Militarizar o meio ambiente aumenta os riscos para o país

Na semana passada, o ministro Ricardo Salles aumentou a participação de militares em postos-chave da sua administração. Na melhor das hipóteses, ele troca quadros de longa experiência em assuntos ambientais por amadores sem familiaridade com os temas nem com a administração pública. Na prática, ele acelera o plano de Bolsonaro, que busca acabar com a pasta. Carlos Bocuhy, conselheiro do Conama, criticou na Folha de S. Paulo o decreto que extinguiu todos os conselhos possíveis, dizendo que não houve nem sombra de análise do que seria afetado. Em defesa das políticas públicas, Bocuhy diz que “bons arranjos institucionais envolvem a aplicação dos conhecimentos técnico-científicos, com a responsabilidade de evitar que a sociedade seja exposta a riscos indesejáveis. Os processos da natureza, em respostas às intervenções humanas, não são modificáveis por decreto. O tempo é implacável e desmascara gestões ambientais fraudulentas (…) uma gestão ineficiente, inadequada e com conflitos de interesse colocará o Brasil no rumo indesejável de novas Marianas e Brumadinhos.”

Também na semana passada, o deputado Rodrigo Agostinho, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, disse ao Metrópoles que o ministro “está trabalhando de maneira intensa para o agro, mas quem tem de defender o agro é a ministra da agricultura. Estou muito preocupado com a agenda do Salles, precisamos de um ministro do meio ambiente que esteja à altura da nossa biodiversidade”.

Bernardo Mello Franco fez um rápido apanhado do desastre que o ministro já provocou na própria pasta.

Aldem Bourscheit contou como a atuação de Salles está atingindo o meio ambiente no Sul do país citando que “querem cortar a parte mais sensível do Parque Nacional do Iguaçu, com uma rodovia. O Parque Nacional de São Joaquim pode perder 10 mil de seus quase 50 mil hectares para a agropecuária e a geração de energia eólica. O Parque Nacional da Lagoa do Peixe pode ser convertido em Área de Proteção Ambiental, dando mais espaço à atividades econômicas convencionais.” E enfatiza: “Com a porteira dos ataques às áreas protegidas escancarada pelo governo Bolsonaro, o ruralismo atrasado encontrou terreno fértil para fazer crescer suas demandas históricas pela eliminação de Parques Nacionais, Terras Indígenas e de Quilombolas e, se assim for, das populações que vivem nesses territórios. Tais episódios mancham a História Brasileira, de vermelho sangue.”

Em tempo: a Agência Pública investigou os conselhos e comissões  que foram afetados por Salles, o “ventríloquo da banda podre do agronegócio”, segundo Bourscheit. Segundo a agência, o próprio governo não sabe quantos são os grupos extintos, e nem se e qual economia trará, em clara contradição com a justificativa de eficiência e contenção de despesas. O resultado preliminar do levantamento indica que, pelo menos, 50 conselhos e comissões foram atingidos.

 

ClimaInfo, 22 de abril de 2019