ClimaInfo, 14 de maio 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

NÚMEROS FINAIS MOSTRAM DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA MAIOR QUE ANUNCIADO EM JULHO

A análise detalhada das imagens do satélite Prodes revelou que o desmatamento na Amazônia entre agosto de 2016 e julho de 2017 foi um pouco maior do que anunciado no ano passado, 6.947 km² ao invés de 6.624 km². A diferença de 5% está dentro da margem de erro porque o costume é anunciar um valor provisório o mais rápido possível e, depois, anunciar o resultado do exame mais detalhado. Pelos números finais, o desmatamento caiu 12% em relação ao período anterior (agosto/2105 a julho/2016 = 7.893 km²).

http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/05/12/143621-dados-consolidados-do-desmatamento-na-amazonia.html

 

O PANTANAL MUITO AMEAÇADO

A atualização do relatório do WWF sobre o Pantanal mostra o bioma em alto risco. O estudo Índice de Risco Ecológico (IRE) aponta como principais ameaças o aumento significativo das áreas de pastagens e lavouras, as inúmeras hidrelétricas – pequenas e micro – que continuam a se espalhar nas cabeceiras do bioma, e os impactos das área urbanas que despejam esgoto e lixo nos cursos d’água. Da área do bioma, menos de 1% é protegida e mais da metade já foi desmatada. Isto afeta as “torres d’água” que alimentam o pantanal. Iván Bergier, pesquisador da Embrapa Pantanal, disse que muito da criação não aplica técnicas adequadas e a boiada anda compactando o solo em excesso. Também sugere que as lavouras precisam aplicar o plantio direto e o terraceamento para evitar o assoreamento dos cursos d’água. Quanto às hidrelétricas, existem, hoje, 110 delas, entre pequenas e micro. Pelo tamanho, elas escapam de critérios de licenciamento mais rígidos das grandes, mas pela quantidade e pelo efeito cumulativo nas bacias, provocam mudanças importantes que alteram os regimes hidrológicos do bioma. O mapa do IRE que aparece tanto na publicação do WWF quanto na matéria de Marcelo Leite, na Folha de S. Paulo, ilustra claramente a situação de risco do bioma.

https://www.wwf.org.br/?65342/WWF-Brasil-alerta-40-do-planalto-pantaneiro-est-em-alto-risco

https://www.wwf.org.br/?65342/WWF-Brasil-alerta-40-do-planalto-pantaneiro-est-em-alto-risco

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/05/pantanal-ameacado.shtml

 

O SEMIÁRIDO MUITO AMEAÇADO

Metade do semiárido está em acentuado processo de desertificação, segundo a Embrapa, e a situação em mais de 10% é de desertificação severa. Segundo Iêdo Bezerra de Sá, pesquisador da Embrapa , elas compreendem uma área de 63 mil km² nos estados de Bahia, Pernambuco e Ceará. “Ao desmatar a caatinga, os solos ficam completamente expostos a todas as intempéries… Há locais em que chove 450 a 500 milímetros por ano. O grande problema é essa irregularidade das chuvas: elas caem de forma muito concentrada, chove muito em pouco tempo, ou seja, os 500 milímetros se concentram em apenas dois, três meses e, às vezes, 20%, 30% da chuva do ano cai em apenas um dia”. A situação foi agravada pela pouca chuva que caiu entre 2012 e o começo deste ano. Nos municípios que compõe os Núcleos de Desertificação, Gilbués (PI), Seridó (RN/PB), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE), Cariris Velhos (PB) e Sertão do São Francisco (BA), os solos já estão degradados de forma extremamente grave, um processo de desertificação praticamente irreversível.

http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/14-mais-de-50-do-semiarido-brasileiro-esta-em-desertificacao-acentuado/

 

DESMATAMENTO E IMPACTOS AO LONGO DA MANAUS-PORTO VELHO

O Idesam soltou um estudo precioso sobre o desmatamento ao longo da estrada que liga Manaus a Porto Velho, a BR-319, que tem quase 900 km de extensão acompanhando o Rio Madeira. A estrada tem uma história de idas e vindas e nunca obteve uma licença de instalação, porque os estudos de impacto ambiental entregues deixam muito a desejar. O lançamento do estudo é oportuno, dados os projetos de lei de “licenciamento ambiental fake” que tramitam, um no senado e outro na câmara, dispensarem do licenciamento o asfaltamento da estrada. O estudo mostra o desmatamento que já acontece com a estrada como está e indica claramente que a floresta estará muito mais ameaçada se o trânsito aumentar sem planejamento e controle. Por exemplo, Humaitá, a 200 km de Porto Velho, viu  garimpeiros colocarem fogo em instalações e veículos do Ibama e ICMbio, e ameaçarem a vida dos funcionários no ano passado. É evidente que existem problemas sociais graves a serem tratados, nesta e nas outras rodovias que cortam a Amazônia. Só que um ‘libera geral’ os agravam, assim como os ambientais. Agravamento que políticos locais entendem que acontecem em seu próprio benefício. Um exemplo evidente é o PL que tramita no Senado ter sido proposto pela terceira vez por Acir Gurgacz, cuja família opera a linha de ônibus que utiliza a rodovia.

http://idesam.org/analise-br319/

https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/desmatamento-ao-longo-da-br-319-soma-17-milhao-de-hectares-no-amazonas-e-rondonia-diz-idesam.ghtml


DESASTRES AMBIENTAIS VÃO PARA A CONTA DO AGRO, DIZ MINISTRO

Edson Duarte está exercendo a pasta do Meio Ambiente desde a saída de Sarney Filho no começo de abril e deu uma entrevista ao Observatório do Clima mostrando como o agronegócio pode ser prejudicado pela pressão que a bancada ruralista está fazendo para detonar o licenciamento ambiental e enfraquecer a lei e controle dos agrotóxicos. Sobre esse último,  ele analisa corretamente a possibilidade de uma maior restrição aos produtos brasileiros em mercados seletivos como os da Europa e EUA, como vem acontecendo com a carne. Alimentos mais envenenados não são vistos com bons olhos nestes países. Quanto aos projetos de “licenciamento fake“, na medida em que se retira as lavouras do rol das atividades licenciáveis, todo e qualquer impacto ambiental relevante será jogado na conta de quem flexibilizou a lei. Assim, como a parte responsável do agronegócio não é vetor de desmatamento, nem de grilagem de terras, não deve se sentir representada pelos que agem irresponsavelmente em relação ao futuro do país e seus próprios negócios.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/desastres-ambientais-vao-para-conta-agro-diz-ministro/

 

QUANDO O PROBLEMA NÃO É ÍNDIO OU ASSENTADO, O PROJETO FICA PARADO

O linhão de Belo Monte em construção pelos chineses da State Grid parou na porta de uma das fazendas do empresário Daniel Dantas, conhecido da operação da Satiagraha da PF. O processo entrou na justiça e está escalando os tribunais. Os chineses entendem que o decreto de desapropriação lhes deu o direito de passagem e o pessoal do Dantas diz que sua produção de teca será afetada se a faixa de uso de 120 metros de largura atravessar a propriedade e cortar 2.000 árvores.

Isso faz pensar na eventualidade destes 120 metros pertencerem a uma comunidade tradicional, se os tratores chineses já não teriam passado por cima das árvores e das gentes.

Dantas havia sido condenado e, provavelmente devido às suas posses, ganhou dois habeas-corpus de Gilmar Mendes e foi inocentado pelas provas terem sido coletadas incorretamente.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,novo-linhao-de-belo-monte-trava-nas-fazendas-de-daniel-dantas-no-para,70002306014

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,linhao-pode-afetar-2-mil-arvores-diz-santa-barbara,70002306020

 

200 CAMINHÕES ELÉTRICOS PARA COLETAR LIXO NO BRASIL

O Brasil terá a segunda maior frota de caminhões elétricos depois da China. Uma empresa de coleta de lixo, a Corpus Saneamento, comprou 200 caminhões da chinesa BYD para serem entregue nos próximos 6 anos. Os primeiros 21 serão entregues em setembro e outros 60 no ano que vem. A empresa atua em 6 cidades no estado de São Paulo, incluindo a capital e Osasco, além de Vitória e Vila Velha, no Espírito Santo.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,grupo-de-sao-paulo-tera-frota-de-200-caminhoes-eletricos,70002305368

 

CHINA A CAMINHO DE UM NOVO MARCO NA VENDA DE VEÍCULOS ELÉTRICOS

A China está no rumo de vender 1 milhão de carros elétricos neste ano. No primeiro trimestre, foram vendidas mais de 225 mil unidades, um crescimento de quase 150% em relação ao ano passado. Isso se compara ao crescimento de 5% na venda de carros fósseis, apesar das vendas dos elétricos representarem apenas 2,3% da vendas de veículos. A meta chinesa é atingir a marca de 2 milhões de carros vendidos durante o ano de 2020. A marca dos elétricos mais vendidas na China é a Volkswagen, que quer vender 3 milhões de elétricos no mundo todo durante o ano de 2025.

https://www.investors.com/news/china-electric-vehicle-sales-seen-hitting-1-million-milestone-2018/

 

SOLAR E EÓLICA BARATAS ESTÃO MATANDO ECONOMICAMENTE A GERAÇÃO A CARVÃO NA ÍNDIA

Os preços da geração eólica e solar na Índia continuam a cair e já estão mais baratos dos que os da geração à carvão. As tarifas médias no ano passado bateram ao equivalente a R$ 128/MWh, enquanto que a geração a carvão girou em torno de R$ 190/MWh. A Índia tem pouco menos de 190 GW de térmicas a carvão, mas analistas dizem que 20% são consideradas stranded asssets – ativos encalhados – e, junto com outros 5%, são consideradas inviáveis economicamente. Pelas regras do sistema elétrico indiano, estas usinas têm a obrigação contratual de continuar operando, mesmo no prejuízo. Parte da explicação vem da demanda por eletricidade ter se estagnado nos últimos meses porque a indústria parou de crescer. Mesmo que a demanda retome o crescimento anterior, isto não puxará os preços para cima, primeiro porque há uma capacidade ociosa e, mais importante, porque as renováveis continuam crescendo e não apareceu nenhum novo projeto de térmica a carvão.

Aqui no Brasil, em função dos resultados do último leilão em abril, analistas apontam que o preço médio do MWh das eólicas deve ficar abaixo de R$ 108 e o das fotovoltaicas, entre R$ 118 e R$ 145. No último leilão que teve ofertas de térmicas a carvão, no final do ano passado, ninguém comprou o mico.

https://qz.com/1272394/cheap-solar-and-wind-energy-prices-are-killing-indias-coal-power-plants/

http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/04/economia/620267-aneel-avalia-que-leilao-de-energia-nova-a-4-foi-um-sucesso.html

 

AS CIDADES NORTE-AMERICANAS MAIS AMIGAS DAS BIKES

O pessoal do grupo ativista People for Bikes desenvolveu uma ferramenta para mostrar como as cidades norte-americanas estão se comportando em relação às bicicletas. Acabaram de listar as 100 cidades mais amigas das bikes. A lista começa com Fort Collins, no Colorado, seguida por Bolder, também no Colorado, Portland no Oregon, Tucson no Arizona e Madison (a do filme das pontes), no Wisconsin. A mais conhecidas, San Diego, Nova Orleans, Nova York e a capital Washington também estão entre as 15 mais amigas das bikes. Os critérios adotados foram: quantas pessoas possuem bikes e com que frequência as usam, número de acidentes e mortes, quantidade e qualidade das rotas usadas por ciclistas, a consistência da rede de apoio a todos os ciclistas da comunidade e a velocidade com que a cidade melhora a infraestrutura e atrai mais ciclistas. Vale dar uma olhada na metodologia das pesquisas e nos dados secundários usados. Talvez dê para alguém desenvolver uma versão brasileira .

https://cityratings.peopleforbikes.org/methodology/

https://www.outsideonline.com/2303806/people-bikes-rated-most-bike-friendly-us-cities

 

DE COMO FABRICAR AÇO E ALUMÍNIO COM MENOS EMISSÕES

Das indústrias que mais emitem gases de efeito estufa, a do aço está em primeiro lugar, a do cimento em segundo e a do alumínio entre as cinco primeiras. Acabam de sair duas novidades que podem vir a reduzir as emissões do aço e do alumínio.

As emissões da fabricação do aço vêm da queima de carvão utilizado para manter a temperatura no alto forno bem alta e para fornecer o carbono usado como redutor do minério de ferro. A siderúrgica sueca Hybrit vai começar a produzir aço usando hidrogênio como redutor e, assim, emitir vapor d’água ao invés de CO2. O hidrogênio é produzido a partir da eletrólise da água com uso de eletricidade gerada por fontes renováveis. A eletrólise separa o hidrogênio do oxigênio, que também é utilizado no processo. Pelas contas do pessoal da Hybrit, o aço sairá 20% a 30% mais caro e a diferença será compensada quando o preço do carbono subir. A planta piloto está sendo construída e deve entrar em operação em 2020.

As emissões da indústria de alumínio vêm da queima de eletrodos de grafite nos fornos de fusão e, também, do alto consumo de eletricidade. No começo de maio, duas das maiores produtoras de alumínio do mundo, a Alcoa e a Rio Tinto, anunciaram terem desenvolvido um material que substitui o grafite na confecção dos eletrodos que, por não envolver carbono, não emite mais CO2. Embora os eletrodos tenham sido testados a nível industrial, as duas disseram não esperar que os novos eletrodos entrem para valer antes de 2024.

https://www.euractiv.com/section/energy/interview/hybrit-ceo-our-pilot-steel-plant-will-only-emit-water-vapour/

https://www.theguardian.com/environment/2018/may/10/new-technology-slash-aluminium-production-carbon-emissions

 

A CIDADE DO CABO ADIA O ‘DIA ZERO ÁGUA’ PARA O ANO QUE VEM

A crise hídrica na Cidade do Cabo continua, mas foi atenuada o suficiente para as autoridades postergarem o Dia Zero para o ano que vem, sem data específica. O Dia Zero é o dia em que o abastecimento é cortado e a população tem que se dirigir a pontos de distribuição com baldes e recipientes para levar água para casa. O ano começou com o Dia Zero marcado para 1o de abril. Em fevereiro, as campanhas de economia começaram a tomar corpo e a data foi postergada para julho. Recentemente, foi postergada novamente para o ano que vem. O forte da campanha é que ela era voltada para consumidores residenciais e a meta era cada pessoa não consumir mais de 50 litros por dia. Isto fez com que jardins secassem, que os banhos não durassem mais que 2 minutos e que quem tomasse banho de piscina passasse a ser muito mal visto pela vizinhança. A prefeitura começou a publicar uma lista com os 100 maiores perdulários. Assim, o consumo per capita caiu pela metade. Preocupados com um relaxamento dos hábitos, as autoridades estão acenando com um aumento médio de 27% na tarifa e um escalonamento mais forte para penalizar mais os que mais consomem.

https://qz.com/1272589/how-cape-town-delayed-its-water-disaster-at-least-until-2019/

 

RACIONAMENTO EM BRASÍLIA DEVE SER SUSPENSO EM JUNHO

O governo do DF anunciou que o racionamento de água, que já dura mais de 16 meses, termina no mês que vem. Segundo as autoridades, choveu e a população economizou bastante. As mesmas autoridades negaram que o fim do racionamento tenha qualquer ligação com as eleições em outubro, quando o governador Rodrigo Rollemberg vai tentar a reeleição. https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/fim-do-racionamento-corte-de-agua-no-df-termina-em-15-de-junho-anuncia-governo.ghtml

 

REPRESAS DE SÃO PAULO EM SITUAÇÃO PARECIDA COM A PRÉ-CRISE DE 2014

As represas do sistema Cantareira que abastece São Paulo estão com níveis parecidos com os de 2013, logo antes da crise de abastecimento no ano seguinte. Embora tenha chovido nos primeiros dois meses do ano, as chuvas de março foram bem menores do que a média histórica. Por enquanto não há sinais de preocupação, nem da Sabesp, nem do governo. Em 2014, Alckmin foi candidato à reeleição em São Paulo e, durante a maior crise hídrica da história da cidade, não admitiu que a Sabesp estivesse racionando o abastecimento. Expressões de tranquilidade de autoridades paulistas neste contexto devem ser lidas com as barbas de molho – enquanto houver água, claro.

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/05/12/reservatorio-do-cantareira-tem-nivel-mais-baixo-do-que-o-da-pre-crise-de-2014.htm

 

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