CORAIS DA AMAZÔNIA: PORQUE AS DECLARAÇÕES DA TOTAL NÃO CONVENCEM
A petroleira francesa Total declarou que a exploração que pretende fazer em suas áreas de concessão na foz do Amazonas fica longe do recém-descoberto recife de coral e que, por isso, suas atividades não representam nenhuma ameaça aos corais. A empresa tenta, assim, responder ao Greenpeace, ao Ministério Público e às campanhas contra a exploração de petróleo na área. Na declaração, a empresa diz que os locais das primeiras perfurações ficam em águas profundas nas quais não foi constatada a presença do recife, e que ficam a 28 km do recife e a 34 km dos locais visitados recentemente pelo navio do Greenpeace.
O problema da exploração de petróleo na região vai além do local das perfurações. A Total não convenceu o Ibama no ano passado, e não convenceu o Ministério Público, de que conhece os riscos que a exploração de petróleo trará aos corais. Vazamentos de óleo percorrem grandes distâncias e os 30 km mencionados, em termo marítimos, não são quase nada. No ano passado, o Ibama pediu à empresa que refizesse o Estudo de Impacto Ambiental. Coisa que, com ou sem declaração, ela não fez.
https://www.total.com/en/media/news/press-releases/foz-do-amazonas-totals-statement
PETRÓLEO CONTINUA SUBINDO E AJUDANDO ESTADOS, MUNICÍPIOS E PETROBRAS
O preço do petróleo vem subindo quase que continuamente desde o começo do ano, e deu um salto quando Trump começou a guerra comercial com a China no começo de abril. Nesta última semana, os preços subiram mais uma vez quando Trump começou a se mexer para sair do acordo nuclear com o Irã. Deve continuar subindo agora que os EUA saíram, de fato, do acordo. A cada subida, crescem as receitas de estados e municípios que recebem royalties da exploração de petróleo. Essas receitas subiram 30% nos primeiros quatro meses do ano em comparação com o mesmo período no ano passado. O estado do Rio de Janeiro e os municípios de Macaé, Maricá e Niterói, no Rio, e de Ilhabela, em São Paulo, são os campeões em royalties.
Outra que deve estar sorrindo é a Petrobras. A empresa anunciou ontem que, no primeiro trimestre, teve um lucro líquido de R$ 7 bilhões, o maior desde o começo da Lava Jato. Em termos de receitas, a empresa aproveita a alta de 25% no preço do barril desde o começo do ano e também da sua política de preços de derivados.
Aviso aos navegantes: não custa lembrar que o preço do petróleo é extremamente volátil; foi por contar com preços eternamente altos, acima de US$ 100 por barril, que as economias da Venezuela e do estado do Rio quebraram.
LEILÃO DE EFICIÊNCIA ELÉTRICA À VISTA
A Aneel abriu uma consulta pública voltada à criação de Leilões de Eficiência Energética, na qual sugere uma modalidade e uma experiência em escala real. Nos leilões de geração que promove, a Aneel oferece capacidades de geração e leva aquele que ofertar o menor preço. Para o leilão de eficiência, a Aneel diz quanta energia quer economizar e leva aquele que se comprometer a chegar lá pelo menor preço. Por exemplo, para economizar uma dada quantia de energia, um participante se propõe a trocar todas as lâmpadas por modelos mais eficientes, enquanto outro se propõe a trocar um certo número de geladeiras velhas por modelos novos mais eficientes. Leva o contrato quem ofertar o menor preço. Existe uma série de condicionantes técnicas e regulatórias a ser estudada e a consulta pública está aberta para isso. A Aneel também está planejando experimentar um leilão desse tipo no estado de Roraima, que é o único que não está ligado ao Sistema Integrado Nacional. Nas projeções da Agência, o leilão proporcionaria uma economia de 35 milhões de kWh por ano ao longo de dez anos.
http://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa/-/asset_publisher/zXQREz8EVlZ6/content/id/16539499
MMA LANÇA A MOBILIZAÇÃO NACIONAL DE COMBATE AO DESMATAMENTO ILEGAL
Na 2a feira, o ministro substituto do meio ambiente, Edson Duarte, lançou a Mobilização Nacional de Combate ao Desmatamento Ilegal, que terá “ações conjuntas dos governos federal, estaduais e municipais, poderes judiciário e legislativo, setor privado e sociedade civil organizada”. As ações envolverão o aprimoramento das medidas de comando e controle; o suporte financeiro a atividades de promoção do uso sustentável da floresta; o engajamento dos vários segmentos da sociedade; e a comunicação, mostrando que “o desmatamento ilegal, além de comprometer a qualidade do meio ambiente, prejudica o desenvolvimento nacional.”
http://www.mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=2990
FUNDOS DE ÁGUA DÃO SUPORTE FINANCEIRO A MUNICÍPIOS AMEAÇADOS POR CRISES HÍDRICAS
Alexandre Rosa, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, escreveu para o Valor sobre os Fundos de Água, iniciativa do BID, da The Nature Conservancy, da Fundación Femsa e do Fundo para o Meio Ambiente Mundial, que funciona nos moldes de parcerias público-privadas provendo fundos e suporte à governança da água. O rol de ações que vêm sendo desenvolvidas pelos Fundos existentes cobrem desde a recuperação de encostas e a implantação de áreas protegidas até a gestão de pagamentos por serviços ambientais, tudo isso atrelado à capacitação e à melhorias de práticas agropecuárias. Hoje, existem 23 Fundos funcionando no Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Peru e República Dominicana, e, em breve, mais dois serão criados, um na Argentina e outro no Chile. Foram aportados US$ 150 milhões para mais de 200 organizações trabalharem em bacias que abastecem mais de 80 milhões de pessoas. Um exemplo de sucesso é o Fundo de Água do Rio de Janeiro, que colocou quase R$ 16 milhões para serem investidos – pelo Comitê Guandu e o Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba – numa série de ações para valorizar os mananciais. O artigo conta histórias de outros Fundos de Água, como os de São Paulo e de Lima, no Peru.
http://www.valor.com.br/opiniao/5509341/infraestrutura-verde-para-uma-regiao-sedenta#
http://mudatudo.com.br/entrevistas/fundo-de-agua-para-a-colombia/
TURISMO RESPONDE POR 8% DAS EMISSÕES GLOBAIS
A Nature acaba de publicar um estudo sobre as emissões do setor de turismo no mundo. Como o poder aquisitivo das classes médias globais vem subindo, a indústria do turismo vive dias de glória e de muita emissão. Para se ter uma ideia, em 2013 o Brasil emitiu cerca 2,1 GtCO2e, incluindo o desmatamento, enquanto os turistas, em todo o mundo, foram responsáveis por mais do que o dobro disso: 4,5 GtCO2e. A maioria das emissões vem das viagens aéreas, ao que segue o transporte terrestre. Os pesquisadores incluíram as emissões da fabricação e do transporte de um monte de bugiganga chinesa encontrada nos hotéis e toda a cadeia dos alimentos consumidos pela própria indústria e, claro, pelos turistas. Os pesquisadores fizeram uma análise detalhada de como estas emissões se distribuem entre os países e, neles, pelas classes sociais. Uma conta interessante que fizeram é o “multiplicador de carbono”, ou o quanto se emite para cada dólar transacionado. O multiplicador do turismo – 1,0 kgCO2e por dólar consumido – é maior do que da indústria – 0,8 kgCO2e por dólar produzido, e maior também que o da construção civil – 0,7 kgCO2e por dólar construído.
https://www.nature.com/articles/s41558-018-0141-x
http://www.observatoriodoclima.eco.br/turismo-emite-8-carbono-mundo-afirma-estudo/
https://www.carbonbrief.org/tourism-responsible-for-8-of-global-greenhouse-gas-emissions-study-finds
http://www.bbc.com/news/science-environment-44005013
BANCO INGLÊS ENGANA CLIENTES FINANCIANDO PAINÉIS FOTOVOLTAICOS
O banco inglês Barclays está sendo acusado de ter enganado seus clientes dizendo que os painéis fotovoltaicos para residências que financiou se pagariam em pouco tempo e que reduziriam suas contas de luz. Muitos descobriram que o custo do financiamento é maior que a economia conseguida com os painéis. O serviço de Ombudsman Financeiro do banco está recebendo uma quantidade significativa de reclamações.
https://www.thetimes.co.uk/article/barclays-hit-by-solar-scandal-70fmt0d2w
ENERGIA SOLAR PODE SER OBRIGATÓRIA NA CALIFÓRNIA
A ensolarada Califórnia está a ponto de aprovar uma lei que obrigará casas novas com mais de 3 andares – ou acima de uma certa área – a instalar painéis fotovoltaicos nos seus tetos. Além dos painéis fotovoltaicos, a lei também demandará que as novas residências privilegiem a eletricidade em relação ao gás e tenham sistemas de armazenagem via bateria. A lei faz parte de uma diretiva que já há dez anos tinha como meta que as casas tivessem um balanço zero de energia: os painéis fotovoltaicos gerando a mesma quantidade de energia do que a consumida na forma de eletricidade e/ou gás.
SÉRIE ‘CRISE DO CLIMA’ FALA DOS INCÊNDIOS DE PORTUGAL
Os incêndios violentos do ano passado em Portugal deixaram mais de 100 mortos e uma conta de € 1 bilhão. Essa é a história da 3a matéria da série Crise do Clima, da Folha de S. Paulo. Giuliana Miranda e Lalo de Almeida falam do fenômeno das “tempestades de fogo, incêndios florestais poderosos que realimentam as chamas com as próprias correntes de ar que criam, desde que hajam as condições meteorológicas adequadas e material combustível abundante”, que vão se tornando cada vez mais comuns e mais fortes. Para quem não se lembra, Portugal sofreu duas destas tragédias em 2017: uma no final da primavera e outra no meio do outono. O ano passado foi o mais quente nos últimos 20 anos e isso, aliado à pouca chuva e a vastos eucaliptais criaram a tempestade de fogo perfeita. Os jornalistas ouviram de Fátima Alves, pesquisadora da Universidade de Coimbra, que “as pessoas sabem o que se passa, mas não estão, digamos, igualmente comprometidas com a mudança do seu próprio comportamento”.
COMO O MUNDO PODE LIMITAR O AQUECIMENTO GLOBAL EM 1,5oC?
David Roberts escreveu um artigo que deve ser lido por quem estuda os caminhos pelos quais o mundo pode limitar o aquecimento global em 1,5oC. Roberts comenta e compara três estudos publicados no mês passado: o da IRENA, um da Ecofys e um publicado na Nature. O problema de Roberts é como atingir esta meta sem depender em demasia dos BECCS (eletricidade de biomassa com captura e armazenagem de carbono). Um BECCS é um sorvedouro de carbono da atmosfera que gera eletricidade queimando biomassa renovável e enterrando as emissões. Como a biomassa é renovável, ela rebrota e cresce removendo carbono do ar. O problema dos BECCS é que muitos modelos acabam exigindo uma quantidade brutal de terra para plantar a biomassa necessária – algo entre 1 e 4 Índias. O segundo problema dos BECCS é que não existe nenhum exemplo em funcionamento. Os três trabalhos usam graus diferentes de ambição de energia renovável – tanto para gerar eletricidade, quanto usada como combustível. Os três assumem metas muito ambiciosas de eficiência energética. E os três eletrificam tudo o que puder ser eletrificado. No final, os dois primeiros confessam que precisam de um pouco de BECCS. O da Nature trilha um caminho menos usual. Ele sugere que a população tem que parar de crescer logo, e mudar hábitos: para mantermos o aquecimento global abaixo dos 1,5oC, será necessária uma “veganização” em massa, viajar menos e alterar noções de conforto, reduzindo as temperaturas de calefação e aumentando as temperaturas de ambientes refrigerados. Por outro lado, a implantação de tudo isso tende a fazer a economia crescer e deixar o mundo mais rico.
http://www.irena.org/publications/2018/Apr/Global-Energy-Transition-A-Roadmap-to-2050
https://www.ecofys.com/files/files/ecofys-a-navigant-company-2018-energy-transition-within-1.5c.pdf
https://www.nature.com/articles/s41558-018-0119-8
CRIANÇAS SERÃO AS MAIORES VÍTIMAS DA MUDANÇA DO CLIMA
No últimos 50 anos, a expectativa média de vida em quase todo lugar subiu, basicamente porque a mortalidade infantil vem caindo cada vez mais. Mas um trabalho recém publicado na revista Pediatrics conta que a mudança do clima ameaça a reversão desta melhora. De modo geral, as crianças serão 88% dos casos de doenças causadas pela mudança do clima e as mais pobres serão desproporcionalmente mais atingidas. Os autores argumentam que crianças dependem, basicamente, dos cuidados da família e da comunidade. Assim, são mais vulneráveis a eventos que enfraquecem estes fatores e que limitem a capacidade de cuidado. Isso é agravado pelo fato da criança afetada poder carregar sequelas pelo resto de sua vida, na forma de desnutrição, comprometimento do desenvolvimento e defesas imunológicas mais fracas. O artigo elenca uma série de consequências dessas vulnerabilidades que são potencializadas pelo grau de pobreza em que vivem as crianças. Os autores fazem um chamado à sociedade para um esforço de limitação da magnitude da mudança do clima, o que ajudaria a proteger as crianças ao redor do mundo de doenças e de mortes prematuras perfeitamente evitáveis.
http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2018/05/04/peds.2017-3774
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