ClimaInfo, 6 de dezembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O desmatamento da Amazônia em destaque

Pelas contas do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a Floresta Amazônica perdeu uma área maior do que a Alemanha desde que se começou a usar satélites para monitorar a região. Estima-se que, antes disso, a floresta tenha perdido outra Alemanha. A matéria da Deustche Welle conta um pouco do trabalho dos pesquisadores do INPE e sobre suas perspectivas e preocupações em relação ao novo governo.

André Trigueiro, no Jornal Nacional de anteontem, falou com pesquisadores do Imazon a respeito do trabalho que revelou o tamanho do desmatamento em áreas protegidas – unidades de conservação e terras indígenas – dando destaque aos estados do Pará e de Rondônia, os atuais campeões de desmatamento ilegal.

 

Noruega doa US$ 70 milhões para o Fundo Amazônia

O desmatamento não aumentou significativamente entre 2016 e 2017 e, por isso, a Noruega aumentou os recursos doados ao Fundo Amazônia. Recentemente, o futuro chefe da casa civil criticou a Noruega, dizendo que aquele país não teria moral para ensinar ao Brasil como proteger suas florestas. A resposta foi uma educada cutucada do Embaixador norueguês. Como este ano o desmatamento voltou a aumentar expressivamente, o futuro presidente possivelmente será poupado do constrangimento de levar outro sermão nórdico. Por outro lado, o dinheiro também não virá. O Valor e a Folha deram destaque à notícia.

 

O Brasil no relatório sobre os riscos climáticos

Todo ano, a Germanwatch publica um relatório sobre os riscos que cada país corre e o tamanho dos prejuízos com os eventos extremos provocados pela mudança do clima. Duas matérias na imprensa brasileira vêm o mesmo copo de maneiras diferentes. Ana Carolina Amaral, na Folha, vê o copo meio vazio das ameaças, dizendo que o país está entre os 20 mais na lista dos prejuízos. Nossa conta ficou em US$ 1,7 bilhão ao ano. A conta é feita considerando os eventos propriamente ditos, como inundações e deslizamentos, ponderados pelo tamanho da população e o tamanho da economia. Isto permite uma melhor comparação entre as nações. Mas o trabalho não inclui secas e outros eventos cujos impactos se alongam no tempo. A tabela de prejuízos é liderada pelos EUA ( por conta dos 3 furacões do ano passado), pela China, Porto Rico e Índia. Já Débora Brito, da Agência Brasil, vê o copo meio cheio ao dizer que, no ranking geral de riscos, que inclui mortes, desabrigados e outros itens, o Brasil está no 79º lugar, bem atrás dos pobres “líderes” Porto Rico, Sri Lanka, Dominica e Nepal. O relatório pode ser baixado aqui.

 

O céu não é o limite e a resposta veio rapidinho

Perguntado sobre a relação do país com os EUA, o futuro chanceler, Ernesto Araújo, disse que “o céu é o limite”, querendo dizer que o Brasil crescerá muito com a parceria. Mas o teto anda baixo. Já ontem, os EUA cobraram a eliminação da cota de importação de etanol e que o país abrisse mais o mercado do trigo. Mesmo tendo trabalhado na embaixada brasileira, em Washington, o futuro chanceler talvez não tenha registrado que, nos últimos dez anos, a balança comercial foi favorável aos EUA em US$ 90 bilhões. Ou, talvez seja o caso de perguntar quem é o dono do tal “céu”.

 

Brasil e Arábia Saudita ganham Prêmio Fóssil do Dia na COP24

A tradicional premiação diária das Convenções do Clima, o Fóssil do Dia, foi dada, ontem, ao Brasil por ter refugado a realização da COP25 e pelas várias sandices escritas pelo futuro ministro de relações exteriores. “Sentimos muito, brasileiros, vocês estão sendo envergonhados. Bolsonaro está colocando seu povo em risco e ameaçando o destino de todo o planeta: existirá algo que mereça mais o Fóssil?” O país dividiu a “honraria” com a Arábia Saudita, famosa por bloquear as negociações climáticas e, desta vez, por atrapalhar a elevação das metas climáticas.

 

A Saúde e a mudança do clima segundo a OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou seu Relatório Especial sobre Saúde e Mudança do Clima afirmando que os benefícios à saúde superam de longe os custos do cumprimento das metas climáticas. Atingir as metas do Acordo de Paris evitaria a morte de um milhão de pessoas por ano até 2050, só pela redução da poluição atmosférica. Já evitar os custos com saúde e os prejuízos por dias não trabalhados é cerca do dobro do custo das políticas de mitigação. Esta relação é ainda maior para países como China e Índia.

O trabalho também descreve o que os países estão fazendo para proteger suas populações dos eventos extremos, reconhecendo que a escala necessária de ajuda é muito maior do que a que se viu até agora. Apenas 0,5% dos recursos de fundos climáticos multilaterais para adaptação foram alocados para projetos ligados à saúde.

A OMS faz uma série de recomendações, como a de incluir nas NDCs metas de redução da poluição atmosférica, mais importância aos níveis subnacionais de governo e a inclusão dos impactos à saúde de medidas de mitigação e adaptação nas políticas econômicas e fiscais.

O Jornal Nacional destacou uma fortíssima mensagem dos pesquisadores da OMS: “Quanto mais vocês adiarem as providências, mais responsáveis vão ser por milhões de mortes que ocorrem a cada ano”.

 

Como alimentar 10 bilhões de pessoas enfrentando a mudança do clima?

O World Resources Institute (WRI) publicou seu estudo “Criando um Futuro Alimentar Sustentável com várias recomendações, mas sem deixar de apontar os abismos e armadilhas existentes no caminho. O trabalho traz um cardápio de uma refeição a cinco pratos a ser seguido:

1) Reduzir o crescimento da demanda por comida, basicamente eliminando as perdas colossais que existem hoje, moderando o consumo de carne e oferecendo mais educação e condições de vida para conter o aumento da população.

2) Aumentar a produção sem aumentar a área de cultivo, investindo em tecnologias e técnicas para a recuperação de área degradadas e garantindo que a produção cresça pela produtividade e não pela expansão.

3) Proteger e restaurar ecossistemas. Embora o trabalho trate do mundo em geral, sabemos que o Brasil, mais que qualquer um, precisa proteger sua vegetação nativa para manter ciclos hidrológicos e climáticos que permitam manter o país entre um dos mais importantes produtores de comida do mundo.

4) Aumentar a oferta de peixes por meio de melhorias na gestão da pesca selvagem e da aquicultura.

5) Reduzir as emissões do agro. Novamente, o caso brasileiro mostra a importância das emissões do setor que são maiores do que as vindas da queima de combustíveis fósseis. O trabalho aponta novas técnicas para reduzir as emissões por quilo de proteína animal, mas, mais importante, que é imprescindível reduzir a demanda, substituindo-a por proteína de origem vegetal.

A Folha e a Agência Brasil publicaram mais detalhes do trabalho.

 

As emissões dos países ricos voltam a crescer

Pela primeira vez em cinco anos, as emissões dos países ricos aumentaram. A Agência Internacional de Energia (IEA) estimou as emissões a partir dos dados de consumo de combustíveis fósseis para os EUA, Europa, Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Houve uma queda no consumo de carvão, mas que foi mais que compensada pela queima de mais petróleo e gás. A IEA estima que as emissões em 2018 serão 0,5% maiores do que as do ano passado.

 

Trump cutuca Macron e sonha com mais países querendo sair do Acordo de Paris

Trump não perdeu a oportunidade para cutucar Macron no seu recuo em relação aos aumentos dos combustíveis. Trump afirmou que, na reunião do G20 da semana passada, ele percebeu que outros países estavam pensando em sair do Acordo de Paris. Trump não disse a quais países se referia. Também não disse que a parte do comunicado que trata do clima foi aprovada por 19 países, menos o seu. Segundo um artigo do E&E News, analistas entendem que Trump não teria o cacife político para encorajar outros países a saírem do Acordo. Mesmo países dependentes de fósseis como a Rússia e a Arábia Saudita, sabem que, para preservar seus mercados, é melhor ficar dentro do Acordo do que seguir Trump. Como sempre, Trump ignora a questão climática, talvez pensando que consegue negociar com São Pedro a dar um refresco para os EUA.

 

A maior corporação de transportes marítimos de contêineres do mundo promete zerar suas emissões até 2050

A Maesrk se comprometeu com a ambiciosa meta de zerar as emissões das suas operações marítimas. Com isso, a empresa subiu a barra do mundo dos navios, responsável por cerca de pouco menos de 5% da emissão global de gases de efeito estufa. O CEO da Maersk, Soren Toft, disse ao Financial Times que “nós precisaremos abandonar os combustíveis fósseis. Teremos que encontrar outro tipo de combustível ou outro modo de movimentar nossos ativos. Isso não é mais um exercício para cortar custos. Longe disso. É um exercício existencial, onde, nós, enquanto companhia, queremos nos diferenciar”. O press release da Maersk tem mais detalhes.

 

“Porque o problema do clima começa a parecer grande demais para ser resolvido?”

A frase acima é a parte final do título de um artigo de Steven Mufson, do Washington Post, que começa com “Uma espécie de realismo sombrio”. Mufson, como outros nesses últimos dias, vê que o maior obstáculo é a falta de uma efetiva vontade política por parte de governantes. “Mesmo se o mundo desse uma série de improváveis meias-voltas – parando o desmatamento, virando vegetariano, pagando um imposto de carbono de R$ 200 por tonelada, alavancando a eficiência energética, dobrando os quilômetros por litro dos carros e mais ainda – não seria o suficiente [para prevenir uma mudança disruptiva do clima]”. O artigo traz a opinião de vários ilustres, incluindo o prêmio Nobel de Economia deste ano, William Nordhaus, que defende um imposto enorme, de quase R$ 1.000 a tonelada em 2020 e, isso, só para começar.

Considerando a experiência dos recentes protestos na França e a greve dos caminhoneiros tupiniquins, um imposto deste tamanho, de uma hora para outra, derrubaria qualquer governo muito rapidamente.

 

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