ClimaInfo, 11 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

AMAZÔNIA: MENOS ÁREAS PROTEGIDAS, MAIS GRILAGEM, GARIMPO E MORTES

A segunda matéria da série Projeto Amazônia é sobre a Flona (Floresta Nacional) do Bom Futuro, perto de Porto Velho, RO. Em 2010, o governo abriu mão de ⅔ da floresta para legalizar cerca de 3.500 posseiros, na esperança que o desmatamento e a grilagem cessassem. Não funcionou. Da área que sobrou, 15% foi desmatada, e o governo teve que fazer duas operações para tirar grileiros de lá.  Simone dos Santos, coordenadora regional do ICMBio, diz que “existe uma afirmação corrente entre os invasores de que a classe política está do lado deles. E, da mesma forma como a Flona do Bom Futuro foi desafetada, as outras áreas também serão”. Se referindo à pressão dos grileiros, ela complementa dizendo que “eles não invadem sozinhos, há técnicos de georreferenciamento, advogados, empresários e a classe política, que se apropria dessa causa para ganhar votos. É uma luta de Davi contra Golias, o dia todo, o tempo todo.”

Em Roraima, um garimpeiro foi morto num conflito com Ianomâmis. A situação está tensa desde que o Exército começou operações para desmontar garimpos ilegais na região. O comando explicou que, no começo, os garimpeiros fugiram para dentro da mata, mas, com as bases ocupadas, pararam de receber mantimentos e começaram a sair da região. Os índios dizem que o garimpo continua mesmo assim.

http://temas.folha.uol.com.br/projeto-amazonia/floresta-nacional/reserva-que-encolhe.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/morte-de-garimpeiro-aponta-tensao-na-area-ianomami.shtml

 

MINISTÉRIOS PÚBLICOS DOS ESTADOS DA MATA ATLÂNTICA SE UNEM PARA COMBATER DESMATAMENTO DO BIOMA

Os Ministérios Públicos de 16 estados estão participando de uma operação conjunta para combater o desmatamento na Mata Atlântica. Eles identificaram áreas degradadas e iniciaram procedimentos legais contra seus proprietários. Os primeiros resultados serão anunciados nesta 4a feira. Dos 17 estados onde o bioma está presente, só Alagoas não aderiu.

https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/ministerios-publicos-de-16-estados-combatem-desmatamento-da-mata-atlantica/

 

UMA AGRICULTURA MODERNA E NEGÓCIOS FLORESTAIS SUSTENTÁVEIS

Betina Barros escreveu dois artigos no Valor mostrando que a agricultura sustentável deixou de ser coisa de sonhador e virou negócio de gente grande. Fundos internacionais e nacionais estão investindo em sistemas agroflorestais. Oito projetos agroflorestais brasileiros receberam investimentos de US$ 10,2 milhões para trabalhar uma área de 700 hectares. O banco holandês especializado no mundo agro, o Rabobank, e a agência da ONU para o Meio Ambiente se juntaram para investir US$ 1 bilhão em agricultura sustentável para a proteção de florestas e promoção da melhora da vida rural em larga escala. O WRI anunciou que sua iniciativa 20+20 colocará US$ 1,3 bilhão em projetos de restauração florestal como meio de recuperar áreas degradadas na América Latina.

A segunda matéria descreve um projeto agroflorestal na Fazenda São Pedro, perto de Cananéia, no litoral Sul de São Paulo. O projeto cultiva um consórcio de banana, eucalipto e madeiras de lei, e tem como carro-chefe o palmito pupunha. Roberto Pini, um dos sócios, conta que “isso aqui vai além de conservar, estamos permitindo a regeneração da natureza. É algo complexo e, como todo negócio novo, tem seus riscos. Se for um investidor bitolado, um burocrata financista, ele trava”. O projeto atraiu o interesse de fundos franceses que também estão desenvolvendo o conceito de agrofloresta em outros países na América Latina e na África.

https://www.valor.com.br/agro/5818743/os-negocios-de-quem-mantem-floresta-viva

https://www.valor.com.br/agro/5818745/nao-falta-dinheiro-para-agricultura-de-impacto

 

PROBLEMAS NA ENGENHARIA FINANCEIRA DE PROJETOS EÓLICOS

As fontes renováveis, como as demais, não são garantia de sucesso, e nem todos os projetos eólicos chegam a gerar energia. Por exemplo, Furnas e sócios investiram quase meio bilhão de reais em projetos que ainda não geraram nenhum kWh e, possivelmente, nunca venham a gerar. Uma parte do problema é a dificuldade em negociar o financiamento que, no final, apertou o fluxo de caixa dos projetos. E a situação ficou ainda mais complicada depois que a empresa que fabricaria e entregaria os aerogeradores faliu, o que impactou o cronograma das obras. A Aneel entendeu que não era motivo para as plantas não entrarem em funcionamento, conforme contratado num leilão de reserva. Furnas e sócios, então, tiveram que pagar uma multa milionária para sair do contrato, sob pena de ter que comprar energia no mercado spot para entregar como prometido. A situação está ainda mais estranha, pois a Aneel não contou o que estava acontecendo nem para o Ministério Público nem para o Tribunal de Contas. Afinal, uma agência reguladora tem, por função, acionar a justiça em casos assim.

Como para mostrar que essa confusão é exceção, a Eneva, uma empresa da gigante energética alemã E.ON, e que é a maior geradora privada fóssil do país, anunciou que ampliará os 900 MW eólicos que possui em carteira. No leilão do final de agosto, a empresa inscreveu 230 MW, mas preferiu não fazer lances.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,furnas-e-socios-gastam-r-419-mi-em-16-eolicas-que-nao-sairam-do-papel,70002495011

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,aneel-nao-informou-falhas-de-projetos-eolicos-a-mpf-e-tcu,70002495014

https://www.valor.com.br/empresas/5818783/eneva-volta-aos-leiloes-e-planeja-investir-em-geracao-renovavel

 

SECRETÁRIO-GERAL DA ONU CHAMA O MUNDO PARA A URGÊNCIA DO COMBATE AO AQUECIMENTO DO PLANETA

Em um discurso contundente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, convocou governos, empresas e cidadãos de todo o mundo a agir com força e rapidamente para combater o aquecimento global e as mudanças decorrentes no clima do nosso planeta.

Estas foram as principais mensagens do discurso:

– O secretário-geral convocou a todos para soar o alarme. Está faltando ainda, mesmo depois do Acordo de Paris, liderança, senso de urgência e um compromisso verdadeiro com uma resposta multilateral decisiva.

– O mundo está em um curso equivocado. Se continuarmos no caminho atual, até 2030, perderemos o ponto no qual poderemos evitar uma descontrolada mudança climática, que terá consequências desastrosas para as pessoas e todos os sistemas naturais que nos sustentam.

– Os cientistas nos alertam há décadas que a mudança climática está acontecendo. Mas muitos líderes se recusaram a ouvir.

– Chegou a hora de nossos líderes mostrarem que se importam com as pessoas cujo destino elas têm nas mãos. Precisamos deles para mostrar que se importam com o futuro – e com o presente.

– O Acordo de Paris estabeleceu metas que buscam manter o aumento da temperatura global o mais próximo possível de 1,5 graus Celsius.

– Mas, de acordo com um estudo feito pela ONU, os compromissos assumidos até agora pelas Partes do Acordo de Paris representam apenas um terço do que é necessário.

– O Acordo de Paris e a Convenção Clima são as bases para os esforços globais para enfrentarmos a mudança climática. Os governos nacionais, no entanto, não podem fazê-lo sozinhos. As partes interessadas não-partes podem aumentar significativamente a ação climática e influenciar a ambição em nível nacional.

– Existe uma oportunidade real, agora, de promover a prosperidade econômica, ao mesmo tempo em que reduzimos as emissões e fortalecemos a resiliência climática. Temos a oportunidade de descartar as formas antigas e criar um novo caminho para um futuro melhor.

– Os benefícios da ação climática superam em muito os custos da inação. O Relatório da Nova Economia Climática concluiu que a ação sobre as mudanças climáticas resultaria em uma economia de US$ 26 trilhões até 2030, em comparação com os negócios de sempre.

– Abandonar os combustíveis fósseis e abraçar as energias renováveis economiza dinheiro e, também, cria novos empregos, reduz o desperdício de água, aumenta a produção de alimentos e limpa o ar.

– Há um dever moral de agir sobre as mudanças climáticas. As nações mais ricas do mundo são as mais responsáveis pela crise climática, mas os efeitos serão sentidos primeiro e mais fortemente pelas nações mais pobres e pelas pessoas e comunidades mais vulneráveis.

– Mulheres e meninas, em particular, pagarão um preço mais elevado – não apenas porque suas vidas se tornarão mais difíceis, mas porque, em tempos de desastre, as mulheres e meninas sempre sofrem desproporcionalmente.

– O secretário-geral convocará uma Cúpula do Clima para levar a ação climática ao topo da agenda internacional. A cúpula ocorrerá um ano antes de os países terem que melhorar suas promessas climáticas no âmbito do Acordo de Paris. O secretário-geral pede a todos os líderes mundiais que participem da Cúpula do Clima do próximo ano, preparados para relatar não só o que estão fazendo, mas o que mais pretendem fazer em 2020, quando os países atualizarão seus planos climáticos nacionais.

– A Cúpula se concentrará em áreas que estão no núcleo do problema – os setores que mais geram emissões e as áreas onde a resiliência em construção fará a maior diferença.

O discurso do secretário-geral foi um apelo a todos que tenham qualquer responsabilidade de liderança no mundo para entender que a mudança climática é um problema para todos e que “o mundo está contando com você para enfrentar o desafio antes que seja tarde demais”.

Colocamos a íntegra do discurso traduzido em nosso website.

https://www.nytimes.com/2018/09/10/climate/united-nations-climate-change.html

http://climainfo.org.br/2018/09/10/secretario-geral-da-onu-faz-apelo-pelo-clima/

 

NEGOCIAÇÕES SOBRE LIVRO DE REGRAS DO ACORDO DE PARIS “FRUSTRAM A TODOS”

Foram poucos os avanços conseguidos nas negociações realizadas em Bangcoc para a construção das regras de implantação do Acordo de Paris que terminaram neste domingo. Nas palavras de Patricia Espinosa, presidente da Convenção Clima, “foi feito algum progresso na maioria dos problemas, mas nenhum problema foi totalmente resolvido”. Os EUA bloquearam uma tentativa chinesa de inserção de padrões diferentes para países ricos e pobres. O debate sobre o financiamento climático também se estagnou, levando a pedidos de intervenção política antes do prazo final para a conclusão do livro de regras de Paris, que se esgota em dezembro, na cúpula de Katowice, na Polônia. A Climate Home News levantou as várias chances que os líderes políticos globais terão para se engajar na solução do problema nos próximos três meses, incluindo o diálogo convocado pela ONU, a cúpula climática do governador Jerry Brown, na Califórnia, uma reunião ministerial do G7 e reuniões anteriores à cúpula da Polônia.

O problema mais persistente refere-se às informações que os países devem incluir nas futuras atualizações de seus compromissos climáticos. A China e outros emergentes propuseram que alguns elementos sejam obrigatórios apenas para os países desenvolvidos. O Grupo Umbrella, que inclui os EUA, Canadá e Austrália, recusou-se a aprovar a sugestão, mesmo como opção de negociação, no que foi seguido pela União Europeia.

http://www.climatechangenews.com/2018/09/09/everyone-frustrated-us-china-stand-off-holds-climate-talks/

 

NOVO PRESIDENTE DO MÉXICO ANUNCIA PACTO PETROLÍFERO

Juntando-se aos EUA e ao Canadá no flerte com o aumento da produção de petróleo e gás e, também, na alegação destes setores serem geradores de emprego, o presidente eleito do México, conhecido por AMLO, anunciou um “novo pacto petrolífero” e um plano que deve transferir US$ 9 bilhões para empresas mexicanas do setor. AMLO quer aumentar a extração de petróleo do nível atual de 1,8 milhão de barris por dia para 2,6 milhões, construir uma nova refinaria e fazer melhorias em 6 refinarias existentes. Fontes do setor disseram que, apesar do progresso das renováveis no México, AMLO está determinado a expandir a indústria de petróleo e gás porque sabe que isso será popular junto à sua base e à opinião pública em geral.

Ainda falando de petróleo, o governador da Califórnia subiu o tom no confronto com Trump e assinou leis para limitar os fósseis no estado. Ele não quer novos poços, nem novos dutos passando por lá. Isso inclui a exploração offshore que Trump está tentando abrir ao longo de toda a costa norte-americana.
http://www.elfinanciero.com.mx/nacional/que-le-dijo-amlo-a-los-empresarios-petroleros

http://epbr.com.br/california-aprova-leis-para-barrar-leiloes-de-petroleo/

 

O MANUAL DE REDAÇÃO SOBRE A MUDANÇA DO CLIMA DA BBC

O site Carbon Brief publicou um documento interno da BBC orientando seus colaboradores em como tratar a mudança climática. Como ela mesma reconhece, a megacorporação midiática pisou na bola várias vezes nesses últimos anos, principalmente por seguir toscamente o princípio de escutar os dois lados. Assim, abriu espaço para inúmeras entrevistas com negacionistas. A orientação atual é parar com isso e o texto para os jornalistas usa um exemplo futebolístico: ninguém discute se o Corinthians perdeu para o Palmeiras por 1×0 neste final de semana. E não é para dar voz a corintianos, tresloucados que negam que isso tenha acontecido.

Em tempo: o original se refere a um jogo do Manchester United. E um dos autores destas notas é corintiano.

https://www.carbonbrief.org/exclusive-bbc-issues-internal-guidance-on-how-to-report-climate-change http://climainfo.org.br/2018/09/10/bbc-emite-orientacao-interna-sobre-como-reportar-a-mudanca-do-clima/

 

2 MILHÕES SOB AMEAÇA DE FOME NA AMÉRICA CENTRAL

Choveu muito abaixo do esperado em junho e julho no trecho da América Central chamado de “corredor seco” que corta a Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua. E vem chovendo menos do que o histórico há dez anos, com um pico nos anos do último El Niño. Entre 2015 e 2016, muitos sobreviveram à custa de ajuda externa. Agora, estima-se que 2 milhões de pessoas podem voltar a precisar de ajuda, já que a falta de chuvas deste ano provocou perdas significativas nas colheitas dos pequenos produtores de milho e feijão. Miguel Barreto, diretor regional do Programa Alimentar Mundial da FAO, disse que “desastres relacionados com o clima estão claramente ficando mais frequentes e causando danos maiores”. Há previsões de um novo El Niño mais para o final deste ano e, se este vier, mesmo que fraco, será um desastre para as colheitas de novembro. O que agravará ainda mais o quadro.

http://news.trust.org/item/20180907165117-m0b1e/

 

Para ir

A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA RESIDENCIAL: O USO DA LENHA PARA COCÇÃO E SEUS IMPACTOS

Mais de ⅓ da população mundial ainda utiliza lenha como o principal combustível para cozinhar e aquecer suas moradias. Em alguns países em desenvolvimento, mais de 90% dos habitantes dependem exclusivamente de lenha, do carvão vegetal e de resíduos agrícolas para cozinhar e se aquecer. Além disso, o uso tradicional de lenha geralmente não é sustentável, pois não é apenas ineficiente em energia como também contribui para o desmatamento e a causa poluição do ar em ambientes fechados, o que é um perigo considerável para a saúde.

É neste contexto que o evento pretende estimular o debate, procurando ser instrumento para a busca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em particular o objetivo 7, que visa garantir o acesso à energia limpa, confiável, sustentável e moderna para todos até 2030.
6a feira, 14 de setembro, das 14h00 às 17h00, no Auditório do IEE/USP – Av. Prof. Luciano Gualberto, 1.289 – Cidade Universitária, São Paulo

Programa e inscrições no link.

http://www.energia.usp.br/?q=pt-br/evento/palestra-transi%C3%A7%C3%A3o-energ%C3%A9tica-residencial-o-uso-da-lenha-para-coc%C3%A7%C3%A3o-e-seus-impactos

 

Para ver

NOVO MAPA DA ANTÁRTICA EM ALTA RESOLUÇÃO

Com uma resolução de 8 metros, um novo mapa da Antártica mostra detalhes ainda não vistos, nem mesmo por pesquisadores do continente. Um destes pesquisadores descreve a experiência como a primeira vez que alguém coloca óculos e volta a enxergar. O REMA (modelo de elevação de referência da Antártica) é um Modelo Digital de Superfície com cada registros temporais a cada ponto.

https://www.pgc.umn.edu/data/rema/

https://www.nytimes.com/2018/09/07/science/antarctica-map-rema.html

 

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