ClimaInfo, 13 de março de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AMEAÇAM AS HIDRELÉTRICAS?

Uma ampla matéria da Deutsche Welle discute se há futuro para hidrelétricas em um mundo no qual os regimes pluviométricos têm sido duramente castigados pelas alterações do clima. Não se trata de prognóstico, mas de análise de um cenário que já afeta inúmeros países, além do Brasil – que, apesar disso, insiste em ampliar nossa dependência da energia hidráulica e, pior, em áreas de riquíssima biodiversidade, como o Tapajós e outros rios da região amazônica.

Pesquisadores do Reino Unido afirmam que se todos os atuais planos para construção de novas usinas hidrelétricas no leste e sul da África forem cumpridos, o risco de escassez de energia pode aumentar, já que quase todos os países da região dependem da mesma precipitação escassa e que todos sofreriam ao mesmo tempo uma queda na geração energética. Michael Taylor, analista sênior da Agência Internacional de Energia Renovável, explica que, nesse cenário, a energia hidrelétrica não deve ser vista como uma alternativa a outras energias renováveis, mas como um complemento a elas, tornando o sistema energético mais eficiente e o fornecimento de energia elétrica mais seguro.

http://www.dw.com/pt-br/mudanças-climáticas-podem-acabar-com-hidrelétricas/a-42806887

 

PROJETO HIDRELÉTRICO NO MATO GROSSO REPETE ERROS DE BELO MONTE

Andreia Fanzeres, coordenadora do Programa de Direitos Indígenas da Operação Amazônia Nativa (OPAN), fez uma detalhada análise dos equívocos do projeto da UHE Castanheira, no rio Arinos, em Mato Grosso – a maior de um conjunto de mais de uma centena de pequenas e microusinas previstas para a região. Castanheira não cumpre com um primeiro e essencial item no roteiro de qualquer projeto hidrelétrico: a justificativa de sua necessidade. Trata-se de um projeto hidrelétrico relativamente pequeno, com grande variação sazonal na capacidade de geração de energia firme e distante de centros de carga relevantes. Um estudo recente da Conservação Estratégica (CSF-Brasil) mostrou que a usina é inviável do ponto de vista financeiro e econômico. É prejuízo na certa para qualquer investidor privado. O Estudo do Componente Indígena (ECI) de Castanheira comprova que haverá impactos irreversíveis. Apesar disso, a Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA) marcou para este mês audiências públicas para a apresentação dos estudos ambientais sem esperar a manifestação da Funai, repetindo a prática de atropelar os processos para legitimar mais este projeto hidrelétrico, como se os povos Apiaká, Kayabi, Munduruku, Rikbaktsa e Tapayuna fossem um mero apêndice no trâmite de aprovação do empreendimento.

http://www.neomondo.org.br/projeto-hidreletrico-castanheira-uma-repeticao-de-equivocos/

 

BHP DESISTE DE CONCESSÃO DE PETRÓLEO NA FOZ DO AMAZONAS

A BHP Billiton, uma das donas da Samarco, tinha ganho duas áreas para explorar petróleo nos campos na foz do Rio Amazonas, lá onde estão corais únicos no mundo. Na semana passada, a empresa anunciou que vai devolver as áreas. Ela não deve ser confundida com a BP, a British Petroleum, empresa que junto com a francesa Total anunciou o início dos trabalhos de prospecção para o segundo semestre. No ano passado, acionistas importantes da mineradora começaram pressionar a empresa a sair do ramo petróleo e a se concentrar na mineração.

http://m.greenpeace.org/brasil/pt/high/Noticias/Urgente-BHP-desiste-de-explorar-petroleo-proximo-aos-Corais-da-Amazonia/

http://epbr.com.br/bhp-desiste-de-areas-na-foz-do-amazonas/

https://www.fool.com/investing/2017/06/13/what-will-happen-to-bhp-billiton-limiteds-oil-busi.aspx

 

RENOVABIO PODE ELEVAR A ATÉ 40% MISTURA DE ETANOL NA GASOLINA

Com a regulamentação do programa de biocombustíveis RenovaBio, sancionada no fim de 2017, em algum momento deve entrar em vigor uma nova política que prevê a redução de poluentes em derivados de petróleo (como a gasolina) e o aumento da participação de combustíveis menos nocivos ao ambiente, como o etanol. Temer prepara um decreto nesse sentido e, se ele mantiver os números aprovados pelo Congresso, poderá elevar os atuais 27% de álcool anidro em cada litro de gasolina para até 30%, em 2022, e 40%, em 2030. O setor sucroalcooleiro defende o programa e o decreto para tentar se recuperar. Projeções governamentais indicam que, somente com 30% de anidro na gasolina, a produção de cana passará dos atuais 668 milhões de toneladas por ano para 820 milhões de toneladas, em 2026. Nesse período, a participação da cana destinada ao etanol saltará de 55% para 61%, elevando a produção do álcool nacional de 18 bilhões de litros para 31 bilhões de litros.

Falta combinar com os russos, ou melhor, com a equipe econômica: esta resiste por considerar que haverá uma perda de ao menos R$ 4 bilhões por ano com a arrecadação de tributos, já que sobre a gasolina incidem PIS, Cofins e Cide. Além disso, a equipe econômica alega uma alta de preço ao consumidor, o que pressionaria a inflação, embora estimativas de consultorias especializadas indiquem um aumento gradativo de apenas R$ 0,06 por litro até 2030. Vale lembrar que a elevação de impostos federais e estaduais foi responsável por dois terços da alta da gasolina desde que a Petrobras adotou a política de ajustes diários nos preços, em julho do ano passado. O restante foi provocado pela alta do etanol e das margens de revenda.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/03/decreto-pode-elevar-para-ate-40-percentual-de-etanol-na-gasolina.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/03/tributos-sao-os-responsaveis-por-66-da-alta-no-preco-da-gasolina.shtml

 

ASSASSINADO LÍDER COMUNITÁRIO QUE DENUNCIOU AS REPRESAS DE REJEITO DA NORSK HYDRO EM BARCARENA

Paulo Sérgio de Almeida Nascimento foi assassinado a tiros ontem. Ele fazia parte da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia. Paulo Sérgio tinha questionado a prefeitura de Barcarena perguntando se a norueguesa Norsk Hydro tinha autorização para construir e operar as represas de rejeitos de processamento de alumina. Por conta das ameaças que começou a receber, Paulo Sérgio pediu proteção policial à justiça paraense. Mas esta lhe foi negada. Por enquanto, ninguém se pronunciou a respeito. No mês passado, depois de fortes chuvas e falhas de energia elétrica, os rejeitos transbordaram e contaminaram um igarapé vizinho. O lodo se espalhou para o pedaço do Rio Amazonas que margeia Barcarena. No começo, a multinacional negou que tivesse havido qualquer transbordamento. Depois que imagens e análises do Instituto Evandro Chagas comprovaram a contaminação, a empresa mudou o discurso e admitiu uma “pequena falha”. O governo da Noruega, dono de 33% das ações da Norsk, sempre cioso que outros cumpram com suas responsabilidades ambientais, tirou o seu da reta dizendo que possíveis impactos devem ser tratados entre a empresa e o governo brasileiro.

http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-492996-lider-que-denunciava-hydro-e-teve-protecao-de-vida-negada-pelo-governo-e-assassinado.html

https://exame.abril.com.br/negocios/hydro-alunorte-falta-de-energia-foi-causa-de-alagamento/

https://g1.globo.com/natureza/noticia/dono-de-13-da-hydro-governo-da-noruega-diz-que-contaminacao-em-barcarena-devera-ser-tratada-entre-empresa-e-autoridades-do-brasil.ghtml

 

BUSINESS-AS-USUAL NO MUNDO DO PETRÓLEO

A OPEP está dividida por conta do óleo de xisto. De um lado, o Irã, que quer um barril a US$ 60, para que os produtores norte-americanos não saiam fraqueando a torto e a direito.  Os produtores de óleo de folhelho são mais ágeis do que os grandes produtores da OPEP, usam técnicas que permitem aumentar ou diminuir a produção de acordo com o preço do petróleo. De outro, a Arábia Saudita, não põe fé no poder do folhelho sobre o mercado e promoveu a aliança da Opep com o maior produtor de petróleo do mundo, a Rússia, contra a produção dos Estados Unidos. A Rússia e outros nove produtores aderiram aos limites de produção da organização. Aliás, o ministro saudita de energia já declarou que a OPEP manteria seus limites de produção neste ano, mesmo que isso significasse que os estoques de petróleo caiam abaixo da demanda.

Descarbonização da economia e Acordo de Paris sequer são citados nesse debate.

http://www.valor.com.br/internacional/5376879/opep-esta-dividida-sobre-preco-do-petroleo

 

A VW E OS CARROS QUE POLUEM MAIS NA RUA DO QUE NOS LABORATÓRIOS

Mais um escândalo envolve a Volkswagen. Desta vez, na Austrália, onde os carros a diesel da marca passaram a consumir 14% mais combustível depois de um recall feito para reduzir emissões. A análise foi encomendada pela Associação Australiana de Automóveis (AAA), que faz campanha para que os testes de emissão de poluentes sejam feitos no mundo real. A Associação examinou os carros VW antes e imediatamente após o recall. Além de constatar o aumento no consumo, os testes ‘no mundo real’ mostraram que as emissões de óxidos de nitrogênio foram quatro vezes maiores que os níveis observados nos testes de laboratório.

O governo australiano se prepara para lançar novos padrões de emissões de veículos e a AAA argumenta que não adianta estabelecer padrões mais rígidos se não houver informações sobre o desempenho dos veículos no mundo real. Obviamente, a Volkswagen rejeitou a análise da AAA sobre a eficiência de combustível de seus carros.

https://www.theguardian.com/business/2018/mar/12/volkswagens-in-australia-using-more-diesel-after-recall-research-finds

 

AGÊNCIA DA ONU PARA DESASTRES ESTUDA O PERFIL DE SECAS E ENCHENTES EM 16 PAÍSES AFRICANOS

A UNISDR (sigla em inglês do Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres) e a Fundação de Pesquisa CIMA estão desenvolvendo o perfil de 16 países africanos quanto às ameaças de secas e de enchentes. Estes países, por terem poucos recursos e uma população pobre, têm uma alta situação de vulnerabilidade. O projeto pretende quantificar os impactos econômicos, sociais e físicos que a mudança do clima deve trazer. Os países beneficiados são: Angola, Guiné Equatorial, Guiné Bissau, Ruanda, Suazilândia, Tanzânia, Costa do Marfim, Botsuana, Zâmbia, Namíbia, Gâmbia, Gabão, Camarões, Gana, São Tomé e Quênia. Os primeiros resultados serão publicados até o final do ano.

https://www.unisdr.org/archive/57277

http://www.cimafoundation.org/fondazione-cima/news/unisdr-africa.html

https://www.reuters.com/article/us-africa-disaster-risks/climate-threatened-african-nations-to-get-profiles-of-drought-and-flood-risk-idUSKCN1GL1E4

 

A DESIGUALDADE ECONÔMICA ACIRRA A MUDANÇA DO CLIMA

Um artigo publicado no início do mês na Nature mostra que aumentar a desigualdade econômica no mundo implica em se afastar das metas do Acordo de Paris. A desigualdade reduz a capacidade dos governos de tomar medidas de mitigação e adaptação e tornar as sociedades mais resilientes. Num feedback do mal, sociedades menos resilientes vão na direção de ainda mais desigualdade, posto que os mais ricos têm mais recursos para se proteger ou simplesmente mudar para outra região menos afetada. Joeri Rogelj, o líder da pesquisa, diz que “a mudança do clima está longe de ser o único problema com o qual nós, enquanto sociedade, nos preocupamos. Temos que entender como os muitos objetivos podem ser alcançados simultaneamente. Com esse estudo, mostramos o enorme valor de se buscar o desenvolvimento sustentável para alcançar a meta ambiciosa em linha com o Acordo de Paris”.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0091-3

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-05/economic-equality-is-key-to-solving-climate-change-report-shows

 

PETROLEIRAS PREOCUPADAS COM AS POLÍTICAS DE TRUMP

Trump decretou o aumento das tarifas de importação de aço, matéria prima fundamental para toda a cadeia do petróleo. As torres de perfuração, os dutos, as refinarias e até os veículos, caldeiras e fornos usam muito aço. Elevar o preço do aço, significa todo resto mais caro e, portanto, uma retração na demanda. Tudo que a indústria petroleira não quer. Trump também está tentando, atabalhoadamente, abrir novas áreas de exploração nas costas norte-americanas e, por isso, enfrentando oposição dos estados, sejam eles democratas ou republicanos. E as petroleiras estão dando sinais de cautela antes de embarcarem numa canoa cheia de processos judiciais. Até uma senadora republicana do Alasca, famosa pelo seu apoio irrestrito à abertura de campos de petróleo em áreas virgens no Ártico, se disse preocupada com o aumento de US$ 500 milhões no custo de um gasoduto. E ainda soma-se as idas e vindas das tentativas de Trump e secretários de reerguer o carvão a quase qualquer custo. Coisa que não cai bem com as petroleiras explorando gás natural. A situação, segundo um artigo da Bloomberg, já foi mais promissora. Nas palavras de um executivo petroleiro: “Será que você vai investir seu capital quando as regras vão e voltam diariamente? Você pode topar com uma revisão de uma regra amanhã. Ou uma decisão judicial. E vira um pedaço de quebra-cabeça decidir instalar uma torre de petróleo por aqui ou lá no Texas”.

https://www.politico.com/story/2018/03/10/trump-oil-industry-energy-404001

 

 

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