Trump e a fábula do “carvão limpo”

Trump carvão

Uma das promessas de Donald Trump na campanha presidencial de 2016 foi apoiar a recuperação da indústria de carvão dos EUA, eliminando regulações relativas à poluição nas usinas térmicas e criando incentivos para o desenvolvimento do chamado “carvão limpo” – uma ilusão que nem mesmo o próprio setor acredita.

Três anos e meio depois, o carvão nunca esteve em situação tão dramática nos EUA. A pandemia atingiu em cheio o setor, que já vinha sofrendo com os preços baixos do carvão no mercado norte-americano e a falta de competitividade do produto frente a outras fontes energéticas mais limpas, como eólica e solar. Mas nada disso parece incomodar a Casa Branca.

Em artigo publicado no jornal Patriot News, da Pensilvânia, o secretário de energia, Dan Brouillette, defendeu o carvão e disse que o futuro não passa pelo abandono deste combustível, mas sim por sua “limpeza”. “Não podemos nos livrar do carvão. Ele é essencial para esta nação”, escreveu Brouillette. “E a boa notícia é que o carvão dos EUA é tão abundante quanto confiável. Os EUA têm mais carvão que qualquer outra nação, 474 bilhões de toneladas, o suficiente para durar por centenas de anos”. Vale esclarecer que é tecnicamente inviável extrair quase metade dessas reservas e o valor que aparece nas estatísticas oficiais é de 250 bilhões de toneladas. Uma inflada básica do secretário.

O Inside Clean Energy fez um fact-check bem didático sobre o artigo e destacou a desconexão do governo Trump com todo o debate científico em torno da necessidade de abandonarmos os combustíveis fósseis o quanto antes, para se evitar o aprofundamento da crise climática. “Os argumentos de Brouillette conseguem ser incrivelmente enganosos e desinformadores”, afirma Joe Daniel, analista de energia da Union of Concerned Scientists. “É profundamente decepcionante e frustrante ver um membro do governo enganar o público sobre nossa saúde, segurança e economia”.  E sobre quanto carvão eles têm.

 

ClimaInfo, 7 de julho de 2020.

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