AGRONEGÓCIO É VÍTIMA E VILÃO DO CLIMA
A importância do agronegócio é crescente para a economia brasileira tanto pela riqueza gerada (24% do PIB) quanto pelo desempenho na pauta de exportações (47%). Um artigo de Amália Safatle, na revista Página 22, fala da expansão dos grãos no Cerrado, que contou com a Embrapa para o aprimoramento genético das lavouras e o desenvolvimento de fertilizantes e defensivos, estes em parceria com multinacionais. Grande parte desta expansão aconteceu desmatando áreas de vegetação nativa. Acontece que o desmatamento do Cerrado e o da Amazônia têm impacto direto nos ciclos hidrológicos da região. Segundo Safatle, “isso significa que embora os ganhos econômicos atuais sejam inquestionáveis, sua manutenção no futuro está atrelada a um contexto mais amplo. A longo prazo, a riqueza do agro depende do ambiente natural e de todos os serviços ecossistêmicos por ele prestados, enquanto a conservação dos ecossistemas depende de uma gestão mais moderna da agropecuária, com aumento da produtividade em condições ambientais equilibradas e inclusivas do ponto de vista social, sem a necessidade de expandir a fronteira agrícola sobre a vegetação natural além dos limites determinados pelo Novo Código Florestal”.
CNPE ESTABELECE META PARA O RENOVABIO. PROGRAMA PODE SER AFETADO PELAS NEGOCIAÇÕES FEITAS COM OS CAMINHONEIROS
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) fixou a meta de redução de emissões de gases de efeito estufa para o Renovabio, o programa de incentivo aos biocombustíveis. A meta fixada foi sugerida pelo comitê que estruturou o programa e mira a redução de 10% na intensidade de carbono dos combustíveis nos próximos dez anos por meio do aumento da proporção de biocombustíveis no mix utilizado no país. Pelas contas do comitê, esta meta corresponde a uma redução da ordem de 600 milhões de toneladas de carbono até 2028. Existia uma certa expectativa quanto aos resultados desta reunião do CNPE. O programa busca aumentar o preço dos combustíveis fósseis em relação ao dos biocombustíveis, e o caos causado pela greve dos caminhoneiros gerou preocupação quanto ao lançamento de um programa que aumentará os preço dos combustíveis e, em particular, o do diesel. As contas do comitê se basearam num aumento da fração do biodiesel dos 10% de hoje (B10) para 15% em 2025 (B15). As contas também deixam claro que a substituição da gasolina pelo etanol responderá pelo grosso da meta de redução.
Mas uma ideia do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) pode impactar o Renovabio. Ao final da greve dos caminhoneiros, o CADE fez 9 sugestões para aprimorar o ambiente do mercado de combustíveis. Uma delas abre a possibilidade da venda direta de etanol para postos de gasolina. Isto, provavelmente, faria pouca diferença para os postos das grandes metrópoles, que continuariam a comprar dos distribuidores de combustível. Mas, nas regiões produtoras de etanol, como no oeste paulista e no sul de Goiás, a mudança reduziria o preço ao consumidor enquanto aumentaria o risco de fraudes e da venda de etanol abaixo dos padrões da ANP. De quebra, enfraqueceria o Renovabio, dado que sua peça central é o distribuidor de combustíveis, que perderia um pedaço do mercado para as usinas. Esse pedaço acabaria sendo contabilizado no inventário nacional de emissões, mas não poderia mais ser atribuído ao Renovabio.
http://www.valor.com.br/agro/5569761/greve-muda-foco-das-discussoes-do-renovabio#
IMPOSTOS E RENOVÁVEIS: PRODUTORES DE BIODIESEL TAMBÉM QUEREM REDUÇÃO DE IMPOSTOS E SOLAR DEIXA DE PAGAR ICMS EM TODOS OS ESTADOS
Os produtores de biodiesel, vendo Temer reduzir os impostos sobre o diesel fóssil, não perderam tempo e passaram a demandar benesses semelhantes. Faz sentido. O preço que importa é o do posto de abastecimento. Seria inconsistente baixar o preço do diesel fóssil e não fazer o mesmo para o biodiesel.
Outra notícia recente dá conta que todos os estados brasileiros aderiram ao convênio que isenta do ICMS a energia elétrica produzida por painéis fotovoltaicos instalados em residências, comércios, indústrias, edifícios públicos e na zona rural. Há um tempo atrás, esse era um dos obstáculos à expansão dos painéis solares, posto que o consumidor acabava sendo taxado pela energia que gerava para seu próprio consumo, mais ou menos como ser taxado pelos produtos da própria horta. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/06/produtores-apontam-biodiesel-como-solucao.shtml
http://www.neomondo.org.br/2018/05/29/energias-renovaveis-ganham-isencao-de-icms-em-todo-brasil/
VALE A PENA FABRICAR BATERIAS PARA VEÍCULOS ELÉTRICOS NO BRASIL?
Um dos maiores problemas para que os carros elétricos deslanchem no mercado é a bateria. As atuais baterias de lítio-íon são o item mais caro e mais pesado dos atuais veículos elétricos. O incipiente mercado destes veículos no Brasil levaria a crer que não é interessante instalar uma fábrica destas baterias por aqui, pelo menos por enquanto. Entretanto, tem gente apostando na instalação destas fábricas. A BYD chinesa, fabricante de ônibus e veículos leves elétricos, tem planos para construir uma planta em Manaus com capacidade para fornecer baterias para 4 mil ônibus, caminhões, automóveis e empilhadeiras. A Baterias Moura também tem planos para montar uma fábrica de baterias para veículos elétricos, aproveitando o bom relacionamento que tem com as principais montadoras. O foco inicial seriam os veículos híbridos que já são velhos lá fora e que começam a aparecer por aqui. A Itaipu Binacional também está no páreo. A empresa vem investindo há bom tempo em carros elétricos e, recentemente, fez uma parceria com uma empresa europeia para desenvolver uma bateria de sal de sódio. Este tipo de bateria tem duas grandes vantagens: feita de sal comum, ela é bem mais barata e seu impacto ambiental é bem menor. O ponto negativo é que ela é bem maior e, portanto, não pode ser usada em carros pequenos. A Itaipu está avançando em pesquisas para produzir uma versão diet deste tipo de bateria.
CRISE DO CLIMA: O DIA-ZERO FOI ADIADO NA CIDADE DO CABO, MAS CAUSAS NÃO FORAM AFASTADAS
Uma nova matéria da série A Crise do Clima, da Folha de S. Paulo, tem como tema a Cidade do Cabo, na África do Sul, que entrou em 2018 com o Dia Zero marcado para o começo de abril. O “zero” significava ausência de água nas torneiras da cidade de 3,8 milhões de habitantes. A região estava atravessando uma estiagem histórica e a cidade tinha um padrão relativamente elevado de consumo de água. Com a faca encostada no peito, a população acordou e começou a poupar muita água. O Dia Zero foi adiado de abril para julho e, mais tarde, de julho para, talvez, algum dia do ano que vem. Marcelo Leite foi conversar com o hidroclimatologista Piotr Wolski, da Universidade da Cidade do Cabo, para ver se a mudança do clima estaria por trás dessa estiagem. Wolski foi cauteloso ao dizer que a variabilidade climática seria a principal causa, ajudada pela mudança climática. Entender a parcela de responsabilidade de uma ou outra causa dependerá de mais pesquisas e mais dados. Leite conta que a “cidade que consumia 1,2 bilhão de litros por dia (l/d) viu sua alocação reduzida para 480 milhões de l/d pelo governo nacional. Com a campanha propositadamente alarmista, um aumento de tarifas e a ameaça das torneiras secas, conseguiu cortar o uso para 505 milhões de l/d, ainda acima da meta, que pretendia chegar a 450 milhões”. Foi imposta uma cota de 50 litros diários por pessoa e houve uma campanha recomendando a redução do número de descargas nos vasos sanitários e a diminuição da quantidade de banhos semanais. O Dia Zero foi adiado. Leite termina seu artigo relatando o estado dos sistemas que abastecem São Paulo e apontando a diferença de postura dos governos das duas cidades. Aqui, ainda mais em ano de eleição, a atitude é de negação da existência de qualquer problema.
E haja vela e reza para São Pedro!
DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE COLOCA A POLUIÇÃO PLÁSTICA NO TOPO DE LISTA
A ONU Meio Ambiente marcou o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado ontem, com o lançamento de uma campanha contra a poluição por plásticos e microplásticos. Daniela Chiaretti destaca no Valor a estimativa do custo ambiental da poluição plástica: US$ 13,5 bilhões por ano. A conta engloba o impacto da poluição no turismo, na pesca e no trabalho que dá limpar praias e rios. Além disso, a produção de plásticos consome muito petróleo: só para produzir garrafas plásticas, são consumidos 17 milhões de barris de petróleo por ano.
As principais soluções apontadas pelo relatório envolvem reciclar o máximo possível do material, o que reconhece a importância deste para a sociedade moderna. Para isto, é necessário recuperar e reprocessar quantidades cada vez maiores e implantar políticas que desincentivem ou até proíbam o uso de plásticos descartáveis após um único uso.
http://www.valor.com.br/internacional/5569951/poluicao-global-por-plasticos-custa-us-13-bi-diz-onu
MAPA DAS TÉRMICAS A CARVÃO NO MUNDO APONTA PARA FUTURO POLUÍDO
A queima de carvão mineral para a geração de eletricidade ainda é a principal força impulsionadora do aquecimento global. Pensando nisso, o Carbon Brief fez um mapa muito interessante do uso do carvão no mundo desde 2000.
As principais conclusões:
– O número de termelétricas a carvão em planejamento caiu pela metade desde 2015;
– Este número parece ter atingido o pico em todo o mundo;
– O abandono do carvão está se acelerando nos EUA, apesar das promessas de Trump;
– A capacidade de geração de eletricidade por meio da queima de carvão está a caminho de cair pela metade daquela do ano 2000 na União Europeia; e
– Os analistas prevêem que a China e a Índia planejam usinas a carvão que podem vir a morrer na praia, isto é, não chegarão a serem acionadas.
Aprofundando a análise, primeiro com as más notícias (já conhecidas): desde o ano 2000, o mundo dobrou sua capacidade de geração elétrica a partir do carvão, chegando agora a 2 mil GW com o crescimento explosivo da tecnologia na China e na Índia. Outros 200 GW estão sendo construídos e 450 GW estão planejados. E, agora, a boa notícia: o número de termelétricas a carvão em construção ou em planejamento caiu pela metade desde 2015. O número de plantas fechadas também está em crescimento acelerado, acumulando 197 GW no período que vai de 2010 a 2017. Além disso, a análise do Carbon Brief sugere que o número de termelétricas a carvão em todo o mundo pode ter atingido seu pico: em 2017, foram acrescidas somente seis termelétricas, muito abaixo do acréscimo líquido de 2006, que foi de 273 termelétricas. Vários países, principalmente a China, têm fechado centenas de unidades menores, mais antigas e menos eficientes, substituindo-as por modelos mais eficientes.
O mapa do Carbon Brief é muito bem construído. É possível pesquisar em detalhe os dados de cada país, observar as usinas a carvão individualmente e a evolução do setor, como o emprego do carvão cresceu e depois caiu ao longo do tempo nas diferentes regiões geográficas.
E, por falar em carvão, a Alemanha juntou um grupo de especialistas para planejar o fim das térmicas por lá.
https://www.carbonbrief.org/mapped-worlds-coal-power-plants
http://www.dw.com/en/germanys-coal-exit-jobs-first-then-the-climate/a-44046848
HAVAÍ: NOVA LEI BUSCA NEUTRALIZAR EMISSÕES ATÉ 2045
O Havaí é um dos estados dos EUA mais ameaçados pela elevação do nível do mar. Lá, o governo acaba de aprovar uma resolução para tornar o estado carbono-neutro até 2045. Ao mesmo tempo, baixou uma resolução obrigando projetos de novas edificações a levar em conta a continuação da elevação do nível do mar e outra que inclui na contabilidade das emissões o carbono removido da atmosfera por ações de restauração florestal. O Havaí se juntou à Suécia no compromisso de uma emissão líquida zero em futuro próximo.
http://www.climatechangenews.com/2018/06/04/hawaii-signs-law-become-carbon-neutral-2045
FONTES FÓSSEIS DE ENERGIA PODEM CAUSAR CRISE FINANCEIRA GLOBAL
Pesquisadores da Universidade de Cambridge publicaram os resultados de uma modelagem econômica de caminhos para chegar a uma economia de baixa energia e baixo carbono capaz de limitar o aquecimento global abaixo de 1,5oC. A novidade do trabalho é estimar quanto petróleo, gás natural e carvão ficarão enterrados, e o significado disso em termos econômicos. O resultado ficou na casa dos trilhões de dólares. Trabalhos desta natureza talvez dêem sustos nos investidores, dado o risco de perdas significativas enterradas junto com os fósseis.
https://www.nature.com/articles/s41560-018-0172-6
IPCC ENVIA RELATÓRIO ESPECIAL 1,5oC PARA COMENTÁRIOS DOS PAÍSES
Em outubro, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) lançará o muito esperado ´relatório 1,5oC’ com o enorme título “Aquecimento Global de 1,5oC, um relatório especial do IPCC sobre os impactos de um aquecimento global de 1,5oC acima de níveis pré-industriais e os caminhos associados das emissões globais de gases de efeito estufa, no contexto de um fortalecimento da resposta global à ameaça da mudança climática, ao desenvolvimento sustentável e aos esforços para erradicar a pobreza”. A versão quase-final do relatório foi enviada nesta semana para a apreciação dos países. O relatório será lançado numa reunião especial que acontecerá na primeira semana de outubro na Coreia do Sul.
http://www.ipcc.ch/news_and_events/pr_sr15_fgd.shtml
Para ir
TEM MEIO AMBIENTE NA RENOVAÇÃO POLÍTICA?
O encontro organizado pela SOS Mata Atlântica terá apresentação e mediação da jornalista Flávia Oliveira e será um talk show sobre o contexto histórico e a legislação ambiental com o advogado ambientalista e deputado constituinte Fabio Feldmann e a advogada Erika Bechara, contendo um painel com integrantes de alguns dos movimentos de renovação política, com a participação de Natalie Unterstell (Agora), Claudia Visoni (Bancada Ativista) e Bruna Barros (Acredito).
8 de junho (6a feira), das 9h às 12h, no Unibes Cultural, em São Paulo, na Rua Oscar Freire, 2500, ao lado da estação de metrô Sumaré.
Inscrições no link abaixo.
https://www.sosma.org.br/projeto/cadastros/tem-meio-ambiente-na-renovacao-politica/
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