ClimaInfo, 28 de março 2018

28 de março de 2018

INDÚSTRIA, AMBIENTALISTAS, ARTISTAS E CELEBRIDADES CONTRA A LIBERAÇÃO DO PLANTIO DE CANA-DE-AÇÚCAR NA AMAZÔNIA

Desde anteontem, a grita contra a liberação do plantio de cana-de-açúcar na Amazônia envolveu artistas e celebridades como Caetano Veloso e Gisele Bündchen, que tacharam o projeto do senador ruralista Flexa Ribeiro de “absurdo”. Também se posicionou contra o projeto a Coalizão Brasil Clima Floresta e Agricultura, que reúne desde gente do agronegócio até ambientalistas, dizendo em carta que “permitir o cultivo na Amazônia, mesmo que em áreas degradadas, significa acrescentar mais um motor ao desmatamento na região: a pecuária será empurrada para novas áreas para dar lugar à lavoura, estimulando a devastação onde hoje deveria haver intensificação”. Gente do setor, como a Única, a União da Indústria de Cana de Açúcar, também se posicionou contra, além da oficial Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX).

Do outro lado do ringue, o Planalto que, capitaneado por Eliseu Padilha, mobilizou Romero Jucá para pressionar o presidente do senado a colocar o projeto em votação. Mas por volta das 17h30, Eunício Oliveira suspendeu a sessão e abriu uma nova só para debates, sem deliberação, por falta de quórum para votar as polêmicas matérias em pauta, inclusive o PLS 626/11, o motivo de toda a grita.

Fica a dúvida se os senhores senadores estavam ou não vidrados no jogo Brasil x Alemanha.

https://g1.globo.com/natureza/noticia/como-empresas-produtoras-de-acucar-e-ambientalistas-se-uniram-contra-plantio-de-cana-em-areas-da-amazonia.ghtml

 

POLÍCIA FEDERAL PRENDE PREFEITO DE HUMAITÁ E COMPARSAS ACUSADOS PELOS ATAQUES AO IBAMA E ICMBIO

Em outubro passado, escritórios e veículos do Ibama e do ICMBio  foram atacados e destruídos em Humaitá, AM. Os funcionários tiveram que fugir.

Ontem, a Polícia Federal prendeu o prefeito da cidade e mais 13 pessoas acusadas pelos ataques. A polícia identificou políticos incentivando garimpeiros a realizarem o ataque em represália ao Ibama ter feito uma campanha contra garimpos ilegais e destruído uma draga e outros equipamentos. Os acessos à Humaitá estavam, ontem, bloqueados pela Polícia.

http://www.portalmarcossantos.com.br/2018/03/27/prefeito-e-outros-12-sao-presos-por-incendios-em-humita/

 

ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO PODEM SER DISPENSADAS DE OBTER LICENÇA AMBIENTAL

Estações de tratamento de água e esgoto não são das coisas mais limpas do mundo. No entanto, uma medida provisória que Temer quer emitir quer dispensá-las do licenciamento ambiental. A desculpa seria absurda se não fosse séria: como as estações de empresas estatais não precisam de licença, as privadas ficam em situação desfavorável. O argumento não vê que boa parte das estatais de saneamento está falida e na fila do BNDES para ser privatizada. E que o “remédio” a ser aplicado é exigir que ambas obtenham licenças para operar. Mas nesse fim de feira ambiental promovido pela xepa do planalto, quase nada surpreende.

http://www.valor.com.br/brasil/5410517/mp-pode-dispensar-licenca-ambiental-para-saneamento#

 

CONSUMO DE CARNE NA EUROPA É RESPONSÁVEL PELO DESMATAMENTO NO GRAN CHACO

A organização de proteção ambiental Mighty Earth fez uma investigação de peso e publicou um relatório ainda melhor sobre a destruição do meio ambiente e do modo de vida de gente que vive, ou vivia, na região do Chaco, região na fronteira entre Argentina, Bolívia e Paraguai e que inclui parte do Pantanal brasileiro. A organização acusa a indústria da carne europeia, especialmente a alemã, de demandar quantidades enormes de soja para alimentar seu rebanho, soja vem da América do Sul. O foco, então, se volta para o desmatamento de florestas nativas para abrir espaço para os campos de soja, e ao emprego de uma quantidade de agrotóxicos descomunal para os padrões europeus. Os números do relatório impressionam: em 2016, a Europa importou quase 30 milhões de toneladas de soja, 4 dos quais para a Alemanha. A indústria de carne alemã alardeia que suas salsichas e schnitzels são sustentáveis e de origem local. Mas não conta de onde vem a comida dada aos animais. O trabalho se mostra, também, preocupado com a expansão da soja no Cerrado brasileiro e, tomando o caso da Moratória da Soja, que reduziu a pressão sobre a Floresta Amazônica, diz ser este um caminho importante a ser trilhado para outros biomas da América do Sul.

http://www.mightyearth.org/avoidablecrisis/

http://m.dw.com/pt-br/carne-alem%C3%A3-contribui-para-desmatamento-na-am%C3%A9rica-do-sul/a-43143576

 

CHINA CUMPRE SUA META DE EMISSÕES PARA 2020 BEM ANTES DO TEMPO

O ministro chinês Xie Zhenhua, o mais alto oficial climático do país, disse ontem que a meta climática chinesa para 2020 foi atingida no ano passado. A emissão por unidade de produção caiu 46% em comparação com 2005. A crise provocada pela poluição nas grandes cidades chinesas pelas térmicas a carvão fez com que o governo declarasse guerra à poluição e começasse a coibir a geração a carvão. Pelo menos até 2016, com a economia chinesa esfriando, o consumo de carvão diminuiu. No ano passado, com a economia se reaquecendo, a China viu seu consumo de carvão subir novamente, mas ainda longe dos níveis de há cinco anos. Assim, o PIB cresceu mais que a queima de carvão, e o ministro pode se gabar de ter antecipado em três anos um dos compromissos climáticos assumidos pelo país. Ao mesmo tempo, nas grandes cidades, a poluição caiu a ⅓ do pico de há quatro anos. Nelas, além da redução drástica da queima de carvão, o governo implantou restrições à circulação de carros. Informações mais técnicas sobre o feito chinês podem ser encontradas nos 2 últimos links abaixo.

https://www.reuters.com/article/us-china-climatechange-carbon/china-meets-2020-carbon-target-ahead-of-schedule-xinhua-idUSKBN1H312U

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/03/quatro-anos-depois-de-declarar-guerra-a-poluicao-china-esta-vencendo.shtml

https://epic.uchicago.edu/sites/default/files/technical_support%20030118.pdf

https://epic.uchicago.edu/sites/default/files/UCH-EPIC-AQLI_Update_8pager_v04_Singles_Hi%20%282%29.pdf

 

A INVIABILIDADE DO CARVÃO NORTE-AMERICANO

Estudo feito pela Bloomberg sobre a produção de carvão norte-americana indicou que mais da metade das minas em operação estariam dando prejuízo. Assim, os analistas preveem tempos turbulentos na medida em que mais minas venham a encerrar suas operações. O estudo analisou dados econômicos mensais de todas as minas de carvão desde 2012. Das que não estão no vermelho, 95% ficam em estados onde o governo define tarifas que as mantêm vivas em nome de uma pretensa “segurança energética”. Os autores comentam que “ficamos boquiabertos com a resiliência do carvão norte-americano, (onde) plantas persistem, mesmo quando sai mais caro operá-las do que trocar por outra fonte”.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-26/half-of-all-u-s-coal-plants-would-lose-money-without-regulation

 

JUSTIÇA EXIGE QUE EXPLORAÇÃO DE FÓSSEIS NOS EUA APRESENTE IMPACTOS CLIMÁTICOS

Por falar em fósseis, um juiz do estado de Montana barrou a abertura de 60 mil km2 de terras públicas para exploração de carvão, óleo e gás, porque o governo não levou em conta os impactos desta exploração sobre o clima e outros recursos naturais. 40% do carvão queimado nos EUA vêm desta região e, na área barrada, estima-se que haja mais de 10 bilhões de toneladas de carvão, fora um monte de poços de petróleo e gás.

https://insideclimatenews.org/news/26032018/coal-mining-climate-impacts-powder-river-basin-fossil-fuels-wyoming-montana-blm-nepa-ruling

 

AS IDAS E VINDAS DO MERCADO EUROPEU DE EMISSÕES

Segundo a Bloomberg, o mercado de carbono europeu começa a dar sinais de vida e o EU-ETS (European Emissions Trading System) começa a ter um aumento nos preços das permissões negociadas. Algumas geradoras já se posicionaram a favor do mercado, talvez porque tenham um estoque de permissões guardado debaixo do colchão. Já a indústria do aço não está gostando. Com Trump impingindo taxas de importação, um aumento no preço do carbono significa reduzir ainda mais a competitividade do aço europeu.

Já os produtores de borracha do sudeste asiático dizem que o preço do carbono na Europa é baixo demais para proteger florestas nativas e que a tendência continuará sendo plantar para a produção de óleo de palma e borracha.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-26/europe-s-38-billion-carbon-market-is-finally-starting-to-work

https://www.reuters.com/article/us-carbon-rubber/carbon-prices-too-low-to-protect-se-asian-forests-from-rubber-expansion-report-idUSKBN1GW14Y

 

CIENTISTAS ESTIMAM O DERRETIMENTO DO PERMAFROST ÁRTICO E IMAGENS DA MUDANÇA DO CLIMA NO ALASCA

Estima-se que haja o dobro de carbono enterrado no permafrost do que o existente na atmosfera do planeta. Permafrost que se dá ao solo permanentemente congelado da Sibéria, do Canadá, do Alasca e de outras regiões árticas. Todo material orgânico alí existente está congelado. Com o aquecimento global, o permafrost começa a derreter e as bactérias voltam à atividade, digerindo o material orgânico descongelado. Se este processo acontece dentro de lagos e poças, sem oxigênio, as bactérias liberam metano, o CH4; se acontece em áreas secas, outras bactérias liberam dióxido de carbono, o CO2. Um trabalho recém publicado pela Nature estima ser possível que boa parte do carbono estocado no permafrost acabe sendo liberado à atmosfera na forma de CO2, o que é bem menos ruim do que se saísse na forma de CH4. Até agora, acreditava-se que, ao contrário, a emissão de CH4 seria muito maior e, sendo este 28 vezes mais capaz de segurar calor na atmosfera do que o CO2, o impacto seria muito maior.

Um outro trabalho, este publicado na PNAS (Proceedings of National Academy of Sciences), tenta prever o futuro do permafrost. Os autores usaram modelos climáticos para estimar quanto carbono seria liberado do permafrost em dois cenários diferentes de aumento de temperatura. Um destes supõe que a humanidade consiga reduzir 75% das suas emissões até o final do século; o outro supões que ninguém venha a fazer muita coisa. No primeiro, de 3 a 5 milhões de km2 de permafrost derreteriam, o que emitiria quase 70 bilhões de tCO2e, o dobro do que a humanidade emite hoje. No segundo cenário, o derretimento pode chegar a 16 milhões de km2 e emitir 650 bilhões de tCO2e, basicamente depois de 2100. O trabalho, basicamente, reforça a necessidade de agir, e rápido, para conter o aquecimento global.

A Folha de São Paulo publicou fotos do Alasca onde é possível ver os efeitos que a mudança do clima estão produzindo naquela paisagem.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0095-z

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/03/180326160953.htm

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/03/o-impacto-destruidor-do-aquecimento-global-no-alasca.shtml

 

DESMATAMENTO PODE CRESCER NA ÍNDIA, PAÍS QUE VIROU O TERCEIRO MAIOR GERADOR DE ELETRICIDADE DO MUNDO

Uma nova Política Florestal está em discussão na Índia, propondo trocar florestas nativas por plantações comerciais de teca, eucalipto e bambu. Organizações da sociedade civil estão denunciando a proposta por ameaçar populações nativas que dependem das florestas como estão, e que terão que sair caso grandes plantações comerciais ocupem seu lugar. A Índia havia prometido manter ⅓ do seu território com cobertura florestal, mas o crescimento da população e das pressões econômicas ameaçam o cumprimento da promessa.

Em 2017, a Índia passou a ser o 3o maior gerador de eletricidade, atrás apenas dos EUA e da China, só que muito dessa energia ainda tem origem fóssil. Da capacidade adicionada no ano passado, menos de 20% era renovável.

https://www.reuters.com/article/us-india-environment-lawmaking/conservationists-slam-indias-plan-for-commercial-plantations-in-forests-idUSKBN1H211J

http://www.business-standard.com/article/economy-policy/now-india-is-the-third-largest-electricity-producer-ahead-of-russia-japan-118032600086_1.html

 

NÃO FALAMOS DA HORA DO PLANETA

Distraídos que estávamos com a cana no Senado, os relatórios da biodiversidade e os fóruns da água, passamos batido pela Hora do Planeta que aconteceu no sábado, 24. Na matéria abaixo, algumas fotos do evento ao redor do planeta.

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/03/monumentos-ficam-as-escuras-em-prol-do-ambiente.shtml

 

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