Mineração não é garimpo

Bolsonaro fala repetidamente da intenção de abrir as Terras Indígenas ao garimpo e criar “pequenas Serras Peladas” para serem exploradas por grupos estrangeiros e indígenas. Quem não está gostando muito desse discurso é o setor da mineração.

Luis Maurício de Azevedo, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), disse que “os mineradores não são contra a legalização do garimpo. Não sabemos ainda se concordamos com a legalização, nos termos que o nosso presidente defende, pois ainda não sabemos as bases e premissas dele, mas esperamos que estas sejam em consonância com as normas vigentes, para o melhor aproveitamento dos recursos minerais, a preservação do ambiente, trazendo assim o desenvolvimento para o nosso país”. E emendou lembrando que “as mineradoras pagam taxas e impostos enquanto muitos dos garimpeiros não pagam nada.”

No mês passado, a ABPM soltou uma nota com um recado forte: “Todos do setor mineral sabem que o garimpo deixou de ser uma ‘resultante’ social para ser a fonte de trabalho escravo, degradação ambiental, trabalho infantil, bolsões de pobreza, e, infelizmente, são inúmeros os casos de relações incestuosas de ‘donos de garimpo’ com políticos e até com tráfico de drogas”. E não só no setor de mineração. Uma pesquisa recente do Datafolha mostrou que 86% dos brasileiros discordam da exploração mineral em Terras Indígenas.

Em tempo: a invasão das terras Yanomamis por dezenas de milhares de garimpeiros está criando uma situação explosiva a ponto de fazer a Polícia Federal emitir um alerta: “A instabilidade causada pela presença dos garimpeiros pode gerar novos confrontos e genocídios contra os indígenas”. A PF denuncia a atuação de grupos organizados que fazem a logística para o garimpo ilegal, uma “organização criminosa com tarefas bem definidas”. Vinícius Sassine, n’O Globo, conta que a PF prendeu “30 pessoas responsáveis por viabilizar a exploração do ouro. São proprietários de máquinas e aviões em Roraima que possibilitam o garimpo ilegal, onde atuam milhares de garimpeiros pobres ou miseráveis.” Esses grupos organizados incluem também as centrais de radiofonia e, principalmente, os compradores do ouro.

 

ClimaInfo, 8 de agosto de 2019.

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