reportagens sobre a BR-163, a estrada que liga Cuiabá a Santarém, por onde passa parte da produção de soja do Mato Grosso em direção à China e à Europa. O artigo publicado pelo The Globe and Mail, do Canadá, é cheio de fotografias e vídeos. Nolen entrevistou produtores rurais, políticos locais, grileiros e assentados do Incra, além de um índio munduruku. Ela conta a história da abertura de terras e do desmatamento, e consegue captar bem as tensões e os diferentes pontos de vista. Imperdível para quem quer entender a dinâmica da região, o lado forte e o lado fraco da história. Nolen termina citando uma fiscal do Ibama: “Para mim, os melhores dias são quando a gente sobrevoa a floresta. Porque lá embaixo, a gente está no meio da destruição – mas quando a gente está aqui em cima, dá para ver as coisas numa escala diferente. Que, apesar de todo o dano, ainda tem muita floresta. E é tão bonito ver que ela ainda está lá”.
https://www.theglobeandmail.com/news/world/amazon-rainforest-deforestation-crisis/article37722932/
O FIM DE UMA ALDEIA MUNDURUKU
O povo Munduruku anunciou o fim de sua aldeia PV. O movimento Ipereg-ayu soltou uma nota dizendo que “Nós, do movimento Munduruku Ipereg-ayu, comunicamos, com muita dor e vergonha, que a aldeia PV na Terra Indígena Munduruku não existe mais. O garimpo invadiu tudo, corrompeu com doenças nossos parentes e matou a floresta e as roças, trazendo doenças, prostituição, uso de álcool entre os homens e mulheres e drogas entre os mais jovens. A aldeia PV é hoje o principal ponto de doenças e invasões do nosso território; lá tudo é controlado pelos pariwat (não indígenas); a pista de pouso que existia para que o atendimento à saúde pudesse chegar até os moradores, foi mudada de lugar, porque atrapalhava o garimpo. Os pariwat estão armados e deram armas para os parentes defenderem eles”. Eles decidiram que vão: “fazer uma fiscalização contra garimpos e outros invasores no rio Kadiridi, rio das Tropas, indo do waretodi até o rio Tapajós; prender e expulsar todo pariwat da nossa terra; destruir todas as máquinas do garimpo no PV; e denunciar os órgãos responsáveis pela proteção das nossas terras por não fazerem nada”.
https://movimentoiperegayu.wordpress.com/author/iperegayu/
http://amazonia.org.br/2018/01/devastada-por-garimpo-e-doencas-povo-munduruku-comunica-fim-de-aldeia-indigena/
AS EMPRESAS QUE QUEREM PRESERVAR O CERRADO
O Manifesto do Cerrado, movimento de preservação do bioma, já conta com a assinaturas de corporações como McDonalds, Unilever, Walmart, Tesco e várias outras. Durante o WEF, em Davos, a Casino e outras dez se juntaram ao Manifesto. Agora são 61 corporações que prometem rastrear suas cadeias de suprimentos e peneirar produtos e produtores que não estejam implicados com o desmatamento do Cerrado. O Manifesto defende que os quase 20 mil km2 já convertidos para lavoura e pasto são mais que suficientes para suprir a demanda atual e futura. Será necessário aumentar a produtividade de cada hectare, coisa que o agronegócio mais tech sabe fazer muito bem. O movimento agora busca estender a moratória da soja para o bioma Cerrado. Para Maurício Voivodic, do WWF, “o país tem a oportunidade de mostrar o caminho para a conciliação da produção de alimentos e a conservação ambiental”.
https://www.tfa2020.org/en/2402-2/
PROMOTORES PEDEM AFASTAMENTO DA FGV DA MEDIÇÃO DOS DANOS PROVOCADOS PELA SAMARCO EM MARIANA
No final do ano passado, o Ministério Público pediu o afastamento da Fundação Renova do trabalho junto às comunidades atingidas pela tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana. No lugar, o MP pediu à Vale e à BHP Billiton que contratasse um grupo da FGV-SP e o Fundo Brasil de Direitos Humano. Mas em novembro, o jornal o Estado de Minas apontou um conflito de interesse pelo fato da Vale ter direito a uma cadeira de suplente no Conselho Curador da FGV. Depois da denúncia, a Vale declarou ter se retirado do Conselho, mas o Ministério Público apontou que existem outras ligações entre a FGV e a Vale e que não recomendava sua contratação através da Samarco. A Vale e a Samarco declararam que não há mais ligações que caracterizassem o conflito de interesse e que iriam prosseguir com a contratação da FGV. Segundo matéria do Estado de Minas, “assim que a FGV foi escolhida, todas as universidades e várias instituições de pesquisa se retiraram do grupo de estudos”.
Em que pese a alta qualidade técnica e o compromisso ético da GV, talvez insistir na contratação abra mais um flanco para críticas em relação ao atendimento das reivindicações da população atingida pela tragédia.
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/01/26/interna_gerais,933744/promotores-proibem-fgv-de-medir-danos-no-rio-doce-para-samarco.shtml
METRÔ DE SALVADOR TRAÇA ROTA DE DESTRUIÇÃO E DESRESPEITO
O metrô de Salvador foi inaugurado oficialmente logo antes da Copa de 2014, pelo menos alguns poucos quilômetros até o estádio da Fonte Nova. Os trabalhos continuam avançando e causando um forte impacto numa das muitas belas paisagens da cidade. A imensa avenida que liga o aeroporto à cidade, a Paralela, foi pensada com um largo canteiro central, cheio de jardins, para minimizar o impacto do barulho e do cheiro do trânsito. Fazia parte do projeto de Burle Marx para a avenida e, mesmo depois de períodos de relativo abandono, conseguia esconder carros e ônibus e as construções e prédios que apareciam no seu entorno.
O Metrô, que não deveria ser assim chamado, por ser todo de superfície, está rasgando o canteiro central e destruindo a obra do nosso maior paisagista.
http://piaui.folha.uol.com.br/c/obra-do-metro-destroi-dunas-e-jardim-de-burle-marx-em-salvador/
A CARGILL E A FERROGRÃO
O presidente mundial da Cargill, Dave MacLennan, confirmou em Davos que a multinacional norte-americana considera investir na Ferrogrão, um dos projetos ferroviários mais importantes do Brasil. Mas que a entrada efetiva da empresa como investidora na ferrovia que ligaria Lucas do Rio Verde (MT) e Miritituba (PA), rota crucial para o escoamento de grãos pelo Norte do país, depende de um “arcabouço regulatório” para investimentos em infraestrutura. O executivo revelou ao Valor ter conversado com o presidente Michel Temer no Fórum Econômico Mundial sobre a importância de que seja concluída a pavimentação da BR-163, que dá acesso a Miritituba.
http://www.valor.com.br/agro/5280553/de-olho-na-ferrograo
DAVOS: PARA CEOs MUDANÇA CLIMÁTICA É OPORTUNIDADE
Vários líderes empresariais exortaram, no WEF, em Davos, os líderes políticos e seus colegas do mundo dos negócios a aproveitarem a oportunidade e investirem na luta contra as mudanças climáticas: “a mudança climática é a maior oportunidade financeira e de negócios do próximo século”, disse Anand Mahindra, presidente do grupo indiano Mahindra, um conglomerado de US$ 19 bilhões. Mahindra acrescentou ser mito a ideia das empresas terem de enfrentar um trade-off entre resolver as mudanças climáticas e o seu crescimento ou lucros. Na semana passada, Philipp Hildebrand, vice-presidente do BlackRock, o maior fundo de investimentos do mundo, disse, também no WEF, que uma nova geração está aumentando a pressão para que os gerentes de ativos empurrem as empresas a desempenhar um papel maior na abordagem das mudanças climáticas: “as pessoas estão começando a perceber que esse problema é muito grande para os governos tratarem sozinhos… Essencialmente, as corporações devem se tornar parte da solução”.
https://www.businessgreen.com/bg/analysis/3025323/davos-2018-your-need-to-know-green-download
A RETÓRICA E A REALIDADE DA MUDANÇA DO CLIMA EM DAVOS
Nos últimos anos, a mudança do clima é destacada como uma das maiores ameaças à prosperidade da humanidade e, durante o transcorrer dos anos, muito pouco é de fato feito. Megan Darby e Karl Mathiesen escreveram um artigo no Climate Change News falando sobre as personalidades influentes de hoje e o que disseram antes e durante o Fórum em Davos: os conhecidos Emmanuel Macron, Al Gore, Narendra Modi e Christiana Figueres, junto com o diretor da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, além do presidente de Papua-Nova Guiné, Peter O’Neil. O tom do artigo é que tudo isso soa mais retórica do que ação.
http://www.climatechangenews.com/2018/01/23/davos-2018-climate-change-rhetoric-reality/
CHINA PROMETE CÉUS DESPOLUÍDOS EM TRÊS ANOS
Vira e mexe tem uma liderança chinesa declarando a prioridade no enfrentamento da poluição do ar nas megacidades chinesas. A diferença dessa vez foi que, em Davos, Liu He, um dos homens mais próximos do presidente Xi Jinping, prometeu aos 1,4 bilhão de chineses que eles voltariam a ver um céu azul em três anos.
Ao mesmo tempo, o pessoal em Davos comentava sobre a China voltar a aumentar suas emissões de gases de efeito estufa, país que emite mais que os EUA e a Europa juntos. A economia chinesa voltou a crescer em ritmo chinês, e o consumo de eletricidade também. Aí, toma carvão e gás natural para dar conta da demanda. Apesar do crescimento acelerado das renováveis por lá, na hora do vamos ver, queima-se um carvãozinho à mais.
https://qz.com/1187931/davos-2018-chinas-new-davos-pledge-blue-skies-literally-in-three-years/
https://www.nytimes.com/2018/01/25/business/china-davos-climate-change.html
ACREDITE QUEM QUISER
Esta é só para não dizerem por aí que o ClimaInfo sequer comentou a entrevista dada por Trump ao canal britânico ITV, na qual ele demonstrou não se sabe se desconhecimento ou desinformação intencional em relação ao aquecimento global e às mudanças climáticas, além de afirmar que estaria disposto a voltar a assinar o Acordo de Paris, mas apenas se o texto passar por mudanças substanciais: “Would I go back in? Yeah, I’d go back in… but it’s got to be a good deal for the US”.
CIENTISTAS QUEREM TIRAR UMA NEGACIONISTA DO CONSELHO DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DE NOVA YORK
Robert Mercer e sua filha Rebecca doaram um monte para a campanha de Trump, assim como colocam muito dinheiro em campanhas e think tanks negacionistas, e agora se sentam na primeira fila para ver o governo Trump censurar e asfixiar a ciência climática nos EUA. Rebecca ocupa uma cadeira no conselho curador do Museu de História Natural de Nova York. Nas últimas semanas, cientistas vêm querendo puxar sua cadeira, dizendo que não há lugar para quem apoia quem negue o conhecimento que a ciência produz. Na 5a feira, 200 cientistas mandaram uma carta ao Museu pedindo a retirada de Rebecca do Conselho. Beka Economopoulos, uma das organizadoras da carta, declarou que “museus são uma das instituições mais confiáveis enquanto provedoras de informações para a sociedade. Ter uma pessoa que nega a ciência, e que é uma das principais doadoras para campanhas contra a ciência do clima, em posição de liderança num museu de ciência abala a credibilidade da instituição”.
Um outro museu de Nova York, o Guggenheim, não quis atender o pedido de empréstimo de um quadro de Van Gogh feito pela Casa Branca, para que o casal Trump o pendurasse em seus aposentos privativos. O pedido não é incomum. Os Kennedys e os Obamas pediram e foram atendidos. O que não é comum foi a resposta do Guggenheim, negando o empréstimo do Van Gogh e sugerindo emprestar uma obra de Maurizio Cattelan: uma privada em ouro maciço 18 quilates chamada “America”. A Casa Branca não respondeu até agora.
https://www.nytimes.com/2018/01/25/climate/rebekah-mercer-natural-history-museum.html
http://www.huffpostbrasil.com/entry/mercers-climate-denial_us_5a6a4661e4b06e253265e832
RELÓGIO DO FIM DO MUNDO É ADIANTADO EM 2 MINUTOS. DESDE 1950 NÃO FICAVA TÃO PRÓXIMO DA MEIA-NOITE
O simbólico “Doomsday Clock” foi adiantado em meio minuto em direção à meia-noite pelo Bulletin of Atomic Scientists. Os cientistas responsáveis avaliam que o mundo está no momento mais próximo à aniquilação desde o auge da Guerra Fria. Além da ameaça aumentada de guerra nuclear, os cientistas mencionam os riscos colocados pelas mudanças climáticas como fator adicional para o avanço do relógio. A notícia foi capa da edição do The Guardian do dia 25 de janeiro, que coloca uma boa parcela de culpa sobre a administração Trump.
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