ClimaInfo, 5 de fevereiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

RURALISTAS DEVEM VOTAR A FAVOR DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA EM TROCA DE MENORES RESTRIÇÕES A AGROTÓXICOS

A coluna Radar, da Veja, disse que a bancada ruralista fechou acordo com o governo pelo qual aprova a reforma da previdência em troca de medidas menos restritivas ao uso de agrotóxicos.

É vergonhoso que dois temas de tamanha importância e de tamanho impacto sobre a sociedade, sejam objeto desse tipo baixo de barganha.
No final do ano, o Valor falou com vários deputados ruralistas e ficou com a impressão de que os ruralistas não apoiariam a reforma em bloco. A partir da informação da Veja, parece que eles só estavam discutindo o preço.
https://veja.abril.com.br/blog/radar/ruralistas-topam-previdencia-por-liberacao-de-agrotoxicos/

http://www.valor.com.br/politica/5225507/bancada-ruralista-resiste-votar-favor-da-reforma-da-previdencia#


OS MUNDURUKU CONTRA OS MEGAGARIMPOS DO SUL DO PARÁ

Fabiano Maisonnave acompanhou os Munduruku à aldeia PV onde existe um megagarimpo ilegal. O relato da viagem e uma conversa com o cacique Osvaldo Wauru são imperdíveis. Fabiano fala dos estragos feitos pelo garimpo, de águas poluídas sem peixes que eram a base da alimentação das tribos que viviam no entorno. Ele vai atrás das autoridades competentes: Funai, ICMBio, Ibama, Agência Nacional das Águas e até da ANAC por conta de uma pista clandestina a céu aberto. As respostas de todas as autoridades foram tragicamente evasivas.
Osvaldo Wauru conta que “a caça se afastou daqui, por causa da máquina, da sujeira. A caça era muito fácil aqui, porco, veado, anta. Peixe, tem ainda só num igarapé. Mas os peixes estão doentes, cheios de mercúrio. Foi assim.” E termina dizendo “Esse estrago vai ficar para sempre assim”.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/02/indios-tentam-fechar-megagarimpo-ilegal-que-polui-rio-no-para.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/02/esse-estrago-vai-ficar-para-sempre-diz-cacique-da-aldeia.shtml


AS EÓLICAS GARANTEM A DEMANDA DO NORDESTE NA FALTA DE ÁGUA DO SÃO FRANCISCO

As eólicas nordestinas vieram bem a tempo de suprir os sete anos de seca e a falta de água no São Francisco que, até bem pouco tempo, gerava quase toda eletricidade demandada pela região. A notícia não é nova, mas apareceu com destaque na mídia internacional. Um artigo da Recharge dá destaque à regularidade dos ventos no litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte. Entre agosto e o começo de fevereiro, o vento é forte e constante, o sonho de todo operador eólico. O fator de capacidade – relação entre o que uma torre pode gerar e o que efetivamente gera – é, em média, de 50% nesse período e várias plantas registram um valor acima de 70%. O artigo ainda cita uma comparação entre a hidrologia e os ventos da região, mostrando que os ventos são mais previsíveis do que a hidrologia do sistema de hidrelétricas do país. Isso é fundamental para o planejamento da operação do sistema, onde a experiência internacional é justamente uma margem maior de imprevisibilidade e, portanto, a necessidade de ter à mão outras fontes que possam cobrir as variações dos ventos. Aqui, a palavra “intermitência” é usada frequentemente para justificar térmicas a gás e até à carvão. No Nordeste, ao menos, tanto o vento quanto o sol são perfeitamente previsíveis.
Por falar em solar, uma pesquisa recente estima que, em 2017, a instalação dos painéis residenciais e comerciais, a chamada geração distribuída, cresceu quase 300 MW e atingiu um faturamento de R$ 1,47 bilhão.
http://www.rechargenews.com/transition/1409022/wind-power-prevents-blackouts-in-brazil-amid-droughts

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53050628/mercado-de-gd-atinge-r-14-bilhao-de-faturamento-em-2017-aponta-pesquisa


ACORDO ENTRE MINISTÉRIOS APROVA O ROTA 2030

O pessoal da fazenda se entendeu com as montadoras e o ministério do desenvolvimento, indústria e etc., e deve sair o Rota 2030, que dá isenções tributárias para a fabricação de carros aqui. Pelo menos é o que garantiu ao UOL o ministro interino Marcos Jorge de Lima. A expectativa é que Temer sancione o programa ainda este mês. Em troca de uma renúncia estimada em R$ 1,5 bilhão por ano nos próximos cinco anos, a indústria promete produzir carros 12% mais eficientes e gerar um adicional de arrecadação de R$ 4 bilhões por ano. Interessante que seu antecessor, o InovarAuto, trouxe a Audi, BMW e outras fábricas de carros de luxo. O que faz sentido, já que os importados não têm isenção e tem muita gente com dinheiro para comprar nesse mercado. Já as linhas populares ganharam um pouco em eficiência.
https://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2018/02/02/impasse-acaba-e-governo-vai-aprovar-r-15-bi-em-incentivo-a-novos-carros.htm


RESTAURAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE FLORESTAS AQUI, NA CHINA E NO MUNDO

Não há dados oficiais sobre o andamento do cumprimento da meta de recuperação e reflorestação florestal de 12 milhões de hectares até 2030, presente nas promessas feitas pelo Brasil ao Acordo de Paris. Mas se seguirmos com a recuperação de 100 mil hectares por ano, como avaliado por trabalho recente da TNC, o Brasil cumpre esta meta da NDC daqui a 120 anos.
Muito diferente dos programas chineses que recuperaram 28 milhões de hectares nos catorze anos que vão de 1999 a 2013. O programa chinês foi resposta a uma sequência de desastres, em especial uma inundação do rio Yangtzé de 1998, que matou milhares, deixando milhões desabrigados e uma conta de danos que passou de US$ 36 bilhões. A principal causa foi o desmatamento massivo e a consequente erosão. A solução adotada foi um sistema de pagamentos por serviços ambientais executados por agricultores locais que recebiam material, assistência técnica e eram remunerados para compensar a conversão de lavouras em florestas. O governo investiu US$ 50 bilhões, envolveu 32 milhões de propriedades e 120 milhões de agricultores. Cada área envolvida teve avaliada sua aptidão para agricultura ou florestas; ou se era melhor deixar tudo como estava, como no caso de manguezais naturais. Uma análise detalhada dos programas foi publicada na revista Science, em 2016. Os grandes números impressionam: 39% de aumento na produção de alimentos (basicamente pela eliminação de perdas por erosão e desertificação); mais 23% de carbono sequestrado; 13% a mais de retenção de solo e, também, 13% de inundação evitada; além de 6% a mais de proteção contra tempestades de areia. O artigo da Science mostra mapas de distribuição desses sucessos. Programas nessa escala produzem impactos sociais diversos, mas, de modo geral, percebeu-se um aumento da renda familiar e uma relativa redução da desigualdade. É importante destacar que estes programas ocorreram na época de um importante fluxo migratório em direção às cidades. Por exemplo, houve regiões em que agricultores entravam nos programas, plantavam florestas e, como o tempo dedicado era menor do que na lavoura, seguiram para cidades próximas a procura de emprego e aumento de renda. Foram um conjunto de programas executados em paralelo, muitas vezes superpostos, na mesma região. Dá para perceber que muitas lições foram tiradas na elaboração do nosso Planaveg. Que tem, no fundo, uma ambição chinesa em termos de área e períodos de tempo.
Ainda sobre restauração, vale destacar dois trabalhos quentinhos do WRI internacional falando sobre pesquisas que andaram fazendo, coletando casos e estatísticas em vários países. Os links estão abaixo.
http://escolhas.org/brasil-precisa-aprender-a-com-china-recuperar-florestas/

https://www.nature.org/media/brasil/economia-da-restauracao-florestal-brasil.pdf

http://science.sciencemag.org/content/352/6292/1455

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,engenharia-ecologica-chinesa,70002167298

https://news.stanford.edu/2016/06/16/chinas-environmental-conservation-efforts-making-positive-impact-stanford-scientists-say/

http://www.wri.org/publication/business-of-planting-trees

http://www.wri.org/publication/roots-of-prosperity


A IMPORTÂNCIA DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS PARA O ENFRENTAMENTO DO AQUECIMENTO GLOBAL

Sistemas agroflorestais ou de Integração Lavoura Pecuária Floresta também fazem parte da nossa NDC, e as informações oficiais dão conta que já ultrapassamos de longe a meta de 5 milhões de hectares. Segundo a Embrapa, os sistemas estão sendo adotados em 11,5 milhões de hectares com melhoras marcantes na produtividade para as lavouras, para a criação e nos pomares e florestas.
Para avaliar o impacto na fixação de carbono no solo mundo afora, pesquisadores da Universidade da Pennsylvania examinaram vários trabalhos publicados na literatura e viram que há um aumento entre 20% a 40% em várias profundidades na transição de pasto e de lavouras para um sistema agroflorestal. Do mesmo modo, encontraram uma perda de 25% quando a transição é de uma floresta formada para um sistema agroflorestal. A fixação de carbono no solo vai aparecendo como um ingrediente fundamental para programas de mitigação de emissões. E, diferentemente dos esquemas de enterro de carbono em fissuras geológicas, nos quais é preciso rezar para que este não escape, os sistemas agroflorestais, ainda por cima, produzem comida de qualidade.
https://link.springer.com/article/10.1007/s10457-017-0147-9

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/02/180201115554.htm

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/30679707/rede-ilpf-encerra-ciclo-superando-as-expectativas-iniciais-e-projetando-expansao


PROVADA A CONEXÃO ENTRE TERREMOTOS E INJEÇÃO DE FLUIDOS A ALTA PRESSÃO PARA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E FRACKING

O estado de Oklahoma não fica no chamado anel de fogo das cadeias de vulcões da América do Norte. E, diferentemente da Califórnia ou do Alaska, nunca entrou nas rodas de conversa sobre terremotos. Pelo menos até 2011. De lá para cá, a quantidade de terremotos aumentou 800 vezes (não 800%, que são só 7 vezes). O maior registrado até agora, em 2016, atingiu 5,8 na escala Richter. Apesar de pequenos, ter a terra tremendo o tempo todo acaba danificando propriedades, inclusive oleodutos e gasodutos. A exploração de poços de petróleo usa muita água e outros fluidos pressurizados, para fazer o petróleo jorrar. Essa água suja, por regulação legal, tem que ser injetada a profundidades acima de 1 km, bem abaixo dos lençóis freáticos, mas acima da camada de embasamento. Um trabalho que acaba de sair na Science mostra claramente que aumento da atividade sísmica está diretamente ligado à injeção dessa água suja. Os terremotos, claro, dependem bastante da estrutura geológica de cada local e não se pode afirmar que injetar água balança a terra em qualquer lugar. Mas o trabalho vai obrigar reguladores a levarem isso em conta, principalmente nas áreas visadas pelos operadores de fracking, que, no fundo, usam a mesma técnica.
Em tempo: Oklahoma é o estado onde o atual diretor negacionista da EPA (Agência de Proteção Ambiental), Scott Pruitt, fez seu nome e carreira defendendo a indústria fóssil. Se terremotos ganhassem nomes como os furacões, Pruitt seria um nome extremamente adequado para um próximo dos grandes.
http://science.sciencemag.org/content/early/2018/01/31/science.aap7911

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/02/180201141519.htm


RELATÓRIO: GEOENGENHARIA NÃO VAI FUNCIONAR E NÃO É VIÁVEL

A EASAC (sigla em inglês do Conselho das Academias Europeias de Ciência) analisou as rotas tecnológicas apontadas no último relatório do IPCC para as opções de “emissões negativas” que abrange desde as propostas de geoengenharia até as BECCs (sigla em inglês para a captura e armazenamento de carbono gerado em usinas térmicas a biomassa). O IPCC estimou que, para manter o aquecimento abaixo de 2°C a partir 2050, seria necessário remover cerca de 12 bilhões de tCO2eq por ano, o que é 1/3 das emissões globais atuais. O pessoal da EASAC examinou as várias rotas e concluiu que nenhuma daria certo nessa escala. Algumas são muito arriscadas e comprometeriam as gerações futuras de modos até piores do que as mudanças do clima, isso se funcionarem durante tempos longos. Outras custam tão caro, ou são tecnicamente tão complicadas, que seriam inviáveis mesmo pensando nesses prazos. Mesmo as BECCs exigiriam uma quantidade monumental de terras que, de um lado, competiriam com a produção de alimentos e, de outro, poderiam trazer impactos sérios sobre a biodiversidade em vários ambientes. Uma matéria no El País termina com o seguinte trecho do relatório: “O estudo do EASAC conclui, portanto, que os governos devem se dedicar a reduzir rapidamente as emissões de gases do efeito estufa e revisar para cima, conforme estabelece o Acordo de Paris, seus compromissos a cada cinco anos”.
https://easac.eu/fileadmin/PDF_s/reports_statements/Negative_Carbon/EASAC_Report_on_Negative_Emission_Technologies.pdf

https://www.theguardian.com/environment/2018/feb/01/silver-bullet-to-suck-co2-from-air-and-halt-climate-change-ruled-out

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/31/ciencia/1517422520_564058.html


A MUDANÇA DO CLIMA AUMENTA O RISCO DE DENGUE NA EUROPA

Nosso velho conhecido Aedes Aegypti começa a preocupar os europeus porque o clima do continente começa a ficar mais quente e úmido e o mosquito pode viajar das áreas infectadas a bordo dos milhares de voos internacionais. Os mesmos voos também podem trazer pessoas contaminadas para serem picadas e transmitirem o vírus mais adiante. A expectativa dos pesquisadores é que, se o aquecimento puder ser limitado em 2°C, pequenas áreas do sul de Portugal, Espanha e Grécia poderão ver casos de dengue. Se a temperatura subir mais, aí todo o sul da Europa, incluindo Itália e os Balcãs, passará pelo que os países tropicais já conhecem de há muito.
https://www.sciencedaily.com/releases/2018/02/180201092227.htm

 

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews