ClimaInfo , 20 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O QUE OS PRESIDENCIÁVEIS TÊM A DIZER SOBRE O CLIMA

Lemos os programas dos presidenciáveis para entender como pretendem enfrentar as mudanças climáticas e o desmatamento, e o que pensam da exploração e do consumo de petróleo, das energias renováveis e da nuclear.

Lula, Marina, Ciro e Boulos mencionam o Acordo de Paris e assumem compromissos de mitigação e adaptação.

Todos prometem continuar explorando petróleo. Mas, enquanto Marina e Boulos mostram entender a contradição entre o combate ao aquecimento global e a extração de combustíveis fósseis, Lula dá ênfase semelhante ao enfrentamento da mudança do clima e à exploração de petróleo, como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra.

Lula quer zerar o desmatamento líquido até 2020, Marina e Boulos falam em desmatamento zero no curto prazo. Ciro mal menciona o tema.

O candidato-capitão, à la Trump, quer tirar o Brasil do Acordo de Paris, o que é uma bravata: para Trump o movimento foi fácil, já que a adesão ao Acordo de Paris tinha sido feita pelos EUA por meio de medidas do executivo; já no Brasil o Acordo foi ratificado com amplo apoio do Congresso. À exceção do capitão, nenhum outro questiona a participação do Brasil no Acordo. O ex-militar também nada diz sobre o desmatamento, e põe fé na energia nuclear.

Alckmin faz uma única menção ao Acordo e não diz mais nada, nem em relação ao clima, nem a petróleo e derivados. Aliás, é um dos menores programas. Talvez pelo medo da exposição.

Amoedo alinhava algumas linhas sobre desmatamento ilegal, energias renováveis e promete retirar os subsídios aos fósseis. Meirelles e Álvaro Dias não fazem qualquer menção a clima nem ao desmatamento.

Comentando os programas, Izabella Teixeira, ex-ministra de Meio Ambiente, disse que estes “são ruins e enviesados por uma clara ausência da visão dos vários Brasis dentro do Brasil. Temos um vício de discutir a Amazônia dentro da lógica do Brasil olhando para a Amazônia. Não avaliamos a perspectiva de quem vive na Amazônia”.

Não conferimos o que os demais candidatos têm a dizer.

Os links abaixo são, pela ordem, os programas Lula, Marina, Ciro, Alckmin, Bolsonaro, Boulos, Álvaro Dias, Meirelles e Amoedo. http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2018/08/plano-lula-de-governo_2018-08-14-texto-registrado-3.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000622171//proposta_1534349620464.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000605589//proposta_1533938913830.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000602477//proposta_1533849607885.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000614517//proposta_1534284632231.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000601016//proposta_1533565462424.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000618462//proposta_1534304719669.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000622281//proposta_1534354939646.pdf

http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000607640//proposta_1534522080782.pdf

https://projetocolabora.com.br/cidadania/presidenciaveis-esquecem-amazonia/

 

PAÍS PERDEU 71 MILHÕES DE HECTARES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Foi divulgada na 6a feira a 3a edição do MapBiomas que, nas palavras de seu coordenador, Tasso Azevedo, “é o mapa mais detalhado sobre a ocupação da terra já feito para um país. Não é só um mapa, são 33, um para cada ano entre 1985 e 2017. Essa plataforma permite pegar qualquer parte do país, selecionar estados ou municípios, e acompanhar o histórico até os dias atuais.” O trabalho foi montado por um consórcio de 34 organizações em parceria com o Google Earth Engines, que roda o Google Maps, o Google Earth e o Waze. Foi criado um algoritmo que aprendeu a classificar cada um dos pixels nas classes floresta, campo, pastagem, plantação, água, cidade, etc., e os dados foram processado com uma resolução de 30 metros. A ferramenta é inédita no mundo.
A alta resolução permitiu constatar o que mudou entre 1985 e 2017. A destacar:

– O país perdeu 71 milhões de hectares de vegetação nativa, já levando em consideração a área recuperada. Para comparar, a área total do Chile é de 75 milhões de hectares;

– A área da agricultura quase triplicou e a da pecuária cresceu 43%;

– A Mata Atlântica, bioma com 56% da área urbana do país, perdeu 5 milhões de hectares de floresta, mas a boa notícia é que nos últimos 10 anos a regeneração superou o desmate;

– O Cerrado perdeu (em termos líquidos) 18% da sua vegetação nativa, a maior proporção entre os biomas;

– A Amazônia perdeu (líquido) 36 milhões de hectares de floresta; e

– Outros biomas tiveram também perda líquida: Pampa (-15%), Caatinga (-8%) e Pantanal (-7%).

Azevedo acrescenta que “agora, pela primeira vez, permitimos o cruzamento de dados com o Cadastro Ambiental Rural, possibilitando visualizar mudanças de uso da terra em propriedades rurais e também é possível ver dados por bacia hidrográfica e enxergar a infraestrutura de energia e transportes para entender como ela impacta o uso do solo.”

O lançamento foi destaque nos Estadão, Folha e O Globo, e em matéria do Jornal Nacional da TV Globo.
http://mapbiomas.org/

http://www.observatoriodoclima.eco.br/projeto-mapbiomas-mapeia-tres-decadas-de-mudancas-na-ocupacao-territorial-brasil/

https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/brasil-teve-perda-liquida-de-71-milhoes-de-hectares-de-vegetacao-nativa-em-30-anos

https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/em-tres-decadas-brasil-perde-71-milhoes-de-hectares-de-florestas-22987227

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/08/o-marinismo-e-verde-ou-azul.shtml

 

GERAÇÃO RENOVÁVEL ULTRAPASSA CARVÃO E PRATICAMENTE SE IGUALA AO GÁS

O último Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico, com dados até maio, mostra que, nos 12 meses anteriores, as eólicas e solares geraram 44,5 TWh, pouco atrás dos 47,8 TWh das térmicas a gás. As hidrelétricas geraram 389 TWh, 71% do total de 528 TWh. Vale destacar que o crescimento das renováveis, 28%, foi o dobro das térmicas a gás (14%).

http://www.mme.gov.br/documents/1138781/1435504/Boletim+de+Monitoramento+do+Sistema+El%C3%A9trico+-+Junho+-+2018_rev1.pdf/44a08372-bae6-4960-93e4-9b5426890087

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53071867/producao-de-energia-de-junho-contou-com-88-de-fontes-renovaveis

 

TRANSPORTE DE CARGAS PELA COSTA GANHA ESPAÇO

Ao longo dos mais de 7 mil km da costa brasileira mora boa parte da população, mas a cabotagem – o transporte de carga por navios – só transporta 11% da carga movida dentro do país (medida em toneladas.quilômetro), sendo que mais de 60% disso são combustíveis. Neste pós-greve dos caminhoneiros, o tabelamento dos fretes tem aumentado o transporte de cabotagem. O aumento total no 1o semestre foi de 13%. A Folha de S. Paulo caracteriza o setor por meio de uma série de gráficos e, entre outros, dá o exemplo da Mallory, indústria de eletroportáteis do Ceará: a empresa gastava R$ 6.500 por frete antes do tabelamento e viu este valor subir para R$ 18 mil. A empresa optou pela cabotagem, pagando R$ 9.200 pelo frete da mesma carga.

Vale destacar que a emissão de carbono por tonelada.quilômetro da cabotagem é da ordem de ⅓ da rodoviária.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/navegacao-costeira-ganha-espaco-como-opcao-de-transporte-de-carga.shtml

 

VENDA DO PROIBIDO CORRENTÃO É ANUNCIADA NA WEB

Uma das técnicas mais eficazes para desmatar é amarrar uma pesada corrente de aço, o correntão, em dois tratores que, andando em paralelo, vão limpando tudo entre eles. A prática é considerada crime ambiental. Apesar disso, continua sendo praticada. E tem até anúncio na internet vendendo as correntes com explicações sobre como evitar ser pego pela fiscalização.

https://amazonia.org.br/2018/08/vilao-do-desmatamento-ilegal-correntao-e-vendido-na-internet-com-dicas-para-evitar-fiscalizacao/

 

EUA: INDÚSTRIA DO PETRÓLEO QUER PARAR DE MISTURAR ETANOL NA GASOLINA

A API, associação da indústria do petróleo dos EUA, está pressionando o governo para que estabeleça um prazo para encerrar a obrigatoriedade de misturar etanol na gasolina, herança de Barak Obama. Dizem que o etanol prejudica o motor e diminui seu tempo de vida útil, o que, para nós é, no mínimo curioso. Lá, a mistura ainda não chegou a 15%, enquanto que nossa gasolina leva 27% de etanol anidro. A API disse que está disposta a negociar desde que todos, governo e produtores, concordem em terminar o programa em 2022. É a raposa pondo ordem no galinheiro.

https://www.washingtonexaminer.com/policy/energy/oil-industry-re-ups-its-bid-to-repeal-the-nations-broken-ethanol-mandate

 

A INCRÍVEL ÁRVORE GAO DO SAHEL

As gaos estão se espalhando na região ao sul do deserto do Saara e ajudando a aumentar a produtividade das lavouras e da criação de animais. A gao é uma árvore que pode chegar a 30 m de altura, com um tronco com diâmetro entre 1,5 a 2 m. Sua principal característica são as raízes que chegam a penetrar 40 metros, o que as torna muito resistente a secas. A espécie vive em áreas que recebem entre 250 e 600 mm de chuva por ano. Nos últimos 30 anos, elas vêm se espalhando naturalmente e estima-se que mais de 200 milhões de novas árvores, a maioria gaos, apareceram só ao sul do Níger. Cientistas consideram ser esta a maior transformação positiva da paisagem em toda a África. E sem ajuda do Banco Mundial ou de dinheiro climático. Abasse Tougiani, do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola do Níger, diz que “é uma árvore mágica, uma árvore maravilhosa”. Ela extrai nitrogênio da atmosfera e fertiliza a terra. Ao contrário da maioria das árvores, suas folhas caem na estação das chuvas, o que permite a chegada de mais luz ao solo exatamente quando outras plantas estão brotando. E, na seca, dá sombra à criação de animais. A expansão das gaos começa na costa do Atlântico do Senegal, atravessa o Mali, Burkina Faso e o Níger, chegando até bem mais ao sul, no Malawi.

https://www.theguardian.com/world/2018/aug/16/regreening-niger-how-magical-gaos-transformed-land

 

CHUVAS TORRENCIAIS DAS MONÇÕES DEIXAM QUASE MIL MORTOS NA ÍNDIA

Mais de 850 pessoas morreram devido a tempestades, inundações e deslizamentos que acontecem em 7 estados indianos desde o começo das monções, em maio. Na última semana, no estado de Kerala, morreram quase 70 pessoas, na que foi considerada a pior tempestade do século. Cientistas indianos atribuem o aumento de intensidade das monções ao aquecimento global. Ao que se soma o desmatamento desregrado e, segundo o Dr. VS Vijayan, cientista ambiental, ao “uso insensato da terra, do solo e das pedras. Devido à mudança do clima, estas tragédias tendem a crescer. Ninguém pode parar as chuvas ou controlar as inundações. Mas podemos tomar medidas para reduzir a intensidade dos impactos.”

https://www.hindustantimes.com/india-news/over-850-dead-due-to-rains-floods-and-landslides-in-7-states-during-monsoon/story-aQx83QYOSoFZfocV76APoN.html

https://www.hindustantimes.com/india-news/what-is-behind-the-kerala-monsoon-fury/story-2NxvHfTDAmS10k9hHofiiO.html

 

A MUDANÇA DO CLIMA MUDA A DINÂMICA DO TEMPO

Talvez o tema climático mais fashion no momento é entender a onda de calor que assolou o hemisfério norte em julho e no começo de agosto. O fenômeno básico envolvido é a mudança dos jet-streams, tão determinantes para o tempo da região. Pesquisas mostram que o jet-stream polar no Norte está ficando mais lento nas últimas décadas e tem oscilado mais. A causa provável é o aquecimento do Ártico, posto que o jet-stream é determinado pela diferença de temperatura entre o Ártico e os trópicos. Como esta diferença vem diminuindo, o jet-stream tem ficado mais fraco e mais instável. Um jet-stream mais fraco leva o tempo a ficar mais estável, ou seja, uma onda de calor dura mais. Assim como chuvas ou ondas de frio. Um artigo de Stefan Rahmstorf, professor de física dos oceanos e chefe do Earth System Analysis do Instituto Potsdam, diz que “a mudança do clima não é apenas tudo ficando gradualmente mais quente. É também a modificação das circulações mais importantes na atmosfera e nos oceanos. Isso está tornando o tempo cada vez mais doido e imprevisível”.

Em tempo: os jet-streams são as correntes de ar em altitudes elevadas que, em geral, vão de oeste para leste, em trajetórias sinuosas. Tanto no hemisfério norte quanto no sul, existem dois jet-streams mais importantes: um na região polar e outro entre 20o e 30o de latitude (no sul, o paralelo  30o passa perto de Porto Alegre).

https://www.politico.eu/article/climate-change-gobal-warming-freak-weather-explained/

 

Esclarecimento sobre empregos solares x nucleares:

Para afirmar que a energia solar gera muito mais emprego que a nuclear, nos baseamos na semana passada em um trabalho acadêmico. Entretanto, recebemos referências mostrando que a cadeia completa solar gera entre 12 e 33 empregos/MW (o número mais alto é o usado pela Absolar), e que a nuclear gera menos de 5 empregos/MW. Estes números levam a crer que, se compararmos os empregos criados por energia gerada (e não por capacidade de geração), as duas fontes, provavelmente, se equiparam.

A diferença maior está na dinâmica das duas indústrias: enquanto atualmente é construída uma usina nuclear aqui outra ali, a indústria solar vem crescendo com muita força e criando centenas de milhares de empregos em todo o mundo. Por isso, mantemos nossa posição: os R$ 14 bilhões que faltam para terminar Angra 3, mais as centenas de milhões de Reais necessários para seu futuro descomissionamento, seriam melhor empregados no incentivo às renováveis.

https://opus.lib.uts.edu.au/bitstream/10453/43718/1/Rutovitzetal2015Calculatingglobalenergysectorjobsmethodology.pdf

https://www.businesstoday.in/current/economy-politics/make-in-india-nuclear-projects-to-create-33400-jobs/story/252417.html

 

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