Coronavírus, clima e economia verde na saída da crise

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O mundo reage ao coronavírus com velocidade e força nunca antes vistas. No entanto, muitos analistas mostram que as mudanças climáticas podem gerar impactos econômicos, sociais e humanos ainda mais fortes. Ricardo Abramovay, da USP, escreveu um artigo no Valor comparando as crises: “A pandemia é uma espécie de aceleração vertiginosa do filme a que estamos, quase imperceptivelmente, assistindo, como se fosse em câmara lenta, com as mudanças climáticas”.

Ricardo alerta que a saída da crise passa, necessariamente, pela crise climática: “A criação de empregos, a redução das desigualdades e o crescimento econômico têm que girar em torno da necessidade de se evitar a grande ameaça representada pelo aumento exponencial a que assistimos até aqui das emissões de gases de efeito estufa. A urgência da pandemia é imediata, mas não é razoável que ela ofusque a urgência de se enfrentar a crise climática.”

Alfredo Sirkis, em seu blog, trata da nossa situação, na qual o programa ultraliberal do ministro Guedes foi posto de escanteio frente à necessidade de se aumentar a dívida pública para se prover para os mais necessitados e se recuperar a economia: “Homens do capital financeiro como Guedes estão atônitos com essa situação e não têm a menor ideia de como continuar brandindo sua ferramenta favorita, a tesoura.” Sirkis também cutuca os que acham que essa recuperação se apoiará em petróleo e carne, quando o mundo se move no sentido de abandoná-los. “Nosso potencial está na biotecnologia, na produção de energia por biomassa, em reflorestamentos naturais e econômicos, absorventes de carbono, numa escala inédita no mundo; na agricultura de baixo carbono e em alimentos de qualidade, biológicos, para um mercado cada dia mais exigente; na agregação de valor aos nossos produtos naturais; nas energias limpas eólica e solar, com armazenamento, intensivas geradoras de empregos.”

No Canadá, o governo anunciou ontem um pacote de ajuda para a recuperação de empresas com grande número de empregados. O pacote, segundo a Environmental Finance, colocou como condição para adesão que estas passem a reportar anualmente sua emissões e a mostrar como suas operações – atuais e futuras – estão consistentes com as metas de sustentabilidade e com os compromissos climáticos do país.

Adriano Pires e Pedro Pedras, no Poder 360, vão no sentido contrário. Colocam a alta volatilidade dos preços do mercado livre nas costas das renováveis e na imprevisibilidade do nível dos reservatórios. O remédio advogado são as térmicas fósseis. As flutuações do preço do petróleo e do gás não entraram no horizonte do artigo, como se não fizessem parte da economia capitalista de mercado. Parece que os autores fingem não ver e não ouvir o que se passa no mercado global de energia para poderem defender livremente seus interesses privados.

 

ClimaInfo, 13 de maio de 2020.

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