Novo no ClimaInfo
SUMÁRIO DO RELATÓRIO 1,5oC DO IPCC SUBESTIMA A AMEAÇA, DIZEM PESQUISADORES
Vários cientistas que participaram da elaboração do relatório 1,5oC do IPCC avaliam que a versão final do Sumário para Formuladores de Políticas saiu mais fraca do que deveria ser depois do processo de aprovação que, como sempre, passou por negociações entre cientistas e representantes dos países membros da Convenção Clima. Há críticas que partem da interpretação dos “níveis pré-industriais” e, também, críticas quanto aos custos estimados para a estabilização da temperatura abaixo de 1,5oC, entre outras.
http://climainfo.org.br/2018/10/24/relatorio-15oc-subestima-ameaca
BOLSONARO FAZ QUESTÃO DE MOSTRAR QUE NÃO LEU O ACORDO DE PARIS
Ontem à tarde, Bolsonaro disse à imprensa mais uma vez que o Acordo de Paris pode ameaçar a soberania do Brasil sobre a Amazônia: “O triplo A está em jogo. É uma grande faixa que pega a Amazônia e vai até o Atlântico, que estaria não mais sob a nossa jurisdição, mas sob a jurisdição de outro país, como sendo ela essencial para a sobrevivência da humanidade. Nesse acordo de Paris, nós poderíamos correr o risco de abrir mão da nossa Amazônia?”.
Alguém, por favor, pode dizer ao capitão-afastado-agora-candidato que o Acordo de Paris reforça o instituto da soberania das nações, ao delegar a cada uma o estabelecimento de suas metas de emissão? E que a ideia do triplo A não tem a menor ligação com as negociações do clima, e menos ainda com o Acordo de Paris? Estas informações podem fazer o candidato cair na real. A menos que ele esteja em busca de realidades paralelas para atiçar sua torcida.
Em tempo: na mesma entrevista o candidato disse o seguinte: “Vamos botar no papel que não está em jogo o triplo A nem a independência de nenhuma terra indígena que eu mantenho o Acordo de Paris”.
Em tempo 2: se você não tem ideia do que é o Triplo A, tem uma boa explicação da ideia no último link desta nota.
RICUPERO, XICO GRAZIANO, BOLSONARO E O MEIO AMBIENTE
O ex-ministro Rubens Ricupero e o ex-secretário de meio ambiente de São Paulo, Xico Graziano, foram entrevistados pelo Valor. O primeiro se declara contra Bolsonaro e o segundo, acha que ele a única solução para o país. Com o perdão de um possível trocadilho, Ricupero recupera um pouco da nossa história: “(Ele) vai tornar o Brasil um pária. Vai tornar o Brasil um país considerado fora das normas de civilização. É como se tivéssemos uma involução no processo civilizacional, um país que volta à barbárie. E não concordo quando dizem que as ideias dele significam um retrocesso ao regime militar. Os militares não tinham consciência ambiental muito desenvolvida, mas o Brasil foi evoluindo. O primeiro ato de criação de uma entidade ambiental autônoma no Brasil, que foi a Secretaria Especial de Meio Ambiente, foi em 1973 (durante a ditadura). A Política Nacional do Meio Ambiente é do final do governo militar, a lei de Proteção à Fauna é de 1967. Não se trata de um retrocesso ao governo militar. É um retrocesso à Idade da Pedra, no sentido que é um retrocesso à Pré-História do meio ambiente”. Ricupero continua: “sair do Acordo será um erro cataclísmico. O Acordo de Paris foi assinado por 197 países. Retirar-se dele, hoje em dia, é um ato de querer desembarcar do mundo.”
Já Graziano, como muitos eleitores do capitão-afastado, esbanja otimismo dizendo que candidatos, inclusive ele, “têm que fazer uma campanha, no início, de uma forma, depois vão terminar de outra e vão governar de outra. Na hora em que virar presidente da República é óbvio que ele deve mudar aquilo que pregava para o seu público para se viabilizar como candidato e vai tentar ser um líder da nação… Se der tudo errado, deu. Não acho que dará.”
O que na fala de Xico começa com uma convicção, termina com um “se”, e um tremendo “acho”.
https://www.valor.com.br/politica/5947587/ideario-ambiental-do-psl-divide-especialistas
https://oglobo.globo.com/opiniao/meio-ambiente-nao-questao-secundaria-23182401
SOBRE O APOIO A BOLSONARO EM RONDÔNIA
Don Phillips, jornalista do The Guardian, foi a Porto Velho e perguntou sobre as eleições a muita gente. Uma frase da matéria resume a situação: “madeireiros, garimpeiros ilegais de ouro e grileiros em uma reserva protegida, todos disseram ao Guardian que votarão em Bolsonaro porque acreditam que ele tornará suas vidas mais fáceis”. Phillips conta de gente que acha que o “meio ambiente não pode deter o desenvolvimento”. E, claro, gente que acha que o aquecimento global é ideológico e não pode ser usado para deter o progresso. É interessante observar que, ao mesmo tempo, as pessoas dizem que a região está ficando mais quente e com menos chuvas. Não é difícil imaginar que, daqui a algum tempo, com mais desmatamento, mais calor e menos chuvas, a população da região lutará por subsídios para enfrentar as dificuldades que, hoje, está plantando.
https://www.theguardian.com/world/2018/oct/24/bolsonaro-backers-wage-war-on-the-rainforest
IBAMA E ICMBIO TÊM AGORA PROTEÇÃO DA FORÇA NACIONAL
No começo da semana, fiscais do ICMBio foram ameaçados durante uma operação na BR-163 e não puderam contar com o apoio costumeiro da Polícia Militar do estado. Em face das ameaças e riscos, o comando da PM decidiu não expor seu pessoal e ninguém acompanhou os fiscais. Ontem, soube-se que o governo federal colocou a Força Nacional para acompanhar os fiscais. Teme-se o que pode acontecer se e quando Bolsonaro assumir o poder. Retirar a proteção é a mais simples das decisões e compromete a já frágil fiscalização feita contra a grilagem, os garimpos ilegais e a extração, também ilegal, de madeira.
OS ABACAXIS DA ENERGIA ELÉTRICA PARA O PRÓXIMO GOVERNO
O ministro da energia, Moreira Franco, falou sobre os “quatro nós”, ou melhor, abacaxis, que deixará em cima da mesa para o futuro governo. O primeiro é que o setor elétrico já não sabe prever quanta água terá nos reservatórios ao longo do ano e, para cobrir a falta d’água, tem que ligar as térmicas mais caras. Foi necessário criar as tais bandeiras. O projeto de lei de reforma do setor elétrico, feito para acertar a mão, está caminhando muito lentamente dentro do congresso. O governo, enfraquecido pelas denúncias contra Temer, não teve cacife para aprovar o projeto. Recentemente, foi contratado um consórcio para refazer os modelos matemáticos de reserva d’água. Outro labirinto é o emaranhado de subsídios, isenções e incentivos que está escondido dentro da conta de luz de cada consumidor. Embutida nas contas, tem desde tarifas sociais que beneficiam a parcela mais pobre do país até um apoio ao setor de carvão mineral do Sul. Desfazer esse emaranhado mexerá com muitos e variados interesses, o que dificulta qualquer trâmite no congresso. O terceiro enrosco é a ameaça de regionalização do setor. Esta iniciativa deste final de governo Temer bate de frente com a espinha dorsal do sistema elétrico integrado nacional, a interligação de todo o país. Passar de leilões regionais a contratos emergenciais com dispensa de concorrências é um passo bem conhecido e muito prejudicial para o país e os consumidores. A quarta bomba só estourará em 2023, mas o dano poderá ser enorme se não desarmada em tempo. Naquele ano, o Tratado de Itaipu completará 50 anos e a parte que trata dos royalties que a binacional paga aos dois países precisará ser renegociada. O Brasil precisa sentar com o Paraguai para acertar valores e, depois, reexaminar se as receitas dos royalties seguirão sendo distribuídas como agora, ou se constrói-se outro modelo.
PETRÓLEO CARO AUMENTA VENDA DE ETANOL
O preço do barril de petróleo, que era de menos de US$ 60 há um ano, chegou a encostar em US$ 85 e, ontem, estava cotado a US$ 75. O preço da gasolina no mercado internacional segue bem de perto as oscilações do petróleo. Junte a isso, uma pitada de baixa do açúcar no mercado internacional e, como resultado, o etanol hidratado reina. A produção de etanol hidratado, o que é vendido nos postos, subiu quase 50% em relação à safra passada. Em compensação, caíram as vendas de etanol anidro, o que é misturado à gasolina. Interessante que o badalado programa Renovabio fixou metas de redução de intensidade de emissões e, para definir sua curva de metas anuais, projetou o consumo de etanol hidratado e anidro. Se o preço do petróleo continuar alto até o final desta safra, e as vendas do hidratado continuarem altas, as metas para o ano que vem já terão sido cumpridas antes mesmo do início da safra 2019-20.
https://www.valor.com.br/agro/5946251/usinas-ampliam-vendas-de-etanol-hidratado
NOVA YORK ABRE PROCESSO CONTRA A EXXON POR ENGANO A ACIONISTAS
O promotor geral do estado de Nova York abriu um processo contra a ExxonMobil por entender que ela “forneceu garantias falsas e enganadoras de que está efetivamente gerenciando os riscos econômicos ao seu negócio pelas políticas e regulações cada vez mais rigorosas que espera que os governos adotem para enfrentar as mudanças climáticas.” Este processo é o resultado de 3 anos de litígios buscando que a empresa abra seus registros a respeito do tema. O processo não deve afetar as finanças da petroleira, mas, sim, provocar um dano quase irreparável à sua reputação. Além de abrir o caminho para que outras petroleiras comecem a ser processadas por seus acionistas no mundo todo.
https://www.nytimes.com/2018/10/24/climate/exxon-lawsuit-climate-change.html
REDUÇÃO DE EMISSÃO DE NAVIOS NAVEGA DEVAGAR
Uma das maneiras mais simples de se reduzir as emissões da navegação mundial é a redução da velocidade dos navios. Numa reunião realizada nesta semana, Brasil, Arábia Saudita e Chile brecaram a iniciativa dizendo que seriam prejudicados e que o foco deveria recair sobre a melhoria de eficiência das embarcações. Mas melhorias significativas só podem ser feitas em novos navios. Enquanto estes não chegam, grande parte da frota mundial continuará a poluir os mares e os ares. Na grande reunião realizada em maio, a posição brasileira foi fortemente influenciada pela Vale. A empresa teme que o minério de ferro que exporta para a China perca competitividade se o preço do frete aumentar ou se os navios levarem mais tempo para chegar aos seus destinos. O clima, ora, o clima…
https://mobile.twitter.com/IMOclimate/status/1055128877096488960
O PODEROSO RIO RENO COM POUCA ÁGUA
O Reno é palco de muitos dos mitos medievais usados por Wagner em suas grandes óperas. O rio também foi fundamental para a revolução industrial alemã, ligando a poderosa siderurgia com suas matérias primas e mercados consumidores. Esta mesma revolução industrial acabou levando ao aquecimento global e às mudanças climáticas, de modo que, hoje, o rio sofre com uma crise de água recorde. O rio ainda é uma importante via de transporte de carga entre as cidades do oeste alemão e do norte da Suíça. Os barcos maiores pararam e os mais leves tiveram que reduzir a carga que transportam. No ano passado, foram transportadas 185 milhões de toneladas entre a Basiléia, na Suíça, e a fronteira entre a Alemanha e a Holanda. Indústrias importantes como a Basf e a Thyssenkrupp tiveram que reduzir sua produção por falta de matéria prima. A falta d’água é fruto da combinação das ondas de calor que assolaram a Europa em julho e agosto com a pouca chuva que caiu durante este ano.
Para guardar a data
LANÇAMENTO DO SEEG 6
O Observatório do Clima lançará os novos dados sobre as emissões de gases de efeito estufa do Brasil em novembro. Os números se referem ao ano de 2017 e integram a sexta estimativa do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), que também trará novidades sobre o cálculo de emissões por desmatamento.
Dia 21 de novembro, no auditório do Museu Catavento, no Palácio das Indústrias, Avenida Mercúrio, Parque Dom Pedro II, s/n, Brás, São Paulo.
Assim que as informações forem divulgadas, colocaremos aqui a programação e o link para inscrições, que devem aparecer no link dessa nota.
Para ler e ver
O IMPACTO DA MUDANÇA CLIMÁTICA EM REPORTAGENS E FOTOS
Durante seis meses, fotógrafos do Straits Times, de Cingapura, viajaram para registrar os impactos da mudança do clima na vida de pessoas e nos lugares. A série de seis matérias sai a cada domingo. A primeira é sobre os recifes de corais. Vale ver e acompanhar.
https://graphics.straitstimes.com/STI/STIMEDIA/Interactives/2018/10/ST-climate-of-change/index.html
Para ler
NEGATIVE EMISSIONS TECHNOLOGIES AND RELIABLE SEQUESTRATION (Tecnologias de emissão negativa e sequestro confiável de carbono)
Um compêndio de 370 páginas sobre o estado do desenvolvimento de tecnologias para a remoção de dióxido de carbono da atmosfera (emissões negativas) e sobre onde guardá-lo para que não volte a ser liberado. O trabalho de compilação foi feito por um comitê das Academias Nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina dos EUA (NAS), durou um ano, e propõe aprofundar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de emissões negativas que (1) usem processos biológicos para aumentar os estoques de carbono em solos, florestas e terras úmidas; (2) produzam energia com a biomassa e capturem e armazenem as emissões de CO2; (3) usem processos químicos para capturar CO2 diretamente do ar e armazená-lo em reservatórios geológicos; e (4) incrementem processos geológicos de captura de CO2 da atmosfera e que o encerre em rochas. O líder do comitê, Steve Pacala, da Universidade de Princeton, entende que o desafio é tamanho que “o momento tem que ser agora”. O relatório pode ser baixado do primeiro link abaixo.
http://nas-sites.org/dels/studies/cdr/
https://www.nytimes.com/2018/10/24/climate/global-warming-carbon-removal.html
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