INPE explica os diferentes sistemas de monitoramento do território
Anteontem, em entrevista, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, desenvolveu, mais uma vez, uma explicação sobre os diferentes monitoramentos de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, dizendo que não interessam os números do Prodes – tradicionalmente usados na contagem do desmatamento – mas, sim, os do Terraclass. Ontem, no site do Instituto, pesquisadores descreveram os sistemas Prodes, Deter e Terraclass, explicando para que servem os dados de cada um, suas limitações e sua precisão. Recomenda-se ao ministro a leitura deste texto curto para que evite mostrar outra vez que não entende do assunto.
Salles e a fiscalização surpresa de ONGs
Não passou nem 24 horas e o ministro Ricardo Salles voltou atrás no recuo que deu em relação à suspensão de contratos e convênios e voltou a afirmar que o ofício continua valendo e está tudo suspenso. E acrescentou que passará a fazer visitas surpresas às ONGs que recebem recursos do governo para fiscalizar o serviço sendo feito.
O ministro vai perder tempo. No caso do ICMBio, por exemplo, informações internas dão conta que, na quase totalidade das parcerias, o órgão é recebedor de recursos e de apoio.
Os contos conspiratórios e dados “incomprováveis” de Evaristo Miranda
André Trigueiro analisou em seu blog um vídeo no qual o polêmico Evaristo de Miranda monta mais uma teoria conspiratória. Trigueiro diz que Miranda “desfia uma avalanche de números para sustentar a tese de que o Brasil protege ou preserva quase metade de seu território (48,9%), o que equivaleria a 28 países da Europa. Segundo Evaristo, nos próximos 30 anos, o mercado mundial de alimentos deverá adicionar 40 bilhões de dólares em novos negócios, e apenas dois países teriam condições de disputar esse bolo: Brasil e Estados Unidos. Evaristo afirma que produtores de milho norte-americanos já estariam fazendo campanha para financiar ONGs ambientalistas que lutam pela preservação das florestas no Brasil, colocando assim o país fora do páreo.” Esta maluquice viralizou. Lá pelas tantas, no vídeo, Miranda diz que “o CAR é o ‘maior trabalho escravo’ da história do Brasil. “Cinco milhões de pessoas obrigadas (a fazer o CAR), sem ganhar nada, sob ameaça de perda de crédito, coagidas.” Na verdade isto é pouco, se compararmos com as quase 60 milhões de declarações de imposto de renda que pessoas físicas e jurídicas são obrigadas a fazer anualmente, e para pagar, não para ganhar. Miranda lança uma série de dados para mostrar que o país protege mais área do que deveria. O que soa como música para grileiros e outros criminosos comuns que se apropriam do que não é seu, do que é nosso.
Trigueiro conversa com os ex-ministros do meio ambiente, José Carlos Carvalho e Carlos Minc. Conta que Minc “explica que a visão de Evaristo é estreita e manipuladora, e suas conclusões são devastadoras para o país que mais desmata e extingue espécies ameaçadas no mundo. E que isso acontece não só na Amazônia como no Cerrado, onde o Evaristo acentuou a produção de grãos. Este desmatamento do Cerrado ameaça diretamente – e comprovadamente – as matas ciliares e a oferta de água doce, sem a qual a agricultura não poderá seguir se expandindo”. Carlos Rittl, do Observatório do Clima, e Nurit Bensusan, do Instituto Socioambiental, também criticam os fake dados de Miranda. Raoni Rajão e Britaldo Soares-Filho (da UFMG), Gerd Spavorek (da USP) e Marcos Costa Heil (da UFV) contam que a “crítica comumente feita é a de falta rigor científico nos estudos de Evaristo, que seriam desenvolvidos para justificar retrocessos ambientais. E, finalmente, Trigueiro traz a opinião de um colega de Embrapa, o pesquisador Eduardo Assad, que conta que Miranda não submete seus trabalhos ao exame de seus pares, por exemplo, por meio da publicação de seus trabalhos e dados em revistas indexadas e conceituadas. Para ele, “não há revisão nenhuma, em lugar nenhum. Existe uma coisa chamada metodologia científica, ou seja, quando você publica alguma coisa em qualquer canto do mundo você pode pegar aqueles dados e replicá-los, alcançando os mesmos resultados do autor do estudo. É impossível chegar aos mesmos resultados do Evaristo. Falta robustez científica e isso já foi dito a ele diversas vezes”.
No vídeo, Miranda afirma que “é legítimo dar terra para índio. O problema é que não cabe”, por conta do agronegócio que precisa de terras para expandir sua produção. Perguntado a esse respeito por Trigueiro, Miranda sai com essa: “O agronegócio não tem necessidade de expandir área de pasto ou de lavoura sobre vegetação nativa.” Como havia dito Assad em um evento, Miranda adapta seu discurso e seus dados ao seu interlocutor.
General Franklimberg decidirá sobre projeto de seu último empregador
O General Franklimberg Ribeiro de Freitas acaba de ser reconduzido à presidência da Funai. O General ocupou o cargo durante uma curta temporada durante o governo Temer. Quando saiu, criou uma saia justa, aceitando um convite para compor o Conselho da mineradora dona do projeto Belo Sun, antes do cumprimento do clássico período de quarentena. O projeto se propõe a minerar ouro em área às margens do Rio Xingu, exatamente na Volta Grande do Xingu, drenada quando da construção da usina de Belo Monte.
A questão é que três povos indígenas que vivem na região não haviam sido considerados no processo de licenciamento da mineradora, e a Funai terá que dar seu parecer. Em 2017, ela se posicionou contra o licenciamento devido a diversas pendências e irregularidades no processo. Para o General, o “projeto é factível, é viável e benéfico aos indígenas. Independentemente disso, tudo seguirá o rito da lei. Não há conflito de interesses.” Sem mais explicações.
Gisele receberá Prêmio Verde nos EUA
Criticada pela ministra da agricultura, Tereza Cristina, a uber-modelo Gisele Bündchen será homenageada pelo Instituto do Meio Ambiente e da Sustentabilidade da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), durante o Hollywood for Science Gala, por sua dedicação à causa verde, ao lado da atriz e cantora Barbra Streisand.
Para a ministra, que acha que ninguém protege mais a natureza do que o produtor rural brasileiro, fica lançado o desafio de fazer um trabalho semelhante e obter tal reconhecimento.
“Vegetariando” para conter a mudança do clima
Um relatório sobre o sistema global de produção de alimentos, produzido por uma comissão convocada pela prestigiosa revista médica The Lancet, pede uma mudança radical na produção e no consumo de alimentos. A fim de reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa, o mundo precisa de uma “mudança abrangente” em sua dieta em direção ao vegetarianismo. A “dieta de saúde planetária” proposta exige que o consumo de carne vermelha diminua pela metade em todo o mundo, e caia 80% nos países desenvolvidos. Em um comentário que acompanha o relatório, os editores da Lancet dizem que “as dietas dominantes que o mundo tem produzido e consumido nos últimos 50 anos não são mais nutricionalmente ótimas, contribuem para as mudanças climáticas e estão acelerando a erosão da biodiversidade natural!. A coluna Viva Bem do UOL, a Página 22, o Guardian e a Deustche Welle, dentre muitos outros veículos de mídia, repercutiram o relatório.
A situação da pobreza na América Latina
A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) publicou a edição 2018 do seu relatório Panorama Social. O relatório aponta que existem 63 milhões de latino-americanos vivendo em condições de miséria, mais de 10% da população total, um aumento de 10% em relação à 2002. O Brasil, maior país da região sofreu a maior recessão da sua história e fez despencar as estatísticas. “Embora em muitos países tenham ocorrido reduções ou estancamento da pobreza extrema [Paraguai, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Chile e Equador], na hora de analisar a situação conjunta da região, impacta o que acontece em países com muita população, como o Brasil”, explicou Xavier Mancero, da CEPAL. Outro dado importante diz respeito à desigualdade, na qual somos a região mais díspar do mundo. Embora tenha havido uma redução da desigualdade entre 2002 e 2018, a taxa de redução vem diminuindo. A desigualdade diminui, em média, 1,3% entre 2002 e 2008, e essa taxa baixou para 0,8% entre 2008 e 2014 e, entre 2014 e 2017, baixou ainda mais, para 0,3%. Ao longo do período, Colômbia, El Salvador e Paraguai mostraram grandes reduções de sua desigualdade por renda, enquanto que em Honduras e na República Dominicana a situação piorou. A edição brasileira do El País comenta os principais pontos do relatório.
O estado dos direitos humanos no mundo
O Human Rights Watch também publicou seu relatório sobre o estado dos direitos humanos no mundo.
– 2.500 famílias foram separadas na fronteira com os EUA.
– Cerca de 1 milhão de pessoas estão presas indeterminadamente em campos de reeducação política na província chinesa de Xinjiang.
– Menos de 15% das crianças em campos de asilo em ilhas gregas tiveram acesso à educação.
– Conflitos e violência entre comunidades na Etiópia transformaram 2 milhões de pessoas em “deslocados internos”.
– No Iêmen vivem 14 milhões de pessoas sob risco de fome e morte devido a repetidos surtos de cólera.
– Mais de 5 milhões de criança, na maioria meninas, não têm escola no Paquistão.
– 3 milhões de venezuelanos abandonaram o país desde 2014.
– No Brasil, no final de 2017, existiam mais de 1.200.000 casos de violência doméstica parados na justiça.
A pobreza e a mudança do clima estão entrelaçadas. Os mais pobres são os mais impactados pela mudança do clima. Os mais pobres não têm recursos ou alternativas a não ser continuar emitindo como sempre.
O calor australiano matou quase 30 mil morcegos em um único final de semana
A Austrália está sofrendo com uma nova onda de calor e o governo recomendou que se evitem exercício físicos fora de casa e outras providências para temperaturas acima de 42oC. Em novembro, uma onda de calor como essa matou quase 30.000 morcegos num único final de semana na região da cidade de Cairns, no nordeste do país. Os organismos dos morcegos frugívoros de óculos não resistem a temperaturas acima de 42oC. Moradores de Cairns contaram que os morcegos simplesmente caíam de árvores em seus quintais e piscinas.
A onda de frio europeia é associada à perda de gelo no Ártico
No ano passado, comprovou-se que as ondas de calor que atravessaram o hemisfério norte batendo recordes de temperatura estavam associadas a oscilações do jet-stream ártico devido à perda, também recorde, de gelo marinho na região. Desde o início deste ano, a Europa está sendo castigada por uma onda de frio pouco usual, no mínimo. Um estudo que acaba de sair na Nature mostra que a mesma perda de gelo ártico “amplificou significativamente a probabilidade” de invernos rigorosos na Europa e na Ásia. Até há pouco, a conexão entre o aquecimento no Ártico e extremos climáticos em latitudes médias era objeto de controvérsias na comunidade científica. Os autores usaram dados de observação e sete modelos climáticos para identificar a causa das discrepâncias. Feitas as correções nos modelos, chegaram à conclusão que mais de 40% da tendência de esfriamento na Eurásia central entre 1995-2014 pode ser atribuída à perda de gelo marinho nos mares Barents-Kara. O Guardian deu uma matéria sobre o trabalho.
Para ver
Claudia Andujar – A luta Yanomami
A retrospectiva da obra de Claudia Andujar dedicada aos Yanomami ocupa dois andares do IMS Paulista, com aproximadamente 300 imagens e uma instalação da fotógrafa e ativista, além de livros e documentos sobre a trajetória daquele povo em busca de sobrevivência. O conjunto traça um amplo panorama do longo trabalho de Andujar junto aos Yanomami, retomando aspectos pouco conhecidos da luta da fotógrafa pela demarcação de terras indígenas, militância que a levou a unir arte e política. A exposição foi realizada com apoio e consultoria do ISA – Instituto Socioambiental – e colaboração da Hutukara Associação Yanomami.
No Instituto Moreira Salles, Av. Paulista, 2.424, SP, de terça a domingo, das 10h às 20h, e quintas das 10h às 22h. A exposição permanece aberta até 7 de abril e a entrada é gratuita.
Para ler
Potência ambiental da biodiversidade: um caminho inovador para o Brasil
Seria desejável que lideranças do novo governo pudessem ler o recém-divulgado relatório especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos intitulado “Potência Ambiental da Biodiversidade: Um caminho Inovador para o Brasil”.
Mais informações aqui. A publicação pode ser baixada gratuitamente deste site.
Para ler
Climate Leviathan: A Political Theory of Our Planetary Future
Joel Wainwright, da Ohio State University, e Geoff Mann, da Simon Fraser University, escrevem sobre como abordar um problema com as dimensões internacionais que é a mudança climática. Eles examinam diferentes futuros políticos para esse mundo em aquecimento, inclusive uma ordem internacional unificada, o Leviatã do título, mas pouco provável que seja suficiente para mitigar um aquecimento catastrófico. A New Yorker traz uma resenha do livro. A Amazon brasileira vende o livro.
Para ler
Panorama da Erosão Costeira no Brasil
O Brasil tem cerca de 7.500 quilômetros de litoral, entre praias, falésias, dunas, mangues, restingas e muitas outras formações. Mais da metade disso está sendo progressivamente destruída pela erosão ou pelo acúmulo de sedimentos, processos agravados pela ação humana. A publicação é fruto do trabalho dos pesquisadores e colaboradores do Programa de Geologia e Geofísica da Marinha, em parceria com o projeto Terramar, e aborda políticas públicas como o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, o Plano Nacional de Adaptação e o Plano Nacional de Recursos Hídricos. João Lara Mesquita comentou o trabalho na sua coluna Mar sem Fim, e a BBC Brasil publicou matéria a respeito. A publicação pode ser baixada gratuitamente deste site.
Para ir
BR-319 como propulsora de desmatamento – simulando o impacto da rodovia Manaus – Porto Velho
O mais novo estudo sobre a BR-319 é de autoria de profissionais da Fundação Vitória Amazônica, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA/MCTI, da Uninorte e da UFAM – Universidade Federal do Amazonas. Com apoio do Idesam e financiamento da Gordon and Betty Moore Foundation, o estudo simula o desmatamento ao longo da rota da rodovia que percorre a área entre os rios Madeira e Purus. A apresentação do estudo será feita durante a reunião do fórum permanente de discussão sobre o processo de reabertura da BR- 319.
Dia 21 de janeiro, a partir das 14h, na Procuradoria da República no Amazonas – Av. Ephigênio Salles, 1570, Manaus. Entrada gratuita.
Para ir
Moradia e expansão das metrópoles brasileiras
O Instituto Escolhas e a Folha de S. Paulo, em parceria com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas e com apoio da Fundação Tide Setubal, promovem este seminário no qual serão apresentados os resultados de um estudo que analisa o desempenho do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) e a expansão das metrópoles brasileiras. Com base nos dados do trabalho, especialistas discutirão o impacto do MCMV nas regiões metropolitanas, a contribuição das políticas públicas para o adensamento das cidades e a melhoria da qualidade de vida dos beneficiados. Ainda durante o seminário, será lançada a plataforma interativa #Quantocusta? Morar Longe, que permite a qualquer cidadão avaliar o custo e a qualidade de um empreendimento habitacional a partir de sua localização.
Dia 22 de janeiro, das 8h30 às 12h, no salão nobre da Fundação Getúlio Vargas, Rua Itapeva, 432, São Paulo. Inscrições neste site.
Para enviar trabalhos e concorrer
Prêmio MapBiomas
Para estimular e ampliar mais aplicações e trabalhos de análise de mudanças do uso da terra no território brasileiro, a iniciativa resolveu lançar o Prêmio MapBiomas, em parceria com o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e do Instituto Escolhas, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS). Nesta primeira premiação, o MapBiomas premiará trabalhos que explorem as relações entre a infraestrutura de energia e transporte e as mudanças de cobertura e uso da terra no Brasil. O prazo de entrega vai até o dia 31 de janeiro. Aqui é possível encontrar mais informações sobre a premiação e sobre como participar.
Para concorrer a bolsas
Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente
Estão abertas as inscrições para bolsas de mestrado e doutorado do Instituto Escolhas. O programa faz parte da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente e tem como objetivo contribuir para aumentar a formação nessas áreas, buscando colaborar para o ensino e a pesquisa no Brasil das questões socioambientais contemporâneas e globais a partir da abordagem das ciências econômicas, criando diálogo entre diferentes áreas do saber que são importantes para a superação dos dilemas inerentes aos processos de desenvolvimento do país. Podem se inscrever pesquisadores de temas voltados a agricultura, água, cidades, economia de baixo carbono, energia, florestas, riscos socioambientais do sistema financeiro e valoração de serviços ambientais, entre outros.
Até 3 de fevereiro. Mais informações neste site.
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