ClimaInfo, 6 de novembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

Novo no CimaInfo

INFORMAÇÃO BÁSICA SOBRE AGROPECUÁRIA E MUDANÇA DO CLIMA

O ClimaInfo começa uma nova série de matérias com informações básicas sobre as relações de alguns setores da economia com o aquecimento global e as mudanças climáticas. A primeira matéria da série aborda a agropecuária. O setor é uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa no Brasil. No mundo, o cenário é diferente, as emissões mais importantes vêm da queima de combustíveis fósseis, mas as emissões globais do setor agropecuário global estão aumentando e são de difícil redução.

http://climainfo.org.br/2018/11/05/agropecuaria-e-mudanca-do-clima/

 

DESASTRE DE MARIANA: TRÊS ANOS SE VÃO E AINDA HÁ MUITAS PENDÊNCIAS

Ontem, o desastre de Mariana que se abateu sobre a bacia do Rio Doce completou três anos, com muita coisa ainda a ser feita e reparada. Por exemplo, a investigação sobre como a Samarco conseguiu as licenças ambientais para as represas que desabaram ainda não tem resultados. As matérias publicadas ontem mostram que ainda há muita insatisfação com o ritmo das indenizações e dos programas de recuperação do Rio Doce. A Fundação Renova, constituída pelas três mineradoras, diz que os trabalhos estão sendo mais lentos do que o esperado por conta do grau de informalidade da economia da região, o que, para a Renova, dificulta a comprovação de perdas e outras alegações. No meio do ano, as mineradoras concordaram em mudar a governança dos trabalhos e assinaram um compromisso “que incorpora a participação dos atingidos em todas as instâncias dos processos de tomada de decisão, aprimorando o modelo de construção coletiva de soluções”. O desastre ambiental mais caro da história ainda terá muitos capítulos antes de virar apenas história.

Ainda ontem, o deputado Evandro Gussi escreveu um artigo defendendo o licenciamento ambiental autodeclaratório, mencionando um caso europeu: “De forma bem sucinta: na França, o empreendedor tem enorme responsabilidade sobre o projeto. Lá, as regras são claras e ele indica se as está cumprindo. Caso haja fraude, as penas serão duríssimas, especialmente o embargo do projeto”.

Pois é, aqui o Ibama não consegue nem que as multas sejam pagas. Neste ambiente jurídico que permite protelar sentenças até sua prescrição, “penas duríssimas” têm o peso das penas de passarinho.

https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2018/11/05/tres-anos-depois-situacao-do-rio-doce-e-incerta-e-samarco-tem-previsao-de-volta-so-em-2020.ghtml

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/11/tres-anos-apos-mariana-apuracao-do-governo-de-mg-fica-sem-conclusao.shtml

https://www.fundacaorenova.org/

https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/fusao-de-agricultura-com-meio-ambiente-deve-servir-para-simplificar-regras/

 

DESMATAR PARA ABRIR PASTOS E FORJAR DOCUMENTOS PARA VENDER A CARNE

Uma matéria investigativa publicada n’O Eco mostra que, na região de Boca do Acre, AM, a pecuária está por trás do desmatamento. O principal destino dos animais é o Frizam/Agropam, o único frigorífico de Boca do Acre que tem Serviço de Inspeção Federal (SIF). O Ibama procura identificar a origem dos animais e embarga as fazendas que desmatam para abrir pastos. Por lei, o frigorífico não pode negociar com fazendas embargadas. Três fazendas do dono do frigorífico estão embargadas. Segundo o Ibama, Boca do Acre tem 374 áreas embargadas, num total de mais de 4 mil hectares. Na vizinha Lábrea, são 716 propriedades embargadas que ocupam mais de 27 mil hectares. A matéria d’O Eco conta que os fazendeiros forjam documentos nos quais consta que os animais vieram de áreas sem impedimentos. E o Ibama não tem braço, perna e recursos para fiscalizar essa situação. “Não temos gente suficiente para fiscalizar nem as áreas que estão sendo desmatadas agora, imagina as que foram embargadas”, disse José Alberto Rodrigues, analista ambiental do Ibama.

Imaginem o que acontecerá com a floresta caso Bolsonaro cumpra o desejo de anexar o ministério do meio ambiente ao da agricultura.

https://www.oeco.org.br/reportagens/circulo-fechado-desmatamento-criacao-de-gado-e-abate-pelas-mesmas-maos/

 

MPF PEDE A SUSPENSÃO DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE PCHS EM AFLUENTE DO TAPAJÓS

O Complexo Hidrelétrico do Cupari, afluente do Tapajós, prevê a construção de oito pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). O Ministério Público Federal (MPF) pediu à justiça que o processo de licenciamento ambiental seja suspenso porque os donos do projeto não comprovaram a realização da consulta prévia, livre e informada às comunidades tradicionais que serão afetadas pelas obras.

Este é mais um exemplo de um processo de licenciamento que demorará porque o projeto não cumpre com as mínimas exigências legais. Afinal, quanto custa fazer direito? Certamente menos do que o prejuízo acumulado com atrasos e compensações.

http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/mpf-pede-suspensao-da-licenca-ambiental-do-complexo-hidreletrico-do-cupari-afluente-do-tapajos-pa

 

FERROVIAS PATINAM POR SOBERBA AMBIENTAL E FINANCEIRA

A Vale recebeu um parecer contrário à renovação das concessões das ferrovias Carajás e Vitória-Minas, vitais para seu negócio. Técnicos do Ministério da Fazenda apontam que, em troca das renovações, a Vale se responsabilizaria pela construção de um trecho de quase 400 km da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO). Só que, nas planilhas enviadas para a Fazenda, o pessoal da Vale apresentou preços de materiais e serviço e taxas de desconto fora do mercado. Mais, a empresa contabilizou obras já realizadas como investimento futuro. A matéria do Valor diz que os técnicos entendem que “seria melhor deixar que a Vale, ao fim da concessão, indenize o governo e que os recursos sejam direcionados pelo governo para subsidiar os investimentos de quem vencer uma futura a licitação da Fico”. E, além disso, “como a Vale não operará essa ferrovia, os riscos são de uma obra mal feita e que não atrairia interesse de operadores, temerosos da necessidade de fazer gastos novos”.

Mudando para a Ferrogrão, ferrovia projetada para ligar a região de produção de soja do norte do Mato Grosso com Itaituba, no baixo Tapajós, um juiz federal do Pará mandou parar as tratativas por considerar “temerária a continuidade do processo para concessão, diante da possibilidade concreta de que o ‘diagnóstico ambiental’, na forma em que se encontra, sirva de base para outros estudos ou para o próprio licenciamento ambiental, contaminando todo o processo com seus vícios de conteúdo.”

A soberba é comum aos dois casos: a da Vale, ao querer levar vantagem sobre a União, e da Ferrogrão, achando que, por ser menina dos olhos de sojeiros e traders, pode ignorar o regramento ambiental.

https://www.valor.com.br/brasil/5967413/fazenda-da-pareceres-contrarios-renovacao-de-ferrovias-da-vale

http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/justica-paralisa-concessao-da-ferrograo-por-insuficiencia-de-estudos-socioambientais

 

O QUE SE FALA DE BOLSONARO NA CHINA

Como usual quando se trata de eleições em países democráticos, a China se coloca como observadora das eleições. A maior parte da cobertura é bastante descritiva, mas ressalta um quadro de incerteza e uma preocupação com o que pode ser a política de Bolsonaro para a China. Alguns jornais chamam atenção para suas políticas ambientais e climáticas.

http://www.xinhuanet.com/world/2018-10/08/c_1123525469.htm

http://www.chinanews.com/gj/2018/10-29/8662251.shtml

http://www.sohu.com/a/273336475_468637

 

O QUE SE FALA DE BOLSONARO NA ÍNDIA

Embora não esteja claro o que Bolsonaro pensa sobre a Índia, espera-se por lá que sua política externa seja errática e inconsistente com a de seus predecessores. Analistas indianos preveem uma retirada informal do Brasil dos BRICS, o que seria um duro golpe para a Índia, já que o grupo é um componente crucial da estratégia global daquele país. Analistas também preveem uma administração possivelmente não cooperativa e intransigente, o que seria uma razão para evitar acordos bilaterais da Índia com o Brasil.

Além disso, repercutiu (negativamente) a possível mudança da embaixada brasileira para Jerusalém e, também, o uso do WhatsApp pela campanha de Bolsonaro. Não é para menos, já que a Índia tem milhões de usuários do aplicativo.

https://www.businessinsider.in/Jair-Bolsonaros-victoria-em-eliberacoes-do-Brasil-pode-ser-um-problema-de-BRICS-e-tudo-a-problema-para-India/articleshow/66429705.cms

https://indianexpress.com/article/explained/soon-at-brics-high-table-a-far-right-populist-brazil-president-jair-bolsonaro-5424346/

https://m.economictimes.com/news/international/world-news/taking-cue-from-trump-brazils-bolsonaro-to-move-israel-embassy/amp_articleshow/66470101.cms

https://qz.com/india/1445013/whatsapp-fake-news-helped-bolsonaro-win-brazil-is-india-next/

 

O QUE SE FALA DE BOLSONARO NOS EUA

Além do espanto usual, a cobertura da eleição de Bolsonaro nos EUA tem sido intensa, pessimista e focada na Amazônia, nos possíveis reflexos para o setor energético, para o agronegócio e, também, nas possíveis implicações para os negócios das empresas norte-americanas.

https://www.buzzfeednews.com/article/zahrahirji/jair-bolsonaro-brazil-climate-change https://www.scientificamerican.com/article/conservationists-worry-about-amazons-fate-after-bolsonaros-victory-in-brazil

https://www.axios.com/energy-stakes-brazils-hard-right-turn-jair-bolsonaro-b5da446b-0291-49b3-b7d6-14b2d0bc5131.html

https://www.buzzfeednews.com/article/zahrahirji/jair-bolsonaro-brazil-climate-change

 

O QUE SE FALA DE BOLSONARO NO CANADÁ

A rede CBC disse que Bolsonaro “é um direitista que se inclina para mercados mais abertos. Isso pode significar novas oportunidades para as empresas canadenses que desejam investir no país rico em recursos”. A repercussão da matéria foi extremamente negativa e levou um dos diretores da rede de comunicação a escrever um longo pedido de desculpas.

https://www.cbc.ca/news/world/brazil-canada-trade-bolsonaro-politics-foreign-policy-1.4878379

https://www.cbc.ca/news/editorsblog/brazil-editor-blog-1.4884651  

 

O QUE SE FALA DE BOLSONARO NA EUROPA

A vitória de Bolsonaro na mídia de Bruxelas faz um paralelo com o ressurgimento de forças de extrema-direita, antidemocráticas e antiestablishment em todo o mundo. Os jornais relacionam Bolsonaro com os recentes desenvolvimentos nas Alemanha, Itália, Hungria, Polônia, Suécia, Turquia, Brexit, etc., e fazem algumas poucas menções à Amazônia e à questão climática.

Nos países nórdicos e na Holanda, a questão amazônica e suas implicações para o clima do planeta receberam muita atenção, especialmente na mídia de centro-esquerda e de esquerda. A perspectiva “Trump dos Trópicos” é proeminente, e a ideia da transferência da embaixada para Jerusalém também chamou muita atenção.

https://www.politico.eu/newsletter/brussels-playbook/politico-brussels-playbook-presented-by-google-merkel-clings-on-stubb-in-weberland-brazil-veers-hard-right/

https://www.euractiv.com/section/global-europe/news/far-right-bolsonaro-rides-anti-corruption-rage-to-brazil-presidency/

https://www.euractiv.com/section/all/news/the-brief-no-pasaran/

 

RESULTADOS DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE EMISSÕES NEGATIVAS

A retirada de CO2 da atmosfera e sua estocagem em longo prazo ficou ainda mais importante depois do Relatório 1,5oC do IPCC, publicado em outubro. Na semana passada aconteceu uma conferência na Austrália para tratar do tema. As discussões mais importantes se deram em torno da oposição entre soluções naturais e as feitas pelo homem. Entre as primeiras, estão técnicas e estratégias para promover a captura de carbono em florestas, vegetação – terrestre e marinha – e no solo. Uma das ideias em moda, especialmente na Austrália, é promover o carbono azul (referência aos oceanos) em algas, manguezais e outras vegetações litorâneas e marinhas como as algas gigantes. Estas algas têm a vantagem de, ao remover CO2, reduzirem a acidificação dos mares. Quanto aos sistemas em terra firme, um dos temas mais conhecidos por aqui, mas que recebeu certo destaque, foram os sistemas agroflorestais como resolução para potenciais disputas pelo uso de um recurso cada vez mais limitado: terra para produção de alimentos ou para o combate ao aquecimento global.

Uma fala logo na abertura deu o mote à conferência. O professor John Hewson, ex-líder do conservador Partido Liberal da Austrália, disse que se sentia pessoalmente constrangido pelas ações do atual governo que depreciam a gravidade da questão climática e cravou que “se um governo não tem um plano de ação climático, ele abdica do direito de ser um governo”. Bom recado, esperamos que seja ouvido.

https://www.carbonbrief.org/negative-emissions-scientists-meet-in-australia-to-discuss-removing-co2-from-air

 

IDEIAS PARA A REDUÇÃO DAS EMISSÕES DO CIMENTO

O cimento é um dos produtos industriais mais usados no mundo. E também é, do ponto de vista climático, um dos mais poluentes. Estima-se que a cadeia toda do cimento responda por cerca de 5% das emissões antrópicas globais, a mesma ordem de grandeza de todas as emissões do Brasil. Um trabalho de pesquisadores suíços analisou o potencial de redução de emissões ao longo da cadeia de produção e o uso do cimento, mostrando que existe um potencial importante. Até agora, isto era tido como bastante desafiador, posto que na sua fabricação, quase metade das emissões são provenientes da reação de calcinação inerente à transformação do calcário em cimento, enquanto a outra metade vem da queima de combustíveis para gerar o calor necessário à reação. Ao invés de se fixar na fábrica, os pesquisadores apontaram que é possível reduzir em até 80% as emissões, adotando práticas e materiais que reduzem a necessidade de cimento na construção e incrementando a mistura do cimento com outros materiais sem perda de suas propriedades como ligante. O trabalho também indica que, para chegar ao ponto de zerar as emissões líquidas, será necessário empregar técnicas de captura e armazenagem de carbono. Coisa que ainda está longe de ser comercialmente viável.

https://www.euractiv.com/section/climate-environment/news/swiss-researchers-chart-path-to-zero-emission-cement

https://www.lesechos.fr/industrie-services/immobilier-btp/0600059951172-pour-les-cimentiers-europeens-la-neutralite-carbone-est-un-objectif-realiste-2218080.php

 

SEGUE EM FRENTE CONSTRUÇÃO DE PLANTA DE CARVÃO NO KOSOVO, APESAR DAS CRÍTICAS E APESAR DO BANCO MUNDIAL

O Kosovo tem a 5a maior reserva de lignito do mundo e continuará queimando-o para gerar eletricidade. Além das críticas ambientais, no mês passado, o Banco Mundial disse que não apoiaria a construção de uma nova térmica a carvão e, em compensação, daria todo o suporte para a construção de uma central fotovoltaica, uma eólica e um parque de baterias. O governo não topou. Valdrin Lluka, o Ministro do Desenvolvimento Econômico, disse que “não podemos nos dar ao luxo de fazer experiências desse tipo num país pobre como o Kosovo. É um risco enorme. É no interesse da segurança nacional garantir uma base segura de energia dentro do nosso território”. A isso, Learta Hollaj, do Instituto de Política do Desenvolvimento daquele país, contrapõe que “nós não deveríamos nos aprisionar a um futuro com lignito. Se incluir os custos com a saúde e o meio ambiente, então temos muitas razões para lutar contra tal projeto”.

https://www.reuters.com/article/us-kosovo-energy/kosovo-opts-for-coal-plant-despite-criticism-idUSKCN1N71LM

 

CALOR FORTE NA ÁFRICA PODE SER DEMAIS PARA A MOSCA TSÉ-TSÉ

A doença do sono já foi uma das mais mortais na África. Em 1990, ela foi a causa de quase 35 mil mortes. Em 2015, o número de mortes caiu para 3.500. Um trabalho recente indica que o aumento da temperatura nas últimas três décadas ajudou a reduzir o número de casos e que esse número deve cair ainda mais. O principal vetor do protozoário que provoca a doença é a mosca tsé-tsé, e o trabalho analisou sua população nos rebanhos de gado do Vale do Zambeze nos últimos 30 anos. Para um aumento de menos de 1oC, o número de moscas capturadas por animal caíram de 50 para menos de uma. Se a notícia é boa para quem mora nas terras baixas como neste vale, ela é preocupante para quem mora em terras mais altas ou em regiões onde, até há pouco, os invernos eram mais rigorosos. Com a temperatura subindo, estas áreas passarão a ser habitáveis pela mosca que encontrará populações que tiveram menos contato com a doença.

https://www.eurekalert.org/pub_releases/2018-10/su-zvm102318.php

 

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