ClimaInfo, 12 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O DESMATAMENTO NO CERRADO E O PAPEL DA SOJA

No Dia do Cerrado, comemorado ontem, apareceram vários trabalhos e artigos sobre o bioma que mais sofre com o desmatamento no Brasil.

O Imaflora publicou um trabalho sobre o cerrado da região do Matopiba, que cobre mais de 90% dos 730 mil km2 da região em mais de 300 municípios. O trabalho usa dados da plataforma Global Forest Watch e do MapBiomas e mostra que a vegetação nativa remanescente cobre uma área de 480 mil km2, sendo que 160 mil km2 estão em apenas 20 municípios. Entre 2009 e 2015, ⅓ de todo o desmatamento da região aconteceu em 20 municípios, sendo que 5 fazem parte das duas listas. Entre 2001 e 2015, as lavouras acrescentaram mais 35 mil km2 à área plantada. Em 2015, sete lavouras responderam por 98% do total da área plantada, sendo que a soja ocupou 62%. O trabalho mostra, ainda, que a produção é altamente concentrada e que 20 municípios responderam por cerca de 70% do valor de produção. Nas conclusões, o Imaflora diz que “são inúmeros os desafios e oportunidades para o uso sustentável do Cerrado, não apenas no Matopiba. Estes devem ser associados ao ordenamento do uso e da ocupação da terra, sendo imprescindível a articulação e o engajamento dos atores-chave para que metas nacionais e comprometimentos internacionais assumidos pelo país e empresas das principais cadeias agropecuárias em diferentes áreas temáticas sejam cumpridos, como sinalizado pelo “Manifesto do Cerrado”.”

O ICV (Instituto Centro de Vida) também soltou um trabalho sobre o desmatamento do cerrado do Mato Grosso. Entre 2014 e 2017, a taxa de desmatamento cresceu 24% e, pior, segundo o ICV, “o desmatamento no cerrado mato-grossense possui um alto grau de ilegalidade. De todo o desmatamento mapeado em 2017, apenas 2% foi realizado em áreas com autorizações válidas para desmatamento ou para supressão de vegetação, emitidas pelo órgão ambiental estadual.” Como no Matopiba, o desmatamento é concentrado. Em Mato Grosso, mais da metade ocorreu em 10 municípios. O ICV termina recomendando dois
caminhos: (i) transparência das informações ambientais chaves para o
controle; e (ii) intensificação do monitoramento e das ações de responsabilização, tanto pelo poder público quanto pelos compromissos de cadeias. O Estadão ouviu a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Mato Grosso que contestou os números explicando que os afrouxamentos que concedeu em áreas protegidas foram legais e feitos para adequar a situação à realidade local. Há uma inversão clara: a ação do Estado deveria “adequar” a realidade local à legislação de proteção ambiental.

André Nassar, presidente da Abiove (Associação Brasileira Indústrias Óleos Vegetais) deu uma entrevista ao Valor colocando números diferentes sobre a mesa, basicamente isentando a soja de boa parte do desmatamento: entre 2014 e 2016, apenas 6,8% da área plantada com soja no bioma, ou 201,5 mil hectares, ocorreu sobre desmatamentos. Os outros 2,74 milhões de hectares desmatados neste mesmo intervalo não haviam sido ocupados com soja. Perguntado sobre quem desmatou, Nassar disse não ser do interesse… entender o que ocorreu com o restante da área desmatada. “Estamos olhando só para a soja”.

http://www.imaflora.org/downloads/biblioteca/5b97b2571bff0_sustentabilidade_imaflora_07_DIGITAL.pdf

https://www.icv.org.br/wp-content/uploads/2018/09/AnaliseDesmatamentoCerradoMTProdes.pdf

https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,cerrado-tem-98-de-desmate-ilegal-em-mato-grosso-diz-ong,70002496534

http://abiove.org.br/site/_FILES/Portugues/10092018-155344-governanca_ambiental_no_cerrado.pdf

https://www.valor.com.br/agro/5823977/soja-afeta-menos-o-cerrado-diz-abiove

https://www.oeco.org.br/colunas/reuber-brandao/existira-futuro-para-o-brasil-sem-o-cerrado/

 

O APOIO VITAL DE MULTINACIONAIS DE ALIMENTOS E BEBIDAS À BANCADA RURALISTA

Várias grandes multinacionais vêm dando suporte à bancada ruralista, segundo a ONG Amazon Watch. A ONG mapeou a relação íntima das empresas Coca-Cola, Schweppes, Granini, a brasileira Cutrale e o fundo de investimentos norte-americano BlackRock, com seis deputados federais e estaduais. Segundo a organização, o mapeamento mostra que “grande parte do poder político e econômico que possibilita a agenda ruralista é sustentada pelos comerciantes globais, consumidores e financiadores”. Os seis analisados são os deputados Nelson Marquezelli, deputado federal do PDT por São Paulo e candidato à reeleição; Alfredo Kaefer, candidato à reeleição pelo PP do Paraná; Adilton Sachetti, deputado federal do PRB e candidato ao Senado pelo Mato Grosso; Jorge Amanajás, candidato ao Senado do PPS do Amapá; Sidney Rosa, candidato ao Senado pelo PSB do Pará; e o ex-deputado Dilceu Sperafico, do PP paranaense. Todos propuseram e votaram legislações que “retira(m) a proteção às florestas e os direitos à terra, a fim de obter acesso irrestrito às áreas atualmente protegidas da atividade industrial.” Todos têm interesses pessoais COM negócios com essas companhias. A Amazon Watch listou 112 empresas, quase ⅓ norte-americanas e o restante baseadas nos Japão, Reino Unido e Alemanha. A todas elas, o relatório recomenda aumentar a fiscalização de suas ligações com a bancada ruralista, para que se quebre a cadeia que já financiou alguns dos maiores retrocessos ambientais no Brasil. E recomenda aos consumidores e acionistas destas empresas que  coloquem pressão para que estas parem de desmatar o cenário brasileiro.

https://jornalggn.com.br/noticia/ruralistas-que-disputam-eleicoes-sao-acusados-de-crimes-pela-amazon-watch

https://theintercept.com/2018/09/11/coca-cola-ruralistas-relatorio/

https://amazonwatch.org/assets/files/2018-complicity-in-destruction.pdf

 

A FALTA D’ÁGUA PARA A GERAÇÃO DE ELETRICIDADE ADICIONARÁ R$ 25 BILHÕES ÀS TARIFAS

Choveu pouco, e o Operador Nacional do Sistema decidiu deixar as térmicas fósseis ligadas para guardar água nos reservatórios. As operadoras das hidrelétricas geraram menos e tiveram que comprar energia no mercado spot para cumprir contratos. A conta nos 12 meses até julho somava R$ 20 bilhões, que serão repassados aos consumidores já nos próximos reajustes tarifários. Além disso, o custo das térmicas é maior do que o coberto pelo adicional pago via Bandeira Vermelha nível 2, o que acrescentará outros R$ 5 bi nas contas de luz.

https://www.valor.com.br/brasil/5824321/deficit-hidrico-vai-acrescentar-r-25-bi-tarifa

 

DEFENDENDO O PETRÓLEO, SEM LEVAR O CLIMA EM CONTA

O consultor Adriano Pires escreve sobre o impulso que ele pensa deve ser dado à toda cadeia do petróleo e gás. Pires abre o artigo dizendo que “o setor de óleo e gás retomou o crescimento após sofrer anos seguidos com a ausência de leilões e com uma política de subsídio aos preços da gasolina e do diesel. É preciso avançar numa política que siga regras de mercado e promova a competição em todas as fases da cadeia, buscando dobrar a produção nacional”. Ele defende a criação de um tipo de imposto variável para aplainar as oscilações internacionais do preço do petróleo e derivados. Quando o preço lá fora subir, reduz-se o imposto para conter uma subida rápida do preço por aqui. E, quando os preços internacionais estiverem baixos, os recursos do imposto poderiam ser usados para manter os biocombustíveis competitivos.

Pires não usa a palavra “clima” uma única vez, como se o mundo do petróleo não estivesse aquecendo o planeta.

https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/o-que-precisa-avancar-no-setor-de-oleo-e-gas-segundo-adriano-pires/

 

SE E QUANDO FOR POSSÍVEL CAPTURAR INDUSTRIALMENTE O CO2 DA ATMOSFERA, O GÁS TERÁ MÚLTIPLOS USOS

Existem muitos usos para o dióxido de carbono em múltiplas indústrias. O problema é como separá-lo do ar ou como armazenar o que sai de escapamentos e chaminés. Pode-se usá-lo para fabricar carpetes e forrações, pode-se usar seu carbono para produzir remédios e fertilizantes, assim como em boa parte da indústria química. E parece que dá até para fabricar baterias de estado sólido para serem usadas em celulares, notebooks e em veículos elétricos.

O problema é como obtê-lo. Existem não mais de 25 plantas que estão capturando o gás em chaminés para enterrá-lo, evitando que vá para a atmosfera. À exceção das plataformas de petróleo que reinjetam o gás para forçar a saída de mais petróleo, nenhuma se mostrou viável. E remover o gás da atmosfera é coisa para plantas e bactérias. A tecnologia existente ainda está longe de chegar lá no volume requerido para conter a mudança do clima.

https://revistagalileu.globo.com/galileu-e-o-clima/noticia/2018/09/dioxido-de-carbono-pode-produzir-coisas-uteis-mas-captacao-e-desafio.html

 

A MUDANÇA CLIMÁTICA AGRAVARÁ A FOME E A DESNUTRIÇÃO NO MUNDO

A FAO publicou seu relatório anual sobre o estado da fome e da desnutrição no mundo. Como esperado, o quadro não é bom. À semelhança dos últimos anos, o relatório diz com todas as letras que a mudança do clima fará muito mais mal do que bem.

Todo o progresso feito na última década foi perdido e a fome no mundo voltou aos níveis da virada do século. Agora são 820 milhões de pessoas passando fome e, desde de 2015, este número só aumenta. A FAO aponta uma piora considerável da situação na África e na América do Sul, mas diz que a maioria, cerca de 500 milhões de pessoas, vive na Ásia. O relatório analisa os principais eventos climáticos que acirram a questão alimentar. Usando o indicador de prevalência de subnutrição (PdS – fração da população abaixo do nível mínimo de consumo de dietético de energia), a FAO indica que “a exposição dos países à variabilidade climática e seus extremos também está aumentando. Em 2017, a média do PdS de países com alta exposição a choques climáticos era 3,2 pontos percentuais maior do que naqueles de baixa exposição. Ainda mais importante é que, em países com alta exposição, o número de subnutridos dobrou quando comparado com o de países de baixa ou nenhuma exposição.”

http://www.fao.org/state-of-food-security-nutrition/en/

http://www.fao.org/3/I9553EN/i9553en.pdf

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/11/global-hunger-levels-rising-due-to-extreme-weather-un-warns

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/09/conflitos-e-mudanca-climatica-aumentaram-a-fome-no-mundo-diz-onu.shtml

 

OS PLANOS INGLESES PARA OS VEÍCULOS ELÉTRICOS E OS PLANOS EUROPEUS PARA A DESFOSSILIZAÇÃO DO TRANSPORTE

O governo britânico anunciou hoje seus planos para tornar o país um líder mundial em tecnologias veiculares de baixa emissão. A Primeira Ministra, Theresa May, disse que investirá mais de £ 100 milhões em pesquisa e desenvolvimento de veículos elétricos e baterias. No mesmo evento, a primeira Cúpula de Veículos de Emissão Zero, que reuniu outros 11 países, a indústria também anunciou investimentos de £ 500 milhões no setor e a criação de mais de mil empregos. Para compensar, o CEO da Jaguar avisou que uma negociação ruim no Brexit poderia custar dezenas de milhares de empregos na indústria automotiva e colocar a Jaguar em sérios apuros. As montadoras empregam 850.000 pessoas no Reino Unido.

Do outro lado do Canal, legisladores da União Europeia se posicionaram para aumentar a ambição da meta de redução de emissões veiculares. Na primeira versão, eles se comprometiam a reduzir 30% das emissões até 2030. A versão a ser submetida aos países e ao Parlamento Europeu quer cortar 45% da emissões com uma meta intermediária de 20% até 2025. Na versão anterior, esse corte era de 15%. Já se antevê um processo lento e difícil para conseguir aprovar esse aumento de ambição.

https://www.gov.uk/government/news/pm-unveils-plans-for-uk-to-become-world-leader-in-low-emission-tech

https://uk.reuters.com/article/us-britain-eu-jaguar/wrong-brexit-will-cost-tens-of-thousands-of-car-jobs-warns-jaguar-boss-idUKKCN1LR1KM

https://www.reuters.com/article/us-eu-auto-emissions/eu-lawmakers-back-45-percent-co2-cut-for-cars-vans-by-2030-idUSKCN1LQ2F5

 

DESINVESTIMENTO DE FUNDOS EM FÓSSEIS JÁ PASSA DE US$ 6 TRILHÕES

Muitos dos principais fundos de investimento e seguradoras estão se retirando do mundos dos fósseis e levando junto seus mais de US$ 6 trilhões. Só as seguradoras desinvestirão US$ 3 bi. A Irlanda foi o primeiro, e até agora único, país a adotar essa linha. Jeremy Grantham, fundador de uma das mais influentes empresas de gestão de ativos, falou que “investidores com horizontes de longo prazo devem evitar ações de petróleo por motivos puramente financeiros. Eles vão enfrentar um vento contrário cada vez mais forte. Argumentos éticos para desinvestir simplesmente não são necessários. São só a cereja do bolo”. Há pouco tempo, a Shell avisou que o movimento de desinvestimento era um risco sério ao seu negócio.

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/10/fossil-fuel-divestment-funds-rise-to-6tn

 

ENTRE AS ALTERNATIVAS PARA CAPTURA DE CO2 DA ATMOSFERA, AS FLORESTAS SÃO O QUE HÁ DE MELHOR

Um trabalho publicado na Nature afirma com todas as letras que, para remover dióxido de carbono da atmosfera e, portanto, para ajudar com o estancamento do aquecimento global, as florestas são muito mais eficientes do que alternativas como a produção de biocombustíveis com captura e armazenamento de carbono, o grupo de tecnologias chamado de BECCS. Os autores definiram duas regras:

1) Não gere eletricidade com biocombustíveis feitos a partir de lavouras, de árvores ou de grama. E não gaste mais verbas tentando capturar as emissões de dióxido de carbono, liquefazê-las e enterrá-las no fundo da terra. Para estancar o aquecimento global, seriam necessários entre 400 e 700 milhões de hectares de plantações. Para se ter uma ideia da grandeza deste número, o Brasil tem 850 milhões de hectares. Outra comparação: a área corresponde à metade do que se estima ser necessário para alimentar a humanidade.

2) Preserve e restaure as florestas do mundo. Elas sabem remover o dióxido de carbono da atmosfera e armazená-lo na forma de raízes, tronco e galhos. Uma floresta intacta é ainda mais eficaz.

Os autores acrescentam que trocar florestas por plantações numa escala global aumentaria ainda mais a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e faria a temperatura subir ainda mais.

https://www.nature.com/articles/s41467-018-05340-z

 

Para ir

EXPOSIÇÃO DE VEÍCULOS ELÉTRICOS COM TESTES ABERTOS AO PÚBLICO

O evento “Veículo Elétrico Latino-Americano” terá desde exposições até testes de drones, diciclos, bikes, patinetes e carros. O evento visa fomentar a mobilidade elétrica. Serão disponibilizados testes drive com modelos das Toyota, Lexus, Volvo, BYD e Renault.
De 17 a 19 de setembro de 2018, no Transamérica Expo Center, em São Paulo.
https://www.segs.com.br/veiculos/133205-sao-paulo-recebe-exposicao-de-veiculos-eletricos-com-diferentes-testes-para-o-publico

 

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