ClimaInfo, 17 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

CIENTISTAS DESVENDAM MAIS UM ESQUEMA DE FRAUDE DA EXTRAÇÃO DE MADEIRA DA AMAZÔNIA

Um time de pesquisadores paulistas e norte-americanos descobriu mais uma rota ilegal de extração de madeira da Amazônia. Eles pegaram mais de 400 DOFs (Documento de Origem Florestal), as licenças de extração, para comparar com dados de inventários florestais. Primeiro, as áreas foram identificadas nas fotos Radam do século passado para estimar quanto se poderia retirar dentro dos limites legais. Eles se concentraram no estado do Pará e em 11 espécies que aparecem com mais frequência tanto nos DOFs quanto nas fotos. Eles observaram grandes diferenças nos ipês: a densidade de árvores que constam nas licenças chegavam a ser dez vezes maiores do que a existente nas fotos. Foram feitas viagens a locais selecionados para validar as diferenças encontradas. A conclusão da pesquisa é a de que os madeireiros estão usando as DOFs para “esquentar” a madeira extraída de outros lugares proibidos, como APPs (áreas de preservação permanente), reservas indígenas e unidades de conservação. Os pesquisadores apontam que esta fraude poderia ser reduzida com simples informatização da emissão das DOFs junto com uma padronização do cadastro das permissões.

http://advances.sciencemag.org/content/4/8/eaat1192

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,fraude-em-licenciamento-esquenta-ipe-ilegal-na-amazonia-alerta-estudo,70002453552

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/08/extracao-de-madeira-valiosa-na-amazonia-tem-indicios-de-fraude.shtml

 

FLORESTAS MOBILIZAM MAIS OS QUE SE PREOCUPAM COM O CLIMA

Como melhor chegar às pessoas que se preocupam com o aquecimento global? Foi isso que uma pesquisa realizada em junho com cerca de 1.500 pessoas no Brasil, na Indonésia e nos EUA buscou responder. A pesquisa testou várias mensagens para avaliar quais seriam as melhores para serem usadas em campanhas para combater o aquecimento global. Foram oferecidas como alternativas a proteção de florestas, investimentos em energia limpa, leis que restringem as emissões, mudança no estilo de vida, taxação dos emissores e até adoção de alimentação vegetariana. Ganhou “proteger e expandir as florestas”, preferida por 66% dos entrevistados, e metade deles acham que não só é viável como traria um grande impacto. A pesquisa também constatou que apenas cerca de ⅓ dos norte-americanos prestam atenção nas mudanças climáticas, enquanto que no Brasil, essa fração passa de 50%. Cerca de 84% dos brasileiros afirmaram que se preocupam pessoalmente com a mudança do clima. A matéria do Blog do Mundo traz mais resultados interessantes da pesquisa.

https://www.omundoquequeremos.com.br/blog-do-mundo-que-queremos/as-pessoas-querem-as-florestas-como-solu%C3%A7%C3%A3o-natural-para-o-clima

 

QUANTOS EMPREGOS R$ 14 BILHÕES PODEM GERAR VIA SOLAR?

O comentário que fizemos ontem sobre a defesa da conclusão de Angra 3 feita pelo novo diretor da Aneel, provocou espanto no jornalista Matthew Shirts: “14 bilhões em solar com baterias gerariam um monte de empregos e de energia!” E Matthew perguntou: “alguém já fez a conta?”

Pois bem, fomos atrás, não encontramos a conta já pronta, mas topamos com um estudo do professor José Goldemberg compilando dados sobre o número de empregos gerados por unidade de energia em diferentes fontes. Grosso modo, dá pra dizer que a energia nuclear gera da ordem de uma centena de postos de trabalho por terawatt-hora gerado, enquanto a solar gera bem mais de 5 mil empregos para a mesma quantidade de energia. Aproximadamente 50 vezes mais empregos são gerados na energia solar que na nuclear, para uma mesma quantidade de energia. Dá para imaginar a injeção de ânimo na economia do combalido estado do Rio de Janeiro se os R$ 14 bilhões que se estima serem necessários para a conclusão de Angra 3 fossem investidos em instalações solares em conjunto com um programa de treinamento para projeto, instalação e manutenção dos equipamentos.

http://www.plux.co.uk/nuclear-jobs-compared-with-renewables

 

A CRISE HÍDRICA EM SÃO PAULO CONTINUA A SE AGRAVAR

No final de julho, o Sistema Cantareira estava com menos de 40% de capacidade, menos do que no mesmo período em 2013 – ano que antecedeu a crise hídrica e continua a chover pouco sobre os sistemas que abastecem a região metropolitana. Samuel Barreto, da TNC, faz uma comparação mais detalhada da situação atual com a de 2014-15. De um lado, o governo realizou obras que ligaram outras bacias aos sistemas existentes, reduzindo os riscos. Mas, de outro, as bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), a do Médio Tietê, a do Mogi-Guaçu e a do Paraíba do Sul encontram-se em situação mais preocupante do que a na região metropolitana. Barreto faz questão de apontar que mais de um terço da água é perdida antes de chegar aos consumidores.

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-riscos-de-um-novo-desabastecimento-hidrico,70002451625

 

SERIA BOM O GOVERNO INCENTIVAR MAIS A FOTOVOLTAICA

O pessoal da Absolar, Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, entregou um programa ao ministro Moreira Franco para incentivar a fonte. O programa abarca quatro eixos: aprimorar a regulação, ampliar o uso da solar no setor público, e aqui incluir a fotovoltaica em programas como o  Minha Casa, Minha Vida, a desoneração de PIS e Cofins para o setor e ampliar as linhas de crédito para financiar instalações residenciais e comerciais. Rodrigo Sauaia, disse que “apesar dos avanços, o Brasil ainda está muito atrasado na implantação da energia solar fotovoltaica.” Ele cita uma pesquisa feita indicando que 89% da população brasileira quer energia renovável em sua casa. Hoje, essa participação está na casa de 0,04% do total das unidades consumidoras.

http://epbr.com.br/absolar-quer-energia-fotovoltaica-em-predios-publicos-e-casas-populares-associacao-levou-programa-nacional-ao-mme-entenda

 

ENERGIA DAS RENOVÁVEIS PODE SAIR QUASE DE GRAÇA ATÉ 2030 – NA EUROPA

Analistas do banco de investimento suíço, UBS, observaram que as plantas eólicas e fotovoltaicas estão ficando cada vez maiores, o que acelera a tendência de queda nos preços dessas fontes. Some-se isto à popularidade crescente entre os consumidores e produz-se o aumento de escala da indústria, o que deve empurrar os preços ainda mais para baixo. O resultado, segundo os analistas, é que até 2030, a energia gerada sairá praticamente de graça.

https://www.ft.com/content/4079d82a-9e1f-11e8-b196-da9d6c239ca8

https://thenextweb.com/insider/2018/08/14/analyst-renewable-will-be-effectively-free-by-2030

 

REDUÇÃO DE SUBSÍDIOS NA CHINA LEVA INDÚSTRIA RENOVÁVEL A BUSCAR FATIA AINDA MAIOR DO MERCADO INTERNACIONAL

O 13o Plano Quinquenal do governo chinês previa a implantação de 105 GW fotovoltaicos adicionais até 2020. Já em abril de 2018, 140 GW haviam sido instalados. Um pouco por excesso de capacidade, um tanto por entender que a indústria renovável aplicou de maneira pouco eficiente os recursos do 12o Plano Quinquenal entre 2011 e 2015, o governo chinês decidiu limitar a velocidade com que a indústria das renováveis vinha crescendo no país, reduzindo e até eliminando os subsídios a fabricantes de painéis fotovoltaicos e de equipamentos eólicos. Isto fez o mercado nacional retrair e os analistas já preveem uma redução de mais de 40% na nova capacidade instalada neste ano.

Uma das saídas da indústria é o mercado externo. Com Trump aumentando as taxas de importação, os chineses estão usando seus esquemas de financiamento, principalmente os atrelados à Iniciativa Belt and Road, para espalhar eólicas e plantas fotovoltaicas em países parceiros.

Infelizmente a Belt and Road tem sido usada pelos chineses, também, para “empurrar” térmicas a carvão junto com contratos de compra de carvão chinês.

http://news.trust.org/item/20180816085317-v6dor

https://www.chinadialogue.net/article/show/single/en/10775-China-s-solar-industry-is-at-a-crossroads

http://www.climatechangenews.com/2018/08/15/china-solar-industry-struggles-sudden-subsidy-cuts/

 

O CAPITALISMO PODE REVERTER A MUDANÇA CLIMÁTICA, MAS SÓ SE CORRER RISCOS

Um interessante artigo do editor de economia do The Guardian argumenta que o capitalismo ocidental, focado em maximizar lucros no curto prazo, não conseguirá conter o aquecimento global. E sugere que, talvez, o modelo chinês funcione melhor. Diz ao final que “vencer a corrida contra o tempo requer liderança política. Significa reconhecer que o modelo chinês de um capitalismo dirigido e direcionado pode ser mais apropriado do que o modelo anglo-saxão. É preciso um aumento massivo de investimentos em tecnologias limpas porque os US$ 300 bilhões gastos globalmente com a descarbonização no ano passado mal chegam a se equiparar com as perdas causadas pelos eventos climáticos só nos EUA… E implementar uma taxa de carbono global alta o suficiente para que os combustíveis fósseis permaneçam enterrados.”

https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/aug/16/capitalism-climate-change-risks-profits-china

 

O IMPACTO ECONÔMICO DO ENCALHE DOS ATIVOS FÓSSEIS

Com os preços das renováveis ainda com bastante margem para cair, e com novas tecnologias mais eficientes, o tempo dos fósseis talvez acabe sendo mais breve do que o esperado. Pelo menos esta é a conclusão de um trabalho que acaba de ser publicado na Nature. Pesquisadores usaram um novo modelo macroeconômico onde, usando dados históricos de difusão de tecnologias, simularam a penetração de fontes limpas de energia e de tecnologias eficientes que reduzem a demanda global de energia. Os resultados mostraram que a fotovoltaica substitui a geração a carvão e a gás natural, e a eletricidade substitui todos os combustíveis fósseis no transporte, bem antes de 2050. O modelo mostra que, muito antes disso, os países da OPEP serão forçados a baixar o preço do petróleo, tirando a competitividade dos fósseis do Canadá, da Rússia e dos EUA. O resultado é que, até 2035, os prejuízos causados pela desvalorização dos ativos fósseis pode chegar a US$ 4 trilhões. Países que hoje são grandes importadores de fósseis, como a China e os europeus, serão os maiores beneficiados por uma energia mais barata. Perdem o Canadá, a Rússia e os grandes produtores de petróleo e carvão. Os EUA estariam numa situação de equilíbrio, se não fosse pela perda representada pelos ativos encalhados de seus fósseis. Interessante que o trabalho sugere que “a economia e as mudanças tecnológicas – e não as políticas – serão os principais motores da transição energética”. Ou seja, tudo isso pode acontecer independentemente das políticas impostas por Trump.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0182-1#Sec21

 

HÁ TEMPOS SE SABE QUE QUEIMAR FÓSSEIS ESQUENTA A ATMOSFERA

Encontraram em um jornal da Nova Zelândia do dia 14 de agosto de 1912, na seção de ciência, a matéria “Consumo de Carvão afeta o Clima”. A matéria dizia: “As fornalhas do mundo estão queimando cerca de 2 bilhões de toneladas de carvão ao ano. Quando queimado, juntando com o oxigênio, acrescenta 7 bilhões de toneladas de dióxido de carbono à atmosfera anualmente. Isso faz o ar virar um cobertor eficaz para Terra e aumentar sua temperatura. O efeito pode ficar considerável em alguns séculos”.

https://thinkprogress.org/headlines-back-in-1912-warned-coal-consumption-affecting-climate-b0c1373194a1/

 

Para ir

DESAFIOS DE GOVERNANÇA NA CRIAÇÃO DE UM SISTEMA DE MRV PARA A NDC BRASILEIRA

O WRI está organizando um evento para debater com o governo o monitoramento da implantação da NDC e uma iniciativa de MRV para o setor empresarial, que é pré-condição para o estabelecimento de um sistema de precificação.

5a feira, 23 de agosto, das 13h30 às 18h.

Hotel Manhattan Plaza, SHN Quadra 2, Bloco A, Brasília (DF).

Programa e inscrições no link.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSddGT8HQOrD5gxVN8ZTtC0XBpVuzCVMmudgoN3aSvGvuxBeKA/viewform

 

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FINANCIAMENTO DE INFRAESTRUTURA NA AMAZÔNIA: DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA SUSTENTÁVEL

O seminário visa contribuir, por meio da disseminação em nível nacional e regional de estudos e informações sobre financiamentos e políticas de responsabilidade socioambiental dos bancos, buscando fomentar o debate junto a tomadores de decisão.

Tópicos a serem abordados: impacto das grandes obras; salvaguardas ambientais; consulta livre, prévia e informada; e investimento privado e parcerias.

Organizado pela Conectas Direitos Humanos, GT Infra, International Rivers e Instituto Centro de Vida

Dia 24 de agosto, das 8h30 às 18h, no Centro de Convenções Israel Pinheiro, em Brasília.

Programa e inscrições no link desta nota.

https://www.even3.com.br/finamazonia

 

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DESAFIOS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA INDÚSTRIA BRASILEIRA

A Climate Policy Initiative (CPI), do Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio, desenvolveu uma análise da eficiência energética a partir de dados ao nível de empresa para 106 setores industriais no período que vai de 2002 a 2015 no Brasil. Ao formular e quantificar essa questão à luz da recente literatura econômica, o projeto apresenta evidências sobre as possibilidades de ganho de eficiência no uso da energia elétrica pela indústria brasileira.

4a feira, 29 de agosto, das 10h às 12h30, no Hotel Prodigy Santos Dumont, Av. Alm. Silvio de Noronha, 365, Rio de Janeiro.

Inscrições e programa no link.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeHY5TPg19ewRqYt_r049QM7_lFDonFvqcNnoIFNmi1rYsBHg/viewform

 

Para ler

BRAVE NEW ARCTIC: THE UNTOLD STORY OF THE MELTING NORTH

De Mark C. Serreze

A ciência só começou a tomar conhecimento dos impactos do aquecimento global no Ártico na década de 1990. Em 1996, oceanógrafos circularam uma carta instando a comunidade a conjugar esforços para entender o que estava acontecendo. Mark Serreze fazia parte deste grupo, mas até 2003, achava que os dados estavam mostrando a variabilidade usual do clima. Naquele ano, numa reunião, ele ouviu um cientista após outro falar de “derretimento, descongelamento, disrupção, desestabilização, aquecimento, deslocamento, enfraquecimento e de um território desconhecido”. O livro conta esta história e os esforços para acordar a humanidade para o desafio da mudança do clima e seu desapontamento com a indiferença do público em geral. Um historiador holandês conta que, em 1933, os jornais holandeses publicaram repetidas matérias sobre a ameaça nazista. No entanto, ao chegar em 1938, existia um grande silêncio a respeito nos mesmos jornais.

Princeton University Press, 255 pp., $24.95

https://www.nybooks.com/articles/2018/08/16/arctic-big-melt/

 

Para anotar na agenda

EMPREENDEDORES E NEGÓCIOS DE IMPACTO NA AMAZÔNIA

O Fórum sobre Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia é um novo espaço de diálogo entre empreendedores, ONGs, startups e investidores para fortalecer o ecossistema de finanças sociais e investimentos de impacto na Amazônia. Durante o Fórum, será realizada a entrega do Prêmio Empreendedor PPA.

Programação e inscrições serão anunciados em breve.

Dias 13 e 14 de novembro, em Manaus.

 

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