ClimaInfo, 10 de julho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

A MAIOR DERROTA DO BRASIL

Para o jornalista Vinicius Torres Freire, tanto a reincidência de crises tremendas quanto o crescimento pífio das últimas quatro décadas são tolerados pela esquerda e pela direita, infelizmente, às custas dos mais pobres. Desde 1980, nosso PIB per capita cresce, em média, 0,8% ao ano. Desde 1990, o país foi o que menos cresceu entre as 11 economias relevantes da América Latina, afora a Venezuela. Desde 1980, tivemos três recessões cataclísmicas e vamos completar, neste 2018, o segundo pior quinquênio de crescimento desde que se tem notícia (1901). Mesmo assim, segue o impasse político, a paralisia provocada por omissão ou por ação de quem imagina poder saquear as ruínas e sobreviver. E não há ao menos uma tentativa séria de pactuar uma saída para o desastre, nenhuma reação social organizada.

Para a questão climática, este quadro é aflitivo. O Brasil corre o risco de passar de “Champion” climático a um de seus vilões, repetindo nesta área o percurso futebolístico de sua seleção. Ou alguém espera que, neste contexto, consigamos enquadrar os grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais que compõem a força impulsora do desmatamento? Ou calcular os custos e os benefícios da exploração acelerada do pré-sal de modo a tomar decisões racionais? Ou – ainda mais difícil – preparar as bases necessárias à inserção do país nas cadeias produtivas da indústria do século 21, da conectividade, das energias renováveis solar e eólica, da eletrificação do transporte, da eficiência energética e da manufatura 4.0?

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2018/07/a-maior-derrota-do-brasil.shtml

 

PEQUENA POLÍTICA AMEAÇA METAS CLIMÁTICAS BRASILEIRAS

O conjunto de retrocessos ambientais perpetrado pelo congresso e pelo planalto coloca em sério risco o cumprimento dos compromissos assumidos junto ao Acordo de Paris. Este é o alerta publicado na Nature Climate Change por um grupo de pesquisadores brasileiros, e justificado com os números que estão por trás da pequena política exercida por – e para – a representação do agronegócio no governo. Não dá para dizer que Temer é refém da bancada ruralista, posto que ele e o pequeno círculo que o cerca – pequeno em número e em estatura moral – liderou boa parte das iniciativas. Raoni Rajão, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos autores do trabalho, afirma que “desde a mudança do Código Florestal há uma sinalização por parte do governo pró-desmatamento”. Quem desmata hoje tem certeza que o governo está ao seu lado. O alerta é forte, mostra resultados de cenários nos quais o cumprimento da meta de Paris recai sobre os demais setores da economia. Como ressalta o Valor Econômico, no pior cenário analisado a governança é fragilizada ao extremo, o desmatamento explode e os esforços dos setores não dão conta de manter o país nos trilhos.

Dado o baixo nível de investimento que a economia brasileira tem vivido, parece pouco provável que os demais setores consigam dar conta de suas metas e ainda compensar as emissões do desmatamento. Assim, talvez o trabalho ficasse ainda mais forte se mostrasse as alturas que serão alcançadas pelas emissões nacionais.

O alerta foi tema de uma matéria muito interessante do jornalista André Trigueiro no Jornal Nacional da TV Globo.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,desmatamento-em-alta-pode-minar-chance-de-o-brasil-cumprir-meta-contra-aquecimento-global,70002395699

https://www.valor.com.br/brasil/5646805/retrocesso-ambiental-pode-custar-us-5-trilhoes-ao-brasil-ate-2050

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/07/devido-ao-desmatamento-brasil-pode-nao-cumprir-meta-no-acordo-de-paris.html

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0213-y

 

OS JABUTIS QUE ANDAM SOLTOS PELO CONGRESSO

A SOS Mata Atlântica aponta jabutis enxertados em mais de vinte Medidas Provisórias em tramitação pelo congresso nacional que afetam diretamente a legislação ambiental. Um jabuti é uma emenda inserida em um projeto de lei ou em uma medida provisória que não tem nada a ver com o objeto da dita lei ou MP e serve para alterar uma outra lei existente. Uma matéria no Estadão dá três exemplos:

– A MP que mexe na regulação de parte do setor elétrico ganhou um jabuti que isenta empresas do setor do preenchimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR), ou seja, retira uma área importante da paisagem nacional das obrigações definidas pelo Código Florestal. Como se represas e linhas de transmissão não ocupassem o solo.

– A MP que mexe na política nacional de irrigação transforma todo projeto de irrigação em projeto de “utilidade pública”, o que simplifica o licenciamento e os livra de uma série de condicionantes ambientais. É claro que os lucros auferidos com a irrigação não pertencem ao público, mas isso é um mero detalhe de implementação.

– O novo marco regulatório do saneamento altera a função da ANA (Agência Nacional de Águas); ao invés de ser um órgão regulador, objetivo com o que foi criada, a ANA passa a ser responsável por serviços de saneamento.

https://cultura.estadao.com.br/blogs/direto-da-fonte/chuva-de-jabutis-invade-mps-e-pode-afetar-meio-ambiente/


TEMER TIRA QUASE R$ 1 BI DA INCLUSÃO DIGITAL PARA SUBSIDIAR O DIESEL DOS CAMINHONEIROS

Para cumprir o acordo feito com os caminhoneiros, Temer está torturando, espremendo e cortando o orçamento do próximo ano. Uma das vítimas foi o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, o FUST, que foi criado para dar acesso à internet a quase metade da população mais pobre. Isso inclui conectar escolas, postos de saúde e hospitais, assistência a deficientes e por aí vai. Temer tirou R$777 milhões deste fundo.

https://theintercept.com/2018/07/04/temer-diesel-internet-caminhoneiros/

 

PROF. PAULO SALDIVA FALA DOS AGROTÓXICOS E DAS SEQUELAS EM TRABALHADORES RURAIS

O professor Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, gravou uma mensagem denunciando a maluquice que é deixar a liberação de agrotóxicos nas mãos interessadas do Ministério da Agricultura, colocando a Vigilância Sanitária e o Meio Ambiente em segundo plano. Saldiva deixa claro que o país retrocede em mais uma área, e evidencia que a produção e exportação de grãos é mais importante do que a saúde da população ou o meio ambiente, que determinará o futuro do próprio agronegócio. Sobre a saúde, sua área, Saldiva explica que, além dos trabalhadores rurais, os agrotóxicos impactam área urbanas próximas a lavouras e cursos d’água que abastecem populações ainda mais distantes do local pulverizado.

https://www.dw.com/pt-br/as-sequelas-dos-agrot%C3%B3xicos-para-trabalhadores-rurais/a-44487180

https://www.youtube.com/watch?v=ybKNQSkm3S4

https://jornal.usp.br/atualidades/projeto-sobre-agrotoxico-em-tramitacao-no-senado-e-perigoso/

 

A FALA DO PAPA FRANCISCO NA CONFERÊNCIA COMEMORATIVA DA ENCÍCLICA “LAUDATO SÌ”

O Papa Francisco convidou gente de todo o mundo para uma Conferência Internacional comemorativa dos três anos da encíclica Nossa Casa Comum. Em seu pronunciamento, pediu aos países que cumpram com o prometido em Paris, dizendo que “reduzir gases de efeito estufa requer honestidade, coragem e responsabilidade, acima de tudo por parte dos países mais poderosos e que poluem mais… e não podemos perder tempo”. Francisco disse ainda que “o diálogo e o comprometimento à nossa casa comum precisa abrir um espaço especial a dois grupos que estão capitaneando os esforços para promover uma ecologia integral. Ambos estarão no centro dos próximos dois Sínodos da Igreja Católica: os jovens e os povos tradicionais, especialmente os que habitam a região Amazônica”.

http://w2.vatican.va/content/francesco/en/speeches/2018/july/documents/papa-francesco_20180706_terzoanniversario-laudatosi.html

https://www.politico.eu/pro/politico-pro-morning-energy-and-climate-presented-by-enel-vaticans-climactivism-brexit-crunchtime-lack-of-emissions-data/

 

LIÇÕES A SEREM APRENDIDAS NA CRISE DO FUNDO VERDE DO CLIMA

Como comentamos na semana passada, a última reunião do Fundo Verde do Clima terminou em crise. O site Climate Change News fez oito importantes observações sobre a história, dos quais é preciso tirar lições para o futuro do Fundo:

  1. Um dos copresidentes, o representante da Nicarágua, não apareceu e os demais membros dos países em desenvolvimento disseram que não tinham sido consultados adequadamente, iniciando uma demorada disputa procedural.
  2. Apesar de Trump ter saído do Acordo de Paris e dito que não mais contribuiria para o Fundo, os EUA mantiveram seu representante que atrapalhou o andamento das reuniões.
  3. As discussões sobre as contribuições devidas pelos países desenvolvidos tomaram 6 sessões, num total de 24 horas corridas, e não chegaram a lugar nenhum.
  4. Antes de colocarem mais dinheiro, os países desenvolvidos querem ver se o que já foi aplicado está dando resultado. O grupo era para já ter definido os procedimentos e as auditorias para avaliar o progresso das ações que captaram recursos do Fundo. Só que os países ainda não entraram em acordo sobre quem pode fazer as auditorias.
  5. O principal executivo do Fundo, Howard Bamsey, pediu demissão. Alegou razões pessoais, mas talvez o clima das reuniões não tenha ajudado muito.
  6. A última reunião deveria ter avaliado 11 projetos que pediam um total de US$ 1 bilhão. Estes projetos terão que esperar pelo menos mais 2 meses. Talvez mais.
  7. Será preciso acompanhar com cuidado os efeitos desta crise sobre a COP-24, no final do ano. Se o Fundo desmilinguir, o próprio Acordo de Paris ficará enfraquecido.
  8. Delegados e equipe que participam do Fundo continuam otimistas e acham que há tempo até a COP24 para colocar o Fundo novamente nos trilhos.

http://www.climatechangenews.com/2018/07/06/8-takeaways-green-climate-fund-meltdown

 

SWISS-RE NÃO QUER TÉRMICAS A CARVÃO E SEIS DOS MAIORES FUNDOS GLOBAIS DE INVESTIMENTO ENCORAJAM UMA ECONOMIA MAIS VERDE

Na semana passada, uma das maiores resseguradoras do mundo, a Swiss-Re, avisou o mercado que não mais oferta seguros e resseguros para negócios que dependam em mais de 30% de térmicas a carvão, como havia anunciado que faria no começo do ano.

Também na semana passada, seis dos maiores fundos de pensão do mundo fizeram um comunicado conjunto encorajando investidores a levarem em conta os riscos climáticos. Os fundos também se comprometeram a melhorar a transparência de suas estratégias na direção de um crescimento econômico de baixo carbono. As carteiras destes fundos – da Noruega, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Kuwait e Nova Zelândia – estão avaliadas em US$ 3 trilhões.

https://www.greentechmedia.com/articles/read/swiss-re-stops-insuring-businesses-with-30-percent-exposure-to-thermal-coal#gs.0rTEKCI

https://abcnews.go.com/Technology/wireStory/major-wealth-funds-agree-encourage-greener-economy-56398319

 

WASHINGTON POST TEVE QUE ATUALIZAR VÁRIAS VEZES INFORMAÇÃO SOBRE RECORDES DE CALOR NA SEMANA PASSADA

A onda de calor que atingiu o hemisfério norte foi forte o suficiente para que uma matéria do Washington Post tivesse que ser atualizada várias vezes durante a semana. O artigo saiu na 3a feira, reportando que uma onda de calor anormalmente forte estava passando pelo Canadá e pelos EUA. Na 4a feira, a temperatura bateu recordes no noroeste dos EUA e em Tbilisi, na Geórgia, quase do outro lado do mundo. Na 5a feira, a atualização trazia as mortes por calor no Canadá e um calor extraordinário na Sibéria. Na 6a feira, os recordes de temperatura foram atingidos no Sul da Califórnia e na África. O mapa apresentado na matéria mostra uma faixa vermelha escura ao longo de todo o hemisfério norte. A previsão diz que essa onda passa nos próximos dias, mas que outra, ainda mais forte deve chegar ainda nesta semana.

O WP diz que nenhum evento climático, isoladamente, pode ser atribuído ao aquecimento global. Mas, coletivamente, estas ondas de calor são consistentes com o tipo de extremos que esperamos ver aumentar em um mundo em aquecimento.

https://www.washingtonpost.com/news/capital-weather-gang/wp/2018/07/03/hot-planet-all-time-heat-records-have-been-set-all-over-the-world-in-last-week/?utm_term=.db6767e1aca6/

https://wxclimonews.com/2018/07/02/extreme-heat-event-in-northern-siberia-and-the-coastal-arctic-ocean-this-week

 

TEMPESTADE NO JAPÃO CAUSA MAIS DE CEM MORTES E 1,6 MILHÃO DE PESSOAS TEM QUE ABANDONAR SUAS CASAS

A tempestade que se abateu sobre o sul do Japão durou quatro dias, provocou mais de 100 mortes e ainda há quase 80 desaparecidos em deslizamentos e enchentes. Mais de 1,6 milhão de pessoas teve que deixar suas casas. Foi a chuva mais forte registrada e está ligada ao sistema do tufão Maria, que passou mais ao sul do arquipélago. A TV japonesa mostrou as habituais cenas de gente nos telhados de casas quase inteiramente submersas e equipes de resgate carregando principalmente pessoas idosas. O tufão categoria 5 deve estar passando ao norte das Filipinas e atingirá o território chinês na 4a feira.

Como usual, não dá para afirmar de cara que este evento climático extremo é consequência das mudanças climáticas, mas os cenários futuros projetados com base na ciência climática mostram aumento na frequência de eventos como este.

https://www.theguardian.com/world/2018/jul/09/japan-floods-death-toll-climbs-after-historic-rain-and-landslides

https://www.express.co.uk/news/weather/984899/typhoon-maria-2018-japan-Philippines-latest-map-track-path

http://www.businessinsider.com/japan-landslide-picture-scenes-deadly-rain-flood-2018-7

 

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