Pandemia explicita a ambiguidade entre desperdício de alimentos e fome

fome

A população pobre é a que mais sofre com a COVID-19, e é também a mais vulnerável aos efeitos econômicos da pandemia. Os impactos da crise sobre a geração de renda, associados aos problemas com a circulação e o abastecimento de mercadorias, estão causando insegurança alimentar em diversas partes do mundo. Da mesma forma com a qual a fome se intensificou com a pandemia, alguns problemas recorrentes da cadeia de suprimento de alimentos, como o desperdício, também pioraram.

Em um debate online realizado pelo UOL Ecoa, a chef e apresentadora Bela Gil destacou a destruição de alimentos no campo por conta da interrupção dos fluxos de transporte e as restrições aplicadas à circulação de pessoas nas cidades: “Como estamos produzindo os alimentos em um sistema superindustrial e capitalista, que impõe um preço e gera esse cenário de descartar o alimento (sic), é mais barato para o agricultor destruir do que levar para um centro de abastecimento”.

Considerando os efeitos da pandemia na economia no longo prazo, é preocupante que o Brasil – recém regresso ao Mapa da Fome da ONU – venha a ter um contingente cada vez maior de pessoas na extrema pobreza.

Em Heliópolis, a maior favela de São Paulo, a fome já virou uma preocupação real de muitas famílias. Com a renda comprometida pelo desaquecimento econômico e as dificuldades burocráticas para se receber o auxílio emergencial do governo federal, a doação de cestas básicas e alimentos virou a única fonte de alimento para as pessoas mais pobres.

Nos EUA, a situação é similar à do Brasil: com a queda na demanda nas grandes cidades, os produtores estão descartando sua produção para que esta não impacte o preço de seus produtos, ao mesmo tempo em que um grupo cada vez maior de pessoas, sem renda e emprego, está passando por necessidades e falta de comida.

Já no continente africano, que historicamente sofre com a falta de alimentos, a pandemia tornou o problema ainda mais dramático. De acordo com o Programa Alimentar Mundial da ONU, mais de 43 milhões de pessoas nos países da África ocidental deverão depender de ajuda emergencial para conseguir se alimentar nos próximos meses.

 

ClimaInfo, 18 de maio de 2020.

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