ClimaInfo, 05 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

LEILÃO CONTRATA 1 GW RENOVÁVEIS COM RECORDES DE PREÇO BAIXO

O leilão de energia elétrica de ontem (A4) contratou 1 GW em novas usinas após uma acirrada disputa entre investidores que acabou baixando o preço médio final em 59%. Os projetos contratados devem entrar em operação até janeiro de 2022, com investimentos de R$ 5,3 bilhões.
As energias solar e eólica foram contratadas pelo menor valor da história no Brasil: 806,6 MW solares foram contratados a preços entre R$ 117 e R$ 118 por MWh, contra o recorde anterior de R$ 143,50 obtido no final do ano passado (o deságio solar, ontem, foi de 60%); outros 114,4 MW eólicos foram contratados a R$ 67,60 por MWh (deságio de mais de 70%), muito abaixo do recorde de R$ 97 conseguido no final do ano passado.
Apesar dos preços solares obtidos ontem serem recordes nacionais, ainda são bastante superiores aos recordes internacionais: até onde se sabe, a Arábia Saudita detém o recorde de preço baixo para a eletricidade solar, com 1,79 ¢/kWh, seguida pelo Chile que, em leilão feito em novembro passado, conseguiu 2,148 ¢/kWh; o recorde brasileiro de ontem equivale – em dólares cotados a R$3,20 – a 3,65 ¢/kWh.
A energia eólica contratada ontem também atingiu um recorde de baixa para o país e se aproximou dos recordes de baixa internacionais: os contratos de ontem chegaram a 0,2076 ¢/kWh, valor bem próximo ao recorde de preço baixo conseguido em leilão feito no México no ano passado, que foi de 0,2057 ¢/kWh.
O leilão de ontem também contratou 61,8 MW em térmicas a biomassa e 41,6 MW em pequenas hidrelétricas, com deságios também expressivos, de 40% e 30%, respectivamente.
https://exame.abril.com.br/economia/leilao-de-energia-a-4-contrata-1-gw-em-novas-usinas/

https://electrek.co/2017/11/08/chilean-solar-down-26-as-important-as-saudi-arabia-at-1-79%C2%A2-kwh/

http://www.rechargenews.com/wind/1465873/brazil-contracts-114mw-of-wind-in-tender-at-record-low-prices

 

CONGRESSO TIRA DO TESOURO PARA DAR AOS RURALISTAS

Ontem, o Congresso arrancou mais um monte de dinheiro do Tesouro Nacional para satisfazer a bancada ruralista. Esta tinha pedido um perdão escalonado das dívidas de produtores rurais com o Funrural – uma espécie de previdência rural. Depois de muita negociação, Temer vetou o perdão total para alguns produtores. Mas o Congresso derrubou este veto e, segundo analistas, num jogo combinado, repôs o perdão total da dívida para muitos produtores. Estima-se que o governo deixará de arrecadar R$ 10 bilhões em dívidas perdoadas.

É a velha história, trouxa é quem fica em dia com seus impostos.
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/04/03/congresso-derruba-veto-de-temer-a-refinanciamento-de-dividas-vinculadas-ao-funrural

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/04/derrotas-e-concessoes-politicas-vao-custar-r-23-bi-para-governo.shtml

 

GOVERNO TIRA DO TESOURO PARA DAR ÀS AUTOMOTIVAS

A discussão em torno do Rota 2030, o programa de incentivo ao aumento da eficiência dos carros nacionais, terminou empatada. As automotivas queriam, com o apoio do MDIC (ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior), além do desconto no Imposto de Renda e na CSLL, descontos no IPI e nas contribuições ao PIS e ao Cofins. O ministério da fazenda foi contra. Ao final, as automotivas terão o desconto que pediram durante três anos. Passado este prazo, descontos só no IR e na CSLL, que incidem somente sobre o lucro das empresas. Em troca, as montadoras prometem investir no aumento da eficiência dos carros nacionais.

Considerando que a maior parte das inovações que as montadoras colocam no mercado vêm de seus centros de pesquisa no exterior, o dinheiro que o Tesouro deixará de arrecadar acabará parando no bolso dos seus acionistas. Entrevistada, uma fonte do setor disse que “não é o ideal, mas ajuda”. É o caso de perguntar, ajuda a quem, cara pálida, a quem?

http://www.valor.com.br/brasil/5424761/novo-rota-2030-amplia-incentivo-fiscal

http://www.valor.com.br/brasil/5424733/rota-2030-deve-ganhar-solucao-salomonica#

http://www.valor.com.br/brasil/5424735/nao-e-o-ideal-mas-ajuda-dizem-representantes-do-setor#

 

O AGRO NÃO É TUDO. A INDÚSTRIA É MUITO MAIS

Manchete de 2a feira dizia que o preço do frete subiu 40% porque as safras de soja do sul e do centro-oeste coincidiram e faltou caminhão para escoar a produção. A notícia não explicava que o transporte de grãos corresponde a menos de 7% da carga transportada no Brasil.

A mídia adora mostrar as filas de caminhões atolados na BR-163, por onde é escoada a soja e o milho do norte do Mato Grosso. Mas nunca diz que por ali passa, somente, 3% de tudo que é transportado no país. Outra afirmação pisada e repisada a cada discurso ruralista diz que a economia brasileira só não vai ainda pior por causa do agronegócio. E o setor faz uma campanha milionária no horário mais caro da televisão cujos filmes sempre terminam com o lema “o agro é tudo”. Mas não, não é.

O agro, que se diz “tudo”, foi responsável por somente 5,7% do PIB no ano 2000 e por ainda menos no ano passado, 5,3%. No auge da recessão, o agro formou 5,0% do PIB de 2015 e 5,7% do de 2016. A pobre indústria, que quando aparece na mídia aparenta quase ter desaparecido, responde desde a segunda metade do século passado por mais de 20% do PIB, quatro vezes mais do que o agro.

É certo que, nos últimos tempos, a produção agropecuária vem sendo importante para melhorar a balança comercial brasileira. Mas a soja, que tanto aparece, respondeu por entre 13% e 15% das receitas de exportação. De novo, a combalida indústria tem respondido por mais de 40%.
http://www.valor.com.br/politica/5427685/congresso-derruba-vetos-e-impoe-derrota-ao-governo

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,congresso-derruba-vetos-de-temer-e-causa-impacto-de-r-13-bi-no-orcamento,70002253424

http://www.valor.com.br/agro/5421731/fretes-rodoviarios-tem-alta-de-ate-40-no-pais

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/81ae530dde1921d8cb04144b8e283246.pdf

http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-01/balanca-comercial-encerra-2017-com-melhor-saldo-positivo-da-historia

http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/series-historicas

 

O DINHEIRO CHINÊS NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE

As relações entre a China e a região que compreende a América Latina e do Caribe (ALC) continuaram crescendo fortemente durante 2017, principalmente no comércio e no investimento direto em atividades de extração, infraestrutura e, em menor escala, manufatura, segundo o Boletim Econômico 2017 China-América Latina. Por seu lado, os empréstimos oficiais chineses aos governos da região caíram em 2017, de acordo com o Banco de Dados de Finanças China-América Latina. E o foco mudou: enquanto nos anos anteriores os empréstimos oficiais chineses eram dedicados a uma ampla gama de setores e projetos, em 2017 se focaram principalmente na energia.
Entre outras coisas, o Boletim revela que:
– o déficit comercial da região com a China diminuiu ligeiramente para 0,7% do PIB regional, devido à recuperação dos preços das principais commodities que dominam as exportações da ALC para a China, especialmente petróleo, cobre e ferro;
– a região exportou US$ 104 bilhões para a China e importou US$ 140 bilhões da China em 2017, comparados com os respectivos US$ 84 e US$ 122 do ano anterior. A China continua sendo o mercado de exportação mais importante para a América do Sul, e o segundo maior para toda a região;
– as empresas chinesas investiram US$ 4,4 bilhões na ALC em novos projetos ao longo de 2017, bem acima dos US$ 2,7 de 2016. O setor extrativo mineral manteve um papel importante, mas os setores de metais e manufatura receberam maior destaque, representados por quatro dos cinco novos grandes projetos;
– as empresas chinesas gastaram um recorde de US$ 17,7 bilhões em fusões e aquisições na ALC em 2017, principalmente no setor energético brasileiro, onde a State Grid e a State Power Investment Corporation puseram US$ 14,5 bilhões; e
– os empréstimos oficiais chineses à ALC caíram, em 2017, para o valor mais baixo em cinco anos; dos US$ 9 bilhões emprestados, R$ 8 bilhões foram para projetos de petróleo, energia solar e energia eólica.
O Boletim projeta um crescimento da participação chinesa nos setores de infraestrutura e energia da região, já que vários acordos já foram assinados para o financiamento e a contratação de estradas e represas, principalmente na região da Amazônia Andina.
https://www.bu.edu/gdp/files/2018/04/C-LAC-Bulletin-2018.pdf

https://www.thedialogue.org/map_list/

 

A FRANCESA ENGIE SE LIVRA DE TÉRMICAS A CARVÃO, MAS MANTÉM TÉRMICAS A GÁS NO CHILE E NO BRASIL

A Engie decidiu se livrar do carvão, pelo menos na América do Sul. A empresa fechou suas térmicas a carvão no Chile e pretende instalar plantas renováveis no seu lugar. Desde o final do ano passado, a empresa busca vender o mais antigo complexo de geração a carvão existente no Brasil, a Usina Jorge Lacerda, no litoral sul de Santa Catarina, além de tentar vender duas outras térmicas localizadas em Candiota, na região carvoeira do Rio Grande do Sul, uma em construção e outra com projeto aprovado. A Engie também está investindo em renováveis no Brasil, mas mantém um portfólio de térmicas a gás natural. A empresa, que já se chamou GDF-Suez e comprou os ativos da Tractebel, é uma das maiores empresas do setor elétrico.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-04-03/engie-ditches-dirty-coal-as-latin-america-turns-to-clean-power

http://www.contourglobal.com/asset/solutions-brazil

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53045231/engie-da-para-contour-global-exclusividade-na-compra-de-usinas-a-carvao

 

O CONTROLE DA GEOENGENHARIA DEVE SER DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO E DOS MENOS DESENVOLVIDOS

Um grupo respeitável de cientistas de vários locais do mundo, que têm em comum fortes laços com o mundo em desenvolvimento, defendeu na revista científica Nature a liderança dos países do hemisfério Sul sobre os projetos de geoengenharia solar, posto que estes países são os mais vulneráveis tanto à mudança do clima como, potencialmente, aos impactos indesejados destes projetos megalômanos. Os autores levantam questões éticas importantes quanto à governança dos projetos, principalmente colocando na balança os benefícios climáticos e seus efeitos colaterais. O que pode ser razoável para os EUA, pode não ser para um país do Sul global e, para que a balança não penda para o lado errado, os autores propõem que cientistas e sociedades do Sul se coloquem à frente destas iniciativas.

https://www.nature.com/articles/d41586-018-03917-8

http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,geoengenharia-climatica-pode-causar-desastre-e-pobres-serao-mais-afetados-dizem-especialistas,70002253199

http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/12-geoengenharia-climatica-pode-causar-desastre-e-pobres-serao-mais-afetados-dizem-especialistas/

 

POLÍTICAS CLIMÁTICAS DEVERIAM AGIR SOBRE A OFERTA DE FÓSSEIS?

A maior parte das conversas e trabalhos sobre o enfrentamento do aquecimento global gira em torno de medidas de mitigação das emissões de gases de efeito estufa provenientes, principalmente, da queima de combustíveis fósseis. No campo econômico, fala-se com frequência em precificar as emissões de carbono. Mas pouco se fala de ações sobre a oferta de fósseis. As ações contra o fracking e contra fossildutos são exceções que confirmam a regra.

No mês passado, dois economistas, um da London School of Economics and Political Science, e outro do The Australia Institute, sugeriram que uma política restritiva à oferta de fósseis poderia gerar benefícios econômicos e políticos significativos, e que esta discussão deveria andar de mãos dadas com propostas e compromissos de redução da demanda de fósseis. Os economistas chamam a isso de “usar as duas lâminas da tesoura”.

Exemplos de políticas de restrição à oferta começam pela eliminação de subsídios e incluem impostos sobre a exploração, a fixação de cotas de produção e, também, proibições. A vantagem proporcionada por estas restrições têm origem no infinitamente menor número de atores e de localizações, se comparados aos números envolvidos com a criação de impostos sobre as emissões ou esquemas de cap-and-trade; assim, as primeiras teriam menores custos de implantação e operação. Os autores chegam a imaginar táticas de enfrentamento de petroleiras e carvoeiras, e mostram como seria possível criar divisões entre seus blocos e evitar esforços coordenados.

Vale a leitura para avaliar se as ideias se aplicam para um país que tem uma Petrobras.

https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2Fs10584-018-2162-x.pdf

https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/4/3/17187606/fossil-fuel-supply

 

ONDA DE CALOR ATINGE A ÁSIA CENTRAL E QUEBRA VÁRIOS RECORDES DE TEMPERATURA

No final de março, uma onda de calor atingiu vários países da Ásia Central estabelecendo vários recordes de temperatura. Se os recordes registrados tenham sido só pouco acima dos valores anteriores, o fato de tantos lugares os registrarem mostra que a onda foi forte. Segue a lista:

– Paquistão: 45,5oC (recorde anterior: 45oC em 2010)
– Iraque: 43,8oC (recorde anterior 42,4oC em 2010)
– Qatar: 40oC (recorde anterior 39oC em 1998)
– Turcomenistão: 40,2oC (recorde anterior 39,1oC em 2010)
– Uzbequistão: 37,2oC (recorde anterior 36,4oC em 2000)
– Tajiquistão: 35,3oC (recorde anterior 33,3oC em 1971)

https://www.washingtonpost.com/news/capital-weather-gang/wp/2018/04/03/pakistans-114-degrees-just-one-of-many-all-time-march-records-toppled-in-asia

 

GELEIRAS ANTÁRTICAS PERDEM O APOIO E RECUAM 5 VEZES MAIS RAPIDAMENTE QUE A MÉDIA HISTÓRICA

Em toda volta da Antártica, as plataformas de gelo servem como rolhas, prendendo as geleiras que as alimentam e fazendo com que estas derretam em equilíbrio com a neve que cai e as alimenta. Mas cientistas descobriram recentemente que estas plataformas estão derretendo muito mais rapidamente do que se supunha, basicamente porque o derretimento está acontecendo por debaixo d’água, às vezes a 2 km abaixo da superfície. Os cientistas estimam que mais de 1.600 km2 de gelo submarino derreteram só por conta da água do oceano ter se aquecido um tanto. Com isso, em oito das maiores geleiras, a velocidade de degelo medida está cinco vezes mais rápida do que a média histórica. Os cientistas estimam que, em breve, a Antártica ultrapassará a Groenlândia no posto de principal responsável pela elevação do nível do mar.

https://www.nature.com/articles/s41561-018-0082-z

https://insideclimatenews.org/news/02042018/antarctica-ice-sheet-shelf-glaciers-grounding-line-receding-worst-case-sea-level-rise-risk

https://www.theguardian.com/environment/2018/apr/02/underwater-melting-of-antarctic-ice-far-greater-than-thought-study-finds

 

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