ClimaInfo, 23 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

CONTRATAR TÉRMICAS A CARVÃO NO PRÓXIMO LEILÃO AMARRARÁ PAÍS A TECNOLOGIA POLUENTE POR DEZENAS DE ANOS

Na próxima semana, o setor elétrico realizará um leilão de compra de eletricidade a ser entregue daqui a seis anos (A-6). Dentre as mais de mil usinas habilitadas para o leilão, 2 são termelétricas a carvão e 39 a gás natural que, juntas, somam quase 30 GW de capacidade, quase metade dos 59 GW ofertados. Marcelo Lima, especialista em energia do Greenpeace, escreveu no Valor sobre o contrassenso que é construir novas térmicas a carvão no Brasil. China e Índia, talvez os dois maiores consumidores de carvão para geração de eletricidade, pararam de construir e começam a desativar usinas velhas. Outros países importantes, cujas matrizes elétricas também são cheias de carvão, também planejam abandonar a fonte. Assim, não faz sentido um país como o Brasil, que tem a possibilidade de aumentar seu parque gerador com fontes renováveis competitivas, continuar a construir novas destas térmicas sujas. A maior das duas a carvão aumentará em 7% as emissões do sistema elétrico para atender a menos de 0,3% de toda a eletricidade consumida, amarrando o país a esta tecnologia suja por mais de 30 anos, pelo menos, enquanto a usina funcionar.

https://www.valor.com.br/opiniao/5758155/leilao-de-carvao-e-um-retrocesso

http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-303/topico-397/Relat%C3%B3rio%20S%C3%ADntese%202018-ab%202017vff.pdf

 

VÍCIO EM ROYALTIES DO PETRÓLEO

Os royalties do petróleo já são 3,4% da arrecadação de impostos do governo, o dobro do ano passado. Enquanto a arrecadação cresceu 6% no primeiro semestre, o aumento de produção dos poços e o aumento do preço do barril fizeram os royalties aumentarem 40%, totalizando quase R$ 23 bilhões. Num regime de crise fiscal, os royalties funcionam com uma droga que provoca uma adição aguda. Para manter o aquecimento global abaixo de 1,5oC, o país terá que se livrar da dependência do petróleo e o tesouro nacional, do vício dos royalties.

https://www.valor.com.br/brasil/5758413/royalties-do-petroleo-puxam-arrecadacao

 

NÃO SEPARANDO O JOIO DO TRIGO, DEFESA DO AGRONEGÓCIO FICA CAPENGA

Xico Graziano escreveu mais um artigo em defesa do agronegócio usando bastante ironia e carregando nas tintas para mostrar que, na verdade, o agricultor está sendo vítima de uma tremenda campanha negativa que o acusa ser de desmatador, feitor de escravos e grileiro. Diz ele que “basta pesquisar na rede e verificar o que falam jornalistas, juízes, promotores, artistas, cantores e outros ‘especialistas’ da moderna agricultura nacional”. Graziano faria mais pelo setor se, ao invés de apontar seu dedo para esse pessoal, o fizesse para a parcela dos que desmatam, escravizam e grilam terras públicas. Enquanto Xico e outros seguirem colocando os ilegais junto ao que há de mais moderno e ético no mundo rural, o saco de gatos continuará a ser tachado de desmatador, escravizador e grileiro. Simples assim.

https://www.poder360.com.br/opiniao/brasil/uma-fabula-malvada-contra-o-agricultor-nacional-escreve-xico-graziano/

 

SOBRE A SINGULARIDADE DA FLORESTA AMAZÔNICA

Maria Fernanda Ziegler, da Agência Fapesp, escreve sobre o  workshop ‘As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia’: “a Amazônia é única. É a maior extensão de floresta tropical e o único lugar onde a própria floresta controla seu clima interno, impactando o mundo todo. Com sua biodiversidade ímpar, a Amazônia possibilita a manutenção de serviços ecossistêmicos e limpa a atmosfera do planeta”. Paulo Artaxo, professor da USP e organizador do workshop, disse que “O Brasil precisa ter um plano de adaptação para a Amazônia. O aumento da temperatura na região foi da ordem de 1,6°C, enquanto a média no Brasil foi de 1,3°C e a mundial de 1,1°C [desde o fim do século 19]. Então, a Amazônia, por estar em uma região tropical, por receber muita radiação solar, é uma região sensível ao aumento da temperatura e à redução da precipitação. Dá para imaginar o impacto socioeconômico de um dia de verão em Manaus com temperatura média aumentada em até 5°C. É o que pode acontecer no futuro”.

O workshop aconteceu na semana passada, em Manaus, e vai continuar, em setembro, em Washington.

http://agencia.fapesp.br/conservar-a-amazonia-e-questao-ambiental-social-e-economica/28518/

 

ARAUCÁRIAS CHILENAS ESTÃO MORRENDO E A MUDANÇA CLIMÁTICA É CÚMPLICE

Centenas de araucárias morreram nos últimos anos no Chile e os cientistas acham que a mudança do clima enfraqueceu as árvores que, em seguida, morreram por alguma doença. Doença esta que, em condições normais, não teria feito o estrago que fez. Na região que fica a 450 km ao sul de Santiago, durante o verão e a primavera houve muito menos chuvas e as temperaturas foram mais elevadas. Alí também caiu menos neve no inverno. Em algumas áreas, entre 70% e 80% das árvores morreram ou foram bastante danificadas. Há relatos semelhantes do outro lado da Cordilheira, na Argentina. Não encontramos notícias semelhantes sobre as araucárias brasileiras.

https://www.reuters.com/article/us-chile-environment-trees/chiles-monkey-puzzle-trees-dying-amid-changing-climate-scientists-idUSKCN1L61GQ

 

COMISSÃO EUROPEIA QUER METAS CLIMÁTICAS MAIS AMBICIOSAS

Miguel Arias Cañete, o comissário para o clima da União Europeia, disse querer aumentar a ambição da meta climática europeia para que, em 2030, as emissões sejam reduzidas em 45%, ao invés dos 40% estabelecidos pela meta atual. Ele disse que as contas indicam que é possível aumentar mais a eficiência no uso da energia e, também, reforçar a regulamentação das fontes limpas de modo a dar-lhes mais espaço. A União Europeia quer discutir um aumento na ambição das metas de redução de emissão em dezembro, por ocasião da Conferência do Clima que acontecerá em Katowice, na Polônia.

http://www.brusselstimes.com/eu-affairs/12294/european-commission-wishes-to-increase-2030-climate-targets

 

PLANO ENERGÉTICO DE TRUMP CAUSARÁ MILHARES DE MORTES PREMATURAS

No meio dos documentos sobre o novo plano energético de Trump, anunciado nesta semana, está uma estimativa segundo a qual, até 2030, as emissões adicionais geradas pelas térmicas a carvão provocarão por volta de 1.400 mortes prematuras anualmente. Estas decorrerão, principalmente, do aumento de material particulado fino na atmosfera, poluente responsável por doenças no coração e nos pulmões. Também provocarão cerca de 15.000 casos adicionais de morbidade respiratória e a dezenas de milhares de faltas escolares. No que toca à emissão de gases de efeito estufa, o plano de Trump, comparado com o de seu antecessor,  emitirá 300 milhões de toneladas adicionais de gases de efeito estufa todo ano, um aumento de 5% nas emissões do país. É um estrago para republicano nenhum botar defeito. Perguntado, o pessoal da EPA (Agência de Proteção Ambiental) responsável pelas estimativas de mortalidade disse que outras regulações para controlar a poluição podem ser acionadas para evitar os danos.

https://www.nytimes.com/2018/08/21/climate/epa-coal-pollution-deaths.html

https://www.usatoday.com/story/news/politics/2018/08/21/trumps-plan-coal-plants-key-takeaways-epa-proposal/1052390002/

https://newrepublic.com/article/150779/trumps-staggering-impact-greenhouse-gas-emissions

 

A NAVEGAÇÃO RUSSA ATRAVÉS DO ÁRTICO DESCONGELADO

Partirá nesta semana o primeiro navio de contêineres da Maersk para a travessia do Ártico. O navio levará um carregamento de peixe congelado desde Vladivostok, no Pacífico, até São Petersburgo, no Báltico, acompanhando o imenso litoral norte da Rússia. A viagem levará por volta de um mês, duas semanas a menos do que o tempo gasto na rota tradicional via o Canal de Suez. A viagem é encarada como um teste.

Os russos também estão planejando uma ferrovia para ligar Moscou à Sabetta, cidade que vem despontando como um dos principais portos na rota norte de navegação. Sabetta era um pequeno vilarejo congelado e, agora, é uma cidade de 20 mil habitantes com um movimento crescente. Dmitry Artyukhov, o governador em exercício da província de Yamal-Nenets, onde fica Sabetta, disse que “o desenvolvimento do projeto da Passagem Latitudinal Norte-2 inclui o lançamento eficiente da imensa província russa de petróleo e gás, o impulso à navegação ao longo da Rota do Mar do Norte com efeitos significativos na economia e no sistema orçamentário.”

https://www.independent.co.uk/environment/maersk-ship-arctic-route-launch-global-warming-climate-change-a8500966.html

https://thebarentsobserver.com/en/industry-and-energy/2018/08/big-toot-new-russian-arctic-railway

 

TECNOLOGIAS E FONTES DE ENERGIA PARA REDUZIR AS EMISSÕES DA NAVEGAÇÃO

Em maio, a IMO (Organização Marítima Internacional) conseguiu arrancar das empresas de navegação um acordo para reduzir as emissões do setor. As empresas terão duas metas para os próximos anos: aumentar a eficiência e passar a usar combustíveis menos poluentes. Um levantamento do grupo de trabalho da BSR para um transporte de carga limpo mostrou que, entre 2009 e 2016, as emissões médias por contêiner transportado por quilômetro caíram a uma taxa de 5% a cada ano, mas que, entre 2016 e 2017, essa taxa baixou para menos de 1%. A continuar assim, as emissões globais da navegação seguramente aumentarão em decorrência do aumento da carga transportada. O sinal positivo vem do desenvolvimento de baterias e tecnologias de uso de hidrogênio. Uma empresa norueguesa lançará uma embarcação de transporte de contêineres 100% elétrica. E uma finlandesa lançará um navio de transporte de gás natural liquefeito equipado com rotores eólicos. Ao contrário da aviação, a IMO entende que é possível reduzir as emissões sem ter que apelar a créditos de carbono para compensar as emissões dos navios.

https://www.businessgreen.com/bg/news/3061247/rolls-royce-steams-into-electric-shipping-market

 

Você recebeu esta mensagem porque acreditamos que se interesse por notícias relacionadas às mudanças climáticas. Caso não deseje receber novamente este boletim diário escreva para [email protected]

Saiba mais no nosso website: www.climainfo.org.br, e siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews