Mudanças de Salles no meio ambiente são para “investidor ver”

Salles

N’O Eco, Cristiane Prizibisczki fez um panorama das mudanças estruturais empreendidas por Ricardo Salles no ministério do meio ambiente. De acordo com a pasta, a reforma foi pensada para “trazer maior transparência, agilidade e eficiência na gestão ambiental”. No entanto, a matéria destacou a opinião de especialistas, que a consideraram uma “medida cosmética” para tentar maquiar a tão criticada política ambiental do governo Bolsonaro.

Por exemplo, Adriana Ramos (Instituto Socioambiental) estranhou a incorporação da temática do clima à secretaria de relações internacionais da pasta. Para ela, a medida é o “melhor exemplo” do esforço de contraposição discursiva do governo para rejeitar o que ele considera ser uma campanha difamatória internacional. “Como se a gente só tratasse de mudança do clima daqui para fora, mas não tivesse responsabilidade [sobre o tema] para dentro”, disse.

Na mesma linha, o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (PROAM), Carlos Bocuhy, também considera que as mudanças no meio ambiente são uma “maquiagem verde”. Em artigo no Estadão, Bocuhy manifestou preocupação com as alterações propostas na estrutura do ICMBio, responsável pela gestão das Unidades de Conservação federais. Ele citou uma carta de servidores de carreira do ministério que aponta para um esvaziamento desse órgão em favor da recém-criada secretaria de áreas protegidas, e reclamou da falta de diálogo por parte do ministro com funcionários e com a sociedade como um todo no desenho dessas mudanças.

Em tempo 1: Para variar, Salles repetiu nesta 2ª feira (17/8) sua crítica a especialistas e organizações da sociedade civil que repercutem o desmatamento da Amazônia no exterior. Em uma live com o deputado federal Vitor Hugo (GO), o ministro atribuiu a imagem negativa do governo Bolsonaro no exterior à “desinformação” promovida por “brasileiros indo falar mal lá fora. Roupa suja se lava em casa. Seja jornalista ou acadêmicos. Mas falam lá fora, atrapalhando o desenvolvimento do país”, disse Salles, citado pelo jornal O Globo.

Na cabeça de Salles, o problema ambiental do Brasil não está no descontrole do governo federal do desmatamento e das queimadas, mas sim na exposição desses problemas no exterior por parte de maus brasileiros.

Em tempo 2: O sistema de conciliação de multas ambientais criado por Salles está paralisado, com apenas cinco audiência realizadas desde outubro do ano passado no Ibama e nenhuma no ICMBio, informa Rubens Valente no UOL. Citando dados do Observatório do Clima (OC), ele lembra que esses números são ínfimos quando comparados com o conjunto de multas aplicadas anualmente por esses órgãos por crimes ambientais: só em 2019, o Ibama aplicou mais de 10 mil multas. Além disso, o levantamento do OC apontou também que o sistema de conversão de multas, no qual empresas e pessoas autuadas podem optar por reverter o pagamento delas em projetos de recuperação ou preservação ambiental, não teve nenhuma adesão.

 

ClimaInfo, 19 de agosto de 2020.

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