Os riscos do coronavírus para as comunidades

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O coronavírus coloca riscos muito importantes para as comunidades periféricas, onde famílias moram em um único cômodo e, em muitos casos, não há água corrente para lavar as mãos. Sem falar de não se poder pagar o preço do álcool gel, quando encontrado. Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, do Complexo do Alemão, contou ao UOL que “ter água encanada, acesso a água diariamente e outros direitos básicos nunca foi amplamente garantido a nós. A gente poupa água não apenas por conscientização ambiental, mas por necessidade, porque a gente sabe que se tem água hoje, só terá novamente daqui uma semana (…) Estamos evitando ao máximo a infecção; se um se contaminar, todos irão.”

O News 24, da África do Sul, publicou uma matéria quase idêntica, falando das comunidades na Cidade do Cabo. Na comunidade de Khayelitsha as pessoas dormem grudadas umas às outras e dependem de três torneiras comunitárias. Uma das moradoras comenta que “é difícil [manter as mãos limpas] quando se tem de caminhar longas e cansativas distâncias para ir buscar água”.

As estatísticas do ministério da saúde divulgadas ontem no final da tarde registravam 291 casos confirmados. O que especialistas afirmam é que o esperado crescimento exponencial está acontecendo. De domingo para 2ª feira o número de casos confirmados passou de 200 para 234, um aumento de pouco mais de 15%. Ontem, esse aumento foi de 25%. A característica da curva exponencial é quando a taxa de aumento também aumenta. Isso para não mencionar que a soma dos casos registrados pela secretarias de saúde estaduais ontem, chega a 350.

A corrida para “achatar a curva” não será ganha se o vírus chegar aos mais desprotegidos do planeta.

Em tempo 1: Ontem, os ministros da saúde e da justiça baixaram uma portaria informando que o descumprimento de ordens de quarentena e isolamento será considerado crime e pode, segundo o UOL, levar à prisão.

Em tempo 2: Pela soma das crises, dentro e fora do país, um dos maiores bancos do mundo, o Credit Suisse cravou que o PIB brasileiro terá uma variação zero este ano.

Em tempo 3: Ontem, o prefeito Bruno Covas, de São Paulo, decretou estado de emergência na cidade onde foi registrada a primeira morte pelo coronavírus no país.

Em tempo 4: Enquanto isso, nosso presidente voltou a falar que esta crise é só histeria e que há interesses econômicos por trás de tudo isso. Bolsonaro partiu para o ataque dizendo que as medidas tomadas por governadores prejudicarão a economia do país. Ontem, foi confirmada a contaminação da 15a pessoa que esteve com o presidente na viagem a Miami. O que dá uma ideia da pontaria do vírus. Bruno Boghossian, da Folha, conta que começam aparecer fissuras nos grupos bolsonaristas. Afinal, uma coisa é dizer que a Terra é plana e outra é minimizar a gravidade da pandemia.

Em tempo 5: André Borges, no Estadão, conta que o Ibama decidiu manter as operações contra o desmatamento que estavam programadas. Apesar de parte do efetivo ter mais de 50 anos, o órgão entendeu que por se tratar de operações em áreas pouco povoadas, o vírus não apresenta risco significativo. O que não deixa de ser uma boa notícia nestes tempos de trevas.

 

ClimaInfo, 18 de março de 2020.

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