ClimaInfo, 11 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

MOREIRA FRANCO LEVA APREENSÃO AO SETOR ELÉTRICO

Na revoada de ministros em busca da reeleição, Temer já definiu dez novos ministros e precisa definir mais dois. Nas minas e energia, Temer colocou seu secretário geral, Moreira Franco, anteriormente escalado para o comando das PPIs (Programa de Parcerias de Investimentos). Gente que estava no ministério em posições importantes e que vinha do setor elétrico já pediu demissão e está sendo substituída por gente do petróleo e do gás. A reformulação do setor elétrico, provavelmente, ficará para o próximo governo por não trazer dividendos políticos ou em espécie. Assim, as tarifas de energia dificilmente deixarão de subir um tanto a mais devido aos prejuízos gerados pela regulação atual. Mais, a importante Aneel, reguladora-mor do sistema, corre o risco de ser ocupada por indicações de gente como Edison Lobão, do MDB do Maranhão ou do MDB de Roraima, mais afeitos a ganhos pessoais, políticos e, por que não dizer, em espécie.

No começo de seu mandato, Temer conseguiu montar uma equipe que granjeou elogios e suporte no setor elétrico. Parece que agora a opção é mesmo por rifar o futuro do país.

http://www.valor.com.br/brasil/5441325/reforma-e-solucao-de-risco-hidrologico-devem-ser-adiados#

http://www.valor.com.br/brasil/5441327/setor-teme-loteamento-politico-na-aneel

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mercado-desconfia-da-venda-da-eletrobras-e-acoes-caem,70002261698

http://www.valor.com.br/brasil/5441321/debandada-de-tecnicos-no-mme-desagrada-e-aumenta-descrenca-sobre-privatizacao

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/04/acoes-da-eletrobras-despencam-com-indicacao-de-moreira-para-ministerio.shtml

 

IBAMA FAZ CONSULTA PÚBLICA SOBRE LIMITAÇÃO DAS EMISSÕES DE GEEs PARA VEÍCULOS NOVOS

O Ibama abriu para consulta pública uma proposta de Resolução Conama que limita as emissões de gases de efeito estufa de novos veículos. A proposta teve origem na CETESB. Oswaldo Lucon, assessor da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, disse que a iniciativa é importantíssima: “Em nosso país isso sempre foi um tabu, que agora começa a ser vencido. Afinal de contas, além dos compromissos firmados dentro do Acordo de Paris temos uma questão de clara sobrevivência, por meio da manutenção da integridade de nosso sistema climático. Já não era sem tempo para se iniciar a regulamentação de gases de efeito estufa como poluente no Brasil”.

A consulta e a minuta de resolução estão nos links abaixo. http://ibama.gov.br/notas/1410-consulta-publica-sobre-controle-de-emissoes-de-gases-de-efeito-estufa-por-veiculos-automotores

http://ibama.gov.br/phocadownload/qualidadeambiental/docs/2018-04-09-minuta_resolucao_conama.pdf

 

PREÇO DO ETANOL CAI NAS USINAS, MAS SOBE NAS BOMBAS

Com o começo da safra de cana, os preços do etanol caíram na saída das destilarias, como acontece todo ano. Mas alguma força antigravitacional faz os preços nas bombas de abastecimento subirem. A tradicional pesquisa da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) indicou que, na semana passada, os preços nas bombas tinham subido em 20 estados e em Brasília. Só no Mato Grosso os preços são vantajosos em relação à gasolina para os donos de carros flex.

http://www.anp.gov.br/petro/precos_de_produtores.asp

https://www.anp.gov.br/preco/prc/Resumo_Semanal_Index.asp

http://www.valor.com.br/agro/5440713/preco-do-etanol-sobe-na-maior-parte-do-pais-apesar-de-queda-em-usinas#

 

BRASIL QUER UNIÃO EUROPEIA IMPORTANDO MAIS ETANOL

O Brasil está discutindo com a União Europeia sua política de biocombustíveis. Anos atrás, a UE acenou com a possibilidade de comprar bastante álcool daqui para misturar na gasolina de lá. Mas, além da má vontade que reina no mundo da energia europeia para com tudo o que não controlam, foi colocado o problema da competição com alimentos pelo uso da terra e a pressão que o biodiesel de óleo de palma faz sobre florestas na Indonésia e na Malásia. Como também se destrói florestas no Brasil, foi um pequeno passo incluir o etanol de cana na lista dos biocombustíveis do mal. A má vontade europeia fica clara quando se observa que lá não se taxa a importação de petróleo, mas se crava uma tarifa para a importação de etanol do Brasil. Até por conta disto, o projeto de lei que tramita no senado autorizando a plantação de cana-de-açúcar na Amazônia deve tirar o sono dos negociadores brasileiros. Se aprovado, não haveria como desconectar a cana do desmatamento.

http://www.valor.com.br/agro/5441129/brasil-defende-etanol-na-uniao-europeia#

 

UMA NOVA PROPOSTA PARA O COMBATE AO DESMATAMENTO

Pesquisadores do IPAM e da Universidade Federal do Pará recém publicaram um artigo na Land Use Policy propondo uma alternativa para acabar com o desmatamento. O ponto de partida são os 70 milhões de  hectares que classificam como “terras públicas desprotegidas”. São terras públicas não incluídas nas Florestas Nacionais e Estaduais, nas terras indígenas e unidades de conservação em geral. Segundo os autores, é nestas onde se dá a maior parte do desmatamento e da grilagem. Encontrar formas eficazes de proteção destas áreas significaria estancar o desmatamento. A experiência mostra que é uma luta política, no mais das vezes inglória, tentar dar a estas áreas o status de áreas protegidas. Assim, os pesquisadores propõem a criação de uma nova classificação, a “decretação da limitação administrativa provisória (LAPs) para a administração dessas localidades”, com a finalidade de possibilitar o desenvolvimento de pesquisas e estudos que proponham a melhor destinação a estas áreas.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0264837717314527

https://oglobo.globo.com/sociedade/abandono-de-area-da-amazonia-pode-prejudicar-agropecuaria-22573658

 

NESTLÉ PROMETE EMBALAGENS MAIS SUSTENTÁVEIS, MAS MOVIMENTO PODE SER INSUFICIENTE

Muito se tem noticiado sobre o monte de lixo plástico largado nos oceanos e em terra. Ontem, a Nestlé brasileira colocou como meta para 2025 o uso exclusivo de embalagens recicláveis. Como isto só ajudará se o consumidor parar de jogar as embalagens no lixo comum, a empresa também quer trabalhar com parceiros e associações de classe para promover o uso de materiais reciclados. A Nestlé também anunciou que as embalagens plásticas terão informações no rótulo para ajudar o consumidor a descartá-las corretamente.

Assim como os fabricantes de pilhas e baterias são responsáveis por destruir corretamente o material usado, empresas como a Nestlé deveriam se juntar a outras e assumir a responsabilidade sobre a coleta e o destino correto das embalagens que usam. Sairia menos caro do que a poluição que estas provocam.

http://www.valor.com.br/empresas/5442301/nestle-planeja-tornar-100-de-suas-embalagens-reciclaveis-ate-2025

 

O MUNDO PEDE O CORTE DE EMISSÕES DA NAVEGAÇÃO INTERNACIONAL

Um anúncio de página inteira publicado ontem pela Avaaz no Financial Times pede ao Japão que, nesta reta final das negociações que ocorrem na Organização Marítima Internacional, trabalhe por um acordo climático para a navegação baseado na ciência e no Acordo de Paris. O anúncio repercute um novo relatório da InfluenceMap que acusa o Japão de usar seu poder econômico para enfraquecer o acordo de redução das emissões de carbono da navegação internacional.

Muita gente tem escrito sobre a importância desta reunião. Por exemplo, Christiana Figueres, ex-secretária geral da UNFCCC, disse que a Coreia do Sul encomendou 200 novos navios 30% maiores e 30% mais eficientes para sua frota. Felipe Calderón, ex-presidente do México, escreveu um artigo para a Newsweek com o título: “O setor da navegação está nos matando”.

Segundo observadores, a delegação brasileira tem sido muito influenciada pela Vale, gigante da mineração, e tem trabalhado para reduzir a ambição do acordo, temendo que este impacte os custos dos fretes das commodities minerais e agrícolas. Entretanto, a gigante do transporte de commodities agrícolas Cargill está apoiando uma redução agressiva das emissões de carbono dos navios.

Diante da saia justa, ficamos nos perguntando se, entre a cruz e a caldeirinha, ou mais especificamente, entre o ferro e a soja, como reagirá a delegação brasileira nesta reta final de negociação do acordo?

https://influencemap.org/report/Decision-time-for-the-IMO-8f253dd1db9a2942b3c4d2d93f39f210?platform=hootsuite

https://cop23.unfccc.int/news/world-nations-meet-for-critical-decision-on-shipping-emissions

http://www.bbc.com/news/business-43696900

http://www.tradewindsnews.com/drycargo/1466712/cargill-backs-aggressive-emissions-reductions

 

AUMENTA A PRESSÃO PARA A INDÚSTRIA DO CIMENTO LIMITAR SUAS EMISSÕES

Enquanto os olhos climáticos se voltam para a navegação, dois artigos chamam a atenção para a indústria do cimento que, sozinha, emite três vezes mais gases de efeito estufa do que os navios. Há duas diferenças fundamentais: o cimento está dentro do Acordo de Paris, e a indústria vem fazendo esforços notáveis para reduzir sua pegada climática. As emissões dessa indústria vêm, a grosso modo, metade do calor para tocar as reações e a outra metade das próprias reações. Hoje, o calor é gerado pela queima de muito combustível fóssil. Em tese, um dia, este calor poderá vir a ser gerado por fontes não fósseis. Mas não há como evitar emissões das reações que transformam calcário em cimento. O que a indústria busca é misturar o que sai do forno com outros aglomerantes, como a escória de fornos siderúrgicos, cinzas e minerais classificados como pozolanas.

Um dos artigos chama a atenção para um impacto climático que preocupa a indústria: na construção, consome-se muita água junto com o cimento. Crises hídricas diminuirão a disponibilidade ou encarecerão a água a tal ponto que será inevitável uma corrida por novos materiais de construção. Isto não seria muito bom para a indústria, mas pode vir a ser imprescindível para o clima.

O segundo artigo lembra que entrou na moda anunciar e certificar prédios verdes que reaproveitam a água e economizam energia. O artigo mostra que a maior pegada de carbono destes prédios não vem da operação, mas sim das emissões feitas na fabricação do cimento, do aço e do vidro usados para construí-los.

https://www.businessgreen.com/bg/news-analysis/3029772/is-the-cement-sector-one-of-the-real-battlegrounds-for-climate-action

https://www.theguardian.com/environment/2018/apr/09/cement-industry-urged-to-reduce-invisible-global-emissions

http://www.dw.com/en/ecological-footprint-how-gray-energy-is-totally-underestimated/a-43261811

 

A CHINA INVESTIU 3 VEZES MAIS EM RENOVÁVEIS DO QUE OS EUA

Um relatório da Bloomberg mostra que, no ano passado, a China investiu três vezes mais em fontes renováveis do que os EUA. A China investiu quase US$ 130 bilhões em pequenas hidrelétricas, eólicas e fotovoltaicas, quase a metade do que o mundo inteiro investiu no leque das fontes renováveis. Os EUA investiram US$ 40 bilhões. Dois terços dos investimentos globais foram feitos nos três maiores países em desenvolvimento: China, Índia e Brasil. Mesmo com todo o crescimento dos últimos anos, as renováveis forneceram apenas 12% da eletricidade consumida no mundo. O relatório conclui que, se o embalo vai bem, ainda falta muito chão para percorrer.
http://fs-unep-centre.org/sites/default/files/publications/gtr2018v2.pdf

https://qz.com/1247527/for-every-1-the-us-put-into-renewable-energy-last-year-china-put-in-3/

 

O IMPACTO DAS SECAS SOBRE AS FLORESTAS TROPICAIS

A Nature publicou um estudo dos efeitos da seca de 2015 ocorrida em Porto Rico que encontrou consequências importantes para as emissões de gases de efeito estufa das áreas florestais. Medições mostraram que as emissões de CO2 do solo aumentaram 60% em terrenos com declividade e 160% nos vales. Além do CO2, solos normalmente trocam metano com a atmosfera. Durante a seca, os solos apresentaram uma ligeira tendência a capturar mais metano do que emitir. Mas, no período de dois meses após a seca, o mesmo solo emitiu cerca de dez vezes mais do havia sido capturado. No geral, os pesquisadores observaram que a floresta dá uma resposta rápida no começo da seca e uma bem mais lenta após o evento, o que sugere que a floresta é mais sensível à mudança do clima do que se supunha.

Lembrando que um trabalho publicado no começo do ano mostrava os mecanismos pelos quais o desmatamento aumenta o aquecimento global, fechando o círculo.

https://www.nature.com/articles/s41467-018-03352-3

http://agencia.fapesp.br/desmatamento_pode_intensificar_o_processo_de_aquecimento_global/27070/

 

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