O remédio de Guedes para a crise

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O presidente e mais oito ministros deram uma coletiva anunciando medidas para enfrentar a crise do coronavírus. A principal é fazer chegar R$ 15 bilhões a trabalhadores informais de baixa renda ao longo dos próximos 3 meses, uma ajuda de R$ 200 por mês. Com dois ministros contaminados e em quarentena – o general Augusto Heleno e o almirante Bento Albuquerque – Bolsonaro voltou a minimizar o tamanho da encrenca e a se dizer preocupado com o país: “Se o Brasil parar vai ser o caos. Vai morrer muito mais gente fruto de uma economia que não anda do que do próprio coronavírus.” Pelo menos parou de dizer que é um complô contra o Brasil.

Para além da questão financeira, a estratégia defendida por Bolsonaro e Guedes para o combate à pandemia de Covid-19 é igual à de um plano adotado pelo Reino Unido na semana passada e abandonado quatro dias depois. O motivo da mudança em Londres? A política inicial poderia provocar centenas de milhares de mortes conforme mostrou um estudo  do Imperial College que comentamos ontem.

Em tempo 1: A inclusão do projeto de privatização da Eletrobras entre as medidas que precisam ser aprovadas pelo Congresso para minimizar os impactos da crise do coronavírus irritou deputados e senadores. Para eles, Guedes tentou fazer uma manobra política junto à opinião pública para pressionar os congressistas a aprovar a proposta, que está travada no Legislativo desde o ano passado.

Em tempo 2: Bolsonaro tentou enquadrar o ministro da Saúde por este não ter apoiado o passeio que deu na manifestação de domingo. Segundo a Folha, Mandetta, que vem mantendo uma atuação que destoa dos colegas da Esplanada, ensaiou um recuo. O fogo amigo vindo do Palácio é alimentado pelo ex-ministro Osmar Terra, possível candidato à pasta da Saúde e pelo contra-almirante Antonio Torres, diretor da Vigilância Sanitária.

Em tempo 3: Na 3ª feira, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, mandou fechar parte do comércio do estado, incluindo shoppings, bares, cinemas e feiras livres. Foi o primeiro a avançar nesta direção. Ontem, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, determinou o fechamento do comércio na cidade a partir da próxima 6ª feira. Apenas padarias, farmácias, restaurantes, supermercados, postos de gasolina, lojas de conveniência e de produtos para animais, além de feiras livres, terão autorização de funcionamento até 5 de abril.

Em tempo 4: O dólar passou ontem de R$ 5,20 e o Ibovespa despencou quase 15%.

Em tempo 5: O presidente do Senado, David Alcolumbre está com o vírus e entrou em quarentena. Ele é o primeiro alto funcionário a ser contaminado, descontando os 19 que acompanharam Bolsonaro à Flórida.

Em tempo 6: No começo da noite, a contagem do vírus era de 428 casos comprovados e 4 mortes. A taxa de aumento era 17% no domingo, 24% anteontem e 47% ontem. Uma curva de crescimento exponencial longe de ser achatada.

 

ClimaInfo, 19 de março de 2020.

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