O linhão de transmissão de Boa Vista e o seu bolso

3 de junho de 2019

O fornecimento de eletricidade para Boa Vista foi objeto do primeiro leilão de energia deste governo e de um excelente artigo de Pedro Bara e Caetano Scannavino no Valor.

Os autores contam a história da eletricidade de Manaus: até há alguns anos, Manaus era abastecida por um sistema isolado, alimentado por várias térmicas a óleo, que chegava de navio. Até que foi descoberto um campo de gás natural perto o suficiente para viabilizar a construção de um gasoduto e a conversão de algumas das térmicas para a queima do gás.

Paralelamente, foram gastos alguns bilhões de reais só para ver a linha de transmissão de Tucuruí chegar a Manaus cinco anos após a entrada em operação do gás. A história soa como jogar dinheiro pela janela.

E esta história agora se repete em Boa Vista. O primeiro leilão de energia do governo Bolsonaro, da 6a feira passada, contratou investimentos de mais de R$ 1,6 bilhão em oito usinas térmicas que começarão a operar daqui a 2 anos com contratos de compra de energia por 15 anos a preços já fixados.

Enquanto o projeto da linha de transmissão Manaus-Boa Vista prevê sua entrada em operação para daqui a 5 anos. A chegada da energia do linhão pode provocar um “custo de arrependimento” de R$ 4,4 bilhões – o custo do rompimento dos contratos feitos na última 6a – que deverão ser pagos por todos os consumidores do país.

Os cálculos são conservadores, já que consideram que todo o enrosco do projeto do linhão não aumentará seu custo de implantação.

Segundo a Reuters, para cuidar do delicado trecho de 125 km que atravessa as terras dos Waimiri-Atroari estão previstos “equipes com 200 fiscais e sigilo sobre minérios.” Conta que também sairá do bolso do consumidor.

Em tempo: é uma pena que o resultado do leilão tenha essa conotação negativa. Mais de um terço da capacidade a ser instalada pelos projetos contratados virá de uma combinação de térmicas a óleo de palma e de cavaco de madeira com sistemas fotovoltaicos – fontes renováveis.

Em tempo 2: de modo a garantir a repetição da história de Manaus, a maior planta contratada no leilão foi uma térmica a gás que custará R$ 1,8 bilhão. A planta queimará gás do campo Azulão, situado próximo à rodovia Manaus-Boa Vista. O gás será liquefeito e transportado por carretas para Boa Vista. A estrada também atravessa a Terra Indígena.

 

ClimaInfo, 3 de junho de 2019.

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