As emissões globais do setor energético global atingiram o seu pico?

emissões setor elétrico

A resposta curta provavelmente é não. Uma resposta um pouco mais longa provavelmente é: também, não, e não deixe que o coronavírus o engane, alerta Eric Roston na newsletter da Bloomberg Green.

Um otimismo cauteloso dominou a conversa sobre internacional sobre o clima na semana passada, quando novos dados mostraram que as emissões globais de energia permaneceram estáveis em 2019, após dois anos subsequentes de aumento.

A nova energia e a velha energia cancelaram-se mutuamente, não provocando mudança líquida nos níveis globais de emissão, de acordo com dados preliminares da Agência Internacional de Energia. As emissões de energia dos EUA e da Europa caíram drasticamente com o fim do carvão e o aumento das energias renováveis, enquanto o Japão voltou a usar mais energia nuclear. Mas oitenta por cento do aumento das emissões ocorrido no ano passado veio da Ásia, onde o uso de carvão ainda está se expandindo e representando mais da metade do uso de energia.

Mas a queda das emissões no mundo desenvolvido e o crescimento das emissões do mundo em desenvolvimento não são a única dinâmica em jogo. E, numa situação na qual dois enormes concorrentes de pesada inércia correm pescoço a pescoço, pequenos fatores assumem uma influência desproporcional.

Dois dias após sua primeira análise dos dados de emissões de 2019, a AIE divulgou sua atualização mensal do mercado petrolífero, que projeta que o “fechamento generalizado” da economia chinesa, causado pelo coronavírus, fará com que o crescimento do consumo mundial de petróleo caia para o nível mais baixo desde 2011. Consequentemente, as emissões cairiam com ele. A Oxford Economics projeta que o surto poderá abrandar o crescimento do PIB global este ano em 0,2%, o levando a 2,3%. Dada a ligação entre o crescimento econômico e poluição (ligação que está em mudança, mas ainda é forte), uma desaceleração aumenta a chance das emissões de 2020 descerem abaixo das de 2018-2019 – algo completamente independente das tendências do uso de energia. À medida que a economia se recuperar nos próximos anos, será mais provável que atinja um nível de emissões mais elevado do que o de 2020, só porque o efeito amortecedor do vírus – esperamos – deixará de ser um fator.

A tragédia do coronavírus é apenas o fenômeno mais visível que pode vir a causar abalos nas emissões globais deste ano. Outros fatores vão desde as mudanças na forma como as nações e a AIE medem as emissões até mudanças na liderança política global.

Kelly Levin, associada sênior do programa climático global do World Resources Institute se preocupa com a possibilidade de um eventual abrandamento das emissões neste ano ser um tiro pela culatra. As nações participantes das negociações climáticas deste ano da ONU podem reduzir sua ambição de corte de suas emissões se tiverem uma crença irrealista de que as emissões já deram a volta por cima. “Não podemos ficar complacentes”, disse ela.

 

ClimaInfo, 18 de fevereiro de 2020.

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