ClimaInfo, 23 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

HIDRELÉTRICA SÃO MANOEL USA A FORÇA NACIONAL COMO SEGURANÇA PARTICULAR

Em outubro do ano passado, a Força Nacional de Segurança Pública deslocou uma tropa para o canteiro de obras da Hidrelétrica de São Manoel, no sul do Pará. Em julho, o canteiro havia sido ocupado por Mundurukus que queriam, dentre outras coisas, reaver urnas funerárias e um pedido formal de desculpas por terem sido destruídos locais para eles sagrados. E um novo local, a ser definido pelos pajés para depositar as urnas. Depois de dois meses, eles desocuparam a obra acreditando nas promessas feitas pelos empreendedores. Recuperaram as urnas, porém não receberam o pedido de desculpas e ainda não puderam realizar os ritos que determinariam um novo local para as urnas. Entretanto, a Força Nacional foi transferida para a obra, como se fora uma empresa de segurança particular. Há pouco, o novo ministério da segurança pública estendeu a permanência da Força Nacional por mais três meses.

Vamos fazer aqui uma analogia para tentarmos entender o tamanho da injustiça imposta aos Mundurukus: mal comparando, seria como se a empresa tivesse destruído o Vaticano, o muro das Lamentações e a Kaaba e, ainda por cima, pusesse o exército para evitar que os fiéis se juntassem para lamentar profundamente a perda.

http://www.neomondo.org.br/governo-usa-forca-nacional-para-manter-ilegalidades-na-construcao-de-hidreletricas-no-rio-teles-pires/

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-10/forca-nacional-fara-seguranca-para-garantir-obra-de-usina-hidreletrica-no-para

 

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DENUNCIA SÓCIO DE ELISEU PADILHA POR CRIMES AMBIENTAIS EM PARQUE ESTADUAL

Um dos sócios do ministro Eliseu Padilha foi mais uma vez denunciado pelo Ministério Público Estadual do Mato Grosso por crimes ambientais. Desde o ano passado, o ministro e seus sócios estão sendo investigados por terem abusado do patrimônio público do Parque Estadual Serra Ricardo Franco. Mesmo assim, Marcos Antonio Assi Tozzatti, seguro de sua impunidade por ser amigo de alguém, foi em frente e abriu um depósito de madeira sem licença válida e impediu a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação. O MPE pede a aplicação de uma multa de quase R$ 8 milhões a Marcos e sócios.

https://www.mpmt.mp.br/conteudo/58/74310/mpe-denuncia-socio-de-ministro-por-crimes-ambientais

 

IBAMA CORRE PARA APROVAR LICENÇAS DE 54 PROJETOS DO PROGRAMA DE PARCERIAS PARA INVESTIMENTOS DE TEMER

O Ibama anunciou ontem que aprovou 54 licenças ambientais referentes ao Programa de Parcerias para Investimentos, o PPI de Temer. As licenças podem vir a destravar bilhões em investimentos, tudo sob controle de Moreira Franco e Temer. São R$ 174 bilhões dos leilões do Pré-Sal no ano passado, R$ 18 bilhões em linhas de transmissão, quase R$ 7 bilhões em estradas e várias hidrelétricas. Uma destas, a Tabajara, em Rondônia, custará quase R$ 20 bilhões, o que talvez explique o cuidado pessoal de Temer e Moreira com o Programa.

http://www.ibama.gov.br/noticias/436-2018/1394-ibama-licencia-projetos-prioritarios-de-infraestrutura-do-governo-federal

 

O DIA MUNDIAL DA ÁGUA EM BRASÍLIA

Ontem, no Dia Mundial da Água, o jornalista Jonathan Watts escreveu no Guardian sobre o contraste entre os discursos dos chefes de estado e CEOs, feitos no Fórum Mundial da Água (o FMA que acontece em Brasília), e um dos maiores problemas enfrentados pela conservação deste precioso bem comum: a impunidade e a falta de proteção para os defensores da água de comunidades tradicionais. Depois de descrever vários problemas sofridos por comunidades ribeirinhas e grupos indígenas, Watts reconhece que o Fórum mostra claramente o crescimento da importância da segurança hídrica na agenda política, mas lembra que o foco ainda recai na exploração da natureza ao invés de sua proteção, e ressalta que os ativistas comunitários, os reais defensores das águas e dos rios, ainda são deixados de fora.

Ontem, também em Brasília, do lado de fora do FMA, a SOS Mata Atlântica instalou uma privada imensa para demandar saneamento já.

A organização divulgou um levantamento sobre a qualidade da água de 230 rios, córregos e lagos da Mata Atlântica. Apenas 4,1% (12) dos 294 pontos de coleta avaliados apresentaram qualidade de água boa, enquanto 75,5% (222) mostraram situação regular e 20,4% (60) qualidade ruim ou péssima. Ou seja, em 96% dos pontos monitorados a qualidade da água não é boa e está longe do que a sociedade quer para os rios.

https://www.theguardian.com/environment/2018/mar/22/world-water-day-deadly-plight-of-brazils-river-defenders-goes-unheard

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/dia-mundial-da-agua-20-dos-rios-da-mata-atlantica-estao-improprios-para-consumo-diz-relatorio.ghtml

http://bit.ly/2DmdBJH

 

A EXXON PODE APROFUNDAR A FOSSILIZAÇÃO DA MATRIZ ELÉTRICA BRASILEIRA

A ExxonMobil está tentando viabilizar a termelétrica Rio Grande (1,3 GW), originalmente contratada pelo grupo gaúcho Bolognesi. A construção da termelétrica, no município de Rio Grande, inclui um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL). Se o negócio der certo, será a segunda participação da Exxon em termelétricas no Brasil. A petroleira tem um acordo de fornecimento de parte do gás natural liquefeito (GNL) que abastecerá uma usina de 1,5 GW no Porto de Sergipe. Segundo o Valor, a equipe energética do governo é desfavorável à retomada do contrato da usina em Rio Grande, mas a decisão depende da Aneel.
http://www.valor.com.br/empresas/5401091/exxonmobil-tenta-viabilizar-usina-da-bolognesi-no-rs

 

NOVO PLANO NACIONAL DE LOGÍSTICA ABERTO PARA CONSULTA PÚBLICA

A EPL (Empresa de Planejamento e Logística) colocou em consulta pública a nova edição do Plano Nacional de Logística. O plano tem dois cenários para a expansão de rodovias, ferrovias, hidrovias e cabotagem até 2025. Dois pontos chamam a atenção: primeiro que toda vez que a mídia escreve sobre o tal gargalo logístico brasileiro, se refere ao escoamento da soja e milho produzidos no norte do Mato Grosso que, de fato, tem que enfrentar um trecho horroroso de cento e tantos quilômetros na BR-163. O que não é pouco falado na mídia é que este escoamento de soja e milho do norte do Mato Grosso corresponde a somente 3% de tudo que é transportado no país. Mesmo olhando só para os grãos do agronegócio, pouco mais de 7% de tudo que é transportado, o grosso da produção ainda está no Sul e no  Sudeste, saindo por relativamente boas rodovias até os portos de Rio Grande, Paranaguá e Santos. Em todo caso, o PNL prevê a construção da Ferrogrão, que correria quase que paralela à BR-163 e colaboraria com a Ferrovia Norte-Sul para escoar a crescente produção de grãos do Cerrado. Também é admissível enxergar nestas ferrovias o papel de esteira de grãos, posto que pouca coisa é transportada no sentido contrário. Outro ponto que chama a atenção é a concentração da carga transportada num retângulo inclinado que liga o Sul do país, a capital de São Paulo e parte do seu interior, o Rio de Janeiro e Belo Horizonte. No cenário mais audacioso proposto pela EPL, no qual aumenta a participação das ferrovias, as emissões de gases de efeito estufa caem quase 20 milhões de tCO2e, quando comparadas com as emissões cenário base. Mesmo assim, as emissões ficam na casa das 115 milhões de tCO2e, mais de 10% do teto compromissado com o Acordo de Paris.

http://www.epl.gov.br/consulta-publica-n-1-2018

 

CIÊNCIA CLIMÁTICA EM DISCUSSÃO EM PROCESSO DE CIDADES DOS EUA CONTRA PETROLÍFERAS

Do Carbon Brief: o processo movido pelas cidades de San Francisco e Oakland contra grandes companhias petrolíferas começou anteontem com o juiz pedindo a cada lado que apresente a ciência climática que justifica suas respectivas posições.

As petrolíferas Chevron, ExxonMobil, Shell e BP estão sendo processadas pelas duas cidades, e outras comunidades na Califórnia, por danos relacionados à sua contribuição ao aquecimento global. O juiz encarregado do caso, William Alsup, deu um passo incomum ao convocar um “tutorial” sobre o assunto “para que este pobre juiz possa aprender alguma ciência”. No início deste mês, Alsup pediu às cidades e às petrolíferas que respondessem a nove perguntas sobre a ciência climática e, também, que as empresas produzissem documentos expondo até que ponto sabiam dos riscos da mudança climática.

Em nome das cidades falaram o professor Myles Allen, da Universidade de Oxford, e o professor Gary Griggs, da Universidade da Califórnia, entre outros. O advogado da Chevron, Theodore Boutrous, disse que a empresa apoia a conclusão científica segundo a qual os seres humanos estão causando a mudança climática. Boutrous disse que a Chevron apoia, também, o relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, mas que os relatórios anteriores do IPCC não eram tão claros em suas conclusões. Boutrous também argumentou que “não é a produção e a extração que causam o aquecimento global, é a forma como as pessoas estão vivendo suas vidas, é o modo como a sociedade está se desenvolvendo”. Nenhum advogado das outras quatro empresas respondeu a perguntas na audiência.
https://www.scientificamerican.com/article/chevron-will-stick-to-ipcc-findings-in-landmark-climate-change-trial

http://hosted.ap.org/dynamic/stories/U/US_CALIFORNIA_CLIMATE_CHANGE_LAWSUITS_NYOL

https://www.reuters.com/article/us-oil-climatechange-hearing/chevron-says-it-will-not-dispute-climate-science-in-u-s-lawsuit-idUSKBN1GX185

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-21/climate-change-judge-wants-to-know-what-caused-the-ice-age

 

CAI O NÚMERO DE NOVAS TÉRMICAS A CARVÃO PELO 2o ANO CONSECUTIVO

Em um relatório feito em conjunto com o Sierra Club, o Greenpeace e a Coal Swarm mostram que, embora térmicas a carvão continuem a ser construídas pelo mundo afora, há uma forte tendência de queda na construção destas usinas poluentes. Em 2015, o equivalente a 170 GW tinha começado a ser construído e 101 GW tinham começado a operar, principalmente na China e na Índia. Em 2016, estes números baixaram para 65 GW e 84 GW, respectivamente. Já no ano passado, 45 GW começaram a ser construídos e 60 GW começaram a operar. A queda em dois anos foi de 74% e 41%, respectivamente. No período mais longo que vai de 2010 a 2017, enquanto entraram em operação quase 900 GW, outros 1.700 foram cancelados. Ainda é cedo para que o carvão volte a ser apenas um cadáver bem sepulto, mas o caminho parece irreversível.

https://endcoal.org/wp-content/uploads/2018/03/BoomAndBust_2018_r4.pdf

https://www.sierraclub.org/press-releases/2018/03/new-report-global-coal-plant-development-drops-for-second-consecutive-year

 

FÓSSEIS RESPONDERAM POR 70% DO CRESCIMENTO DA DEMANDA DE ENERGIA EM 2017

Se a notícia da queda da construção de termelétricas a carvão anima, a IEA (sigla em inglês da Agência Internacional de Energia) acaba de publicar seu balanço do ano passado com notícias não tão boas. A demanda por todas as formas de energia aumentou 2,1%, e 70% desse aumento foi suprido por fósseis. O motivo principal foi o crescimento da China que, junto com a Índia, tornou a ligar térmicas a carvão e gás natural, além de aumentar a demanda de óleo para as indústrias. O relatório da IEA também aponta que, pela religação de velharias, a tendência de aumento da eficiência se interrompeu. Assim como, pela primeira vez em 3 anos, as emissões globais de CO2 do setor energético voltaram a aumentar. Se bem que essas emissões caíram nos EUA, Reino Unido, México e Japão. O diretor executivo da IEA, Fatih Birol, lembrou que “o aumento das emissões de CO2 relacionadas com  energia em 2017 nos mostra que o esforço para combater a mudança do clima está longe de ser suficiente”.

http://www.iea.org/geco/

https://www.washingtonpost.com/news/energy-environment/wp/2018/03/21/bad-news-for-the-climate-coal-burning-and-carbon-emissions-are-on-the-rise-again/

http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,a-extincao-dos-fosseis,70002237079

 

ENCHENTES E CHUVAS PESADAS AUMENTARAM 50% NO MUNDO EM UMA DÉCADA

Em todo o mundo, enchentes e chuvas extremas aumentaram em mais de 50% nesta década e ocorrem agora a uma taxa quatro vezes maior do que nos anos 1980. Outros eventos climáticos extremos como tempestades, secas e ondas de calor, aumentaram mais de um terço nesta década e estão sendo registrados a um ritmo duas vezes maior do que nos anos 1980. Os dados, compilados pela resseguradora alemã Munich Re, foram publicados na atualização de um relatório de 2013 do Conselho Consultivo Científico das Academias Europeias (EASAC). O professor Michael Norton, diretor do programa ambiental da Easac, disse que as emissões de gases de efeito estufa foram “fundamentalmente responsáveis por impulsionar estas mudanças”.
https://easac.eu/fileadmin/PDF_s/reports_statements/Extreme_Weather/EASAC_Extreme_Weather_2018_web.pdf

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/03/180321130859.htm

https://www.theguardian.com/environment/2018/mar/21/flooding-and-heavy-rains-rise-50-worldwide-in-a-decade-figures-show

http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-5527963/The-melting-Greenland-icecap-shut-jet-stream.html

 

OS ÚLTIMOS TRÊS ANOS FORAM OS MAIS QUENTES JÁ REGISTRADOS

Completando a nota anterior, a WMO (sigla em inglês da Organização Meteorológica Mundial) disse que os últimos três anos foram os mais quentes já registrados. E que 2018 já começou com ondas de calor na Austrália e na Argentina e, mais preocupante, no Ártico. Lembrando que os furacões e tufões fizeram de 2017 o ano que mais prejuízo trouxe. Até agora, 2016 com seu El Niño foi o ano mais quente, e 2015 e 2017 empatam em segundo lugar.

https://www.reuters.com/article/us-climatechange-un/last-three-years-hottest-on-record-severe-weather-hits-2018-u-n-idUSKBN1GY01D

 

Para ver

EM NOME DE QUÊ?

A campanha “Em Nome de Quê” tem como objetivo despertar a atenção e mobilizar os brasileiros em relação às ameaças que representam as intervenções em nascentes, mananciais e rios, com foco em lucro, desconsideração dos direitos dos povos tradicionais, desrespeito ao meio ambiente e visão que não leva em conta as futuras gerações. “Em Nome de Quê” foi desenvolvida pela organização Uma Gota no Oceano com o apoio de parceiros e a participação de formadores de opinião e influenciadores sensíveis a essa causa.

https://emnomedeque.com.br/

 

Para Ir

VIAGEM ATRAVÉS DA AMAZONIA: OSVALDO STELLA, PAULO MOUTINHO E CHRIS CASSIDY

Conta a história da viagem de 1.000 km de bicicleta dos dois pesquisadores brasileiros e do astronauta norte-americano através da Amazônia. Foi lançado no ano passado, mas é sempre bom rever.

Museu do Amanhã, Rio de Janeiro

29/mar das 15:00 às 17:00

https://museudoamanha.org.br/pt-br/palestra-transamazonica-mais-vinte-e-cinco

 

Para ler

SISTEMA DE PRODUÇÃO MECANIZADA DA CANA-DE-AÇÚCAR INTEGRADA À PRODUÇÃO DE ENERGIA E ALIMENTOS

Trata-se do 2⁰ volume que reúne contribuições de especialistas de várias entidades que fazem parte do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). A cana está entre as culturas que mais passaram por mudanças nos últimos 20 anos. Aborda vários temas, fornecendo orientações sobre planejamento estratégico e operacional e sobre implantação sustentável da cultura de cana-de-açúcar com colheita mecanizada, sem queima.

http://vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/consultaProduto.do?metodo=detalhar&codigoProduto=00055280

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/03/13/142328-livro-reune-trabalhos-de-especialistas-voltados-a-sustentabilidade-na-producao-de-cana-de-acucar.html

 

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