COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS VOLTAM A PRESSIONAR NOSSAS CONTAS DE LUZ
E vem mais uma conta – de R$ 128 milhões – a ser paga pelos consumidores de eletricidade. A Petrobras, descontente com o preço do contratado, cortou por 45 dias o fornecimento de gás natural à Termofortaleza (CE), operada pela italiana Enel. Como precisou colocar energia termelétrica na rede, em pleno período de chuvas, o Operador Nacional do Sistema acabou por acionar térmicas ainda mais caras entre 28 de fevereiro e 15 de abril, período de corte de fornecimento, gerando a conta adicional.
O problema não se restringe à Termofortaleza. A usina é parte dos aproximadamente 5 GW térmicos construídos pelo Programa Prioritário de Termelétricas (PPT) depois do apagão de 2001. Estas termelétricas têm contratos com a Petrobrás que fixam o preço do gás a US$ 4 por milhão de BTU. Hoje a estatal está preferindo pagar multas contratuais a fornecer o gás a um preço avaliado por ela como baixo. O deputado Julio Lopes (PP-RJ) quer incluir uma emenda na MP 814 transferindo aos consumidores de eletricidade a diferença entre o valor então contratado e o preço médio do mercado, hoje por volta de US$ 7. A conta iria para os Encargos de Serviços de Sistema (ESS) e seria repassada às tarifas.
Quem acompanha os preços internacionais do petróleo e do gás está acostumado a vê-los subir e descer, às vezes súbita e fortemente. Mas, no Brasil, governantes tentam congelar estas variações na esperança de ganhar votos. O resultado acaba desabando anos depois sobre o consumidor, quem sempre arca com a conta final.
http://www.valor.com.br/brasil/5462031/falta-de-gas-em-termicas-provoca-pressao-sobre-tarifas#
BANCADA RURALISTA DERRUBA MAIS UM PRESIDENTE DA FUNAI
O general Franklimberg foi despedido da presidência da Funai a pedido da bancada ruralista, que disse ter agido em nome dos índios.
O general assumiu o cargo no ano passado substituindo Antônio Fernandes Toninho Costa, quem saiu atirando no então ministro da justiça, o ruralista Osmar Serraglio, dizendo ter sido exonerado por ser honesto e não se curvar jamais perante o malfeito.
A interferência dos ruralistas na Funai nos faz sugerir que, em nome da simetria, o Conselho Indigenista Missionário indique o próximo ministro da agricultura.
LICENCIAMENTO FLEX PODE NÃO SER VOTADO ESTE ANO
No começo do mês, muitos ministros e secretários de estado se desincompatibilizaram para concorrer nas eleições de outubro. Em decorrência do movimento, o deputado Mauro Pereira, relator do licenciamento flex na Câmara, voltou ao banco de reservas dos suplentes. Assim, a Comissão de Finanças e Tributação teve que encontrar outro relator. Foi indicado o ex-ministro dos transportes, Maurício Quintella. O moço disse que precisa estudar o assunto antes de dar um encaminhamento. A bancada ruralista diz nos bastidores que tentará votar o projeto ainda em maio ou junho, mas reconhece que o calendário eleitoral dificulta a empreitada. O PL enfrenta grande resistência da bancada ambientalista.
http://www.valor.com.br/politica/5462059/licenciamento-ambiental-muda-de-relator
OS CORAIS NA FOZ DO AMAZONAS NA MÍDIA INTERNACIONAL
A campanha do Greenpeace em defesa dos corais recém descobertos na foz do Amazonas repercutiu na mídia internacional, e um abaixo-assinado que busca impedir a exploração de petróleo na região corre o mundo. No ano passado, o Ibama rejeitou os estudos de impacto ambiental da petroleira francesa Total, que simplesmente omitiram a existência dos corais. Mas a petroleira continua na expectativa de obter logo a licença. O presidente da comissão de meio ambiente da câmara, Davi Alcolumbre, do Amapá, pediu a Moreira Franco, o amigo de Temer nas minas e energia, ajuda para liberar as áreas para exploração. Diz o moço: “Se Deus quiser, pelo menos um dos poços vai dar comercialidade.”
Só no Brasil de Temer e nos EUA de Trump se vê amantes do petróleo chefiarem alguma coisa do meio ambiente.
https://www.theguardian.com/environment/2018/apr/17/amazon-coral-reef-oil-drilling-destruction-greenpeace
CORAL-SOL É PROBLEMA MUITO SÉRIO PARA A PETROBRAS
Mencionamos nesta semana en passant o coral-sol, espécie invasora que infesta a bacia de Campos e já chegou ao litoral de São Paulo. Coincidentemente, Mauro Destri, ex-gerente de Projetos de Revitalização e Desenvolvimento Complementar da Petrobras, detalha as discussões sobre a espécie invasora havidas em um workshop sobre descomissionamento de equipamentos de exploração de petróleo. Mauro escreveu na E&P que as “inspeções em cascos de navios e plataformas, equipamentos, dutos, linhas submarinas, mostram uma infestação sem precedentes, caracterizando que esta espécie, além de tudo, é predadora para vida marinha nativa.” O artigo do Mauro é longo, mas imperdível para quem estuda ou se interessa pelo tema.
http://epbr.com.br/descomissionamento-o-meio-ambiente-e-o-coral-sol/
QUE VENHA O MATRIARCADO, O CLIMA AGRADECE
Jacinda Ardern, primeira ministra da Nova Zelândia, e Isabella Lövin, vice-primeira ministra da Suécia defenderam ontem no The Guardian que os países se comprometam a zerar suas emissões líquidas de carbono até 2050. Jacinda Ardern disse que “a liderança na mudança do clima não pode ser deixada para as grandes economias. Exige uma ação ampla e profunda. A Nova Zelândia contribui com menos de 1% das emissões globais. No entanto, juntos, os pequenos emissores respondem por um quarto destas emissões. A História nos chama a desempenhar nosso papel”. Ao levantarem a bandeira da emissão líquida zero, as duas governantes se alinham com as ideias da Ministra do Crescimento Limpo do Reino Unido, Claire Perry. Ao anunciar que o Reino Unido revisará suas metas climáticas e aumentará seu nível de ambição na reunião da Commonwealth, Perry disse que, para liderar o mundo climático, o país tem que se comprometer em zerar suas emissões até 2050.
As moças estão subindo a altura do sarrafo.
BP PROMETE PARAR DE AUMENTAR SUAS EMISSÕES SEGUINDO NA EXPLORAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
A gigante petroleira britânica BP se comprometeu a parar de aumentar suas emissões líquidas de carbono e a mantê-las, no máximo, nos níveis de 2015. A empresa fez o anúncio ao lançar o relatório Advancing the Energy Transition, no qual detalha seus planos para a redução dos seus níveis de emissão, especialmente suas emissões de metano. Bob Dudley, CEO da empresa, disse que a BP está abraçando o duplo compromisso de ofertar mais energia para uma população global em crescimento, enquanto trabalha pela redução de suas emissões de carbono para ajudar no combate ao aquecimento global e à elevação do nível do mar.
Apesar de relevante, o anúncio tem um quê de maroto, já que a empresa se referiu às emissões das suas operações de exploração e refino de petróleo e gás, mas não às emissões geradas quando da queima de seus produtos.
Em tempo: assim como a francesa Total, a BP tem concessões de blocos para a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
http://ieefa.org/bp-commits-to-zero-net-emissions-growth/
RELATÓRIO MOSTRA QUE QUASE O MUNDO TODO RESPIRA AR POLUÍDO
O Health Effects Institute soltou seu relatório anual sobre a qualidade do ar no mundo. Resumidamente, o relatório mostra que esta é péssima. Algumas informações do relatório: 95% da humanidade respira ar poluído; os lugares mais poluídos do mundo são 11 vezes mais poluídos do que os mais limpos (esta diferença era de 6 vezes em 1990); os pobres vivem em áreas mais poluídas do que os ricos; os países pobres são mais poluídos do que os países ricos, e estas diferenças também estão aumentando; países ricos têm suas economias fortemente baseada nos serviços, depois de terem empurrado indústrias poluidoras para os países em desenvolvimento; as maiores cidades dos países ricos têm sistemas de transporte público eficientes e reduziram bastante a queima de carvão para gerar eletricidade; as maiores cidades dos países pobres estão congestionadas por motores a gasolina e diesel, e China e Índia queimam muito carvão para gerar eletricidade.
Os dados apresentados no relatório reúnem medições locais e medições feitas por satélites equipados para acompanhar a sujeira que jogamos na atmosfera.
https://www.stateofglobalair.org/
https://www.stateofglobalair.org/sites/default/files/soga-2018-report.pdf
EDITORIAL DO NEW YORK TIMES PEDE A CABEÇA DE SCOTT PRUITT
Scott Pruitt, o diretor da EPA, a Agência de Proteção Ambiental, está com sua cabeça a prêmio. Em editorial, o New York Times o chama de “ridículo” e diz que já passou da hora de Trump dispensá-lo. Como Pruitt parece devotar lealdade infinita a seu chefe, Trump tem dado vários recados dizendo que Pruitt fica.
O problema de Pruitt ultrapassa sua pauta anticlima e antimeio ambiente, coisa que, aliás, ele tem muito prometido e pouco realizado. O problema de Pruitt é a confusão que faz entre o dinheiro público e o privado, a qual, olhando do ponto de vista de uma Lava Jato da vida, parece coisa de criança colando na escola. Mas são coisas que o público norte-americano não suporta, como viajar em 1a classe quando o regulamento diz claramente que isto é proibido, comprar um carro superblindado, alugar, por um preço ridículo, a casa de um lobista do carvão em Washington, e outros que tais. Os adjetivos do editorial do NYT são duros. Pruitt é chamado de puxa-saco da indústria fóssil, de arrogante, vingativo e de vigarista menor, chegado à subtração de casquinhas dos contribuintes para o alimento de seu ego e estilo de vida. Sabe-se que muito republicano não quer chegar nem perto do moço.
Recentemente, Trump e Pruitt convidaram um conhecido lobista do carvão para ser o vice de Pruitt. Uma eventual saída de Pruitt mudaria, assim, muito pouco da pauta de retrocesso ambiental de Trump. Mas tiraria um pouco da lama que Pruitt conseguiu jogar sobre a EPA.
https://www.nytimes.com/2018/04/17/opinion/scott-pruitt-ridiculous.html
DEMANDA POR REFRIGERAÇÃO E CONDICIONAMENTO AMBIENTAL AUMENTA E PIORA O AQUECIMENTO GLOBAL
A classe média está crescendo em muitos lugares do mundo e, em breve, a demanda por frio – geladeira e ar condicionado – suplantará a demanda por calor. Até aparecer a indústria automotiva, a grande demanda de energia era para esquentar casas, altos fornos e caldeiras. A bola de cristal de alguns especialistas prevê que a demanda por frio quase dobrará até 2050, e isso supondo que as classes médias chinesa e indiana crescerão a taxas modestas. Basicamente porque muita casa europeia é equipada para ser esquentada. Mas, como o ambiente externo está esquentando, em breve esse pessoal sairá comprando cada vez mais frio. Se a eletricidade continuar a ser gerada pela queima de muito combustível fóssil, mesmo que seja gás natural, o frio será responsável pela emissão de 2,5 GtCO2e em 2050. O círculo perverso se fecha: mais calor exterior demanda mais frio interior, o que emite mais gases de efeito estufa que esquenta ainda mais o exterior…
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