ClimaInfo, 4 de outubro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

BOLSONARO PROMETE (OUTRA VEZ) ACABAR COM O MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Bolsonaro prometeu mais uma vez colocar a pasta do meio ambiente debaixo do ministério da agricultura. Na conversa com a presidente da bancada ruralista, ele disse: “considero-me um agregado à classe produtora do Brasil. Sabemos das dificuldades. Os problemas, em grande parte, extinguiremos, fundindo os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente”. A bancada ruralista, aka Frente Parlamentar da Agropecuária, declarou seu apoio a Bolsonaro. Segundo Tereza Cristina, a presidente da Frente, ela conta com 227 deputados federais e 27 senadores. Boa parte destes senhores e senhoras fazem parte do famigerado “centrão” que se dizia apoiando Alckmin. O desembarque mostra a coerência dos congressistas, sempre se bandeando para quem lidera: já foram FHC, Lula e Dilma, Alckmin e, na última semana antes das eleições de 2018, Bolsonaro.

Qualquer comparação com ratos denota um preconceito em relação aos pequenos mamíferos.

https://www.poder360.com.br/eleicoes/bolsonaro-recebe-apoio-do-setor-agropecuario-e-fala-em-fundir-ministerios/

 

A AGENDA CLIMÁTICA À ESPERA DO NOVO PRESIDENTE

Um artigo “otimista” de Paloma Oliveto, publicado no Correio Braziliense, chama o(a) novo(a) presidente(a) a assumir os desafios colocados pelo cumprimento do prometido pelo país junto ao Acordo de Paris, e a avançar planos de descarbonização da economia no longo prazo, compatíveis com a meta de limitação do aquecimento global em 1,5oC. O artigo traz uma visão panorâmica da abordagem do desafio climático presente (ou não) nos programas dos candidatos. Oliveto conversou com Carlos Rittl, do Observatório do Clima, e Raquel Biderman, do WRI, que criticaram as declarações e o programa de Bolsonaro. Para Raquel, “combater a mudança climática não é uma escolha. Não se trata de uma questão de ambientalistas, mas da sobrevivência da economia. Retirar o país da plataforma é suicídio”.

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/10/03/interna-brasil,709779/o-desafio-de-mostrar-as-contribuicoes-do-brasil-com-a-agenda-do-clima.shtml

 

SETOR ELÉTRICO SEM ÁGUA, MAIS CARO E COM MAIS EMISSÕES

O ministério de minas e energia está preocupado com a estiagem que pode se estender e reduzir o nível dos reservatórios das grandes hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste para além da média histórica. As simulações feitas pelo Operador Nacional do Sistema indicam que, num cenário com menos chuvas, o nível de armazenamento cairia para 12,2% no final de novembro. Mesmo em um cenário com um pouco mais de chuvas, o nível cairia para 14,6%. Hoje, ele está por volta de 22%. O pior nível de armazenamento para novembro nos últimos 20 anos aconteceu em 2014, quando o nível chegou a 15,8%.

Como consequência, o MME está propondo ligar térmicas que não têm toda sua energia já contratada. O ministério está pensando especificamente numa térmica instalada em Fortaleza que teve seu fornecimento de gás cortado pela Petrobras porque o preço do gás no contrato está baixo demais. O remédio, claro, vai ser aumentar a tarifa de todo mundo para bancar a diferença. Lembrando que queimar gás natural emite mais gás de efeito estufa.

https://www.valor.com.br/brasil/5897623/ministerio-demonstra-preocupacao-com-abastecimento-de-energia-neste-ano

https://www.valor.com.br/brasil/5900433/mme-propoe-uso-de-termicas-sem-contrato-para-elevar-oferta-de-energia

 

PROJETO DE LEI EM TRAMITAÇÃO NA CÂMARA DIFICULTA A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Um projeto de lei de 2015 e que segue tramitando cria uma barreira importante para a criação de futuras unidades de conservação. O PL estabelece um prazo de cinco anos para concluir todos os processos de desapropriação e indenização dos proprietários. Caso isso não ocorra, o decreto de criação da UC é revogado. Um estudo da UFMG dá conta que existem, hoje, quase 100 UCs com problemas de regularização fundiária. Se o PL tiver alcance retroativo, 17 milhões de hectares deixariam de ser protegidos, uma área quatro vezes maior que a do estado do Rio de Janeiro. Numa época de judicialização exacerbada com a atual, qualquer proprietário que conteste um decreto de criação pode protelar a desapropriação para além dos cinco anos, inviabilizando na prática o ato de criação. Nesse caso, o que acontece com as indenizações já pagas? A propriedade passa para o Estado ou é devolvida ao antigo proprietário? E, nesse caso, ele devolve o dinheiro para o Estado?

http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD0020151209002130000.PDF#page=243

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-10/estudo-mostra-riscos-de-pl-sobre-criacao-de-unidades-de-conservacao

 

OS EUA QUEREM UM RELATÓRIO 1,5oC FRACO E DESDENTADO

Nesta semana, na qual o IPCC fecha seu Relatório Especial 1,5oC, vazou uma parte do documento que define as contribuições dos EUA de Trump. Seguindo a atual agenda do país, o documento coloca em dúvida os modelos climáticos e afirma que o custo da limitação do aquecimento é tão alto que restringiria o crescimento da economia mundial. O documento ainda advoga pelo avanço de tecnologias de captura e armazenamento de carbono e de geoengenharia. Com esta mixórdia de negação com alta tecnologia, teme-se que os EUA forcem o relatório a sair aguado, ou “sem dentes”.

Em tempo: o Relatório 1,5oC deve indicar o que o mundo precisa fazer para limitar o aquecimento global em 1,5oC acima dos níveis pré-industriais até o final deste século. Também deve comparar os impactos sociais, ambientais e econômicos de cenários de aquecimento global de 1,5oC, 2oC e acima de 3oC.

http://www.climatechangenews.com/2018/10/02/leaked-us-critique-climate-report-sets-stage-political-showdown-korea/

 

A EUROPA NÃO AUMENTA SUA AMBIÇÃO CLIMÁTICA EM MEIO ÀS PRESSÕES ALEMÃS

A Comissão Europeia não acatou as sugestões que andaram saindo na imprensa e abandonou os planos de aumento da ambição de suas metas climáticas e de compromisso com uma redução de 45% das emissões da região até 2030. Curioso que a executiva da Comissão disse que esta meta nunca esteve na mesa de discussões. Por trás do recuo parece estar o governo alemão, que tem evitado se posicionar em relação a propostas de fixação de datas para o fim da queima de carvão. O governo alemão tem sido pressionado pela indústria automotiva, pela indústria do carvão e por grandes corporações energéticas. Ambos os setores dizem que estão em risco centenas de milhares de empregos. Numa demonstração clara da guinada do governo Merkel, seu ministro da energia apoiou a RWE numa recente batalha campal contra ambientalistas que queriam impedir que uma área florestal virasse uma mina de carvão a céu aberto. A floresta começa a ser destruída na semana que vem. A RWE, junto com a E-On, são as duas maiores corporações energéticas da Alemanha.

https://www.euractiv.com/section/climate-environment/news/european-commission-to-abandon-plans-for-rising-climate-ambition/

https://unearthed.greenpeace.org/2018/10/03/how-germany-quietly-turned-against-action-on-climate-change/

 

MUDANÇA CLIMÁTICA MUDA OS CÁLCULOS DAS SEGURADORAS

Os incêndios florestais dos últimos dois anos na Califórnia e na Europa pegaram as seguradoras de surpresa. Os complicados cálculos atuariais usados para definir os prêmios não avaliaram corretamente a extensão e a duração dos incêndios. E este é um exemplo dos desafios que as seguradoras estão precisando enfrentar, agora que as famosas médias históricas deixaram de ser um território seguro. Um artigo do Wall Street Journal conta que “os efeitos do lento aquecimento do planeta são difusos. As previsões dos efeitos são imprecisas e os fatores que as impulsionam são objeto de discussão. Mas diante de um futuro no qual o planeta vai se aquecendo, o mundo dos negócios e das finanças está começando a colocar um preço na mudança do clima”. Se há tempos as ultraconservadoras seguradoras punham as barbas de molho quando ouviam falar do clima, agora o tema saiu das mesas das diretorias direto para as mesas dos modeleiros e atuários.

https://www.wsj.com/graphics/climate-change-forcing-insurance-industry-recalculate

 

CORPORAÇÃO JAPONESA OFERECE ENERGIA DE GRAÇA APÓS 25 ANOS DE CONTRATO

A SoftBank, multinacional japonesa na área de telecomunicações, internet e energia, está propondo um contrato surpreendente para os países membros da ISA (sigla em inglês da Aliança Solar Internacional). Ela oferece energia de graça a partir do 26o ano do contrato. O contrato leva em conta a vida média dos projetos solares de 80 anos. Tecnicamente, o rendimento de uma planta solar cai para 85% nos primeiros cinco anos, mas, depois disso, se estabiliza neste patamar até o fim de sua vida útil. 66 países assinaram a adesão à ISA, inclusive o Brasil, mas, por enquanto, 40 ratificaram a Aliança. O Brasil ainda não.

https://www.livemint.com/Companies/QeOVpRjHgfjd1rvVmCecwI/Sun-offers-free-solar-power-after-25year-contracts-end.html

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-10-02/saudi-fund-denies-report-that-softbank-solar-project-is-on-hold

 

A POLÔNIA A PASSOS LENTOS PARA SE LIVRAR DO CARVÃO

A indústria do carvão na Polônia já conheceu dias melhores e já foi a mais importante do país. Mesmo assim, as minas seguem empregando quase 100 mil mineiros, e o carvão segue respondendo por 70% da geração de eletricidade. E o setor carrega o peso da tradição. Assim, as resistências ao abandono do fóssil farão do processo uma coisa lenta e dolorida. Nesta semana, o governo polonês anunciou um plano para esta transição e estabeleceu como meta que, em 2040, no máximo, metade da eletricidade será gerada a partir do carvão. A produção de carvão permanecerá constante ao longo deste período e o crescimento da demanda de eletricidade será suprido por outras fontes. Hoje, a Polônia e a Alemanha respondem por metade das emissões vindas da queima de carvão.

Em tempo: a Conferência do Clima deste ano acontecerá em Katowice, no coração carvoeiro polonês.

https://uk.reuters.com/article/us-poland-energy/polands-power-from-coal-seen-down-at-50-percent-by-2040-government-official-idUKKCN1MC2FM

 

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