ClimaInfo, 4 de junho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

A CONTA DO DIESEL RECAIRÁ SOBRE OS MAIS POBRES

A conta do subsídio ao diesel, de R$ 0,46 por litro, monta nas contas do governo a R$ 13,5 bilhões. No início das negociações com os caminhoneiros, Temer editou medidas provisórias cortando a CIDE e reduzindo o PIS/Cofins sobre o diesel. Com isso, abriu mão de uma arrecadação de R$ 4 bilhões. Logo antes do feriado, Temer editou mais MPs e decretos cortando e reordenando o orçamento federal para liberar os R$ 9 bilhões faltantes. A lista de cortes focou dois grupos: projetos sociais e subsídios às exportações. Como o orçamento dos projetos sociais já havia sido cortado e comprimido pela ‘ekipekonômica’ de Meirelles, Temer já pode adotar o lema “tudo, menos o social”. Importante lembrar que esta conta será bancada pelo Tesouro Nacional, ou seja, rateada entre todos os brasileiros. Na estrutura regressiva de muitos dos impostos, isto significa que as camadas menos favorecidas acabarão pagando proporcionalmente mais, acirrando a pornográfica desigualdade existente no país.

Vale comentar um detalhe da conta dos R$ 13,5 bilhões: se a demanda pelo diesel seguir na mesma tendência do começo do ano, este total dá para chegar ao final do ano. Mas, com o preço mais baixo, é possível que a demanda aumente, o que compensaria a queda na demanda prevista no PIB, ou seja, na atividade econômica. Assim, Temer obrigará o futuro presidente a, no momento seguinte à cerimônia de posse, sentar com os caminhoneiros para negociar outra vez.

http://www.valor.com.br/brasil/5563331/para-baratear-diesel-exportador-e-onerado-e-gasto-social-cortado

https://istoe.com.br/perdas-com-a-greve-superam-r-75-bilhoes/

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,peso-da-greve-dos-caminhoneiros-e-maior-para-os-mais-pobres,70002331984

 

O PAPEL DA PETROBRÁS EM DISCUSSÃO

A política de acompanhamento dos preços internacionais do petróleo acabou por fazer o presidente da Petrobras, Pedro Parente, pedir demissão. Junto com toda a demagogia que rolou durante a greve, voltou à tona a discussão do papel da empresa para o país. Os liberais dizem que a Petrobras, para atrair investimentos aqui e lá fora, abriu uma parte do seu capital e, portanto, precisa remunerar seus acionistas, sob risco de perdê-los. O pessoal que defende a função social da empresa diz que ela deveria zelar pela situação econômica do país e amortecer as variações do preço internacional do petróleo e derivados. Samuel Pessoa lembra que, se a sociedade brasileira priorizar a função social, a empresa deveria voltar a fechar seu capital e deixar o Estado como único dono.

Em tempo: Parente planejava colocar à venda a participação majoritária de 4 das 14 refinarias da empresa. A greve teve o efeito de atrair o interesse de possíveis compradores na medida em que o mercado de derivados de petróleo saiu aquecido.

https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2018/06/01/pedro-parente-pede-demissao-da-petrobras.ghtml

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-conta-nao-pode-ir-para-os-acionistas-da-petrobras-diz-pessoa,70002335183

http://www.valor.com.br/empresas/5563219/politica-de-preco-atrai-investidor-para-refino

 

O PARALELO ENTRE JUNHO DE 2013 E A GREVE DOS CAMINHONEIROS

Marcos Nobre lembra que, em 2013, um aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público foi o estopim do movimento de milhões de pessoas que parou o país tomando as ruas para expressar as muitas insatisfações com a classe política, com a economia, com “tudo que está aí”. A greve dos caminhoneiros aconteceu na esteira de aumentos seguidos no preço do diesel e várias pesquisas mostraram que uma parte significativa da população apoiou o movimento, novamente mostrando seu descontentamento com a condução das coisas no país. O movimento subiu de tom, posto que o apoio veio apesar de prateleiras vazias, filas em postos de combustível e serviços públicos semi-paralisados.

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-44298017

 

A GREVE DOS CAMINHÕES MELHORA A QUALIDADE DO AR DE SÃO PAULO

No final da greve soube-se que o ar em São Paulo ficou mais limpo com os caminhões parados e com muita gente deixando o carro em casa por conta do desabastecimento de combustíveis. O boletim da CETESB (agência ambiental do estado) do sétimo dia da greve dos caminhoneiros dava conta de que a qualidade do ar era considerada boa em todas as estações de medição e para todos os poluentes analisados. Para o professor Paulo Saldiva, da USP, esta é uma situação única, um quase-experimento: “precisamos agora esperar que a cidade volte ao normal para podermos mostrar que a poluição atmosférica caiu por conta da redução de carros e que depois voltará ao nível original”.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,greve-dos-caminhoneiros-corta-poluicao-de-sao-paulo-pela-metade,70002330315

 

PRODUÇÃO DE BIODIESEL EM CRESCIMENTO

O Brasil está produzindo cada vez mais biodiesel, principalmente de soja. A produção de março foi de mais de 450 milhões de litros, a maior dos últimos dez anos. Em 2017, a produção de 4,3 bilhões de litros foi misturada ao diesel fóssil numa proporção de 10%, a mistura B-10. Fabricantes nacionais de caminhões e ônibus dizem que daria para chegar numa mistura B-20 sem precisar mexer nos motores. Uma conta de padeiro mostra que o aumento da mistura para B-20, o qual reduziria em 10% demanda de diesel fóssil, reduziria também o buraco nas contas a serem cobertas para cobrir o subsídio de R$ 0,46 por litro em R$ 1,2 bilhão, a preços de hoje.

http://www.neomondo.org.br/2018/06/01/producao-de-biodiesel-atinge-452-milhoes-de-litros-maior-volume-nos-ultimos-dez-anos/

 

MANIFESTAÇÃO EM DEFESA DOS CORAIS DA AMAZÔNIA NA REUNIÃO DE ACIONISTAS DA PETROLEIRA TOTAL

Um grupo de ambientalistas invadiu a reunião de acionistas da petroleira francesa Total na semana passada para protestar contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas, na área dos recém descobertos recifes de coral. Também na semana passada, o Ibama segurou a licença para a exploração dizendo que as informações prestadas pela Total eram insuficientes.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/06/manifestantes-invadem-reuniao-de-empresa-que-quer-explorar-petroleo-no-rio-amazonas.shtml

 

CRISE DO CLIMA: DERRETIMENTO DAS GELEIRAS PERUANAS NA JUSTIÇA ALEMÃ

A 6a matéria da série Crise do Clima da Folha de S. Paulo liga o desaparecimento de geleiras nos Andes peruanos com um tribunal em Hamm, na Alemanha. O agricultor peruano Saúl Luciano Lliuya está processando uma das maiores empresas de energia alemãs, a RWE. Lliuya conseguiu que o tribunal aceite examinar o processo, no qual pede que a empresa responda por sua parcela nas emissões globais do planeta. O caso trata, especificamente, do lago Palcacocha que fica a mais de 4.500 m de altitude. O lago é alimentado pelo derretimento de duas geleiras. Em 1941, provavelmente um bloco imenso de uma das geleiras se desprendeu, caiu no lago e rompeu uma parede natural que o formava. A enxurrada de lama e pedras matou cerca de 2.000 pessoas na vila de Huaraz, a 22 km e muitos metros abaixo do lago. O desastre esvaziou boa parte do lago, mas, de lá para cá, este aumentou quase 35 vezes. Foi construído um muro de 7 metros de altura para conter o lago. Como a temperatura está subindo, as geleiras estão menores e o lago mais cheio. Existe um plano para erguer outro muro, mais forte e com 20 metros de altura. Lliuya quer que a RWE pague uma parte dessa obra. A matéria de Marcelo Leite e Lalo de Almeida traz duas fotos de satélite do lago. A de 1970 mostra um lago pequeno e o enorme braço das geleiras. A de 2016 mostra um lago imenso, mas o braço da geleira desapareceu.

https://arte.folha.uol.com.br/ciencia/2018/crise-do-clima/peru/campones-peruano-processa-empresa-eletrica-alema-e-pede-indenizacao-por-encolhimento-de-geleiras/

 

PRÊMIO AMBIENTAL PARA PIONEIRA AMBIENTAL VIETNAMITA

Khanh Nguy Thi, do Vietnã, recebeu o prêmio Goldman de Meio Ambiente. Pioneira do movimento ambiental no Vietnã, Khanh desenvolve um trabalho importante contra as térmicas a carvão e lidera a discussão de políticas orientadas para o desenvolvimento de fontes limpas de energia. Seu trabalho, que também envolve os impactos de projetos hidrelétricos, se divide entre conversas e pressões sobre os altos escalões governamentais e o trabalho no chão, junto às comunidades no interior do país. Ela criou a ONG GreenID e ajuda as comunidades a definir caminhos para a obtenção de energia de forma sustentável, o que inclui descobrir onde e como a energia é consumida e o potencial de redução deste consumo por meio de práticas de eficiência energética.

https://news.mongabay.com/2018/05/vietnams-first-goldman-prize-winner-pushes-for-energy-conservation/

 

A PEGADA DE CARBONO DOS ALIMENTOS

Dois pesquisadores montaram uma base de dados sobre a produção de alimentos no mundo para determinar a “melhor maneira de reduzir nosso impacto ambiental sobre o planeta”. Eles juntaram informações de quase 40 mil fazendas e 40 alimentos diferentes. Fazendas diferentes têm pegadas diferentes para produzir o mesmo alimento. Os impactos examinados cobriram o ciclo da terra até o garfo, olhando para o uso da terra, as emissões causadoras da mudança do clima, uso de água limpa, a poluição da água e do ar. A conclusão é que evitar carne e laticínios é de longe a melhor maneira de reduzir os impactos. Estas duas famílias de produtos fornecem 18% das calorias e 37% das proteínas consumidas, mas utilizam 83% da área ocupada pelas fazendas e emitem 60% das emissões do setor agropecuário. Se a humanidade deixasse de consumir carne e laticínios, sobraria uma área igual à soma das áreas de China, Brasil e Índia.

O grupo Coller-FAIRR desenvolveu um índice para avaliar como 60 das maiores corporações de carne e de pescado estão enfrentando riscos críticos de sustentabilidade. O alvo estudado detém um ativo total de US$ 300 bilhões. O relatório revela que cerca de metade deste ativo, US$ 152 bilhões, está nas mãos de 36 empresas classificadas como de alto risco, das quais 75% estão baseadas na Ásia. O maior risco está associado ao uso inadequado de antibióticos. Mais de 40% do grupo não reporta – ou reporta inadequadamente – suas emissões de gases de efeito estufa. O risco melhor tratado refere-se à como lidam com poluição e resíduos.

http://science.sciencemag.org/content/360/6392/987

https://www.theguardian.com/environment/2018/may/31/avoiding-meat-and-dairy-is-single-biggest-way-to-reduce-your-impact-on-earth

http://www.fairr.org/coller-fairr-protein-producer-index/

https://www.theguardian.com/environment/2018/may/30/meat-and-fish-protein-multinationals-jeopardising-paris-climate-goals

 

MEGAPROJETO FOTOVOLTAICO NA ÁFRICA

A colaboração Energia para o Deserto (Desert to Power) pretende instalar 10 GW fotovoltaicos na região do Sahel, ao sul do deserto do Saara. Mais de 250 milhões de pessoas receberão a energia gerada, com especial atenção para 90 milhões de pessoas em conexões isoladas. Os fundos virão da associação entre o Fundo Verde do Clima, o Banco de Desenvolvimento Africano e o fundo de investimento África-50. Hoje, menos da metade da população tem acesso à eletricidade.

http://www.climatechangenews.com/2018/05/31/desert-solar-partnership-aims-bring-power-250-million-africans/

 

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