ClimaInfo, 02 de maio 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ATMOSFERA BATE MAIS UM RECORDE

Na semana passada, a concentração atmosférica de CO2 medida em Mauna Loa, no Havaí, atingiu a maior média semanal já registrada: 411,68 ppm. Em 2018, pela primeira vez na história, a média para o mês de abril ficou acima dos 410 ppm. É o nível mais altos visto pelo planeta nos últimos 3 milhões de anos.

https://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/monthly.html

 

COMEÇA EM BONN ENCONTRO CLIMÁTICO DECISIVO

Talvez a mais importante reunião preparatória para a COP deste ano começou na  2a feira, em Bonn, e segue até o final da próxima semana. Na pauta, o Diálogo Talanoa, arena de debates desenhada para os países se comprometerem a aumentar seus esforços de combate ao aquecimento global. A reunião é tida como crucial para o avanço do Acordo de Paris. Além de Talanoa, a reunião tem que gerar um texto sólido para o Livro de Regras do Acordo de Paris, que precisa ser fechado na Conferência das Partes da Convenção Clima deste ano, em dezembro. O texto deve estabelecer as regras para a contabilidade e o relato das emissões e das ações que estão sendo tomadas pelos países, de modo que estas possam ser comparáveis e possam ser somadas.

Analistas dizem que as divergências que fizeram desandar o Protocolo de Quioto estão reemergindo. Os países ricos acusam os outros de tentar retomar as velhas “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” para fazer menos pelo clima. Por outro lado, muito pouco foi efetivamente disponibilizado por estes mesmos países ricos ao fundo de US$ 100 bilhões anuais prometido como ajuda aos mais pobres para a mitigação de suas emissões e para a preparação ao enfrentamento dos impactos do clima. A grande lição do clima – a de que muita gente levará uma vida pior por causa do aquecimento global – não parece ser grande o suficiente para suplantar os eternos interesses particulares.
Excepcionalmente, a revista Nature publicou um editorial apropriadamente intitulado “O calor está batendo” (Feeling the heat) fazendo um apanhado das recentes ondas de calor e secas que se tornarão mais fortes e mais frequentes, atingindo desde a pobre Somália, passando pelos conflitados Síria e Afeganistão e chegando até à rica Califórnia. O editorial diz que “mais pesquisa é necessária para mitigar contra e adaptar ao aumento quase inevitável de ondas de calor e secas”.
Vale também dar uma espiada na matéria da Vox que resume em três gráficos nossa situação perante o Acordo de Paris. O primeiro mostra as tendências possíveis de aumento de emissões e, portanto, da temperatura; segundo os autores, a maior probabilidade no momento, é de uma elevação de 3oC. O segundo mostra o crescimento do consumo de energia por fonte; por mais que as renováveis estejam crescendo, as fósseis crescem mais. E o último traça as emissões de gases de efeito estufa por país. Dá para ver claramente os papéis decisivos da China e da Índia na contenção deste aumento.
http://pagina22.com.br/2018/04/27/teste-de-ambicao-para-o-acordo-de-paris/

https://www.washingtonpost.com/business/technology/climate-experts-in-bonn-seek-to-make-paris-climate-deal-work/2018/04/30/08f431be-4c55-11e8-85c1-9326c4511033_story.html

http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-43949423

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0169-y

https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/4/30/17300946/global-warming-degrees-replace-fossil-fuels

 

DESEJO DO BRASIL DE SEDIAR COP DE 2019 É REJEITADO PELA VENEZUELA

Na COP do ano passado, o Brasil encaminhou sua candidatura para sediar a COP-25 que acontecerá no ano que vem. A Venezuela oficializou posição contrária à pretensão do Brasil e, a menos que algo mude nos próximos dias, o país vai perder a chance. Pelas regras da Convenção do Clima, há uma rotação entre as regiões do globo e, em 2019, é a vez da América Latina e Caribe. Só que para ser indicado, o país precisa receber o apoio unânime da região. A Venezuela vem sendo escanteada de organismos multilaterais pelo Brasil e parceiros. E agora, parece que veio o troco. Se não houver entendimento, a reunião volta para a sede da Convenção, em Bonn.

http://www.valor.com.br/internacional/5491677/venezuela-se-opoe-ao-brasil-sediar-cop25#

http://www.valor.com.br/internacional/5491745/venezuela-ameaca-realizacao-da-cop-25-no-brasil

 

É HORA DE PENSAR SERIAMENTE EM CORTAR A OFERTA DE FÓSSEIS

Os economistas Fergus Green, da London School of Economics, e Richard Denniss, do Australia Institute, mostram que as políticas defendidas e/ou adotadas para o combate à mudança do clima podem ser classificadas em três categorias: 1) políticas restritivas à demanda (preços de carbono, limites de emissão declinantes); 2) políticas de promoção da oferta de renováveis (subsídios e metas de participação nas matrizes energéticas); e 3) políticas de promoção da demanda por eficiência energética e por renováveis (subsídios para compra de equipamentos de eficiência energética ou políticas de compras governamentais, p.ex.). Em artigo publicado na Climatic Change, Green e Denniss apontam que ninguém, pelo menos ninguém no poder, quer políticas de restrição à oferta de combustíveis fósseis. Políticas que poderiam sufocar os fósseis em sua origem, como o fechamento de minas e poços, o banimento de novas explorações ou a restrição ou a proibição de licenças para a construção de novos oleodutos, refinarias e terminais de exportação, têm sido abraçadas por ativistas do clima, mas vistas com desdém pela ‘intelligentsia’ da área, unida na crença de que estas estratégias são politicamente contraproducentes e “não-ótimas” do ponto de vista econômico.
O artigo oferece argumentos convincentes em apoio aos ativistas, mostra os benefícios econômicos e políticos únicos das políticas climáticas restritivas à oferta de fósseis e diz que estas merecem um lugar ao lado dos preços do carbono e do apoio à energia renovável na caixa de ferramentas da política climática global.
Os argumentos são fortes e merecem estudo e análise. No primeiro link, uma matéria publicada na Vox sobre o artigo. O segundo link dá acesso gratuito ao próprio artigo.
https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/4/3/17187606/fossil-fuel-supply

https://link.springer.com/article/10.1007/s10584-018-2162-x

 

IBAMA FEZ A MAIOR APREENSÃO DE MADEIRA ILEGAL EM RORAIMA

O Ibama apreendeu quase 7.500 toras, o equivalente a cerca de 15 mil metros cúbicos de madeira, extraídas ilegalmente da Terra Indígena Pirititi, em Roraima. O órgão diz que foi a maior apreensão registrada no estado. A operação envolveu sobrevoos e uma caminhada de 18 km até o acampamento central da operação ilegal.

http://www.ibama.gov.br/institucional/unidades-do-ibama/ibama-ac/noticias-unidade-acre/436-2018/1434-ibama-apreende-madeira-suficiente-para-carregar-mil-caminhoes-em-rr

 

O “LICENCIAMENTO AMBIENTAL FLEX”, O CÓDIGO DA MINERAÇÃO E OS ESTRAGOS CAUSADOS PELAS MINERADORAS

Nos últimos anos, a Samarco matou 19 pessoas, destruiu várias pequenas cidades e o Rio Doce; a Hydro Alunorte deixou vazar, em fevereiro, no Pará, resíduos de produção de alumina que contaminaram igarapés e o braço sul do grande delta do Rio Amazonas; e, por duas vezes em questão de dias, e em dois lugares diferentes, o mineroduto da Anglo Americana rompeu, despejando lama de minério em cursos d’água e plantações. Caio Borges, Jefferson Nascimento e Joana Nabuco, advogados do Programa de Desenvolvimento e Direitos Socioambientais da Conectas Direitos Humanos, escreveram sobre estes acidentes no Valor. Segundo os advogados, a causa dos acidentes é “uma combinação explosiva entre licenciamento ambiental açodado, ampliação da produção sem a devida avaliação de riscos e desgaste das estruturas e falhas na fiscalização”. Para eles, os órgãos de supervisão socioambiental estão fragilizados por sucessivos cortes orçamentários, e os empreendedores privados utilizam-se irresponsavelmente de materiais de menor qualidade para maximizar ganhos e exercem pressão política para a concessão de licenças, atropelando o rito legal, especialmente as consultas públicas.

Os autores não comentam, mas fica claro que, tanto na revisão do código de mineração quanto no projeto de lei do licenciamento flex, os riscos de novos desastres se multiplicam.

Em tempo: a Anglo American contratou uma empresa especializada para varrer os canos e detectar possíveis pontos frágeis que precisam ser reforçados, o que nos intrigou: será que renovação da licença de operação dos dutos não previa esta inspeção? Ou a empresa já está praticando um sistema autodeclaratório, como pretende o “licenciamento flex”, que, em última instância implica ser necessário tomar providências somente depois de ocorridos os desastres?

http://www.valor.com.br/opiniao/5491703/tragedias-na-mineracao

http://www.valor.com.br/empresas/5487125/anglo-contrata-experts-para-varrer-dutos#

 

O RIO SÃO FRANCISCO ESTÁ MELHOR, MAS A CONTA DE LUZ SOBE ASSIM MESMO

As chuvas de fevereiro e março no Nordeste aliviaram a situação para lá de crítica da represa de Sobradinho, no Rio São Francisco. Ontem, o nível desta chegou a 38%. Em outubro passado, o nível era de 4%. Outra represa crítica para o sistema Nordeste, a Serra da Mesa, continua baixa. Saiu de 7% em outubro para 18% ontem.

E por ter chovido pouco em abril no Sudeste, a Aneel avisou que a conta de maio virá com a bandeira amarela.

http://www.valor.com.br/brasil/5487253/nivel-de-reservatorios-sobe-e-vazao-do-rio-sao-francisco-aumenta-depois-de-5-anos#

http://www.valor.com.br/brasil/5489453/aneel-confirma-bandeira-amarela-nas-contas-de-luz-em-maio

 

ESTUDO CONSEGUE CALCULAR NÚMERO DE MORTES E INTERNAÇÕES CAUSADAS PELAS EMISSÕES DE POLUENTES DO DIESEL EM SÃO PAULO

Neste final de semana, foi publicado um trabalho de pesquisadores daqui e de Singapura que usaram o momento da implantação de partes do Rodoanel Mário Covas para estimar o efeito da poluição do diesel na cidade de São Paulo. O rodoanel, quando terminado, dará a volta na região metropolitana. Começou a ser construído em 1998 e a promessa é entregar o último trecho ainda neste ano. Sua principal função, ao interligar as rodovias que chegam em SP, é reduzir a circulação de caminhões dentro da cidade. Os pesquisadores pegaram dados históricos da concentração de NOx em diversos pontos da cidade, antes e depois da abertura de cada trecho do Rodoanel, e estudaram a correlação destes com dados de internações hospitalares e óbitos e, também, medições de congestionamento. Quem acha que os dois caíram, acertou metade da previsão. O congestionamento não demorou muito a voltar ao patamar anterior, com os carros ocupando o lugar dos caminhões que começaram a dar a volta na cidade. Muito mais importante foi a quantificação dos efeitos da poluição do diesel na cidade: uma internação/ano a cada 10 a 20 caminhões e uma morte/ano a cada 100 a 200 caminhões andando dentro da cidade. O trabalho acaba de ser publicado no Journal of the European Economic Association.

https://www.eeassoc.org/doc/upload/He_Gouvela_Salvo20180226181354.pdf

http://www.valor.com.br/brasil/5487265/com-menos-veiculos-diesel-na-rua-internacoes-caem-10-em-sp

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,uma-radiografia-do-transito,70002289292

 

O COFRE GLOBAL DE SEMENTES FAZ 10 ANOS

Na terceira matéria da série sobre a Crise do Clima, da Folha de S. Paulo, Marcelo Leite vai até a cidade mais ao norte da Noruega participar das comemorações do 10o aniversário do Cofre Global das Sementes, um repositório com mais de 1 milhão de sementes diferentes. A razão da existência do Cofre é preservar sementes de plantas de diferentes locais para serem usadas na recuperação da flora e de cultivos em caso de um desastre devastador. Por via das dúvidas, existem 73 outros locais em todo mundo que, juntos, duplicam as mais de 1 milhão de sementes. A Embrapa toca um destes centros.

No ano passado, o Cofre sofreu ameaça de inundação. A temperatura por lá chegou a ficar 11oC acima da média histórica do período e o gelo tinha começado a derreter. O Ártico está se aquecendo mais rapidamente que o resto do planeta.

Para manter o Cofre gelado, uma contradição: o sistema de refrigeração é tocado por geradores fósseis, assim como os carros e os trenós motorizados utilizados na região. E a eletricidade dos hotéis e restaurantes vem de uma térmica a carvão.

https://arte.folha.uol.com.br/ciencia/2018/crise-do-clima/artico/aquecimento-de-regiao-polar-impoe-reforma-no-cofre-global-de-sementes/

 

O PRIMEIRO MODELO CLIMÁTICO FOI FEITO POR CAUSA DE UM PLANO SOVIÉTICO MIRABOLANTE

A história do primeiro modelo climático computacional é tão boa quanto inusitada. Na década de 70, a então União Soviética achou que conseguiria reverter o curso de alguns rios que fluíam para o Ártico explodindo algumas bombas atômicas, o que construiria enormes canais e desviaria o curso destes rios para o sul, onde estes “poderiam ser melhor aproveitados”. Os militares norte-americanos ficaram preocupados com o que aconteceria com o clima do planeta se a água não fosse mais para Ártico e, para tentar projetar as consequências, montaram uma equipe de meteorologistas munida de um dos maiores computadores na época. A equipe foi aumentando na medida em que os vários submodelos precisavam de mais dados e mais equações. E o primeiro supercomputador também nasceu daquele esforço. Os soviéticos viram que não daria para brincar de Deus com os rios. Mas os modelos climáticos não pararam de evoluir.

https://www.motherjones.com/environment/2018/04/holy-shit-this-is-dangerous-nixon-a-soviet-bomb-test-and-a-top-secret-climate-study/

 

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