O rato que ruge enfrenta o ultraliberalismo de Paulo Guedes

Pedro Cavalcanti e Renato Fragelli comentaram gentilmente, no Valor, falando sobre os equívocos conceituais e outros do novo governo. Para o governo, o globalismo “não seria apenas uma ideologia, mas um esquema de dominação global. O objetivo último seria impor valores esquerdistas, uma moral secular e ateia aos diferentes países, substituindo assim seus valores tradicionais.” Por ‘tradicionais’ entende-se principalmente os valores cristãos e (extremamente) conservadores. O grande exemplo desta visão é a guerra comercial que Trump, o São Jorge, trava contra o dragão chinês, razão pela qual os norte-americanos estão pagando mais caro pelos produtos que consomem. Por aqui, dada a disparidade de tamanho entre o Brasil e a China, este enfrentamento seria apenas o de um “rato que ruge”. Cavalcanti e Fragelli mostram que a batalha interna acontece entre a visão antiglobalista e nacionalista de parte do governo e a escola ultraliberal do ministro da economia. Uma das primeiras rusgas entre os dois grupos se deu em torno da tarifa de importação de leite em pó, que o ministro Guedes quis reduzir a pó, mas que o lobby ruralista o fez recuar. Os autores concluem o artigo com um quase-aviso: “Em anos recentes, o país sofreu muito com o populismo de esquerda. A irracionalidade de agora vem do populismo de direita. Além do potencial de causar sérios problemas em nossas relações exteriores e em outras áreas-chave, como educação e cultura, a tendência pode levar a impasses na economia, dificultando a aprovação das reformas de que tanto o país precisa.”

 

Boletim ClimaInfo, 22 de fevereiro de 2019.