Sinuca-de-bico diplomática: o que Bolsonaro fará sem Trump?

Bolsonaro trump

Bolsonaro se projetou durante a campanha de 2018 como um “Trump dos trópicos”, emulando o discurso extremista e negacionista do presidente norte-americano. No Palácio do Planalto, ele priorizou o alinhamento da política externa brasileira aos EUA, distanciando o país da China e de outros parceiros tradicionais, especialmente da Europa e da América Latina. Agora, sem Trump, Bolsonaro enfrentará um cenário externo bastante delicado a partir de janeiro.

No Estadão, Felipe Frazão lembrou que poucos ministros representam tão claramente o alinhamento do governo Bolsonaro a Trump como Ernesto Araújo e Ricardo Salles. Enquanto o primeiro considera Trump como o “salvador” da civilização ocidental, o segundo incorporou a antipatia do norte-americano com a agenda climática e com as leis ambientais. A eleição de Biden muda o tabuleiro diplomático do governo e coloca a questão ambiental, que já causa problemas nas relações do Brasil com a Europa, dentro da agenda bilateral, como sugeriu Breiller Pires em El País Brasil. “Bolsonaro precisa escolher: ou agradará seu eleitorado terraplanista e negacionista sobre o clima e a COVID-19, ou vai aderir a uma aliança climática que une até EUA e China”, comentou Carlos Nobre para O Globo. “O Brasil fica isolado sem o guarda-chuva de Trump”.

De acordo com O Globo, aliados de Bolsonaro reconhecem que a mudança em Washington forçará o governo a readequar seu discurso e não descartam a possibilidade de Salles e Araújo deixarem seus cargos. No entanto – como em praticamente tudo neste governo – a decisão promete causar bastante polêmica com a ala ideológica, especialmente entre os filhos do presidente, como destacou o Valor.

 

ClimaInfo, 9 de novembro 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)
x (x)