Mercosul e UE “batem cabeça” sobre compromisso ambiental para salvar acordo comercial

Acordo Mercosul UE

Representantes do Mercosul e da União Europeia participaram nesta 5ª feira (25/2) de uma audiência pública no Parlamento Europeu para discutir os obstáculos e os caminhos para a aprovação do acordo comercial entre os dois blocos. O tratado foi assinado em 2019, depois de mais de 20 anos de negociação, mas desde então está na “geladeira” por conta da contrariedade de governos europeus com a política antiambiental do governo Bolsonaro no Brasil e os possíveis efeitos do acordo na intensificação do desmatamento na Amazônia.

Nas últimas semanas, os dois lados retomaram conversas para negociar um compromisso ambiental extra associado ao acordo para aplacar a oposição dentro da UE, capitaneada principalmente pela França, com apoio de países como Irlanda e Áustria. No entanto, como Jamil Chade abordou no UOL, ainda existe uma grande desconfiança entre os europeus com relação ao governo brasileiro, tido como um interlocutor duvidoso por causa do descontrole do desmatamento amazônico nos últimos anos e a agressividade retórica e prática de Bolsonaro contra leis ambientais e de proteção aos direitos dos Povos Indígenas. Ao mesmo tempo, os países europeus também estão inseguros com um possível descarte do acordo, o que abriria caminho para que a China assumisse o protagonismo na política comercial do Mercosul, com padrões ambientais e trabalhistas bem mais flexíveis. Por outro lado, Assis Moreira informou no Valor que o governo da Argentina cobrou uma proposta-base ambiental da Europa para avançar na aprovação e na implementação do acordo comercial. O país, que ocupa a presidência rotativa do Mercosul neste semestre, reclamou que, mesmo com as críticas, os governos europeus ainda não ofereceram uma sinalização clara sobre uma solução para esse problema.

Em tempo: Enquanto isso, no Brasil, o Ibama fez aniversário na última 2ª feira (22/2) sem muitos motivos para comemorações. Além dos sucessivos cortes orçamentários e da redução no quadro de servidores, o sucateamento do Ibama atingiu um estágio preocupante: a partir de amanhã, o órgão ambiental ficará sem helicópteros para apoiar atividades de fiscalização contra o desmatamento. Isso porque o contrato de locação das aeronaves terminou hoje e a contratação emergencial corre lentamente dentro do Ibama. Para completar o quadro, Salles confirmou ontem a nomeação do tenente-coronel da reserva da PM de São Paulo, Carlos Guandalim, para a superintendência do Ibama em Mato Grosso do Sul. Guandalim sucede o coronel da reserva do Exército Luiz Carlos Marchetti, exonerado nesta semana depois de desentendimentos com o ministro do meio ambiente. Guandalim, como outros tantos indicados por Salles, não tem, no currículo, nenhuma experiência com o campo ambiental.

 

ClimaInfo, 26 de fevereiro de 2021.

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