ClimaInfo , 11 de julho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

FLORESTAS TROPICAIS: O BEM, O MAL E A GUERRA COMERCIAL DE TRUMP

O cultivo da soja é um dos principais propulsores do desmatamento global, especialmente na América do Sul. E a pressão por maior produção de soja na região deve aumentar. Isto porque a China, maior compradora de soja do mundo, já cancelou vários carregamentos de grãos dos EUA em resposta às tarifas de aço e alumínio impostas por Trump. E é muito provável que os chineses se voltem à América do Sul buscando compensar a soja não importada dos EUA.

Neste contexto, alguns ativistas vêm o domínio do mercado internacional de soja por somente quatro grandes traders (Archer-Daniels-Midland, Bunge, Cargill e Dreyfus, as ABCDs que dominam 70% do comércio global de soja) como uma oportunidade. A lógica dos ativistas é clara: parece praticamente impossível convencer bilhões de consumidores a mudarem seus hábitos alimentares ou convencer milhões de agricultores a mudarem suas técnicas, mas talvez seja possível conseguir que estas quatro intermediárias exijam o fim do desmatamento. A Louis Dreyfus, por exemplo, anunciou recentemente planos para iniciar o policiamento de seus fornecedores de soja. É o mais recente de uma série de compromissos corporativos destinados a impedir o desmatamento.

No entanto, embora as ABCDs tenham se comprometido aqui e ali a impedir que suas cadeias de suprimento causem o desmatamento, as derrubadas e queimadas continuam a consumir as florestas tropicais. O problema, segundo Frances Seymour, do World Resources Institute, é que os compromissos corporativos são como uma “pena no freio”, enquanto a fome global por grãos e carne é como um “tijolo no acelerador”. Diante desse desafio, os ativistas pressionaram as empresas com mais afinco – esbanjando elogios a empresas como a Dreyfus, que assumem os compromissos mais fortes, enquanto atacam as que consideram retardatárias. Embora todas as ABCDs tenham se comprometido a impedir o desmatamento, algumas vão além de outras. A Cargill, por exemplo, pretendia inicialmente eliminar o desmatamento de sua cadeia de fornecimento até 2020, mas empurrou esta meta para 2030.

Em tempo: a soja está se expandindo no Cerrado, bioma não coberto pela Moratória da Soja e no qual a taxa de desmatamento é maior do que a da Amazônia.

https://grist.org/article/rainforests-the-good-the-bad-and-the-trump-trade-war

https://news.mongabay.com/2018/06/us-china-trade-war-could-boost-brazil-soy-export-amazon-deforestation

https://www.afp.com/pt/noticia/25/plantacoes-de-soja-prosperam-no-cerrado-brasileiro-doc-1793×52

 

USINEIROS QUEREM RELAXAR RESTRIÇÕES AO DESMATAMENTO DO RENOVABIO

A Unica, União da Indústria da Cana-de-Açúcar, está pedindo que sejam relaxadas duas condicionantes ambientais do Renovabio, um programa do governo que quer estimular a venda de biocombustíveis para reduzir as emissões do setor de transporte. O programa não permite cana-de-açúcar plantada em áreas desmatadas após 26 de dezembro de 2017, data da promulgação da lei que o criou. A Única entende que não há base legal para vincular a exclusão a essa data. A Unica quer ainda a retirada da exigência do cumprimento pelos produtores do Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar e do Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma-de-Óleo, dizendo que a cana-de-açúcar e a palma estariam sofrendo restrições que não se aplicam a outras matérias-primas.

Estranhamente, a Unica mudou de opinião quanto ao zoneamento da cana-de-açúcar e passou a apoiar quem desmata, contrariando frontalmente seu marketing internacional que há anos busca comprovar que o biocombustível brasileiro não desmata.

https://www.novacana.com/n/cana/meio-ambiente/unica-afrouxamento-regras-ambientais-renovabio-100718/

 

JUSTIÇA DE RONDÔNIA ANULA ATO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA QUE HAVIA ANULADO CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

O Governo de Rondônia baixou um decreto criando 9 unidades de conservação e regulamentou outras duas. A Assembleia, povoada de ruralistas, baixou uma lei impedindo o executivo de criar UCs. Nesta semana, o Pleno do Tribunal de Justiça de Rondônia concedeu medida cautelar favorável ao Governo do Estado que impetrou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a lei aprovada na Assembleia. Agora, fica tudo suspenso até o julgamento final da ADI.

https://www.rondoniagora.com/geral/tribunal-de-justica-suspende-decretos-da-assembleia-que-impediam-governo-de-criar-unidades-de-conservacao

 

EÓLICA DE 595 MW NO PIAUÍ SERÁ A MAIOR DA AMÉRICA LATINA E PETROBRAS COMEÇA A FALAR DE RENOVÁVEIS

A italiana Enel assinou o contrato de compra e instalação de um parque eólico de 595 MW, o maior da América Latina. Também é o maior contrato de fornecimento da fabricante de eólicas Nordex. O parque terá 191 turbinas, cada uma com capacidade entre 3 e 3,15 MW. As torres terão 120 metros de altura. O parque Lagoa dos Ventos fica no Piauí e deve começar a operar em 2020.

Talvez pensando num futuro sustentável, vai saber, a Petrobras assinou um memorando de entendimento com o braço renovável da petroleira francesa Total. A parceria pretende desenvolver negócios nas áreas de energia solar e eólica no país. Segundo Nelson Silva, Diretor de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão da Petrobras, a empresa passou os últimos dois anos focada em sua reestruturação, mas a partir de agora colocará as renováveis nos planos de investimentos.
http://www.rechargenews.com/wind/1530582/nordex-wins-largest-ever-wind-contract-with-595mw-in-brazil

https://www.valor.com.br/empresas/5648493/petrobras-assina-acordo-com-francesas-em-energia-solar-e-eolica

https://amp.valor.com.br/empresas/5649461/petrobras-quer-dedicar-mais-atencao-energias-renovaveis

 

COMO ANDA O MEIO AMBIENTE NAS CAMPANHAS ELEITORAIS?

O meio ambiente deveria ser um dos temas centrais das campanhas eleitorais, mas Marcia Hirota e Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica, chamam a atenção para sua quase total ausência nas discussões. Em um artigo publicado no Valor, eles dizem que “é do Congresso que parte a maior ameaça ao meio ambiente, com projetos de lei que desmontam a legislação ambiental” e, portanto, é preciso muito cuidado ao elegermos deputados estaduais, federais e senadores. Hirota e Mantovani oferecem “como contribuição às candidatas e aos candidatos aos executivo e legislativo nas eleições de 2018 uma série de propostas com foco no desmatamento ilegal zero, restauração florestal, valorização dos parques e reservas, água limpa e proteção do mar.”

https://www.valor.com.br/opiniao/5647745/ambiente-deve-ser-agenda-central-no-debate-eleitoral#

 

DIÁLOGO TALANOA DO CLIMA NO RIO

A rodada de discussões lançada na COP no ano passado, o Diálogo Talanoa, desembarca no Rio de Janeiro no dia 2 de agosto. “Talanoa é uma palavra tradicional em Fiji e no Pacífico que reflete um processo de diálogo inclusivo, participativo e transparente. O propósito do Talanoa é compartilhar histórias, construir empatia e tomar decisões sábias para o bem coletivo. O processo Talanoa envolve compartilhar ideias, habilidades e experiências através de narrativas”.

No Rio, as discussões serão sobre como conter a mudança do clima e como estar preparado para suas consequências, como secas e enchentes, e contarão com a participação do governo, da sociedade civil, da iniciativa privada e de pesquisadores. “É um diálogo para a construção de consensos, sobre o que cada setor tem para contribuir positivamente”, explica o secretário de Mudança do Clima e Florestas do MMA, Thiago Mendes. Os resultados do debate servirão para embasar a atuação brasileira na 24ª Conferência das Partes (COP 24) sobre mudança do clima, que ocorrerá em dezembro, na Polônia.
http://www.mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=3091

 

NOVAS FRENTES ESTRATÉGICAS: MOBILIDADE, AGRICULTURA E ENERGIA

Em entrevista ao Valor Econômico, Erik Solheim, diretor da ONU Meio Ambiente (ex-PNUMA), falou das frentes globais de mudança.

Mobilidade: a mudança vem ocorrendo com mais veículos elétricos, mais sistemas de transporte, com o desenho de cidades mais amigáveis ao transporte ativo a pé e de bicicleta. Solheim cita como exemplos os metrôs de várias cidades da China e da Índia, e a revolução do compartilhamento de bicicletas na China e em Paris.

Energia: “pela primeira vez na história, no ano passado, a energia solar gerou mais energia ao mundo do que o carvão… A China lidera a transição, seguida pela Índia, mas  [a transição] acontece em muitas partes do mundo. Nos EUA há mais empregos na indústria solar do que no carvão”.

Agricultura: “a agricultura é um setor-chave da mudança do clima. Em muitas partes começamos a ver agricultura verde, o que não significa voltar ao passado, mas produzir melhor, com melhores produtos, de forma mais econômica para o fazendeiro e ao mesmo tempo, baseando-se em princípios ecológicos. Reduzindo fertilizantes e evitando pesticidas, porque usam plantas que são repelentes naturais de insetos como parte do mix. Plantam de maneira científica de modo a conseguir mais eficiência do que na agricultura tradicional… Aqui também há uma revolução chegando”.

Produção e consumo: este será o tema da próxima Assembleia Ambiental da ONU, a Unea: “temos que priorizar temas próximos às pessoas. Falhamos como ambientalistas quando levantamos tópicos teóricos que parecem sair do espaço sideral. Precisamos fazer a conexão entre a vida privada e o quadro maior. Quando faz sentido para as pessoas, inicia-se um movimento de pressão a líderes políticos e de negócios. É nessa combinação poderosa que se dão as grandes mudanças”.

GEF (Fundo Mundial para o Meio Ambiente): Solheim quer ver o GEF desenvolvendo programas capazes de promover transformações relevantes como a que vê acontecendo com os plásticos: “Há um ano poucos falavam do problema e agora temos um movimento global” que levou o primeiro-ministro Modi, da Índia, a propor o banimento do uso dos plásticos descartáveis até 2022, e levou a União Europeia a desenvolver uma estratégia para banir vários itens plásticos, a qual conta com imenso apoio popular.

https://www.valor.com.br/internacional/5647907/setor-financeiro-mundial-e-critico-para-transformacao-da-economia

 

SETOR FINANCEIRO É CRÍTICO PARA A TRANSFORMAÇÃO DA ECONOMIA

Achim Steiner, diretor do PNUD, ao Valor Econômico, criticou o setor privado e os investidores que não estão fazendo o tipo de investimento na escala necessária, nem perto disso, para que o mundo atinja os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: “Investem US$ 20 bilhões, desde 2010, em gerenciamento sustentável de florestas, mas investem US$ 777 bilhões no rumo contrário, em mudança do uso da terra, no desmatamento. A economia está inundada por múltiplos atores que estão fazendo a coisa errada, pelo menos em sustentabilidade, a longo prazo.

Embora muito do que vimos emergir em termos ambientais nos últimos dez anos esteja se concretizando, como o Acordo de Paris, o surgimento dos ‘green bonds’, a expansão massiva das energias renováveis, o problema do plástico na economia e no ambiente chegando às manchetes, o mundo segue com graves problemas: as emissões não estão baixando o suficiente, os níveis globais de produção e consumo são insustentáveis, assim como a poluição atmosférica.

Para Steiner, “engajar o setor financeiro é prioridade porque é onde a energia da nossa economia está canalizada… Temos enorme necessidade de transformação e mudança”.

https://www.valor.com.br/internacional/5647907/setor-financeiro-mundial-e-critico-para-transformacao-da-economia

 

ÍNDIA: CRESCIMENTO DAS RENOVÁVEIS ULTRAPASSA CHINA

Os investimentos em energia renovável estão crescendo mais rapidamente na Índia do que na China. Uma nova análise da Bloomberg New Energy Finance concluiu que os investimentos em energia renovável na Índia aumentaram 22% no primeiro semestre de 2018, em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto os investimentos da China caíram 15% no período. Se a tendência continuar, a Índia pode superar a China e se tornar o maior mercado de energia renovável em crescimento até o final da próxima década.

https://qz.com/1323902/indias-investments-in-renewable-energy-are-growing-faster-than-even-chinas

 

A NISSAN SEGUE O EXEMPLO DA VW, FALSIFICA TESTES DE EMISSÃO E PERDE VALOR DE MERCADO

A japonesa Nissan admitiu ter falsificado dados de emissões e de consumo de combustíveis e que os relatórios das inspeções foram elaborados alterando valores de medições reais. O valor das ações da empresa na Bolsa de Tóquio caiu 5%. No final do ano passado, todas as seis plantas da montadora no Japão perderam uma certificação internacional de qualidade por terem alterado resultados colhidos nas inspeções de qualidade. Esta nova revelação mostra que a empresa ainda não aprendeu bem a lição. É como se a ficha do ‘dieselgate’ da Volks demorasse muito para cair no outro lado do mundo.

https://www.telegraph.co.uk/business/2018/07/09/nissan-admits-falsifying-emissions-data-cars-made-japan

https://www.japantimes.co.jp/news/2017/11/15/business/corporate-business/scandal-hit-nissan-loses-quality-certification-domestic-plants

 

O ÔNUS DE PRESERVAR FLORESTAS RECAI SOBRE OS MAIS POBRES

Uma pesquisa mostrou que políticas de conservação de florestas aplicadas em Madagascar trouxeram impactos negativos para exatamente a população que vive delas, sugerindo a pergunta de quem arca com o custo da conservação florestal. Os pesquisadores estimam que para cerca de 27 mil pessoas, para as quais a floresta representa até 85% de sua renda anual, os projetos de conservação acabaram reduzindo estas rendas.

A preocupação vale aqui também. Existem muitos milhares de pessoas que vivem no entorno das estradas que cortam a Amazônia. Muito do desmatamento e dos conflitos na região mostram a ausência de políticas públicas sérias que, ao proteger a floresta, encontrem meios e oportunidades para que essas pessoas tenham vidas e futuros dignos.

https://peerj.com/articles/5106/

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/07/180705084222.htm

 

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