Clima e mercado global em setembro

1 de outubro de 2019

Petróleo e Gás: duas pesquisas confusamente semelhantes foram lançadas neste mês, tentando responder à seguinte pergunta: as grandes empresas do setor de petróleo e gás estão alinhadas com o Acordo de Paris? Para a Carbon Tracker a resposta é um sonoro “não”: empresas que investem 50 bilhões de dólares em projetos que aumentam as emissões de carbono não podem ser consideradas alinhadas com o Acordo (Guardian).

Já a Transition Pathway Initiative (apoiada pelos principais gestores de ativos) destacou a Shell e a Repsol como as duas únicas empresas do setor que estão alinhadas com os compromissos de Paris, as NDCs, não com os objetivos do Acordo (Responsible Investor). A diferença de abordagem foi explorada pela Repsol, que conseguiu produzir manchetes como “Investidores valorizam a Repsol como uma das duas únicas empresas em seu setor em linha com as metas do Acordo de Paris” (EuropaPress).

Investidores fizeram vários anúncios relevantes em setembro.

– Investidores com mais de US$100 bilhões sob gestão apresentaram uma resolução de acionistas pedindo à BHP Billiton que suspenda sua participação em associações industriais que fazem lobby contra a ação climática (Guardian). As assembleias gerais anuais acontecerão em 17 de outubro (Londres) e 7 de novembro (Sydney). Vamos acompanhar.

– O fundos gigantes BlackRock e Vanguard estão tentando minar os esforços da Climate Action 100+, já que a Majority Action revelou que, se tivessem tido o apoio destes dois grandes fundos, pelo menos 16 das mais críticas resoluções de acionistas sobre mudanças climáticas propostas este ano teriam passado.

– 515 investidores institucionais com mais de US$35 trilhões em ativos sob gestão assinaram a maior declaração conjunta de investidores de todos os tempos (que deverá crescer ainda mais até a COP25). A declaração pede aos governos que eliminem gradualmente a energia térmica do carvão em todo o mundo, coloquem um preço significativo sobre as emissões de carbono e acabem com os subsídios governamentais aos combustíveis fósseis (CNN).

– Os maiores investidores da Noruega – Storebrand e KLP – que geram ativos da ordem de US$ 170 bilhões, mandaram um recado às empresas para que não agravem os danos ambientais na Amazônia (UOL). E o governo da Suécia investigará os investimentos de seus fundos de pensão públicos no Brasil e em toda a América do Sul por causa dos incêndios na Amazônia (O Globo).

– O que parece ser só mais um grupo de investidores comprometidos com a ação climática pode vir a ser o início de algo muito interessante. A Net Zero Asset Owner Alliance é um grupo de fundos de pensão e seguradoras que se compromete a transferir suas carteiras de investimento para empreendimentos de emissão líquida zero até 2050 (BusinessInsider). Este é o primeiro compromisso alinhado com a meta de 1,5oC que tem marcos intermediários em 2025 e 2030. Não surpreendentemente, a quantidade de ativos sob gestão inscrita nesta iniciativa é, até agora, de apenas US$ 2 trilhões – muito menor do que a declaração comentada acima, na qual os investidores apenas pedem aos governos que façam algo ao invés de fazer seus próprios compromissos.

Bancos: Muitas iniciativas bancárias mostram uma novidade: várias organizações estão tentando pressionar os bancos a alinhar os empréstimos corporativos com o Acordo de Paris.

– 2Dii e ING estão conduzindo um teste-piloto da metodologia PACTA, com 17 bancos internacionais (Ethical Corp), principalmente europeus.

– 20% do setor bancário global aderiu aos Principles for Responsible Banking (PRB) que buscam estabelecer metas para os negócios corporativos que estejam alinhados com os ODS e o Acordo de Paris (Bloomberg).

– Entre os signatários do PRB, 31 bancos também se comprometeram a alinhar suas carteiras a “bem abaixo de 2 graus, lutando por 1,5°C”. O Crédit Agricole, que tem a melhor política de empréstimos sem carvão até agora, está no grupo.

– No dia da Cúpula pelo Clima da ONU, a Rainforest Action Network publicou um artigo de opinião no Financial Times explicando porque os bancos são importantes para o financiamento de combustíveis fósseis. Diz que alguns dos grandes bancos dos EUA ainda estão financiando muito mais combustíveis fósseis do que energia limpa; e que a prioridade número 1 na lista dos PRB é o alinhamento com Paris. O que demanda um plano e um cronograma para acabar com o financiamento do carvão e de outros combustíveis fósseis.

– Nove bancos multilaterais de desenvolvimento concordaram em aumentar seu financiamento climático para US$ 175 bilhões até 2025 e dobrar o financiamento de adaptação para US$ 18 bilhões anuais até 2025. Esta meta é falsa: a taxa de crescimento do seu financiamento climático nos últimos 5 anos levá-los-ia a US$ 105 bilhões (mais de US$ 40 bilhões além do objetivo declarado até 2025, EIB). Eles estão jogando o jogo “nós superamos nossa meta”.

 

ClimaInfo, 01 de outubro de 2019.

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