ClimaInfo, 7 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

SETORES DO AGRONEGÓCIO E AMBIENTALISTAS, JUNTOS, PROPÕEM PAUTA SUSTENTÁVEL A PRESIDENCIÁVEIS

O Estadão teve acesso a um documento da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com 28 propostas a serem apresentadas aos candidatos à presidência para a construção de um agronegócio sustentável, que responda à crescente demanda mundial por alimentos ao mesmo tempo em que contribua para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. A Coalizão entende, corretamente, que o agronegócio, mais do que qualquer outro setor econômico, depende da estabilidade do clima e da disponibilidade de água. Por isso, a Coalizão quer priorizar a recuperação da cobertura florestal em áreas de recarga dos aquíferos das bacias hidrográficas consideradas estratégicas, assim como em terras de baixa aptidão para a agricultura. O documento exemplifica com o sucesso de iniciativas como a integração lavoura-pecuária-floresta, que concilia a produção de grãos, carne e madeira em uma mesma área. Segundo o documento, há hoje quase 14 milhões de hectares nos quais esta prática é adotada, o que ultrapassa em muito o compromisso feito junto ao Acordo de Paris, que tem como meta adicionar 5 milhões de hectares desta tecnologia até 2030. O documento também aborda a exploração ilegal de madeira. A Coalizão sugere que o governo tome a frente e barre a compra de madeira ilegal em suas licitações. A Coalizão destaca especialmente a regularização fundiária, principalmente na Amazônia, onde a zona cinzenta fundiária está por trás de muito do desmatamento e da exploração ilegal de madeira. A Coalizão também propõe estender o monitoramento hoje feito na Amazônia e na Mata Atlântica para o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal e os Pampas, de modo a informar planos para preservação da biodiversidade em todo o território nacional.

A Coalizão Brasil é formada por mais de 170 associações empresariais, empresas, organizações da sociedade civil e membros da academia. O documento pode ser acessado no segundo link desta nota.

https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,alianca-entre-produtores-e-ambientalistas-propoe-pauta-sustentavel-a-presidenciaveis,70002427349

http://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/biblioteca/Propostas-da-Coalizao-Brasil-aos-candidatos-as-eleicoes-2018.pdf

 

CLIMA E ELEIÇÕES, NA VISÃO DE UM PESQUISADOR DA USP

Para Marco Tsuyama, do IEE-USP, no período que vai de 2000 a 2005, o Brasil figurava entre os líderes do movimento internacional pela mitigação da “crise climática que entrara definitivamente na agenda mundial com o Protocolo de Kyoto”. Como lembra Tsuyama, à época o país crescia a taxas quase inéditas e programas como o Bolsa Família começavam a redistribuir um pouco da riqueza. Dez anos depois, a reversão das políticas sociais e a crise econômica se avolumam e o país patina nas questões climáticas. Para marcar esta transformação, Tsuyama usa a descoberta do pré-sal. Para ele, é como se a perspectiva da riqueza do petróleo tivesse ocupado os corações e as mentes dos governos, sem que estes se dessem conta conta da armadilha em que caíram tantos países e, principalmente, sem se darem conta do custo para a humanidade da queima de todo aquele petróleo. Mais de uma década depois, frente ao atual processo eleitoral, Tsuyama acredita que temos a oportunidade de mudar de postura em relação aos recursos naturais, “deixando de lado os sonhos megalômanos e as rinhas irresponsáveis”. Tsuyama propõe uma discussão racional sobre os recursos naturais em nome da mitigação da crise climática “que não interessa a ninguém”.

https://www.valor.com.br/opiniao/5713357/clima-e-eleicao

 

AUMENTA A PRODUÇÃO DE ETANOL NO NORDESTE

Neste ano, o preço do açúcar no mercado internacional está baixo e o preço da gasolina da Petrobrás continua subindo quase que a cada dia, o que leva as usinas do Nordeste e as 4 na região Norte a produzirem mais de 1 bilhão de litros de etanol hidratado, bem mais do que no ano passado. O Norte-Nordeste responde por cerca de 10% da cana processada no país. Camila Souza Ramos, do Valor, mostra a variação de preços (em relação ao ano passado) da gasolina (+26%), do etanol hidratado (+16%) e do açúcar no mercado internacional (-11%).

Um dos maiores desafios do programa Renovabio é manter o preço do etanol hidratado em um ponto que leve o consumidor a não colocar gasolina no tanque e que seja mais rentável para o usineiro do que produzir açúcar. O desafio é enorme, já que o preço do açúcar depende dos humores da bolsa de commodities e, o da gasolina, dos humores dos países produtores de petróleo.

https://www.valor.com.br/agro/5713369/norte-e-nordeste-elevam-aposta-no-etanol

 

ALCKMIN DECLARA APOIO À LEI DO VENENO

O candidato Alckmin disse ontem que apoia o projeto de lei dos agrotóxicos, dizendo que o agricultor precisa de moléculas modernas e que a burocracia demora demais para liberá-las. Alkmin comparou os agrotóxicos com os remédios, mostrando que, apesar de formado em medicina, tem um profundo desconhecimento do processo de registro de um remédio no qual, mesmo um genérico, molécula mais do que conhecida cientificamente, leva até cinco anos para poder ser vendida. Uma molécula nova, leva mais. E leva esse tempo, não por burocracia, mas para garantir que cada molécula não cause danos à população e aos consumidores nas condições brasileiras. O candidato Alckmin não mencionou a imperiosa necessidade ruralista de chamar agrotóxico de meu louro. Também não explicou porque o Ibama e a Anvisa devem ser apenas acessórios no processo de liberação das moléculas.

https://oglobo.globo.com/brasil/alckmin-elogia-projeto-que-flexibiliza-uso-de-agrotoxicos-lei-do-remedio-22953622

https://www.interfarma.org.br/noticias/1510

 

CANUDOS DE PLÁSTICO SÃO UM PROBLEMA, MAS LONGE DE SER O PIOR

Diante da viralização das campanhas contra os canudos de plástico, Marcelo Leite pega sua irônica caneta para contar o real tamanho do problema por eles criados. Leite mostra que cerca de 320 milhões de toneladas de plástico são produzidas e descartadas no ambiente anualmente. Desse total, 8 milhões vão para o mar e 32 milhões ficam nas praias e mangues. Da parte que vai para o mar, 40% afunda e vai poluir o fundo do oceano e não as narinas de tartarugas. Os canudos representam menos de 0,03% do plástico que fica boiando no mar. Uma pesquisa publicada na Nature acrescenta que quase metade da poluição por plásticos no mar vem das redes e de outros resíduos da indústria da pesca. Leite pede para que levemos isto em conta quando comprarmos a próxima lata de atum. Ele ainda lembra a importância das emissões da pecuária e que os chineses estão comendo cada vez mais carne de boi para terminar dizendo que “nem mesmo se você virar vegano vai fazer diferença para salvar o mundo. Precisaria, antes, combinar com 1,4 bilhão de chineses que, enfim, vão poder comer mais carne.”

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/08/banir-canudinhos-alivia-consciencia-sem-resolver-poluicao-dos-oceanos.shtml

https://www.nature.com/articles/s41598-018-22939-w

 

O MUNDO JÁ TEM MAIS DE 1 TW EM USINAS SOLARES E EÓLICAS

A Bloomberg New Energy Finance (BNEF) divulgou, na 6a feira passada, dados mostrando que o mundo atingiu mais de 1 TW (terawatt ou trilhão de Watt) de capacidade instalada para a geração elétrica via sol e vento, o equivalente a mais de 71 usinas como a de Itaipu. Em 30 de junho, a capacidade global de geração renovável atingiu 1.013 GW, 54% dos quais eólicos e outros 46% solares. O crescimento das fontes renováveis tem sido assombroso. Em 2007, havia somente 8 GW solares e 89 GW eólicos instalados. Entre 2007 e junho de 2018, a capacidade eólica cresceu 6 vezes e a solar 57 vezes. O pessoal da BNEF prevê que, em breve, a energia solar superará a eólica como fonte renovável dominante. Prevê, também, que em cinco anos a capacidade renovável dobrará. Talvez a melhor notícia presente no anúncio da BNEF seja a queda prevista nos custos de investimento: o primeiro 1 TW solar e eólico teve um custo de capital da ordem de US$ 2,3 trilhões, mas o segundo deve custar significativamente menos, da ordem de US$ 1,23 trilhão a serem empregados entre 2018 e 2022.

https://www.businessgreen.com/bg/news/3037104/the-world-now-has-more-than-one-terawatt-of-wind-and-solar

https://cleantechnica.com/2018/08/03/bnef-heralds-1-terawatt-of-wind-solar-generation-capacity-worldwide/

https://about.bnef.com/blog/world-reaches-1000gw-wind-solar-keeps-going/

 

NÃO FOI A NATUREZA HUMANA QUE NOS LEVOU A PERDER A LUTA CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL, O CAPITALISMO É QUE A GANHOU

Continua repercutindo a longa matéria do New York Times que fala da oportunidade perdida na luta contra o aquecimento global. Desta vez é Naomi Klein quem diz que o autor contou uma história completamente fora do contexto político e econômico mundial. O autor diz que, no final dos anos 80, já havia o conhecimento científico sobre o aquecimento global, e a indústria fóssil ainda não tinha começado a bloquear as ações. Só que nada aconteceu, o que nos fez chegarmos onde estamos. O autor meio que coloca a culpa em todos que nada fizeram. Klein faz uma crítica feroz a esta narrativa. Ela lembra que aqueles anos foram o auge da globalização, foi quando o Muro de Berlin caiu e profetas norte-americanos diziam que a história tinha terminado com a vitória do capitalismo. Na atmosfera laissez-faire galopante, não havia como o mundo parar e pensar que estava fecundando mais um ovo de serpente. Os avisos na época foram até contundentes, mas não reverberaram nos ouvidos dos que estavam acelerando cada vez mais o motor do capitalismo. Em contraposição ao título da matéria do NYT,  Perdendo a Terra, Klein diz que “não estamos perdendo a Terra – mas a Terra está esquentando tão rapidamente que ela está no rumo de perder muitos de nós”. Num recado que cabe bem aqui no Brasil, Klein diz que devemos escolher candidatos que rejeitem o centrismo neoliberal, assim como devemos rejeitar os candidatos da direita em guerra contra a natureza e, também, os socialistas extrativistas não-democratas.

https://theintercept.com/2018/08/03/climate-change-new-york-times-magazine/

 

A LUTA DA ÍNDIA PARA SE DESINTOXICAR DO CARVÃO

Hoje, o carvão é responsável por ⅔ da eletricidade consumida na Índia e, embora as renováveis estejam crescendo rapidamente, o carvão continuará sendo vital por lá durante um bom tempo. Mesmo com bancos e seguradoras prometendo desinvestir em térmicas a carvão, seu preço dobrou nos últimos dois anos pelo aumento da demanda. Na conferência que levou ao Acordo de Paris em 2015, a Índia disse que sua demanda elétrica triplicaria até 2030, que o carvão deveria continuar sendo a principal fonte, mesmo que a capacidade instalada das renováveis crescesse e também triplicasse até lá. A Índia também lembrou da importância dos empregos dos carvoeiros. Estima-se que cerca de meio milhão de pessoas trabalhem por lá diretamente com carvão, 370 mil empregos só na estatal Coal India. A Coal India extraiu mais de meio bilhão de toneladas no ano passado, deve chegar a um bilhão em 2020 e a quase 2 bilhões em 2030. Os obstáculos para reduzir a dependência do carvão estão na política, na economia e na expansão da geração. Mexer com o carvão bate de frente com inúmeros interesses, nem sempre legítimos. Estima-se que, no estado de maior produção, Jharkhand, um terço do carvão é extraído e comercializado ilegalmente, alimentando máquinas políticas corruptas que mantêm o status-quo. Na economia, a expansão da geração a carvão na primeira década deste século deixou o setor pesadamente endividado e, com o crescimento das renováveis, ainda mais vulnerável. O setor é considerado grande demais para falir e vive pedindo que o governo cubra seus buracos. Por fim, se o preço das renováveis continuar caindo, existe toda uma mudança no modo de operar o sistema, que nem começou a ser planejada, para dar conta das intermitências e da penetração da geração distribuída. A solução apresentada até o momento é mais carvão.

https://www.economist.com/briefing/2018/08/02/india-shows-how-hard-it-is-to-move-beyond-fossil-fuels

 

SEGURADORAS E BANCOS CONTINUAM A REMOVER O CARVÃO DE SUAS CARTEIRAS

Cada vez mais as carteiras de grandes investidores vão abandonando o carvão. Na semana passada, a mega seguradora e resseguradora Munich Re anunciou que parará de investir em ações de empresas que tenham mais de 30% de suas vendas vindas do mundo do carvão. Joachim Wenning, CEO da empresa, disse que “no futuro nós não iremos mais assegurar minas e térmicas a carvão em países industrializados”. Em julho, outra gigante do ramo, a Swiss Re, fez um anúncio semelhante. Ainda na semana passada, o Lloyds Banking Group, o segundo maior banco do Reino Unido (atrás apenas do HSBC), disse que não financiará novas térmicas a carvão nem novas minas de carvão. Com os clientes tradicionais no ramo carvoeiro, o Lloyds prometeu ajudá-los a fazer a transição para oportunidades de baixa emissão.
https://www.reuters.com/article/us-munich-re-group-coal/munich-re-to-back-away-from-coal-related-business-ceo-idUSKBN1KQ0NE

https://www.energylivenews.com/2018/08/02/lloyds-banking-group-to-stop-financing-new-coal-plants/

 

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