Mourão tenta minimizar negacionismo de Bolsonaro sobre queimadas

Mourão Bolsonaro

Em entrevista à BBC Brasil, Hamilton Mourão procurou relativizar a observação feita pelo presidente Bolsonaro durante encontro com chefes de estado amazônicos na semana passada, quando disse que as queimadas na Amazônia são “uma mentira”.

“Ele disse que a floresta não está queimando. E realmente a floresta não está queimando. O que está pegando fogo hoje é aquela área que já foi desmatada, e aí cresce mato de novo, o pessoal corta, taca fogo”, argumentou o vice-presidente, numa tentativa curiosa de dissociar dois problemas que, na prática, são indissociáveis – desmatamento e queimadas.

Mourão também disse que a queimada está relacionada a um “processo rudimentar” de lidar com a terra na Amazônia, “porque a imensa maioria das pessoas que estão lá não tem seu título de terra, então não tem acesso a financiamento, não tem acesso a assistência técnica rural e, como consequência, tratam a terra da pior forma possível”. Ou seja, para ele, o problema das queimadas pode ser solucionado com a regularização fundiária, como se os incêndios somente ocorressem porque as pessoas não possuem título de propriedade.

Sobre a tentativa de Ricardo Salles de diminuir a meta de redução do desmatamento na Amazônia, Mourão disse que a ideia foi “mal interpretada”, mas não explicou qual seria o propósito da iniciativa.

Em tempo 1: Bolsonaro sancionou na 2ª feira (17/8) o projeto de lei que garante a continuidade da Operação Verde Brasil 2 na Amazônia. O texto de sanção publicado no Diário Oficial da União prevê a liberação de R$ 410 milhões para o ministério da defesa, responsável pela missão de Garantia da Lei e da Ordem.

Em tempo 2: A AFP visitou a cidade de Novo Progresso (PA), que ficou conhecida no ano passado por conta do infame “Dia do Fogo”, quando fazendeiros e empresários locais se organizaram para promover queimadas simultâneas em terras desmatadas na região. A reportagem conversou com agricultores locais, sendo que muitos não fazem nenhuma questão de esconder que seguem fazendo queimada, mesmo depois da proibição imposta pelo governo federal. Eles refutam as acusações sobre o “Dia do Fogo”, dizendo que são “uma informação falsa da mídia”, e pedem que o governo faça a regularização fundiária e flexibilize a fiscalização ambiental. A matéria destaca também a falta de punição aos crimes ambientais, o que alimenta o desmatamento e as queimadas.

 

ClimaInfo, 19 de agosto de 2020.

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