ClimaInfo, 8 de maio 2018

8 de maio de 2018

OS RESERVATÓRIOS DAS HIDRELÉTRICAS ESTÃO BEM

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem uma mensagem tranquilizadora: os reservatórios das hidrelétricas devem chegar ao fim do período seco em situação mais confortável do que a dos últimos anos, o que reduzirá a necessidade de acionamento das usinas térmicas nos meses de estiagem. As simulações indicam que os reservatórios chegarão ao fim de novembro com 30% da capacidade máxima no subsistema Sudeste/Centro-Oeste e com 21% no Nordeste. Duas razões para que o relativamente baixo armazenamento não cause restrições ao consumo de energia: a crise econômica e ao aumento da geração por fontes renováveis, principalmente via eólica.

http://www.valor.com.br/brasil/5506329/situacao-de-reservatorios-garante-oferta-de-energia#

http://www.valor.com.br/brasil/5506305/ons-ve-reservatorios-com-30-no-fim-de-novembro#

 

MME ABRE CONSULTA SOBRE SUBSÍDIOS À CONTA DE ELETRICIDADE

O MME recebe até 23 de maio sugestões para a redução dos subsídios repassados às contas de luz para o pagamento das despesas da Conta de Desenvolvimento Energético. A Aneel projeta para este ano gastos da ordem de R$ 18,8 bilhões e um déficit de R$ 16 bilhões, que deve ser repassado aos consumidores por meio dos reajustes tarifários das distribuidoras. Uma das propostas do governo inclui oferecer o benefício da Tarifa Social somente às famílias de baixa renda inscritas no Bolsa Família – ao invés de oferecê-lo a todas as famílias do Cadastro Único – com a limitação do desconto a R$ 22 por mês e a gratuidade estendida somente até o consumo mensal de até 50 kWh. Esta proposta manteria 65% das atuais famílias no programa, mas reduziria o gasto em R$ 800 milhões por ano. O governo também propõe a adequação do critério socioeconômico para o Luz para Todos; em 2016, a despesa com o programa foi de R$ 973 milhões, com 89,6 mil ligações. A consulta pública também propõe reduzir os subsídios relacionados à compra de carvão mineral nacional, à geração de energia por “fontes incentivadas” (PCHs e usinas solar, eólica e a biomassa), à tarifa de irrigação para consumidores rurais e ao alto custo das térmicas despachadas nos sistemas isolados da região Norte. Além disso tudo, o ministério propôs duas discussões “inusitadas” (qualificação do Valor Econômico): criar um “fator de redução”, que prevê um teto de gastos da CDE com mecanismo de cortes sucessivos dos subsídios, e transferir os subsídios da CDE para o Orçamento Geral da União.

http://www.valor.com.br/brasil/5505823/mme-abre-discussao-sobre-corte-de-subsidios-na-conta-de-luz-para-2019#

 

MULTINACIONAL FRANCESA DE ENERGIA APOSTA NO BRASIL

A Engie é hoje a maior empresa privada de geração elétrica no país. E, para ela, o Brasil é o número um nas suas projeções de crescimento e de redução de emissões. No ano passado, a Engie pagou R$ 3,3 bilhões por duas hidrelétricas que eram da Cemig e está acompanhando o processo de privatização da Eletrobras em busca de novas oportunidades. A empresa também está vendendo suas térmicas a carvão no Sul do país, que foram incorporadas quando da aquisição da Tractebel. Isabelle Kocher, CEO da Engie, deu uma longa entrevista à Folha de S. Paulo, falando da mudança de posicionamento na direção de uma eletricidade menos carbono-intensiva. Disse que eles pensam em trazer para o Brasil um modelo de negócios para a instalação de painéis fotovoltaicos em residências, no qual a empresa compra e instala o painel e o morador paga uma taxa mensal para usá-lo. Kocher diz que a direção a seguir tem a ver com os 3 d’s: descarbonizar, descentralizar e digitalizar.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/brasil-e-aposta-numero-um-do-mercado-mundial-de-energia-eletrica-diz-presidente-da-engie.shtml

 

DEFENSIVO AGRÍCOLA CASEIRO NO CENTRO DE POLÊMICAS

No meio do tiroteio que envolve o enfraquecimento da regulação de agrotóxicos no Brasil, um outro conflito envolve o controle biológico de pragas. Embora representem 2% do mercado, as empresas que atuam no setor estão bastante incomodadas com uma prática cada vez mais difundida, a da criação das bactérias anti-pragas nas próprias fazendas. Existem empresas vendendo kits e treinando para a aplicação das bactérias. Mas não existem, até o momento, controle e fiscalização. Legalmente, está-se aproveitando uma das regulações da agricultura orgânica. O custo de criar e reproduzir legiões de bactérias é bem menor do que o de comprá-las no mercado. A criação desassistida traz vários riscos, desde o aparecimento de outras bactérias nocivas a animais e humanos, que aproveitam o ambiente criado, até o surgimento de variantes das pragas, mais resistentes aos tratamentos biológicos. Regulação e fiscalização podem sair mais caro no atacado, mas podem fazer muita diferença na realidade de cada lavoura.

http://www.valor.com.br/agro/5506123/producao-de-biodefensivo-caseiro-na-berlinda

 

O MUNDO TURVO DO PÚBLICO E DO PRIVADO NA EUROPA E O JEITO NORTE-AMERICANO DE CONSULTAR O PÚBLICO

A metáfora da “porta giratória” descreve bem o processo pelo qual executivos de grandes petroleiras e empresas fósseis são chamados para cargos governamentais e, mais tarde, voltam ao mundo fóssil, o que cria um ambiente que turva a fronteira entre o público e o privado. O grupo Verdes/EFA, do Parlamento Europeu, soltou um longo relatório que reforça as alegações de que a União Europeia e seus Estados membros se esforçam para impedir a criação de políticas relativas a conflitos de interesses. Implantar essas políticas é tido como fundamental para impedir que interesses obscuros dominem a mesa internacional das negociações climáticas. O grupo levantou quase uma centena de exemplos de pessoas de primeiro e segundo escalão de corporações do mundo fóssil que ocupam cargos relevantes nas estruturas dos Estados, ou de outros que percorrem o caminho inverso. A partir do levantamento, o grupo elenca uma série de sugestões para evitar essas situações, que vão desde um período bem mais longo de quarentena até a assinatura de uma declaração que contém uma lista detalhada de situações de conflito de interesse, explicitando e explicando os itens aplicáveis.

Nos EUA, uma empresa foi pega contratando atores para participar ativamente de audiências públicas fazendo pronunciamentos a favor de novos projetos de geração térmica fóssil. Segundo um dos atores, isso virou prática comum e existem recrutadores que buscam bons intérpretes, de preferência originários de minorias. Um desses recrutadores trabalha para uma organização chamada “Crowds on demand” (multidão sob demanda). Parece que a prática não é considerada ilegal (!).

http://www.euronews.com/2018/05/06/is-the-revolving-door-syndrome-harming-europe-s-climate-change-fight-

https://thelensnola.org/2018/05/04/actors-were-paid-to-support-entergys-power-plant-at-new-orleans-city-council-meetings/

 

RELATÓRIO DA IEA SOBRE ENERGIA OFFSHORE

A IEA (Agência Internacional de Energia) publicou seu relatório sobre a energia offshore, tanto renovável quanto fóssil. No cenário mais amigável ao clima, que limita o aquecimento a 2oC, as eólicas offshore dobram sua participação na geração elétrica global até 2040. Hoje, estas representam 0,2% da geração global e passariam a representar 0,4%. A IEA tem defendido os fósseis cada vez mais explicitamente. Assim, neste mesmo cenário amigável ao clima, ela prevê que a participação dos fósseis permanece mais ou menos a mesma, só que as plataformas offshore suplantam a preponderância atual das operações em terra. Prevê também que o gás natural aumente sua participação em detrimento do óleo, reduzindo portanto a intensidade de emissões da eletricidade gerada. A IEA diz que eólicas offshore próximas de campos de óleo e gás podem compartilhar os cabos subterrâneos e a infraestrutura de manutenção, e que as plataformas fósseis podem usar a eletricidade das eólicas, ao invés de queimar diesel ou gás para tocar suas operações.

É interessante a Agência apresentar estas sinergias sem comentar a necessidade de manutenção dos fósseis embaixo do fundo do mar para a contenção do aquecimento global.

http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/WEO2017Special_Report_OffshoreEnergyOutlook.pdf

https://www.axios.com/iea-sees-bigger-role-for-offshore-wind-to-meet-climate-goals-2ee8ae96-9d4e-4734-a33a-85894c3dd45e.html

 

AUMENTA A AMBIÇÃO PELO CONTROLE DAS EMISSÕES DE CAMINHÕES

A França e outros quatro países da União Europeia querem metas mais ambiciosas para o corte de emissões do transporte rodoviário de carga. A proposta foi apresentada em uma reunião da UE no final do mês. A França quer metas ambiciosas para 2025, 2030 e 2050; Holanda, Irlanda e Lituânia querem uma redução de emissões de pelo menos 24% em 2025, e de entre 35% e 45% até 2030. Os caminhões respondem por 25% das emissões do transporte nas estradas da Europa, embora sejam apenas 5% dos veículos a nelas transitar. Os fabricantes, por sua vez, alegando que seria a primeira vez que haveria metas para caminhões, acham mais razoável ir com calma. Sugerem 7% em 2025. Interessante que, no mundo desenvolvido, a União Europeia será a última região a adotar controles para caminhões. Parece que há experiência de sobra nos EUA, Japão, Canadá e, mais recentemente, até na China. A resistência das montadoras, na Europa e aqui no Brasil, responde por boa parte do atraso na limitação do aquecimento global em 1,5oC.

https://www.reuters.com/article/us-eu-trucks-emissions/eu-states-call-for-ambitious-truck-co2-emissions-targets-idUSKBN1I80VS

 

REINO UNIDO PENSA EM BANIR VEÍCULOS HÍBRIDOS A PARTIR DE 2040

Parece que o pessoal do Reino Unido acha que a transição para uma frota 100% elétrica tem que ser acelerada e pensa em proibir a venda de veículos híbridos a partir de 2040. Os híbridos, que já rodam há algum tempo, têm motores elétricos e usam combustíveis fósseis para alimentar as baterias. Estas também recebem carga de sistemas que aproveitam a energia da frenagem dos autos. James Beard escreveu no The Independent que acha pouco. Para acelerar a descarbonização, segundo ele, é preciso banir a venda de carros a fósseis, híbridos inclusive, bem antes disso. Enquanto isso, no Brasil os consumidores esperam que os híbridos cheguem algum dia a um preço razoável.

https://www.independent.co.uk/voices/hybrid-cars-ban-carbon-emissions-uk-environment-a8338611.html

 

FUTURO DO CLIMA NO SAARA IMPACTARÁ CHUVAS NA AMAZÔNIA

Um trabalho recente modelou a possível diminuição dos ventos que carregam as areias do Saara até a Amazônia e os impactos disso sobre a vida da floresta. Sabe-se já há algum tempo que as areias do Saara são importantes para o ciclos amazônicos. Elas absorvem e espalham a luz solar, diminuindo o aquecimento das copas das árvores. Servem como sementes para a condensação do vapor d’água nas nuvens e, portanto, das chuvas. E, ao chegar ao solo, entregam minerais como ferro e fósforo importantes para a vida biodiversa da região, mas também para a vida marinha. Por exemplo, o ferro que cai durante a travessia é fundamental para os fitoplânctons do Atlântico tropical. A modelagem indicou um duplo efeito: primeiro, os ventos sobre o Saara ficarão mais fracos e, segundo, o Atlântico norte deve esquentar mais do que o Atlântico sul e, assim, o ventos serão desviados para o norte, diminuindo a poeira sobre a Amazônia. Os autores conferiram com o registro histórico que diz que a quantidade de poeira vem diminuindo desde 1980.

https://cosmosmagazine.com/climate/dwindling-desert-dust-spells-danger-for-the-amazon

 

A MUDANÇA DO CLIMA TIRA O SONO DOS URSOS

Pesquisadores da vida dos ursos constataram que estes estão perdendo o sono por causa do aquecimento global. Ou melhor, em média, para cada grau de aumento da temperatura mínima do inverno, o período de hibernação dos ursos diminui em seis dias. O trabalho, que acaba de sair no Journal of Applied Ecology, estudou a influência da mudança do clima e da proximidade com humanos nos hábitos dos ursos pretos norte-americanos. Além de aumentar a temperatura mínima, a mudança do clima está esticando o outono e fazendo a primavera começar mais cedo. Isto aumenta a disponibilidade de comida e o apetite dos ursos. Os pesquisadores também mediram o efeito da proximidade humana aos habitats dos ursos. O fato de haver uma “oferta” de alimento o ano todo, na forma de lixo doméstico, também incentiva o urso a dormir menos e a acordar mais cedo. O trabalho avisa que o prolongamento do período ativo dos ursos deve aumentar os encontros destes com humanos e, portanto, aumentar sua mortalidade.

https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/1365-2664.13021

https://www.nytimes.com/2018/05/04/climate/bears-not-hibernating.html

 

Para ver hoje

CIÊNCIA ABERTA DEBATE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O programa de TV Ciência Aberta, parceria da FAPESP com a Folha de S.Paulo, promoverá hoje uma discussão sobre Mudanças Climáticas Globais com a participação dos especialistas Thelma Krug e Gilberto Câmara, do INPE, e Paulo Artaxo, da USP. O programa será exibido ao vivo.

Hoje, às 15 horas.
Veja nos sites da FAPESP ou no site da TV Folha.

A gravação permanecerá nestes links para quem não puder assistir aos debates ao vivo.

www.fapesp.br, www.facebook.com/agfapesp e www.youtube.com/user/fapespagencia

http://www1.folha.uol.com.br/tv/

 

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Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
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