Petroleiras dificilmente cumprirão meta de zerar emissões

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Nos últimos tempos, diversas grandes empresas do setor de óleo e gás anunciaram compromissos para descarbonizar suas seus produtos e operações até atingir as emissões líquidas zero em meados deste século. No entanto, de acordo com cientistas, a promessa pode ser inviável.

Uma nova pesquisa da Transition Pathway Initiative (TPI) analisou os anúncios de neutralidade carbônica de seis grandes petroleiras europeias (BP, Shell, Eni, Total, Repsol e OMV), e comparou em até que ponto estas seriam compatíveis com o mundo em uma trajetória de aquecimento de, no máximo, 1,5°C. Das seis empresas, a Shell é quem tem o plano considerado mais “ambicioso”, mas, ainda assim, sua implementação seria consistente com um aquecimento de 2°C, meio grau acima da meta anunciada pela companhia. Por outro lado, BP e a OMV são as únicas desse grupo que fracassam em alinhar suas estratégias de descarbonização com os compromissos feitos sob o Acordo de Paris.

De acordo com os autores, uma estratégia genuína de emissões líquidas zero para uma companhia petroleira europeia requereria o corte em 100% de suas emissões entre 2020 e 2050. Todos os planos analisados pela TPI dependem, em maior ou menor grau, de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (que ainda são incertas sobre seu potencial para influenciar na redução de emissões) e soluções baseadas na natureza, como o plantio de árvores (que, sozinhas, são insuficientes para viabilizar a neutralidade carbônica).

Os pesquisadores também ressaltaram a diferença nas condutas corporativas entre as petroleiras europeias – que tentam se posicionar de forma proativa na questão climática – e as suas contrapartes norte-americanas, que seguem ignorando o assunto.

Enquanto isso, o mercado do petróleo segue atento aos sinais do futuro dos preços internacionais do combustível afetados pelo desaquecimento da economia global decorrente da pandemia. O novo CEO da BP, Bernard Looney, afirmou que o choque causado pela queda brutal na demanda por petróleo pode perdurar para além do período da pandemia. Isso porque as restrições locais e globais à circulação de pessoas devem continuar, ao menos no médio prazo, o que pode seguir puxando a demanda por combustível para baixo, afetando o preço do produto.

Looney citou até mesmo a possibilidade de que a pandemia tenha precipitado o chamado “pico de consumo” do petróleo. Antes da crise, a BP estimava que o consumo de combustível seguisse crescendo ao longo dessa década, para se estabilizar nos anos 2030. Agora, a empresa vislumbra a possibilidade da demanda por petróleo seguir reduzindo no longo prazo, precipitando um cenário dramático para o setor. Para o executivo britânico, a crise consolida a necessidade da indústria do petróleo modificar sua política de investimento em favor de projetos energéticos de baixo carbono.

Em tempo: As emissões de gases de efeito estufa na Índia caíram pela 1ª vez em 40 anos. O desaquecimento econômico resultante da pandemia de COVID-19 é um fator importante para esse fato, mas a maior competitividade de fontes renováveis na geração elétrica também contribuiu para a queda.

 

ClimaInfo, 13 de maio de 2020.

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