Para sair da crise econômica, não dá para ignorar a natureza ou a ciência

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A pandemia de COVID-19 explicitou o peso das doenças zoonóticas – aquelas originárias de outras espécies de animais – sobre a saúde global. Todos os anos, são registrados cerca de 1 bilhão de casos de doenças desse tipo, com milhões de mortes, especialmente em países de baixa e média renda.

Nos últimos 23 anos, o mundo viveu seis surtos de doenças zoonóticas que causaram prejuízo de pelo menos US$ 80 bilhões. Se os surtos tivessem sido evitados, as perdas evitadas seriam em média de US$ 6,7 bilhões por ano. Só a pandemia atual de COVID-19 anuncia um prejuízo que pode chegar a 4,8% do PIB global, de US$ 3 trilhões.

As contas deixam claro que, para se evitar que o mundo enfrente novas crises causadas por pandemias, precisamos deixar de ignorar a natureza nas estratégias de desenvolvimento econômico dos países. Em artigo no Valor, o diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, reforça que “a invasão crescente de ecossistemas naturais, combinada com mobilidade excessiva de pessoas e animais (vivos e mortos)”, é um problema que precisa ser encarado para o futuro.

“Olhar para a natureza pelo viés preservacionista não só pode salvar vidas, como também gerar consideráveis oportunidades de desenvolvimento. Análises recentes mostram que mudanças positivas na maneira como cultivamos e nos alimentamos podem desbloquear US$ 4,5 trilhões em novas oportunidades de negócio a cada ano até 2030”, argumenta Magri.

Esse é um alerta importante para o Brasil, que segue destruindo suas florestas e intensificando a interação abusiva entre seres humanos e ecossistemas.

Por seu lado, o professor José Goldemberg, da USP, escreve no Estadão, sobre o impacto da pandemia nas fontes de energia. Ele fala da tempestade perfeita que se abate sobre o mundo do petróleo e da provável redução da demanda por combustíveis fósseis quando sairmos da crise, e informa que a produção do pré-sal custa bem mais do que a da Arábia Saudita. Assim, o sonho de se transformar o país em um grande produtor pode ficar encalhado junto com o petróleo do pré-sal. Mas o recado principal é sobre a ciência: “É notório que, ao enfrentar problemas complexos, há incertezas e pode haver divergências entre os cientistas, mas a própria natureza do método científico corrige esses problemas. A experiência acaba eliminando as teorias incorretas. Por essa razão, desqualificar o trabalho dos cientistas e o método científico é o pior que dirigentes obscurantistas poderiam fazer no caso da COVID-19. Um maior respeito pela ciência e pelos cientistas poderá ser uma das consequências mais positivas da tragédia humanitária da crise atual.”

 

ClimaInfo, 19 de maio de 2020.

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