A pauta bomba da bancada ruralista
André Trigueiro divulgou via Twitter um documento da Frente Parlamentar da Agropecuária (a bancada ruralista) solicitando audiência com o ministro do meio ambiente para discutir 13 assuntos, entre eles alguns que podem afetar o meio ambiente e as emissões de carbono do país. Entre os pontos da pauta proposta estão articulações para a aprovação do PL do Veneno e o PL de flexibilização do licenciamento ambiental, revisão das reservas da biosfera de todos os biomas e a revogação de resoluções do Conama e de portarias do MMA que tratam de espécies ameaçadas de extinção. Trigueiro pergunta: será este o modelo de agronegócio que Bolsonaro defendeu em Davos?
A participação relâmpago de Bolsonaro em Davos
A participação de Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial foi breve. A sessão, que inicialmente havia sido programada para ter 45 minutos, durou somente 15, incluindo a breve introdução e as sete perguntas feitas pelo presidente do WEF. Em seu breve discurso de menos de sete minutos, Bolsonaro disse à elite econômica mundial que “o Brasil precisa de vocês, e vocês com certeza precisam do nosso querido Brasil”, reafirmou sua agenda pró-negócios – que inclui baixar a carga tributária, reduzir a regulamentação e lidar com a corrupção – e fez acenos ao multilateralismo ao falar de comércio, cooperação, e proteção do meio ambiente. Bolsonaro também disse que seguirá as ‘boas práticas internacionais’, citando especificamente a OCDE, e que pretende equilibrar ambiente e desenvolvimento. Em nota, o Observatório do Clima cobrou medidas concretas: “Infelizmente, é difícil conciliar o discurso com a realidade dos primeiros 21 dias da administração Bolsonaro. O governo federal brasileiro tomou medidas concretas para submeter a agenda ambiental ao agronegócio (…) O presidente deve agir rapidamente para corrigir o curso se realmente quer implementar o que disse em Davos”. A Folha, o Estadão e O Globo comentaram o discurso. O pessoal do site Aos Fatos conferiu os dados citados no discurso. Mesmo este sendo muito curto, encontraram 4 afirmações falsas ou contraditórias balanceadas com 4 verdadeiras. Vale ler para não se deixar enganar.
Bolsonaro afirma que país não deixará o Acordo de Paris
Numa reunião com 30 CEOs de empresas globais, Bolsonaro disse com todas as letras que o país não sairá do Acordo de Paris. E engatou uma frase do ministro Ricardo Salles dizendo esperar contrapartidas pelo país ser um dos que menos poluem o planeta.
A contrapartida, presidente, é um clima menos catastrófico para milhões de brasileiros.
O vice-presidente, general Mourão, reforçou o posicionamento dizendo que o Brasil não pode fugir da questão climática.
Estadão, Folha e O Globo escreveram sobre o assunto.
O descompasso entre o Fórum de Davos e a crueza do atual ambiente político mundial
“A América está aberta para os negócios”, disse Trump em janeiro de 2018 em discurso no Fórum Econômico Mundial (WEF). Mas neste janeiro Trump cancelou sua viagem a Davos porque seu governo está parcialmente fechado para negócios como consequência de seu desejo de construir um muro na fronteira com o México. Trump não é o único líder mundial que ficou em casa lidando com crises internas que podem ser vistas como reação negativa à globalização. A primeira-ministra britânica, Theresa May, não foi ao WEF para se concentrar no gerenciamento do Brexit e o presidente francês Emmanuel Macron ficou nos arredores de Paris para lidar com os protestos dos “coletes amarelos”. Apesar dessas ausências de peso, o WEF recebe mais de 60 chefes de Estado que confabularão com mais de 3.000 dos que têm, dos que têm mais e dos que têm ainda mais. Apesar destes números, em muitos aspectos, a reunião dá uma medida do retrocesso da globalização e da incapacidade das elites globais de reverter a maré populista de direita. Os paralelos crescentes com a década de 1930 se avolumam e os poderosos repetem muitos dos mesmos erros, surfando nas marés do isolacionismo, do nativismo e do protecionismo e não conseguindo dar respostas aos desafios da insustentável desigualdade de renda, das temíveis mudanças climáticas e da incapacidade de geração de emprego num mundo cada vez mais automatizado.
Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém
A Arábia Saudita comunicou anteontem ter proibido a importação de carne de galinha de 33 dos 58 frigoríficos habilitados pelo ministério da agricultura brasileiro para exportar para lá. Na comunicação oficial, os árabes exigem acertos para que eles voltem a exportar. Entre as unidades descredenciadas estão frigoríficos da BRF e da JBS. O jornalista Mauro Zafalon, da Folha, conversou com gente do setor que desconfia que o ato seja um aviso do que pode acontecer caso o presidente transfira a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Imprudentemente, um dos filhos do presidente e o primeiro ministro, Netanyahu, disseram que a pergunta não é “se” mudará, mas “quando”. Os árabes dizem que a proibição não tem nada a ver com assuntos diplomáticos, mas como saber?
Em tempo, no ano passado, a Europa deixou de ser a maior importadora de galináceos brasileiros e passou o posto para a Arábia Saudita. Este ano, a expectativa é que a China importe mais.
O que muita gente não viu nas mexidas ambientais do governo
O site Brasil Real Oficial passou a fazer um resumo semanal do que saiu no Diário Oficial da União. Seu editor, Breno Costa, explica que “o Diário Oficial, ainda bem, não é um veículo de propaganda. É o único lugar onde o governo, seja ele qual for, não pode mentir. Mas o juridiquês às vezes serve de camuflagem. Qualquer maldade, para ser implementada, precisa estar ali, assim como qualquer bondade ou progresso.” Já na sua primeira edição, pinçamos atos ainda pouco divulgados (os textos são do site):
- A secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura terá entre suas atribuições o “licenciamento ambiental” em terras indígenas e quilombolas. Ou seja, haverá ações que demandarão licença ambiental. Isso caberá, assim como as demarcações em si, ao Departamento de Identificação, Demarcação e Licenciamento.
- O Ministério do Meio Ambiente passa a apenas “apoiar”, e não mais “estabelecer”, corredores ecológicos e mosaicos de áreas protegidas. Abre margem para não haver novos corredores, portanto.
- O MMA também definirá “indicadores de sustentabilidade” sobre atividades energético-mineradoras, industrial, urbanas e agrossilvopastoris. Na prática, o ministério irá definir a régua a ser usada nas medições. Será atribuição do Departamento de Desenvolvimento Sustentável, que será um setor bem importante dentro do ministério. Esse departamento também trabalhará na criação e apoio de formas de remuneração de serviços ambientais promovidos voluntariamente por empresas e produtores.
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O confuso desmonte do meio ambiente
A jornalista Daniela Chiaretti fez no Valor Econômico uma análise bastante crítica do desmonte da área ambiental do governo, principalmente no ministério de Ricardo Salles e no Itamaraty. Chiaretti, jornalista que acompanhou de perto a participação do Brasil em várias Conferências do Clima, lembra que “a Secretaria de Mudança do Clima e Florestas era a maior do MMA, com 140 pessoas; produziu planos nacionais de adaptação aos impactos climáticos e levava adiante políticas de combate ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado. Agora, ninguém sabe, ninguém viu. No Itamaraty, que tinha um formidável time de negociadores climáticos e uma subsecretaria para lidar com o tema, o assunto foi pendurado em algum lugar da recém-criada Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania.” Face à enxurrada de declarações intempestivas vindas de todos os gabinetes do governo e, com frequência, recuos quase que instantâneos, Chiaretti conta que uma reunião entre o chanceler Araújo, a ministra da agricultura e o do meio ambiente deve ter servido para enterrar o discurso de sair do Acordo de Paris: “A soturna desconfiança do chanceler sobre o maior acordo climático internacional parece ter sido vencida por argumentos econômicos e ambientais dos outros dois.” Chiaretti diz que “o Ministério da Agricultura é uma exceção: ali o tema ganhou status. Pode ser um bom sinal de se querer impulsionar a agricultura de baixo carbono e a pecuária sustentável. O ruim são as outras mensagens da pasta que se apropriou da demarcação de terras indígenas, territórios quilombolas e reforma agrária e do Sistema Florestal Brasileiro, com o cadastro que indica os passivos ambientais dos produtores rurais.”
Para entender um pouco mais este desmonte e conhecer melhor um de seus personagens, vale ler o artigo publicado pela Piauí no qual Maurício Tuffani analisa a trajetória de Ricardo Salles, o ministro que fala demais e sabe de menos, do apoio de ruralistas à condenação em caso que favoreceu uma mineradora.
Quanto custa morar longe para o morador e para a sociedade
Estudo do Instituto Escolhas e do GVces mostra que o programa governamental Minha Casa Minha Vida (MCMV) levou parte da população para longe dos grandes centros, de hospitais, de escolas e do trabalho. Para ir a esses lugares, estas pessoas passam horas no transporte público. O estudo tomou os exemplos de um conjunto construído em Diadema, município encostado em São Paulo, e de outro, construído em Guararema, a quase 80 km da capital. Os preços pagos pelos terrenos: R$ 110/m2 no primeiro e R$ 11,44/m2 no segundo. A maior distância acaba se refletindo duas vezes nos preços finais dos apartamento: no menor preço do terreno e na diminuição da demanda posterior pelas habitações. Em Guararema, o apartamento era vendido a R$ 1.665/m2, enquanto que, em Diadema, era vendido a R$ 2.225/m2. A comparação é interessante porque o custo declarado de construção nos dois conjuntos foi o mesmo: R$ 1.500/m2. O jornalista Leão Serva comentou o estudo na Folha dizendo que “a economia que o poder público faz no curto prazo, ao construir habitação popular em áreas distantes e sem infraestrutura, acaba por provocar custos maiores. Como sabem os urbanistas, no longo prazo é mais barato construir casas populares no centro da cidade do que na periferia.” Serva aponta que seria necessário incluir o investimento que o poder público terá que fazer para levar a infraestrutura – ruas, água, esgoto, eletricidade, escolas, postos de saúde e os custos para manter tudo isso funcionando. O Bom Dia Brasil da Globo também mostrou uma matéria a respeito.
A China reduz o consumo interno de carvão e faz aumentar o consumo externo
O acrônimo NIMBY, em inglês, resume a expressão “não no meu quintal”. Ele surgiu nos anos 80 quando comunidades enfrentaram plantas nucleares e depósitos de lixo tóxico. A China parece ter transformado o NIMBY em política de estado para o carvão. Para combater a poluição atmosférica nas grandes cidades chinesas, as autoridades estão fazendo o que podem para substituir as térmicas a carvão por fontes renováveis ou, pelo menos, pelo gás natural. Mas, ao mesmo tempo, estão financiando o kit carvão completo para países vizinhos e parceiros, que inclui portos, ferrovias, minas e as térmicas propriamente ditas. Bangladesh assinou contratos no valor de US$7 bilhões para aumentar sua capacidade instalada em 14 GW. O Vietnã, a África do Sul, o Paquistão e a Indonésia também foram “beneficiados”.
O IEEFA (Instituto de Análise Econômica e Financeira de Energia), um think tank baseado nos EUA, produziu um estudo sobre esta dinâmica. A conclusão do estudo: “Como o custo das energias renováveis é menor do que as novas centrais a carvão rodando na base, o IEEFA entende que o caminho mais inteligente a seguir é o de mais investimento privado em fontes de emissão zero ao invés de assinatura cega de acordos de investimentos em plantas a carvão caras, obsoletas e apoiadas por governos que pretendem encher os seus próprios cofres, enquanto o resto do mundo arca com o fardo financeiro do aquecimento global. É hora da China limitar formalmente seus investimentos em centrais a carvão fora do país e, em vez disso, promover a adoção de tecnologias mais baratas redes e de fontes renováveis. É isso que estão a fazer em casa. Os outros países não merecem a mesma oportunidade?”
O aquecimento global ajuda a provocar quantidades recordes de neve na Europa
A temperatura das águas no Mar do Norte e do Mar Báltico está alguns graus acima da média histórica para esta época do ano, o que provoca um maior carregamento de umidade pelos ventos que vêm do norte. No norte da Europa, a atmosfera também está um pouco mais quente, compondo o ambiente ideal para fazer a umidade virar neve. A matéria do The Guardian lembra uma pesquisa recente que previa que o aquecimento mais rápido do que o anteriormente previsto de todos os oceanos levaria a quantidades maiores de neve e chuva, um novo normal para o clima.
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