NOVAS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA E POVOS TRADICIONAIS
O governo está voltando a mexer os pauzinhos para recolocar na pauta a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. O processo de licenciamento tinha sido arquivado pelo Ibama em 2016 porque “o projeto apresentado e seu respectivo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não possuem o conteúdo necessário para análise da viabilidade socioambiental, tendo sido extrapolado o prazo para apresentação das complementações exigidas pelo Ibama”. A pressão de vários interessado reacendeu a chama de quem quer que o projeto saia da gaveta. Do lado oposto, na semana passada, o Ministério Público Federal defendeu a suspensão do licenciamento “até que sejam realizadas uma avaliação ambiental integrada e uma consulta livre, prévia e informada, dos povos indígenas e comunidades tradicionais localizados na área de influência do empreendimento”. Aliás, como manda a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), assinada pelo Brasil.
Em relação à hidrelétrica Tabajara, o MPF e o MP de Rondônia querem que o EIA inclua as áreas de perambulação de índios isolados e as terras indígenas existentes na região.
O CRESCIMENTO DO MERCADO FOTOVOLTAICO DO BRASIL
O número de instalações de microgeração de eletricidade saltou de quase nada em 2013, para quase 31 mil hoje. 99% delas são placas fotovoltaicas instaladas em tetos, pequenos lagos, telhados de escolas e lojas. O BNDES abriu uma linha de financiamento para colocar painéis em casas, o que melhorará o retorno do investimento. Na semana passada, o WWF lançou uma calculadora para estimar o custo e o tempo de retorno destes sistemas. O cálculo leva em conta o local, portanto a insolação média, e o valor da tarifa de energia da concessionária.
Interessante observar que, desde há muito tempo, a tarifa de eletricidade na zona rural é fortemente subsidiada e chega a ser ⅓ da tarifa residencial normal. Isso acaba sendo um obstáculo para a expansão das placas fotovoltaicas exatamente nos locais onde bate mais sol, onde o consumo poderia ser coberto com ajuda de baterias e onde as concessionárias teriam grande redução de custos de manutenção de redes de baixa densidade.
Em tempo: o número de instalações análogas na Índia e na China se mede em dezenas de milhões.
http://www.eficienciaverdebb.com.br/
BNDES APOIARÁ REGULARIZAÇÃO DE PROPRIEDADES EXIGIDA PELO CÓDIGO FLORESTAL
O BNDES anunciou novas condições de financiamento para a recuperação, a manutenção e o uso sustentável da vegetação dentro das linhas do Fundo Clima, do BNDES Finem – Recuperação e Conservação de Ecossistemas e Biodiversidade, e do BNDES Finem-Agropecuária. O banco financia a aquisição de sementes e mudas, a compra de máquinas e equipamentos, a implantação de cercas e viveiros, a contratação de treinamentos e de assistência técnica, dentre outros fatores de produção. Podem receber este apoio empreendimentos de restauração ecológica com espécies nativas; de manejo florestal de áreas com vegetação nativa existente; de plantio biodiverso de espécies nativas com fins econômicos; plantio homogêneo de espécies nativas; plantio consorciado de espécies nativas e exóticas em reservas legais; e sistemas agroflorestais.
O banco está se adiantando à demanda que virá na sequência da implantação do Código Florestal, quando os governos estaduais publicarem seus Programas de Regularização Ambiental (PRA) e os proprietários tiverem que regularizar sua situação quanto às Áreas de Proteção Permanente e de Reserva Legal.
UM DIAGNÓSTICO LIBERAL DAS DIFICULDADES DA EMBRAPA
A Economist publicou uma matéria sobre o difícil momento atravessado pela Embrapa e a sua importância para o agronegócio brasileiro. A matéria cita o que, talvez, tenha sido seu maior feito: a expansão da produção de grãos no Sudeste e no Cerrado, com desenvolvimento de técnicas de manejo de solos e o aprimoramento genético da soja, do milho e do arroz, que colocaram o país no clube dos maiores exportador de alimentos do mundo. A matéria cita gente que acha que a abertura econômica dos anos 90 trouxe a concorrência das grandes multinacionais, como a Bayer e a Syngenta, e que as crises e restrições orçamentárias acabaram por enfraquecer a Embrapa diante da concorrência. O pessoal da Economist sugere que a empresa teria que se reinventar e focar nas áreas onde as grandes não têm penetração. O exemplo mais recente é a integração lavoura-pecuária- floresta que, com o apoio da empresa, ocupa, hoje, uma área de 15 milhões de hectares, 5% de toda área de cultivo do Brasil.
WMO-ONU PREMIA O METEOROLOGISTA DIVINO MOURA
Antonio Divino Moura, do Inpe, foi premiado pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) “pelo excelente trabalho em meteorologia e climatologia e pesquisa científica”. O prêmio é o de maior prestígio da comunidade meteorológica. Divino Moura foi um dos criadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), fundamental para o conhecimento do clima e da meteorologia nacional.
BACHELET: É NECESSÁRIO MUDAR PADRÕES DE CONSUMO E PRODUÇÃO
A ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse que, dada a situação do clima e do meio ambiente, é preciso mudar o que e como produzimos e consumimos. Numa entrevista ao Valor, Bachelet deu peso ao custo da inação: “Quando era ministra da Saúde ou presidenta, sempre perguntavam os custos de campanhas contra a violência à mulher ou o custo de implantar centros de atendimento à mulher. Não se calculam o custo da mulher que está hospitalizada, que deixa os filhos com outra pessoa, que não vai trabalhar porque não pode, os custos para a família se ela morrer. No caso do meio ambiente, a questão é saber qual o custo de não fazermos o que temos que fazer. É possível que esse custo, no curto prazo, seja um pouco maior, mas não fazer significa ter um custo brutal no médio e longo prazos”. Mas ela mesma reconhece que “os tempos políticos são mais curtos. Nem todo mundo se preocupa com o que é estratégico, mas mais com os quatro anos de governo. As preocupações com meio ambiente têm que ser de longo prazo porque estes impactos não se resolvem de um dia ao
outro. O que necessitamos é mudar os padrões de conduta, assim como mudar os modos de produção”.
IMPACTOS DOS AUMENTOS DE TEMPERATURA E DA PRECIPITAÇÃO NO SUL DA ÁSIA
O Banco Mundial publicou um relatório sobre o futuro do sul da Ásia, debruçando-se especialmente sobre Índia, Paquistão e Bangladesh, onde moram quase 1,8 bilhão de pessoas. Nos últimos 50 anos, a temperatura média na região já subiu 0,5oC. Também se nota que a precipitação está variando mais do que em épocas passadas, mas dá para observar uma ligeira tendência de aumento. O relatório aborda os hotspots (pontos críticos) e os impactos negativos que a mudança do clima trará para a qualidade de vida das populações da região, na qual hoje moram 800 milhões de pessoas em situação bastante precária. O trabalho indica que as ações de combate à mudança do clima serão imprescindíveis para não se agravar ainda mais a situação. Mas que só um desenvolvimento diverso e robusto poderia efetivamente melhorar as condições de vida destas populações.
https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/28723
https://www.nytimes.com/interactive/2018/06/28/climate/india-pakistan-warming-hotspots.html
AVIAÇÃO QUER COMPENSAR EMISSÕES COM CRÉDITOS DE CARBONO DUVIDOSOS
Na recente reunião da ICAO (Organização da Aviação Civil Internacional), foi decidido que a aviação internacional pode usar créditos de carbono para compensar parte de suas emissões. A decisão cita explicitamente os créditos gerados pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da Convenção do Clima. Várias organizações fizeram críticas pesadas aos padrões adotados pela ICAO e exigiram que esta dê muito mais peso à redução das emissões por meio de aviões mais eficientes e pela busca de alternativas de emissão-zero. A grita maior foi contra o uso dos créditos de carbono do MDL. Foram citados relatórios oficiais da União Europeia que mostram que esses créditos não representam reduções reais de emissões e, portanto, não poderiam ser usados para compensar as dos aviões. A ICAO ainda tomou mais uma decisão no mínimo infeliz ao permitir o uso de créditos de carbono emitidos a partir de 2016. Algo como listar ao confessor as rezas de dois anos atrás para pedir a penitência dos pecados de hoje. Aliás, existe quem faça uma defesa quase religiosa do MDL apesar do seu enorme emaranhado de regras, condições e cálculos. Para atravessar seus labirintos é preciso muito tempo e dinheiro. E isto constituiu uma barreira que excluiu muitos pequenos projetos de regiões pobres, os quais, além de reduzirem emissões, trazem benefícios imediatos para as populações locais.
http://www.climatechangenews.com/2018/06/28/airlines-eye-massive-carbon-handout/
GÁS LIQUEFEITO PODE AJUDAR A REDUZIR AS EMISSÕES DA NAVEGAÇÃO
A indústria da navegação internacional, responsável por aproximadamente 5% das emissões globais, assumiu recentemente o compromisso de reduzir suas emissões em pelo menos 50% até 2050 e, até o fim de 2019, reduzir o teor de enxofre dos combustíveis para 0,5%. O candidato do momento, a fonte de energia para esta indústria, é o gás natural liquefeito (GNL). A expectativa é que a demanda cresça do atual 1 milhão de toneladas por ano para algo entre 20 e 30 milhões de toneladas por ano em 2030. Executivos do setor entendem que as mudanças são lentas, posto que as margens dos fretes não permitem grandes investimentos, mas observam que o preço do GNL está estável graças ao gás de fracking norte-americano, e que a logística do GNL, tida como o grande gargalo, está se espalhando rapidamente pelos principais portos do mundo. É preciso observar, embora o GNL possa ajudar a navegação a seguir até o próximo porto, o corte nas emissões precisa ser mais profundo, se a indústria quiser ajudar a manter os portos – dos quais tanto depende – acima do nível do mar.
Pelo menos em distâncias curtas, a transição está sendo feita diretamente para a eletricidade. Nos países nórdicos, veem-se cada vez mais balsas com painéis fotovoltaicos e baterias. E, nas proximidades de São Francisco, Califórnia, está em desenvolvimento um tipo de balsa que usará hidrogênio numa célula de combustível. A primeira deve ficar pronta ainda neste ano.
https://www.kqed.org/science/1926385/zero-emissions-ferry-coming-to-bay-waters
O ÍNGREME CAMINHO PARA ZERAR AS EMISSÕES DE CARBONO
O caminho para eliminar as emissões dos combustíveis fósseis e dos processos industriais tem obstáculos importantes a serem enfrentados. Os principais são os materiais estruturais das indústrias do aço e do cimento, o transporte de longa distância por ar e mar e, em boa parte do mundo, as emissões da geração de eletricidade. Pesquisadores que acabam de publicar na Science um trabalho analisando os caminhos a serem percorridos para a redução das emissões globais acreditam que será relativamente simples eletrificar os transportes mais leves e usar cada vez mais fontes renováveis de energia, e preveem papel importante para as usinas nucleares. Por outro lado, dizem que será necessário desenvolver materiais estruturais e processos construtivos com menor pegada de carbono e apostam em combustíveis carbono-neutro para os transportes. Além disso, os pesquisadores não dispensam a remoção do CO2 da atmosfera para neutralizar emissões. É um artigo importante para quem trabalha com a redução das emissões globais.
http://science.sciencemag.org/content/360/6396/eaas9793
ENERGIA SOLAR CONTRIBUI PARA A AUTONOMIA CATALÃ
O governo catalão deu um passo além do simbólico ao criar a Barcelona Energia. A nova empresa passou a fornecer eletricidade para os prédios públicos, a iluminação de rua e os semáforos de Barcelona a partir deste final de semana. Eletricidade esta que está sendo gerada por painéis fotovoltaicos espalhados pela cidade. Ao final do ano, a empresa passa a fornecer energia para 20 mil residências. Por efeito do contrato com a espanhola Endesa, este é o limite de expansão da Barcelona Energia, pelo menos por enquanto. Ada Colau, batllessa de Barcelona, fez um vídeo pedindo que a população instale mais painéis que contribuam para uma maior autonomia da Generalitat de Catalunya.
Adéu oligopolis. Hola sobirania. https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1765246106889380&id=247118052078814
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