ClimaInfo, 9 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

FALANDO DE RAPOSAS, GALINHEIROS E COVARDES

O planalto confirmou, ontem, Moreira Franco para o galinheiro, ôps, o ministério das minas e energia. Ironicamente, o genro do genro de Getúlio Vargas será responsável por privatizar a Eletrobrás e pelos leilões de petróleo e eletricidade deste último ano de governo Temer. Este último, aliás, desistiu de controlar os gastos públicos e escancarou a porta do cofre, agora que Meirelles saiu da frente, segundo a Folha de S. Paulo, deixando o gigantesco déficit público para o futuro coroado nas eleições de outubro.

Por falar em eleições, 6a feira foi o último dia para postulantes a cargos nas eleições se filiarem a partidos. Muitos deputados aproveitaram a janela criada por eles mesmos para mudar de partido. Segundo O Globo e o Estadão, foram pelo menos 80. Num movimento ao estilo Titanic, o MDB perdeu 13 deputados e o DEM ganhou 11, enquanto Temer segue tocando piano com seus frenéticos dedinhos enquanto o barco afunda. Os movimentos de suas excelências deixam claro a intenção de blindagem contra o prosseguimento das Lava-Tudo que o Judiciário deve à Nação.

Em tempo: até ontem à noite, não havia definição sobre o substituto de Sarney Filho no Meio Ambiente.

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/04/08/moreira-franco-assumira-ministerio-de-minas-e-energia.htm

http://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/temer-bate-martelo-e-moreira-franco-vai-assumir-minas-e-energia/

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/04/temer-solta-freio-dos-gastos-e-joga-peso-do-deficit-para-sucessor.shtml

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,16-dos-deputados-aproveitam-janela,70002259274

 

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO SÓ PODEM SER ALTERADAS COM APROVAÇÃO DO CONGRESSO

O Supremo Tribunal Federal decidiu na 5a feira que “é inconstitucional a diminuição, por meio de medida provisória, de espaços territoriais especialmente protegidos”. A decisão aconteceu em resposta a uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) interposta pela Procuradoria Geral da República de 2012, que questionava uma MP que reduziu o tamanho de Unidades de Conservação e Florestas Nacionais. Como o congresso já transformou a MP em lei, não há, no entender do STF, como voltar atrás no caso específico das Unidades de Conservação reduzidas pela MP 558/2012. Mas, daqui pra frente, toda redução de área protegida tem que seguir o ritual de um projeto de lei. Assim, reduz-se a possibilidade de uma MP qualquer abrir espaço para uma rápida regularização de ações de grilagem, tornando-as fato consumado. Nas palavras de Maurício Guetta do ISA, entrevistado pelo Valor, “o fundamento do pedido é que MPs produzem efeitos imediatos e os danos ambientais são irreversíveis.”

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=374559

http://www.valor.com.br/brasil/5434735/stf-decide-que-governo-nao-pode-mais-reduzir-unidades-de-conservacao-por-mp#

 

SERIA A GUERRA COMERCIAL ENTRE EUA E CHINA BOA PARA O ETANOL BRASILEIRO?

A guerra comercial entre a China e os EUA cria um cenário confuso para o etanol brasileiro. No ano passado, a China importou quase 1 bilhão de litros de etanol dos EUA. Agora, o país aumentou a tarifa de importação e inviabilizou compras do bicombustível produzidos nos EUA. De quem a China passará a comprar etanol? E para quem os EUA venderão seu excedente? Dois artigos publicados na semana passada analisam dados e opiniões tentando mostrar oportunidades, mas deixando incertezas no ar. A China parece ter um estoque de milho impróprio para consumo humano que, convertido em etanol, seria suficiente para navegar durante a guerra comercial. A balança comercial de etanol com os EUA é quase nula. O Brasil importa etanol durante os quatro meses da entressafra da cana e os EUA importam praticamente o mesmo tanto para misturar à gasolina (o etanol de milho não atinge os níveis de performance exigidos pela regulação norte-americana). Se a China decidir continuar importando etanol, seria um mercado interessante para eventuais sobras brasileiras. Resta descobrir o que farão os norte-americanos se começar a sobrar milho para o etanol. Pipoca?

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-nao-tem-etanol-para-exportar,70002258019

 

CARROS MOVIDOS A BIOGÁS NO INTERIOR DE SÃO PAULO

Em Franca, a Sabesp trocou sua frota por modelos que queimarão gás produzido na estação de tratamento de esgotos. A divulgação se vangloria de ser “pioneira por aqui”, apesar dos vários exemplos de veículos andando com biogás. O pioneirismo talvez se refira ao uso do biogás de esgoto em carros, enquanto as experiências nacionais mais divulgadas se referem a ônibus rodando com biogás de aterro sanitário nas cidades de Sorocaba, Londrina e Florianópolis. O mais bem sucedido até agora é o sistema montado em Recife. Mas essa da Sabesp, em Franca, não deixa de ser uma excelente notícia.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,cidade-do-interior-de-sp-passa-a-usar-gas-do-esgoto-como-combustivel,70002256277

http://www.energia.sp.gov.br/2017/02/brasil-ja-testa-carros-abastecidos-com-biogas/

https://petronoticias.com.br/archives/61428

http://cetesb.sp.gov.br/biogas/2016/10/17/4049/

 

UMA CRÍTICA AO ROTA 2030

Editorial da Folha de S. Paulo de ontem faz uma crítica importante ao programa de subsídios à indústria automotiva, o Rota 2030, que acaba de ser assinado por Temer. Dado que o governo virou um gerente do vermelho do cheque especial, abrir mão de arrecadação demanda contrapartidas significativas para o país, o que não parece ser o caso das promessas feitas pela indústria automotiva. Segundo a Folha, apesar do chamado “Custo Brasil”, a indústria vive atrás de muralhas de protecionismo. “O mundo caminha para uma revolução na área de mobilidade, a ponto de várias empresas já terem decretado a morte em poucos anos dos motores de combustão. Como se preparar para tal cenário? A resposta não está em mais restrições à concorrência externa, mas em abertura e integração… A indústria automobilística brasileira deve aprender a andar com as próprias pernas – ou rodas.”
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/04/rota-sinuosa.shtml

 

NA COLÔMBIA, OS DIREITOS DA PESSOA PASSAM A SE APLICAR À FLORESTA AMAZÔNICA

O STF colombiano, a Corte Suprema de Justicia, deu à floresta amazônica uma proteção judicial igual à dada aos cidadãos colombianos. A sentença foi proferida com o pensamento voltado à mudança do clima e ao entendimento de que não se está fazendo o suficiente no combate ao desmatamento. A Corte mandou a Presidência e o Ministério do Ambiente entregarem, nos próximos quatro meses, um plano de ação para acabar com o desmatamento e, nos próximos cinco meses, formular um pacto intergeracional pela vida da floresta Amazônica colombiana que adote medidas para zerar completamente o desmatamento.

Talvez os ministros do nosso STF, numa eventual pausa na polarização do ambiente político, possam voltar seus olhos para o ambiente natural e se inspirar nos colegas colombianos.

https://www.elespectador.com/noticias/judicial/la-amazonia-colombiana-tiene-los-mismos-derechos-que-una-persona-articulo-748340

 

A IMO ENTREGARÁ O ACORDO CLIMÁTICO DO ANO?

Marina Aizen resumiu no Clarín argentino o falso dilema ao qual se agarram os negociadores brasileiros nas reuniões sobre a limitação das emissões de carbono da navegação internacional: “este ano, o aumento da temperatura está causando verdadeiros estragos no campo argentino em quase 100 por cento dos produtos que justamente queremos exportar. Não é uma inclemência casual do tempo que está provocando a seca. O fenômeno é amplificado pela acumulação de gases na atmosfera. Então, ou começamos a mudar ou esta natureza alterada nos determina. É pedir demais?”

Nesta semana, a IMO (Organização Marítima Internacional) concluirá os trabalhos da reunião, em princípio, definidora de como a navegação vai dar sua contribuição, mitigando suas emissões de gases de efeito estufa. Sobre a mesa está um leque de propostas, que vão do compromisso de zerar as emissões até 2030 até um insosso “vamos aumentar a eficiência dos barcos o melhor que pudermos”. A posição brasileira, aparentemente, vem sendo fortemente influenciada pela Vale e outros exportadores que não querem perder mercado por causa de um frete mais alto.

O que é certeza é que, se cada país, rico ou pobre, se esconder atrás do muro da competitividade, a temperatura média global subirá. E depois,  apontar o dedo para os outros não servirá de consolo

https://www.clarin.com/opinion/londres-hundas-paris_0_rkV5gr4sf.html

http://www.climatechangenews.com/2018/04/06/climate-weekly-un-shipping-talks-head-climate-showdown/

https://www.carbonbrief.org/in-depth-will-countries-finally-agree-climate-deal-for-shipping

https://www.bloomberg.com/view/articles/2018-04-05/greener-shipping-can-help-fight-climate-change

https://uk.reuters.com/article/us-norway-shipping-imo/norway-targets-imo-to-halve-global-shipping-emissions-by-2050-idUKKCN1HC1OG

 

AS PRIMEIRAS MORTES E O PRIMEIRO BILHÃO DE DÓLARES DO ANO

No começo do ano, toda a costa leste dos EUA penou com uma onda de frio polar cujos prejuízos deram no primeiro bilhão de dólares do ano. Entre enchentes, quase um metro de neve e um tornado no sudeste, a contagem de mortes chegou a 34.

E os modelos da NOAA preveem um 2018 que pode deixar saudades de 2017. As enchentes de maré alta devem acontecer praticamente todos os dias do ano ao longo da costa do Golfo do México, e é provável vermos mais furacões devastadores do que no ano passado.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-04-06/new-york-s-nor-easters-join-list-of-2018-1-billion-disasters

http://time.com/5229383/2018-hurricane-season-forecast/

https://tidesandcurrents.noaa.gov/publications/techrpt86_PaP_of_HTFlooding.pdf

https://tidesandcurrents.noaa.gov/publications/techrpt86_PaP_of_HTFlooding.pdf

https://www.wunderground.com/cat6/noaa-report-todays-damaging-floods-will-be-tomorrows-high-tides

 

BARCO CARREGADO DE CARVÃO PROVOCA 5 MORTES E UM VAZAMENTO TREMENDO DE ÓLEO NA INDONÉSIA

Um barco cheio de carvão, numa tempestade, corretamente baixou a âncora. Porém, esta se enroscou num duto de petróleo no fundo do mar na Indonésia. O acidente provocou 5 mortes, um incêndio no mar, a contaminação de mangues e uma mancha de óleo espalhada numa área de 130 km2, matando peixes e pássaros. A área é maior do que a cidade de Paris. A âncora do navio de carvão arrastou o oleoduto por mais de 100 metros, antes deste romper e provocar o vazamento de petróleo. Se não há ligação direta com a mudança do clima, não deixa de ser simbólico o carvão ser responsável por um desastre de petróleo.

https://www.reuters.com/article/us-indonesia-environment-oil/indonesia-blames-coal-ship-for-oil-spill-not-state-energy-firm-idUSKCN1HC1FP

https://news.mongabay.com/2018/04/deadly-oil-spill-in-eastern-borneo-spreads-to-the-open-sea

 

O CANADÁ E SEUS FÓSSEIS

O governo canadense do moderninho Justin Trudeau está se movendo para eximir os campos de óleos e gases betuminosos de limites de emissões de carbono. O Canadá é o 7o maior produtor de fósseis, carvão à parte, e detém a 3a maior reserva do mundo. O embate entre os conservacionistas e os petroleiros é o centro do debate sobre um futuro sustentável do país. O governo Trudeau, que, desde sua campanha eleitoral, se apresenta como defensor dos valores ambientais, na ‘hora H’ encontra uma retórica para, na prática, manter o dinheiro fóssil alimentando o país. Desta vez, Catherine McKenna, a ministra do meio-ambiente, declarou inicialmente que a província de Alberta, onde ficam os grandes campos betuminosos, tem uma regulação que controla os gases causadores do efeito estufa. Logo seguida, disse que tudo vai depender de uma ampla consulta ao povo canadense. Enquanto isso, a extração e, portanto, a queima dos fósseis produzidos continua.

https://www.desmog.ca/2018/04/02/canada-moving-exempt-majority-new-oilsands-projects-federal-assessments

https://www.nationalobserver.com/2018/04/05/news/canada-moves-exempt-most-new-oilsands-projects-federal-assessments

 

UM NOVO RIO NA ARGENTINA, E UMA BACIA A MENOS NA AUSTRÁLIA

Na província de San Martin, Argentina, a erosão somada à monocultura da soja e à seca agravada pela mudança do clima pariram uma longa ravina, por onde agora passa um novo rio – o Rio Nuevo. A ravina já tem mais de 25 km de comprimento, chega a 25 metros de profundidade, e está destruindo plantações e pastos de fazendeiros locais. Esteban Jobbágy, um especialista ambiental da Universidade de San Luís, resume a situação dizendo que “a Argentina é uma república de bananas onde a soja faz o papel da nova banana”. Se soa familiar, não deve ser mera coincidência.

Do outro lado do globo, na Austrália, uma longa e bela matéria, cheia de fotos e vídeos, mostra a morte de toda uma bacia no sudeste do continente. As análises, enriquecidas por depoimentos dos que persistem na região, mostram mais uma vez como o imediatismo e a busca por resultados a curtíssimo prazo destroem irreversivelmente ambientes importantes para a manutenção da biodiversidade e da espécie humana.

https://www.theguardian.com/world/2018/apr/01/argentina-new-river-soya-beans

https://www.theguardian.com/environment/video/2018/apr/01/the-argentinian-river-that-appeared-suddenly-in-2015-aerial-video

https://www.theguardian.com/environment/ng-interactive/2018/apr/05/murray-darling-when-the-river-runs-dry

 

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