Armínio Fraga: Brasil voltou a ser pária internacional em meio ambiente

15 de julho de 2020

A intensificação do desmatamento e a degradação da imagem internacional do Brasil reforçam a necessidade de buscar caminhos para superar esses problemas por meio do desenvolvimento sustentável, capaz de gerar renda e proteger o meio ambiente. Esse é o tom de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e um dos signatários do manifesto Convergência Necessária, que defende uma retomada verde da economia brasileira pós-pandemia.

“Não dá mais para cortar árvore. A Amazônia está mal, precisamos urgentemente reverter essa tendência”, disse Fraga durante evento virtual realizado ontem (15/7) pelo CEBDS, e citado pelo jornal O Globo: “Está faltando estratégia, é fundamental não abrir mão de reflorestar. As melhores análises científicas dizem que estamos perto de um ponto em que o solo não volta. Do ponto de vista de gestão de risco, estamos mal. Não é suficiente acabar com o [desmatamento] ilegal, é preciso reflorestar”.

Em entrevista à Folha, Fraga argumentou que a simples troca do ministro do meio ambiente não resolve o problema ambiental do Brasil. “Ele [Ricardo Salles] executa um mandato que é delegado pelo presidente (…) Se for trocar para colocar um outro que vai fazer a mesma coisa não vai resolver. Resumindo, o problema vem de cima”.

Na mesma linha, o ex-ministro Maílson da Nóbrega, outro signatário do manifesto, ressaltou em conversa com a Jovem Pan que o Brasil arrisca perder não apenas investimentos por causa da alta do desmatamento, mas também acesso a mercados para seus produtos no exterior. “O consumidor quer saber se a soja que está consumindo veio de reservas indígenas ou da Amazônia devastada”, argumentou Nóbrega, afirmando também que isso já se reflete na balança comercial brasileira.

Outro ex-ministro, Joaquim Levy, assinala que o Brasil corre risco de ficar para trás se não estimular rapidamente a transição para uma economia de baixo carbono. “O dilema entre ser sustentável e ter lucro deixou de existir em muitos casos”, disse ele à jornalista Daniela Chiaretti no Valor. “E quem não explorar isso pode ter prejuízos”.

Em tempo: A União Europeia vê com “grande preocupação” a intensificação do desmatamento na Amazônia, afirmou o embaixador do bloco no Brasil, o diplomata espanhol Ignacio Ybáñez. Em entrevista ao Estadão, Ybáñez enfatizou que os países europeus seguem dialogando com o governo brasileiro para ajudar nos esforços contra a destruição florestal e pela aprovação do acordo comercial Mercosul-UE. “Os compromissos que o governo [do Brasil] têm anunciado são bons. Mas agora essas declarações precisam se transformar em fatos concretos. E isso ainda não temos”, disse o diplomata.

No mesmo tom, o eurodeputado Jordi Cañas, relator do acordo comercial no Parlamento Europeu, defendeu a aprovação do tratado e buscou minimizar as tensões políticas entre o governo Bolsonaro e o bloco. “Bolsonaro é presidente do Brasil, que assim decidiu em eleições democráticas. Mas o Brasil não é Bolsonaro”, disse em entrevista à BBC Brasil.

 

ClimaInfo, 16 de julho de 2020.

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