ClimaInfo, 23 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

MAIS UM PROJETO DE LEI BUSCA AFROUXAR O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O senador Acir Gurgacz (PDT/RO) submeteu um outro projeto de lei ao senado para desmontar o licenciamento ambiental. O PLS é ainda pior para o meio ambiente do que o que tramita na câmara federal. Deste último, Gurgacz copiou a ideia de que estados e municípios definem o que acham importante checar no licenciamento ou seja, abre a porta para existirem até 26 + 5.570 + 1 = 5.597 regras diferentes de licenciamento. Um prato cheio para judicialização e aumento de custos dos processos. Exatamente ao contrário do que pretendem os ruralistas e a Confederação Nacional da Indústria. Outro pontos inspirado no texto da câmara é o que tira do ICMBio o poder de veto a uma licença e o que só envolve a Funai se o projeto afetar uma terra indígena homologada. Como 1/3 das terras indígenas ainda não foram demarcadas, o índio e a biodiversidade deixam de ser “obstáculos ao desenvolvimento”. Mas Gurgacz caprichou um pouco mais. Seu PL reduz a área de influência de um projeto à área imediatamente afetada. Para construir uma barragem, por exemplo, bastaria considerar a área a ser inundada, independente da barragem alterar a vazão do rio à montante e à jusante ou afetar toda uma bacia hidrográfica. Nas palavras do pessoal do Observatório do Clima, “estradas e hidrelétricas na Amazônia seriam desobrigadas de avaliar o desmatamento indireto que decorre das obras – por inchaço populacional e grilagem de terras, por exemplo, ou simplesmente por facilitação de acesso à floresta”. Gurgacz também definiu prazos para as análises serem feitas pelas autarquias e define que o não cumprimento destes prazos não obsta a emissão das licenças. Além disso tudo, a renovação de licenças passa a ser autodeclaratória. Assim, a licença de operação da barragem do Fundão seria renovada automaticamente, sem que ninguém tivesse que inspecioná-la. Pelo menos até o dia de seu rompimento. Como se tudo isso fosse pouco, várias atividades não mais precisarão de licença ambiental. Uma delas, o asfaltamento da estrada que liga Manaus a Porto Velho, interessa diretamente à família do senador, que é dona da empresa de ônibus que faz o percurso. A estrada atravessa terras indígenas e unidades de conservação e facilitará o garimpo ilegal, a extração ilegal de madeira e a grilagem, o filme de sempre.

Por falar no senado, o projeto que acaba com o selo de transgênicos, aprovado pela comissão de meio ambiente na semana passada pode enfrentar resistências no plenário e ter seu andamento prejudicado.

https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/132865

http://www.observatoriodoclima.eco.br/projeto-senado-completa-cerco-ao-licenciamento-ambiental/

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/04/20/fim-do-selo-de-transgenicos-nas-embalagens-pode-ter-debate-ampliado-no-senado

 

GOVERNO IMPÕE CUSTO ADICIONAL ÀS EÓLICAS

Uma portaria do ministério de minas e energia acaba de tornar a energia eólica mais cara. A portaria definiu que os novos contratos deixarão de ser negociados por “disponibilidade” e passarão a ser por “quantidade”. Na prática, no modelo anterior, o risco de mercado associado à produção do parque eólico ficava com os consumidores. As eólicas recebiam uma tarifa pela disponibilidade dos ativos de geração, além de serem remuneradas pela energia realmente gerada, com medição anual – o que eliminava as diferenças sazonais.

No novo modelo, semelhante ao aplicado para as hidrelétricas, esse risco fica com o gerador, que precisará comprar energia no mercado de curto prazo, caso o parque gere um volume menor que o negociado no leilão.

Enquanto isto, está parada em algum lugar do congresso ou do executivo a proposta de reforma do setor. Um dos pontos-chave desta reforma é exatamente este, quem paga o risco de gerar menos do que o contratado? Ao invés do pessoal fazer uma forcinha para acertar o setor todo, prefere ir colocando mais remendos num pneu que, espera-se, seja trocado em breve.

Em tempo, o pessoal do Instituto Acende Brasil escreveu um artigo para O Globo desancando o projeto de lei que quer cobrar royalties do vento. Eles lembram que “a palavra royalty deriva de royal, ou ‘aquilo que pertence ao rei’. Na atualidade, royalty é o termo que designa o valor pago ao detentor de recurso natural finito”. O propositor da aberração tenta justificar querendo comparar com a compensação que estados e municípios recebem de hidrelétricas. Essa compensação existe porque o reservatório de uma hidrelétrica reduz a arrecadação ao reduzir a área das propriedades e também diminui seu valor de mercado, os dois objetos da compensação. Não consta que os ventos tenham prazo de validade nem que reduzam a arrecadação. Pelo contrário, parte dos tributos sobre a venda da energia gerada fica nos estados e municípios. Mas, em ano eleitoral, qualquer melancia ou jabuticaba serve para o pessoal aparecer mais.

http://www.valor.com.br/brasil/5468731/novo-leilao-pode-tornar-energia-eolica-mais-cara#

https://oglobo.globo.com/opiniao/senhores-do-vento-22610701

 

BOATO DIZ QUE INVERNO SERÁ O MAIS FRIO DOS ÚLTIMOS 100 ANOS

Nesses últimos dias, circulou pelas redes sociais um boato segundo o qual este inverno teria dias congelantes e seria o mais frio dos últimos cem anos. O pessoal do site boatos.org procurou climatólogos e meteorologistas de respeito que desmentiram o boato. O inverno será normal. Algumas cidades podem ver os termômetros baixarem mais do que nos últimos tempos, em outras, nem isso. Como não existem registros de 100 anos de temperatura média no Brasil, não há como saber se este inverno será o mais frio ou não.

http://www.boatos.org/brasil/brasil-inverno-mais-frio-100-anos.html

 

SUPERPOPULAÇÃO E RESSACAS OBRIGAM POVO GUNA A ABANDONAR AS ILHAS SAN BLAS, NO PANAMÁ

A Folha de S. Paulo lançou a primeira de uma série de matérias para – nas palavras do jornal – “mostrar os impactos da crise do clima sobre a vida das pessoas e os custos da adaptação à nova realidade – antes que seja tarde demais”. O primeiro material publicado neste domingo fala do arquipélago de San Blas, no Panamá, um território semiautônomo habitado pelo povo indígena Guna. Lá, as ilhas estão encolhendo por causa da elevação do nível do mar e espantando turistas, que eram fonte de renda importante dos moradores. Muitos estão pensando em voltar para o continente, de onde seus ancestrais saíram no século 19, fugindo dos brancos e de suas doenças. Marcelo Leite e Lalo de Almeida contam a história do “flagelo dos gunas [que] foi eleito como caso exemplar de vítimas do aquecimento global por ONGs internacionais como a Displacement Solutions”. A matéria é ilustrada com muitas fotos, streams e ilustrações. A próxima matéria é sobre a seca de muitos anos que afeta o Nordeste brasileiro.

https://arte.folha.uol.com.br/ciencia/2018/crise-do-clima/introducao/

https://arte.folha.uol.com.br/ciencia/2018/crise-do-clima/panama/ressacas-e-superpopulacao-forcam-indigenas-gunas-a-abandonar-ilhas/

 

SE NÃO OS SOJEIROS, QUEM É CULPADO PELO DESMATAMENTO DO CERRADO?

André Nassar, presidente da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), escreveu um artigo cheio de números para dizer que a soja já foi responsável pelo desmatamento do Cerrado, mas que não é mais. Nassar não cita a fonte usada, mas esta não deve ter sido a CONAB, que mostra uma evolução da área plantada no país um tanto diferente. Os dados de área desmatada no Cerrado também não batem exatamente com o que tem aparecido na literatura, mas as diferenças não são gritantes. Mesmo assim, a soja vem sendo responsável pelo desmatamento de menos de 10% do Cerrado. A pergunta que fica no ar é, se não foi a soja, quem responde pelo desmatamento de quase 10 mil km2 por ano do Cerrado?

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-soja-o-cerrado-e-o-tempo,70002277568

https://portaldeinformacoes.conab.gov.br/index.php/safra-serie-historica-dashboard

http://biomas.agrosatelite.com.br/img/Analise_geoespacial_da_dinamica_das_culturas_anuais_no_bioma_Cerrado_2000a2014.pdf

http://escolhas.org/wp-content/uploads/2017/10/Relat%C3%B3rio-DEZER-Final.pdf

http://www.observatoriodoclima.eco.br/desmate-no-cerrado-supera-o-da-amazonia/

 

EUA: INDÚSTRIA DO FRACKING SE APOIA EM FINANÇAS DUVIDOSAS

Um artigo do pessoal do DeSmog mostra que muita gente da indústria do fracking ganhou muito dinheiro no mercado imobiliário. O sujeito adquiria a licença para explorar um terreno com bons indícios da presença de reservas fraqueáveis de óleo ou gás. Pagava com empréstimos vantajosos porque qualquer banco ou investidor ficava com o olho brilhando pela riqueza fóssil. Fazia uns furos, instalava alguma coisa e vendia a licença por muitas vezes o que pagou, obtendo um lucro muito maior do que se realmente extraísse e vendesse fósseis num mercado tão volátil. Aparentemente, a indústria do fracking gastou US$ 280 bilhões mais do que a soma de suas receitas. Mesmo agora que  o preço do barril subiu, o pessoal precisa continuar na ciranda dos empréstimos para abrir novos buracos e começar a explorar. Isto porque os poços bons já foram ou estão sendo explorados; como os novos são menos produtivos, é cada vez mais difícil pagar os empréstimos. A solução tem sido tomar mais empréstimos e seguir abrindo novos poços, num processo que já virou uma pirâmide financeira que pode desabar a qualquer momento. O momento exato dependerá do preço do barril.

https://www.desmogblog.com/2018/04/18/finances-great-american-fracking-bubble

https://www.desmogblog.com/finances-fracking-shale-industry-drills-more-debt-profit

 

FOSSILDUTOS DA ENERGY TRANSFER VAZAM A CADA 11 DIAS

A ETP – Energy Transfer Partners é dona de quase de 120.000 km de dutos de gás natural, petróleo e derivados nos EUA. O Greenpeace e a Waterkeeper Alliance publicaram uma pesquisa na qual levantaram o número de vazamentos e a quantidade de fósseis que vazou entre 2002 e 2017, os quais a empresa é obrigada a reportar. No período de 5.475 dias aconteceram 527 vazamentos, um a cada 11 dias. Vazaram 14 milhões de litros de líquidos derivados de petróleo perigosos e 11 milhões de litros de petróleo. E isso sem contar os 9 milhões de litros de fluídos e sedimentos de perfuração e resíduos industriais líquidos da construção de dois oleodutos. Essa meleca toda vazou de navios no mar e dos tubos em lagos, rios e em terra. Só parte do que vazou foi limpo. O projeto mais controverso da ETP é o fossilduto Dakota Access que, por atravessar terras indígenas, provocou uma manifestação – que durou meses e que foi dispersada pelo exército e pela guarda nacional – e uma série de litígios em cortes que se arrastam até agora.

https://www.greenpeace.org/usa/reports/oil-and-water/

https://www.desmogblog.com/2018/04/17/energy-transfer-partners-pipelines-leaked-once-every-11-days-greenpeace-report

https://www.energytransfer.com/

 

APESAR DAS MUITAS PROMESSAS, BANCOS CONTINUAM FINANCIANDO O CARVÃO NO SUDESTE DA ÁSIA

O HSBC prometeu parar de emprestar e investir em novas térmicas à carvão, com uma ressalva: as operações continuam apenas na Indonésia, em Bangladesh e no Vietnã, e só durante os próximos cinco anos, se não houver outra alternativa viável. A Índia está parando de construir novas térmicas. A China parou dentro de casa, mas está financiando, construindo e transferindo parte do seu parque para África, Ásia Central e, concorrendo com o HSBC, para o sudeste asiático. Nas Filipinas, o Banco Mundial, fundos privados e bancos comerciais vêm financiando o crescimento exponencial do parque à carvão, discretamente, para tentar não chamar atenção. Só que um relatório que acaba de sair aponta o dedo sujo de carvão para quem está bancando esse crescimento em detrimento de alternativas mais limpas e renováveis. O relatório prevê que parte destes ativos virarão um mico de US$ 21 bilhões, um enorme stranded asset.

https://www.inclusivedevelopment.net/world-bank-and-international-investors-bankrolling-climate-disaster-in-philippines/

https://www.ft.com/content/a05e77e0-43ee-11e8-93cf-67ac3a6482fd

http://ieefa.org/hsbc-says-no-to-financing-new-coal-plants/

http://ieefa.org/u-s-coal-producers-about-to-lose-more-business/

 

VENTO SUPRE 55 HORAS SEGUIDAS DE ELETRICIDADE NO REINO UNIDO

Na semana passada, o Reino Unido viu mais um recorde ser batido. Durante 55 horas seguidas, mais de dois dias, as térmicas a carvão não precisaram ser acionadas. As centrais eólicas foram fundamentais para o recorde. A última vez em que isso ocorreu foi em 1882, antes da primeira usina a carvão começar a funcionar.

http://ieefa.org/u-k-sets-new-record-for-coal-free-generation/

 

MUDANÇA DO CLIMA PIORA A CONDIÇÃO DOS PULMÕES DOS NORTE-AMERICANOS URBANOS

A Associação Americana do Pulmão (ALA) publicou um novo relatório sobre o estado do ar nos EUA entre 2014 e 2016. A conclusão principal é que as mudanças climáticas estão piorando a poluição do ar nas cidades norte-americanas e a bola da vez é a concentração de ozônio ao nível do solo. Um número grande de cidades viu aumentar significativamente a quantidade de dias nos quais a concentração de ozônio atingiu níveis nocivos à saúde. O relatório aponta como principal causa o aumento da temperatura da atmosfera ou o número de dias quentes. Por outro lado, lembrando que o relatório analisa o período pré-Trump, fica evidente que a concentração de particulados PM2.5 diminuiu por causa dos controles de qualidade do ar impostos pelo ex-presidente. A ver o que aconteceu desde que Trump foi eleito.

O relatório aponta alguns números que impressionam a quem achava que tudo lá era limpinho. 40% da população vive em municípios que apresentam níveis nocivos de ozônio ou de particulados. São mais de 130 milhões de pessoas vivendo em 215 municípios nessas condições. Los Angeles segue tendo a pior poluição. A surpresa fica por conta de Fairbanks, no Alasca, que apareceu com o pior índice de particulados ao longo de todo ano.

http://www.lung.org/our-initiatives/healthy-air/sota/key-findings/

http://www.lung.org/assets/documents/healthy-air/state-of-the-air/sota-2018-full.pdf

http://time.com/5245779/climate-change-air-pollution-health/

 

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