Populismo e nacionalismo na contramão da luta climática

pautas nacionalistas e populistas

Dois artigos publicados nesta semana examinam como o surgimento de governos com pautas nacionalistas e populistas é um obstáculo sério para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Jean Chemnick, no E&E, pega o caso brasileiro como exemplo, começando com os sucessos na contenção do desmatamento entre 2004 e 2014. Em seguida, ele fala do governo Bolsonaro: “Especialistas dizem que a liderança de Bolsonaro é um excelente exemplo de como a ascensão do nacionalismo mundial está ameaçando o esforço global de combate às mudanças climáticas. Ela se manifesta em sua abordagem à Amazônia e na tenacidade com que seu governo tem lutado pelos interesses do Brasil nas negociações climáticas globais (…) As negociações falharam, mais uma vez, em relação às regras de comércio de carbono do Acordo de Paris, porque os negociadores brasileiros exigiram que o setor privado de seu país visse uma recompensa pelos investimentos feitos anos atrás sob um acordo separado.” Se a ascensão desse tipo de nacionalismo, encontrado nos EUA, Turquia, Índia e Austrália, emperra o enfrentamento da crise climática, analistas alertam que os impactos climáticos podem reforçar a agenda nacionalista. Sociedades ameaçadas tendem a se fechar, amplificando a xenofobia e o racismo.

No Financial Times, Philip Stephens examina o populismo no hemisfério norte. Ele começa dizendo que a crise financeira da primeira década do século deixou a percepção de que, pelo menos nos EUA e na Europa, os mais ricos estavam se safando da crise à custa das hipotecas e do desemprego dos menos afortunados. Os discursos de Trump, do Brexiteiros e de outros populistas mundo afora foi dirigido para este público. Stephens diz que esta história corre o risco de se repetir diante da crise climática: “Uma grande faixa de eleitores olha para as políticas verdes por meio do mesmo prisma de Trump – algo que os globalistas ricos infligem aos pobres quando eles não estão atravessando de continente para continente em seus jatos particulares. Nas suas mentes, esse pessoal já foi enganado pela globalização e assaltado pelos banqueiros. Eles não estão com disposição para serem enganados novamente. A questão que faço é se os liberais que lideram o processo de descarbonização estão prontos para financiar as grandes transferências de renda necessárias para torná-la politicamente sustentável.”

 

ClimaInfo, 24 de janeiro de 2020.

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